quarta-feira, janeiro 31, 2007

O "desenvolvimento"

A imagem acima mostra uma porção da parede oeste do Covão do Ferro. A Turistrela e a Região de Turismo da Serra da Estrela defendem que para se desenvolver o turismo na Serra da Estrela é necessário instalar nesta paisagem uma telecabine (mas com "pouco impacto visual", como as do Parque das Nações, está a ver, caro leitor?) e ampliar para esta zona a estância de esqui. Recentemente, foi aprovado para financiamento pelo PITER o primeiro destes importantes desenvolvimentos.
Sou só eu a achar que quando esta paisagem assim estiver "melhorada" a Serra da Estrela perde um dos seus maiores atractivos turísticos? E a telecabine para quê? Para facilitar (ainda mais) o acesso dos turistas à degradante vergonha da Torre, talvez o sítio menos interessante de toda a Serra da Estrela?

terça-feira, janeiro 30, 2007

Excelente notícia!

EDP cede Mata do Desterro à Câmara de Seia

Alguns excertos:
[...] a EDP cede à Câmara de Seia, «a título de comodato», os respectivos imóveis para, «exclusivamente, a sua fruição pública, controlada e garantindo boas condições ambientais» [...]
A intenção da Câmara Municipal é «apresentar brevemente» um projecto que permitirá «criar vários tipos de floresta», servindo também de "montra" para mostrar aos cidadãos e aos investidores na área da floresta «como se faz a reflorestação». O autarca disse ainda que o terreno permite «colocar todas as espécies possíveis e imaginárias» e que, como será a componente exterior do CISE, permite, também, a realização de percursos a pé.
Com as duas infra-estruturas – Mata e CISE –, Seia quer abandonar definitivamente a campanha de atracção dos turistas através da neve, passando a efectuar a sua promoção «através da vertente da natureza e da sua valorização numa perspectiva lúdica» [...]
Pode ler o texto integral no Porta da Estrela.

Parabéns à Câmara Municipal de Seia, parabéns ao CISE!

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Onde a terra acaba e o céu começa

Desse ponto de vista...

Hoje fui a Manteigas, para participar em mais uma iniciativa do programa Um milhão de carvalhos para a Serra da Estrela, aquela que referi aqui. De manhã, caía uma chuvinha miudinha na Covilhã e a temperatura era 4°C. Suspeitei que as estradas da Serra estariam cobertas de neve, mas um telefonema para a GNR descansou-me. No entanto, a partir da Porta dos Hermínios, onde estão situadas as ruinas do antigo Sanatório dos Ferroviários, comecei a notar neve na estrada e a sentir o carro a sofrer pequenos deslizes, que foram piorando à medida que ia subindo. Deviam ser 8:45, ou perto disso. Já depois da Pedra do Urso, a progressão era mais uma derrapagem contínua do que outra coisa.
Desisti a uns 500m das Penhas da Saúde. Fiz inversão de marcha, com uma técnica que não recomendo a ninguém (e que espero não ter que voltar a usar), e regressei ao vale, planeando dirigir-me a Manteigas pela estrada de Verdelhos. Cheguei à Covilhã sem ter sofrido nada mais do que umas injecções de adrenalina.
Enquanto descia, pensava para comigo, chateado, "tu já devias saber, moras aqui há 15 anos, cresceste aqui, mais pareces um pateta de um turista, que vergonha".
Mas depois reparei que tinha estado a tentar conduzir um carro familiar, sem correntes, em neve com profundidade muito semelhante à que se anunciava na estância de esqui Vodafone, durante o fim de semana de 13 e 14 de Janeiro (2 cm).
Dá outra dimensão à minha "aventura"...

Apesar do mau tempo, a iniciativa realizou-se, mas eu cheguei a Manteigas já tarde de mais para poder participar. Foram plantadas 1700 árvores, entre bétulas e tramazeiras.
Por acaso, safei-me e estou aqui a rir-me disto. Assim como assim, podia muito bem ter metido o carro numa valeta ou contra uma barreira. Tive sorte. Continuo chateado por ter sido tão imbecil.

domingo, janeiro 28, 2007

Dica Grátis à Turistrela

imagem retirada hoje da página do Publico

Esta é uma dica para a Turistrela!Mudem-se para a capital onde tambem já neva!!Garantimos que aí não terão os mauzinhos técnicos do PNSE a obrigarem-vos a cumprir a Lei Ambiental. Aliás, se usarem os canhões de neve na praia e em direcção ao rio concerteza conseguiram fazer "snow-raves" e um ringue de patinagem no rio Tejo!

Vá lá, aproveitem que esta é de graça e nós aplaudimos!

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Bom fim de semana!

O maciço central da Serra da Estrela, fotografado do Fundão, ontem a meio da manhã.

Diz o Calvin: cair tão pouca neve é como ganhar a lotaria e o prémio ser cinquenta cêntimos.
Digo eu: mesmo assim, há lá melhor sítio para viver!

Uma pista de problemas

Jurista da Câmara de Manteigas sugeriu rescisão do contrato de concessão devido a vários incumprimentos por parte do consórcio Turistrela/Certar
Pode ler a notícia completa n'O Interior.

Agora a sério: ao certo, ao certo, o que é que a Turistrela faz (ou fez) para merecer a concessão exclusiva do turismo e dos desportos na Serra da Estrela?

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Roteiro natural da Guarda

A Câmara Municipal da Guarda vai distribuir o Roteiro Natural do Concelho da Guarda, da autoria do biólogo António Pena. Trata-se de um projecto levado a cabo em parceria com a Associação de Desenvolvimento da Raia Centro-Norte (Pró-Raia).
Vi no Público, suplemento Local (Centro), de hoje.

O tráfego na Serra da Estrela (II)

Na minha opinião é impossível resolver o problema dos congestionamentos de tráfego no maciço central da Serra da Estrela enquanto o acesso de viaturas particulares a esta zona não for condicionado. Ou seja, acho que é necessário limitar este acesso. Aparentemente, esta opinião é também defendida por personalidades destacadas como Lemos dos Santos (veja-se o que ele deixou escrito no blog do programa PETUR) ou Jorge Patrão (vejam-se as declarações que comentei aqui).
Este condicinamento poderia ser feito em função do número de viaturas já presentes no alto da Serra e, assim, apenas se faria sentir em épocas especiais, como a semana entre o Natal e o ano novo, a do Carnaval e alguns fins de semana.
Como podemos condicionar o acesso das viaturas privadas ao maciço central? Com proibições de entrada impostas pelas forças da GNR, com cancelas. Não há outro modo. Mas a estrada da Torre é uma estrada nacional (EN-339), que o estado tem a obrigação de manter transitável. Não parecem, assim, muito aceitáveis as limitações ao acesso que aqui estou a considerar. Sugiro, então, o seguinte:
  1. "Desnacionalização" da Estrada Nacional EN-339;
  2. Mudança da barreira actualmente instalada na Lagoa Comprida para o entroncamento da recém-concluída EN-338 que liga à Portela do Arão (Loriga);
  3. Alteração dos critérios para o funcionamento das barreiras rodoviárias (aquela que acabo de referir e a que está colocada nos Piornos), de modo a que possam ser encerradas por razões outras que não apenas as relacionadas com a existência de neve sobre a estrada e, assim, possam cumprir a função da limitação da intensidade do tráfego;
  4. Se se considerar necessário e economicamente viável, entrada em funcionamento de um sistema de transportes colectivos rodoviários nos dias em que o condicionamento de tráfego para a Torre for accionado.
Com a excepção do sistema de transportes públicos, tudo o que sugiro pode ser decidido e posto em prática já na próxima semana, quase sem encargos. Se estas ideias se revelarem um fracasso, podemos, com a mesma facilidade, cancelar a experiência e rapidamente voltar à situação que agora temos, quase sem encargos também. Da experiência não ficarão na paisagem vestígios nenhuns. O mesmo não se pode dizer das possibilidades que Lemos dos Santos, Artur Costa Pais e Jorge Patrão têm defendido (mais estradas e/ou telecabines). Mesmo que outras razões não houvesse, estas com que termino este post deviam fazer-nos pensar...

quarta-feira, janeiro 24, 2007

O tráfego na Serra da Estrela

Treze fins de semana (26 dias) durante os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro, mais a semana do natal (5 dias, que os outros dois já os contei) mais a do Carnaval (outros 5 dias). Total: 36 dias de engarrafamentos na Serra da Estrela por ano. A sério? Não, estou a exagerar, e muito. Mas vá. Aceitemos este exagero. Sejam trinta e seis dias de trânsito caótico na Serra da Estrela. Como resolver este gravíssimo problema?

Antes de mais, quero notar que onde não há estradas, não há problemas de trânsito e ninguém se queixa da falta de acessos. Alguém protesta por não haver acesso asfaltado ou por telecabines ao cimo do Mont Blanc? Ou do Monte Perdido? Ou do Almanzor? Ou do Ben Nevis? Ou da Serra do Gerês? Ou da da Gardunha? Não que eu saiba.

Na nossa região tem muita adesão a teoria de que para resolver os problemas de trânsito na Serra são precisas mais e melhores estradas. Esta teoria foi muito detalhadamente explicada por Lemos dos Santos, o coordenador da Acção Integrada de Base Territorial da Serra da Estrela, no blog que o programa PETUR dedicou a este tema. António Martins, o director de estradas do Distrito da Guarda, desmontou esta tese (não sei se plenamente consciente de que o estava a fazer) com a afirmação "mais acessos significam mais carros e autocarros no cume" (ver aqui), afirmação que eu levo às últimas consequências na forma "mais acessos significam mais carros e autocarros no cume, logo, mais e maiores engarrafamentos".

Nos últimos anos, Artur Costa Pais (administrador da Turistrela) e Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo) têm defendido a construção de telecabines para a Torre, argumentando que elas reduzirão o tráfego lá no alto (até já li frase "vamos acabar com o trânsito na Torre"). No entanto, nunca apresentam estimativas (nem estudos que as apoiem) de quanto esperam ver o tráfego diminuir com a entrada em funcionamento das telecabines, nem nunca os ouvi defenderem explicitamente o encerramento da estrada quando isso se der. Ou seja, as telecabines irão reduzir imenso o trânsito.
Ou então, não. Logo se vê.

Vejamos como se faz "lá fora". No Parque Nacional de Ordesa Monte Perdido (Pirinéus) encerrou-se a estrada ao trânsito particular nas alturas mais problemáticas e entrou em funcionamento um sistema de transportes públicos colectivos rodoviários. Pode ler sobre isto nesta página (procure no final do documento). Uma coisa parecida foi implementada no Parque Nacional dos Picos da Europa (Astúrias), como se pode ler no Real Decreto 384/2002. No Parque Nacional da Peneda-Gerês foi recentemente decidido que os veículos motorizados terão que pagar para circular na área abrangida pela Reserva Biogenética da Mata de Albergaria (ver aqui).
Qualquer destas medidas faz claramente diminuir o número de veículos em trânsito pelas áreas a proteger (refiro-me à protecção contra os engarrafamentos), logo, contribui decisivamente para a regulação do tráfego nessas áreas. Não só contribuem garantidamente para resolver o problema, como são muito mais fáceis e mais baratas de implementar do que as estradas de Lemos dos Santos ou as telecabines de Artur Costa Pais e Jorge Patrão. E têm menos impactos ambientais e paisagísticos.
Dir-me-ão que estas medidas têm o inconveniente de diminuir o número de turistas que visitam o maciço central. Sim, mas... Será possível resolver os problemas do trânsito na Serra, mantendo o degradante circo *daqueles* 36 dias por ano? Mais ainda: será desejável?

Milhões de árvores

No próximo dia 29 (segunda feira) vai realizar-se uma nova iniciativa integrada no projecto "Um milhão de carvalhos para a Serra da Estrela", desta vez com o apoio da Federação dos Produtores Florestais de Portugal (FPFP). Dezenas de brigadas de sapadores florestais filiados nas associações que compõem esta federação vão deslocar-se ao Vale da Candieira e à encosta sob o Poio do Judeu, onde plantarão vidoeiros (Bétula Celtibérica) e tramazeiras (Sorbus Aucupária).

Roma e Pavia não se fizeram num dia, e este programa de reflorestação da Serra da Estrela não acabou no Outono. Nem vai acabar este ano.

Caminhadas

O Montanha divulga o programa de caminhadas do C.C.D. Amigos Vila de Mouros.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Para Além da Neve

Este texto não pretende ser uma acusação à Turistrela porque, de facto, este é um problema comum a todas as estâncias de esqui pelo Mundo fora, portanto de todas as empresas exploradoras de estancias de esqui!
Para além da neve é o que estas fotografias pretendem mostrar! Por baixo do cativante manto branco que cobre o topo da Serra durante uma pequena parte do Inverno existe uma realidade completamente diferente que perdura durante o ano todo e que desencanta todos os visitantes que procuram a Serra nesse periodo!É isto que eu gostaria que todos compreendessem; que estivessem cientes das consequências da existencia de uma estância de esqui dentro de um Parque Natural. Faço isto para que ninguem possa invocar desconhecimento da situação!Para o bem ou para o mal considerem-se informados.

Vejamos de novo com atenção as fotografias que aqui apresento...

Agora reflictamos se queremos que esta paisagem se expanda para os locais pretendidos pela Turistrela e que aqui mostro tambem:

Até nos podemos abstrair do aquecimento global, mas o "verniz" do manto branco há-de sempre desaparecer. Ainda que a estância fosse economicamente viavel com, digamos, 60 dias de "boa neve" por Inveno, estariamos dispostos a pagar este preço...?

A quem possa interessar ou dizer respeito...

... Informa-se:
o Artigo 10º do Decreto Regulamentar n.º 50/97 de 20 de Novembro (que Estabelece a reclassificação do Parque Natural da Serra da Estrela), na sua alínea (b), declara interdito
O lançamento de águas residuais industriais ou de uso doméstico na água, no solo ou no subsolo susceptíveis de causarem poluição,
em toda a área do Parque Natural da Serra da Estrela. Logo, também em todos os núcleos de recreio, logo, também na Torre.
Não tem que agradecer a informação.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

A cloaca mais alta de Portugal

Pode apreciá-la à distância, sem o cheiro, no Estrela no seu melhor.

Continuem o Sr. Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo) e o Sr. Artur Costa Pais (administrador da Turistrela) a dizer que o que faz falta para requalificar a zona da Torre é a reconstrução dos mamarrachos lá existentes e o seu aproveitamento para restaurantes, hotéis e "observatórios panorâmicos"...

Como se faz lá fora

Abra-se a página web da estância de esqui espanhola de Baqueira-Beret, uma das maiores da Península Ibérica. Damos imediatamente com o seguinte texto (apresento-o aqui pois ele pode vir a ser retirado da página de entrada da estância):

COMUNICADO DE BAQUEIRA-BERET
Diversos medios de comunicación se han hecho eco de las denuncias de un grupo ecologista de Lleida a Baqueira-Beret. El grupo ecologista acusa a Baqueira-Beret de "desecar" el lago del Clot der Os y de captar agua del río Garona sin permiso. Ambas acusaciones son falsas.
Baqueira-Beret viene utilizando el agua del Clot der Os con todos los permisos necesarios y por debajo del volumen de agua que tiene autorizado. Tampoco es cierto que haya captado un solo litro de agua del río Garona, para lo que tiene solicitado y en trámite el permiso de captación desde el año 2002.
El agua utilizada para la producción de nieve (o riego con nieve) de Baqueira-Beret ha permitido mantener abierta la estación en condiciones adecuadas para el esquí desde el inicio de la temporada, sosteniendo la actividad turística de toda la comarca del Valle de Arán en una situación de excepcionalidad. Y este agua para el riego con nieve, como para el riego agrícola, es siempre la sobrante de otros usos prioritarios como pueden ser para consumo humano, caudales ecológicos u otros, disponiendo de las debidas autorizaciones de los organismos reguladores competentes.
Para quem não entende castelhano, o que se passa é que a direcção da estância repudia acusações feitas por um grupo ambientalista de Lérida de que a produção artificial de neve estaria a secar um lago (Clot der Os) e ainda de que estariam a captar água no rio Garona sem autorização. De acordo com a direcção da estância, tem-se utilizado água do lago de Clot der Os com todas as autorizações necessárias, e usando um caudal inferior ao limite máximo regulamentado. Mais afirma que a utilização da água para a produção de neve está condicionada a funções mais prioritárias, como a utilização para consumo humano ou a manutenção de caudais ecológicos.

Independentemente da questão em si, de que não conheço os detalhes, quero salientar o seguinte

  1. "Lá fora", as estâncias de esqui também se confrontam com a oposição de grupos ambientalistas.
  2. "Lá fora", está regulado, em acordos formais com os organismos públicos de administração do território, em que fontes podem as estâncias de esqui alimentar-se de água, quais os caudais que podem usar, e qual a prioridade que essa utilização tem relativamente a outras.
E "cá dentro"? Como é? Na Serra da Estrela há limites para a utilização de água na produção artificial de neve? Quantos estudos de impacto ambiental foram feitos para o funcionamento da estância na Torre ou para a sua recente ampliação (com a instalação de teleskis, da telecadeira e dos canhões de neve), a fim de determinar (entre outras coisas) os limites que a produção artificial de neve deveria respeitar? De acordo com declarações de Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo) recolhidas pelo Público (suplemento Local Centro) de 1 de Dezembro de 2006, nenhum. Mais ainda, de acordo com essas mesmas declarações, Jorge Patrão acha que assim é que deve ser!
E nós, caro leitor, também achamos?

Nota: Comentei estas declarações de Jorge Patrão aqui.

Bom senso

Creio que as altas temperaturas e a falta de neve que se têm verificado este ano são apenas o resultado de uma flutuação aleatória. Estas flutuações são de esperar num sistema caótico por excelência como é o meteorológico. A probabilidade da ocorrência destas condições é talvez aumentada pelo facto de se tratar de um ano de "El Niño". Ou seja, não me parece que o calor que temos tido este ano seja uma manifestação linear da tendência do aquecimento global, isto é, não acredito que o próximo ano seja necessariamente ainda mais quente que este. Num passado recente, houve outros anos quase sem neve na Serra da Estrela. O aquecimento global tornará mais frequentes anos destes (quão mais frequentes, isso está para ser visto, e depende muito das opções que tomarmos agora, nos próximos anos).
Seja como for, independentemente de aceitarmos que o aquecimento global está a ocorrer ou não(1), uma coisa esta época já provou: a produção artificial de neve não garante, só por si, a possibilidade da prática do esqui na Serra da Estrela.
Quando se arriscam milhões de euros na estância de esqui, este facto devia ser muito bem considerado pelos decisores, sobretudo por aqueles que controlam a parte do estado.

Não sou meteorologista nem climatologista. Que razões tenho para afirmar que este ano se está apenas a verificar uma flutuação aleatória das condições meteorológicas? Nenhuma (o que não quer dizer que essas razões não existam). Quanto a mim, trata-se apenas de wishfull thinking.

(1) Por estranho que pareça, ainda há quem não acredite no aquecimento global, principalmente pessoas exteriores à comunidade científica. Também há quem não acredite que o Homem chegou à Lua.

sábado, janeiro 20, 2007

Isso é que é falar!

Em declarações ao Notícias da Covilhã, o empresário Luís Veiga (administrador da Sociedade Termal Unhais da Serra), referindo-se à abertura no próximo Outono do Complexo Termal de Unhais, afirma
"Vamos trabalhar mais no turismo da natureza, no turismo activo, os complementos mais importantes ao turismo centrado na neve que, como sabemos, tem os dias contados, dado o quadro global de aquecimento global do planeta"
e
"Os clientes do nosso hotel terão muitas actividades dentro do complexo. Quando saírem, é para visitarem as redondezas e eventualmente a serra da Estrela. Só espero que não vão ao centro comercial da torre, dado o mau aspecto que aí predomina"

Ora bem! Só espero que se consigam concretizar estas intenções.
Para já, aplaudo as palavras. Espero sinceramente poder, num futuro próximo, aplaudir as acções.

Luís Veiga redigiu há dias uma carta aberta que comentei aqui. Porque não o fiz então, quero referir agora a admiração que senti por ver um empresário do ramo turístico criticar, de forma tão aberta e desassombrada, as declarações de Jorge Patrão, o presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela. Para mim, que não tenho interesses no ramo turístico, é fácil. Para Luís Veiga, diria que o caso fia mais fino...

A mini-cidade

Encontrei no Sistema de Informação Documental sobre Direito do Ambiente o Decreto Regulamentar n.° 5/96 de 19 de Julho, que "Declara as Penhas da Saúde, no município da Covilhã, como área de reconversão e recuperação urbanística". No final deste decreto regulamentar aparece um imagem não muito nítida onde está delimitado o "perímetro urbano" das Penhas da Saúde. Para facilitar a interpretação dessa figura, georeferenciei-a e desenhei o decretado perímetro urbano sobre uma fotografia do Google Earth, resultando a imagem que ilustra este post.
Parece-lhe bem ver toda a área no interior da linha azul transformada em casas de segunda habitação, centros comerciais desertos (como estão os do centro da Covilhã), restaurantes, bares e discotecas, centro de estágios desportivos, áreas verdes ajardinadas (isto, acreditando — santa ingenuidade! — que se faziam as coisas do modo menos mau possível) e ainda (já me esquecia) um casino?

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Bom fim de semana

Cântaro Magro

Pelos vistos,...

... Há mais quem ache condenável a forma como se andou a movimentar neve de um lado para o outro na estância Vodafone.

ICN levantou auto contra terceiros

Vai investigar se foi a Turistrela a movimentar a neve
(In Kaminhos)

Interessante: "Vai investigar se foi a Turistrela"?!

Em Andorra...

... Há quem ache que Tanta nieve artificial podría tener consecuencias en el medioambiente.

Porque é que a produção artificial de neve pode ter consequências no meio ambiente?

  • Para fazer funcionar os canhões de neve é precisa energia. Muita, muita energia. A energia é produzida (em Portugal, pelo menos) principalmente por combustão de combustíveis fósseis. Deste modo, a produção artificial de neve contribui para as emissões de gases de efeito de estufa, contribui para o aquecimento global.
  • Para produzir neve é precisa água. Muita, muita água. Esvaziam-se lagoas de montanha e secam-se ribeiros para encher encostas de neve. Na Serra da Estrela, a água para a produção de neve vem da pequena lagoa nas proximidades do cruzamento da Torre. Em circunstâncias normais, essa água escorre para o Zêzere. A que é usada para a produção de neve, é canalizada para a encosta da estância e vai escorrer para o outro lado da Serra, ou seja, para o Mondego. Mas, se a estância for ampliada, não custa nada imaginar uma situação em que a água desta pequena lagoa deixe de ser suficiente. Será então necessário bombear água das lagoas do Covão do Quelhas. Mais motores e canalizações na Serra, mais gastos escusados de energia.
  • Para produzir neve são necessários núcleos de condensação. A água usada para fabricar neve é misturada com ar fortemente comprimido e projectada num jacto pelas bocas dos canhões de neve. A expansão súbita do ar arrefece a mistura (chama-se a isto uma expansão adiabática) e pulveriza a água em finas gotinhas, transformando o jacto num "spray". Mas o arrefecimento não chega para produzir cristais de neve. É ainda necessária a presença de pequenas partículas em suspensão (foligens, poeiras, outros cristais de gelo), os chamados núcleos de condensação, que devem ser misturados na água para que se forme a neve no jato produzido pelos canhões. Como núcleos de condensação é conveniente usar substâncias quimicamente inertes(1). Frequentemente são usadas bactérias mortas e não patogénicas como a Pseudomonas syringae. Por muito inocentes que estas bactérias sejam, o aumento das concentrações de matéria orgânica (mesmo que constituída apenas por bactérias mortas) nos ribeiros de montanha não parece uma coisa muito boa, pois não?

Pode haver (haverá, concerteza) outros aspectos a considerar nesta questão, que não me vêm agora à mente. Seria tolo se pretendesse que este post alinhavado à pressa é um estudo aprofundado do tema.
Concluindo, a produção de neve artificial tem impactos ambientais? Sem dúvida. Serão graves ao nível local? Não sei, talvez não. Já foram estudados esses impactos aqui na Serra da Estrela? Sei de pelo menos um "quase-estudo", mas tenho muitas dúvidas sobre a sua profundidade e sobre a capacidade científica de quem o levou a cabo. Refiro-me àquele que permitiu a Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, afirmar categoricamente que os investimentos na estância não terão impactos ambientais ou, se os tiverem, serão positivos (veja aqui esta profunda declaração de impacto ambiental).

(1) Mas é sabido que substâncias consideradas quimicamente inertes (ou quase) podem ter efeitos nocivos sobre o ambiente. O exemplo mais gritante é talvez o dos CFC's, usados nos sprays e nos fluidos térmicos dos refrigeradores, e que são considerados responsáveis pela rarefacção do ozono estratosférico que nos protege da radiação ultravioleta solar.
Mais informação pode ser obtida no site da organização Mountain Wilderness.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

fazer Queixinhas!

Se há coisa que o Português gosta de fazer, é de reclamar! Seja no grupo de amigos, seja dentro do carro, seja na fila do supermercado, seja à mesa de jantar, adoramos reclamar especialmente na forma oral! Todos sabemos o que está mal, porque está mal e que "isto vai de mal a pior"! Isto não é propriamente uma coisa má, ao contrário do que muitos nos querem fazer querer. Um pouco inconsequente, é certo, mas talvez seja apenas mais uma fase no crescimento da nossa ainda nova Democracia.
Parte desta atitude inconsequente de não concretizar da forma mais correcta a nossa insatisfação dever-se-á, na realidade, a esta inexperiencia democrática que caracteriza uma boa parte dos Portugueses (pelo menos os que eu conheço!). Apercebi-me desta possibilidade quando lia um texto duma das mil "mailing-lists" a que pertenço, onde o seu autor referia uma série de entidades às quais poderiamos e deveriamos recorrer se pretendermos apresentar uma queixa ou fazer uma denúncia! Eu considerei esta informação de extrema importância com particular enfase na área das questões ambientais onde as reclamações em sua defesa são poucas mas irónicamente é onde serão mais necessárias - o Ambiente não RECLAMA por si próprio!! Para não me alongar, passo a listar várias entidades que podemos contactar para apresentar a nossa queixa ou denúncia, algumas delas com procedimento na internet:

Podemos ir ainda mais longe e se concluirmos que alguma destas entidades não deu o seguimento necessário às queixas apresentadas devemos contactar a Provedoria de Justiça e fazer queixa da própria Administração Pública! É assim que deve ser praticada a Democracia!

Por isso, sempre que presenciem algo que considerem errado façam todas as queixinhas que quiserem mas façam-nas de forma consequente nos locais adequados. Denúnciem o que está errado, só assim as coisas podem mudar! Já agora, já repararam que a estância de esqui da Serra da Estrela hoje esteve fechada?? Será coincidencia? Terá a Turistrela tomado consciencia do ridiculo de manter a estância oficialmente a funcionar nas condições actuais? Terá tido alguma coisa a ver com a denúncia pública por parte do Estrela no seu melhor? Tirem as vossas próprias conclusões

É oportuno,...

... Agora que foram aprovados tantos milhões para o turismo na Serra da Estrela, recordar algumas verdades simples.

Nevestrela 2007 — XXIV Edição

Covão da Ametade, de 17 a 20 de Fevereiro.
Organização do Clube de Montanhismo da Guarda e dos Amigos da Serra da Estrela.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

O PNSE existe?

De entre as várias entidades com responsabilidades sobre a gestão do território na Serra da Estrela, a que mais simpatia me inspira é o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). Digo-o desde já, para que não haja dúvidas. Mas incomoda-me a sua quase invisibilidade. E incomodam-me algumas proibições difíceis de entender dada a liberdade que as mesmas regras aparentemente permitem a certos actores.
Falo nisto hoje porque, acerca das "trasladações" em tractor agrícola de neve recolhida com escavadoras denunciadas pelo Estrela no seu melhor, a Kaminhos publicou um artigo onde recolheu a opinião de Fernando Matos (director do PNSE). Podemos ler, a páginas tantas

Fernando Matos, director do PNSE, refere que a legalidade "depende do tipo de intervenção que está a ser feita", o que ainda desconhece, pelo que ordenou para já "um aumento da vigilância na área em redor da estância", com base nas informações de que dispõe desde segunda-feira.

Não se conhecia nenhuma reacção do PNSE a estes factos antes do jornalista ter pedido esclarecimentos a Fernando Matos; a primeira voz que ouvi a relatar estas foleiras (se não ilegais) operaçações foi a de um leitor do Cântaro Zangado, a 28 de Dezembro; o aumento da vigilância numa zona sujeita a uma enorme a pressão da actividade turística sobre o ambiente natural a proteger (portanto uma zona que devia ser acompanhada com particular atenção) dá-se como resposta às denúncias de um cidadão particular (o Cova Juliana do Estrela no seu melhor), que testemunhou estas manobras em plena luz do dia, durante uma tarde do fim de semana passado (não se tratou de uma sofisticada operação de espionagem, portanto).
Não me agrada mesmo nada "bater no ceguinho" mas face a isto temos que nos perguntar: o PNSE existe, mesmo?

terça-feira, janeiro 16, 2007

Suíça!

Pelo Ondas, cheguei a este artigo:
"No Business in Snow Business for Low Swiss Resorts"

O que vale é que as preocupações com as alterações climáticas e com o que elas representam para as estâncias de esqui não nos dizem respeito. Senão, como se justificariam os apoios do programa (público) PITER a investimentos na estância Vodafone, na telecabine Penhas da Saúde - Torre e na "mini-cidade" de montanha das Penhas da Saúde, planeada como centro do aprés-ski na Serra por Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo) e Carlos Pinto (presidente da câmara da Covilhã)?

Tristezas não pagam dívidas...

... E hoje é um novo dia! Que seja um bom dia!

Desabafo!

Pego na pergunta implicíta na exclamação do meu amigo de cordada (que referi há dias): Como é possível que haja tótós que paguem para usar a estância de esqui nestas condições?, e vêm-me à mente outras questões:
  • Como é possível que em 2007 esteja em vigor uma concessão exclusiva do turismo e dos desportos sobre uma área natural absolutamente enorme, que se mantém há já 30 anos e que se prevê que continue por mais algumas dezenas de anos?
  • Como é possível que a empresa que detém essa concessão seja responsável por situações como as que temos referido aqui no Cântaro Zangado ou as que outros denunciam publicamente por outros meios (destaca-se o blog amigo Estrela no Seu Melhor), sem que seja posto em causa o alvará para a sua actividade, sem que sequer seja posta em causa a tal concessão?
  • Como é possível que o estado deste país pobre e financeiramente esgotado invista milhões de euros numa actividade (o esqui) que visivelmente não tem futuro na Serra da Estrela?
  • Como é possível que nenhum dos organismos que deviam fiscalizar as actividades da Turistrela (na medida em que elas decorrem no interior de uma área protegida) efectivamente o façam, sem que haja processos internos de averiguações e de apuramento de responsabilidades por tal condescendência?
  • Como é possível que, face a uma enorme lista de atentados ao ambiente, à paisagem, até às regras mais elementares do mais elementar bom-gosto perpetrados por esta empresa, a Região de Turismo (RTSE) continue a entendê-la como uma peça fundamental para o desenvolvimento e ordenação do turismo na Serra da Estrela?
  • Como é possível que, mantendo a Região de Turismo esta incrível atitude, os municípios que a constituem mantenham em funções a sua sua direcção?
  • Como é possível compreender que um município (Fundão) que se cansou de ver o turismo na região confundido (pela RTSE) com esta peculiar versão do turismo da neve e que, por isso, se decidiu separar da Região de Turismo tenha, desde então, visto a sua actividade turística desenvolver-se de um modo diversificado, ligado à cultura, à arqueologia (incluindo a industrial) e à etnografia?
  • Como é possível compreender que todos os responsáveis (locais, autarquicos, regionais, dirigentes de organismos públicos e privados) defendam estradas, estradinhas, estradões e telecabines que permitam aos turistas menos exigentes despachar rápida e confortavelmente uma visita à Serra, não permanecendo na região mais do que um fim de semana (com sorte!) e que afastam para longe os que sabem apreciá-la, que estariam dispostos a permanecer por cá muito mais tempo, caso a protecção do ambiente e da paisagem fossem efectivas realidades e caso houvesse oferta efectiva para as actividades de ar livre que os atraem?
  • Como é possível compreender que o Clube Nacional de Montanhismo — Covilhã apregoe como as maiores realizações do seu historial a organização das sucessivas edições de uma vetusta (e patusca) festa popular e comercial chamada "Carnaval da Neve" (não se tem realizado nos últimos anos) ou que, em vez de divulgar o seu programa de actividades montanheiras, anuncie a intenção de promover empreendimentos turístico/imobiliários em plena Serra da Estrela?
  • Como é possível que a Câmara Municipal da Covilhã tenha coragem para publicitar esta espantosa alucinação como um projecto para as Penhas da Saúde, sem sequer corar de vergonha?
  • Podia continuar assim por muito, muito tempo, mas acabo já: como é possível que, em pleno século XXI, continue esta santa terrinha (Covilhã, Beira Interior, Região Centro, Portugal) tão, mas tão, umpf!, que raiva que às vezes me mete isto tudo!
Como dizia o meu amigo da Montanha, "MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!"

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Quando a Excepção se transforma em Regra!

Aconselho a leitura da noticia saída hoje no Publico nas páginas 2 a 4: "Excepções ambientais mancham imagem "verde" do Governo" por Ricardo Garcia. Pode consulta-la aqui durante o dia de hoje. Artigo bastante bem conseguido só tenho pena não haver um bloco de destaque para uma figura de renome da área do ambiente!

Grande artigo!

No Estrela no seu melhor, o Cova Juliana deixou um artigo espectacular sobre a "produção" de neve que mantém aberta (assim, a modos que) a estância de esqui Vodafone. A fotografia que aqui junto é só uma das que ele lá apresenta.

Tractores e escavadoras em cima da vegtação, transformando-a em pó de caminho de estaleiro? Respeito pelo ambiente à moda da Turistrela/RTSE, requalificação do espaço à moda da Turistrela/RTSE. Avaliações de impacto ambiental? Não são necessárias. Como diz Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo, RTSE), se há impactos, são positivos. Ou seja, o estudo já está feito, à moda da Turistrela/RTSE.

Num lugar civilizado, isto talvez não desse direito a prisão. Mas de uma multa, da cessação da concessão exclusiva e, possivelmente, de uma retirada de alvará não se safavam estes senhores...

domingo, janeiro 14, 2007

Já lá vão 45 dias...

... De esqui na estância Vodafone nesta temporada! A Serra da Estrela continua assim a afirmar-se como destino de eleição para os amantes dos desportos de neve!

P.S. No público de sexta feira dia 12 de Janeiro, na página 23, aparece um artigo sobre as consequências do aquecimento nas estâncias de esqui da Europa e da América do Norte. Dizem-nos nesse artigo que "a estação de Blue Mountain, a maior a norte de Toronto, já encerrou duas vezes esta temporada." Coitados deles, ainda bem que não estamos na sua desesperada situação!

A grande âncora da neve

Ontem (sábado 13 de Janeiro) de manhã abri a página da Turistrela para ver quais eram as condições da estância. Eis o que dizia a página: Pois, nada de novo. Têm aberta uma pistinha cujo comprimento não tenho a certeza que chegue aos 100m. Estão assim desde o início da época, com a excepção da semana do natal em que conseguiram abrir uma outra pista. O mapa da estância, tal como ela tem estado a funcionar esta época, resume-se ao traço vermelho da figura que mostrei aqui.
Agora, interessante, interessante é a indicação da profundidade da neve. Dois centímetros?! Não admira que esteja dura. Deve estar tão dura como as rochas que se encontram por baixo!
Mas chega de internet. Ontem à tarde fui escalar para a Placa da Francelha, ou seja, passei perto da estância, por volta das 14:30. Eis uma fotografia desta estrutura importantíssima para o desenvolvimento do país, como lhe chama Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela): Quer apreciar a qualidade da neve de 2 cm? Pois bem, aprecie: Nada mau como manto branco, hem?
E tal, musiquinha ambiente, e tal, gente a esquiar na pista de aprendizagem e bicha de dez pessoas no teleski, e tal, tractores com reboques cheios de neve recolhida sei lá onde e que ali era depositada, e tal, o lixo do costume por ali espalhado, e tal, até, snowboarders em sessão fotográfica numa área com seis metros de comprimento e terminando num montinho de neve ali ajuntado (para saltos), gritando "yo!" e "radical!" uns para os outros, cheios de estilo e roupas de marca.
E diz-me o meu colega de cordada: "Incrível, mesmo, é que haja quem pague para isto! Somos mesmo um país de parvoetas!".
Pois somos.

Nota 1: este ano é um ano especialmente quente, já o sabemos. O próximo ano pode muito bem ser muito melhor que este. Pode até começar a nevar amanhã e não parar até Março. Mas a verdade é que, fora certos dias especiais de certos invernos especiais, a neve na estância vodafone derrete durante a tarde e congela durante a noite. Assim sendo, é dura como vidro até meio da manhã (questão que é parcialmente resolvida pela passagem dos ratracks logo pela manhãzinha) e mole como papa o resto do dia. Neve pó na Serra da Estrela é muito, muito rara.
Seja como for, a verdade é que a tendência do aquecimento global deixa poucas dúvidas sobre a viabilidade do esqui na Serra da Estrela. Talvez pudesse concordar com a manutenção da estância de esqui, desde que (1) ela se mantivesse na área que agora ocupa; (2) fossem seriamente estudados os impactos ambientais do seu funcionamento e implementadas medidas que os mitigassem, e isto independentemente de quaisquer obras que a Turistrela lá queira realizar; (3) que tudo isto se fizesse com verbas do investidor e não dos nossos impostos. Se é para deitar dinheiro fora apoiando actividades tão previsivelmente moribundas, preferia que que o estado apoiasse, por exemplo, pequenas e médias empresas de lanifícios que ainda subsistem na região. Mas bom, mesmo, era ver o estado a apoiar actividades com futuro, como as relacionadas com o turismo de natureza.
Nota 2: No site da Turistrela podemos ainda ver que a telecadeira da Torre se encontra em funcionamento. Desengane-se, caro esquiador ou snowboarder. A telecadeira está em funcionamento, sim, mas a neve não chega até lá. Está aberta apenas para as voltinhas dos "tristres", não é para si enquanto utilizador da estância.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Falemos de turismo, mas com seriedade (III)

O Jornal do Fundão publicou um artigo com declarações de Alçada Rosa (entre outras funções com relevância nacional na área do turismo, foi administrador e accionista da Turistrela no tempo em que era ainda uma empresa maioritariamente pública), de que quero realçar o seguinte excerto:

O mesmo espírito crítico do ex-administrador da Turistrela aplica-se à política de concessão turística caso da Serra da Estrela e quando está eminente a revisão da concessão, Alçada Rosa considera "não haver razões para manter um estatuto cuja única vantagem é não pagar impostos sobre os lucros".

Parece-me que a vantagem de "não pagar impostos sobre os lucros" o é apenas para a empresa concessionária. Quando, ainda por cima, essa empresa recebe apoios do estado (que, como todos os apoios do estado, resultam das contribuições de todos mas, pelos vistos, não das dela), percebe-se melhor quão vantajosa essa vantagem é para a empresa em questão, e quão desvantajosa o é para todos os demais.
Temos então ainda mais uma voz destacada a pôr em causa o status quo do turismo na Serra da Estrela. Não querem ver, um dia destes até descobrimos que o pensamento do Cântaro Zangado é mainstream...

Críticas às orientações para o "desenvolvimento" do turismo na Serra, ou seja, críticas à parelha RTSE/Turistrela, sempre as ouvi, de pessoas que gostam da serra pelo que ela é. De pessoas que sabem o que hão-de fazer para se entreterem numa montanha, das que não precisam de "barzinhos de refrescos", de centros comerciais ou de casinos. De pessoas que dispensam as estradas para conhecer as maravilhas da Serra. De pessoas que buscam nas montanhas o contacto com a natureza, o sossego, a beleza das paisagens e o alívio do rebuliço e da fealdade das zonas urbanas (sejam essas zonas cidades ou "mini-cidades"). De pessoas como as que se podem encontrar em todas as montanhas da Europa durante todo o ano, com neve ou sem neve, pagando por coisas que, cá em Portugal, estranhamente, se podem comprar muito mais facilmente no Gerês do que na Estrela. De pessoas que, em todas as montanhas da Europa menos na Serra da Estrela, são consideradas os clientes alvo da actividade turística.
O que notei com muito agrado esta semana foi ver personalidades destacadas da nossa região a juntarem-se a este coro desta forma tão clara. O que RTSE/Turistrela tem feito está errado. É mau para o ambiente, claro, mas também o é para o turismo.
Espero que estes sejam sinais de que se vai encerrar de vez o ciclo do desenvolvimento do turismo rasca, do turismo do entulho!

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!

Nota: Soube das declarações de Alçada Rosa pelo blog Cortes do Meio. O longo parágrafo final deste post é uma cópia de um comentário que deixei no Máfia da Cova a um artigo sobre as cartas de Luis Veiga e de Pedro Guedes de Carvalho à Kaminhos. Estas cartas foram também tratadas pelo Oceano de Palavras, de Seia.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Entidades licenciadas pelo ICN - Factos!

Adriventura (Covilhã)
Clube de Balonismo da Caniçada-Gerês
Incentivos Outdoor (Porto)
Margens (Agueda)
Papa-Léguas (Lisboa)
Rotas do Vento (Lisboa)
Serra Aventura (Fundão)
Universo TT (Guarda)

Definição de Actividade de Animação Ambiental pelo ICN: "Considera-se animação ambiental o conjunto de instalações, actividades e serviços que visam promover a ocupação dos tempos livres dos turistas e visitantes através do conhecimento e da fruição dos valores naturais e culturais próprios das Áreas Protegidas. "

São estas as empresas licenciadas pelo ICN, à data de 15 de Dezembro de 2006, para exercer Actividades de Animação Ambiental (fonte:www.icn.pt)! Como pode ver são apenas 8, das quais apenas 3 com sede na RTSE e exclusividade de acção. Ou seja, estas empresas não se estão a multiplicar como afirmava o artigo da Visão publicado há algumas semanas e comentado aqui.

Curiosamente, não vejo a Turistrela nesta lista!?Não sei bem o que isto quer dizer porque a verdade é que eles não fazem actividades de Animação Ambiental de jeito! Tambem não sei se o protocolo estabelecido com o ICN os isenta destas licenças? A verdade é que se trata de mais uma situação na qual as outras empresas entram no mercado já em desvantagem relativamente à Turistrela.

Na minha opinião, existe um grande deficit na oferta de actividades de "Animação Ambiental" na região e não se vê, nem pelos projectos anunciados no PITTER ou por outra politica governamental, qualquer aposta real nos mesmos (exceptuando a aposta no esqui!!).

O monopólio da Turistrela, ao contrário do que afirma Costa Pais, é, na prática, bem REAL!

Falemos de turismo, mas com seriedade (II)

Outro artigo de opinião publicado pela Kaminhos:
Não há problemas na Serra da Estrela?
OPINIÃO: Pedro Guedes de Carvalho

Tendo lido a carta de Luís Veiga na edição de 8/1/2007, gostaria deadicionar o seguinte:
O PETUR, documento cuja coordenação esteve a meu cargo, foi entregue em 31 de Março de 2006 a todas as Câmaras (10) que constituíam a AIBT Serra da Estrela.
Por estranho que pareça nunca a imprensa regional, nem as Câmaras, nem a RTSE, pediu, comentou ou solicitou qualquer debate público do mesmo. Tenho acompanhado as notícias dos ziliões de euros que se anunciam para a Serra da Estrela, bem como as taxas de ocupação da região. Com admiração, pois com efeito criam um efeito preverso, no seu pior momento: o Inverno.
Afinal não há problemas com o Turismo por aqui, parece, não?
Ou haverá problemas e anda-se a tentar escamotear o problema?

Pertencendo actualmente à equipa que está encarregada de preparar o PROT Centro, como consultor para a área do Turismo, a convite do presidente da CCDR_C e da Secretaria de Estado do Ordenamento do Território, estou em condições de afirmar que tal documento está previsto estar concluído para final do próximo Verão.
Entendo por isso muito acertada a posição do dr. Luís Veiga, ao afirmar que é urgente de facto um debate sério sobre a Serra de Estrela e que basta de andar a atirar poeira para o ar, acenando com ziliões de euros, pois o problema da Serra não é de facto esse. É um problema muito mais sério e que exige de todos os responsáveis uma atitude séria, de debate e escolhas.

Esta oportunidade é talvez uma das últimas que teremos para definir e decidir uma ideia séria dio futuro para esta região que se não compadece com as notícias que vão saíndo amiúde e que mais não passam de pura propaganda preversa.

08-01-2007

Pedro Guedes de Carvalho é Professor na Universidade da Beira Interior. Face a estas opiniões (esta e a de Luís Veiga, já para não falar de muitas outras menos ilustres, como a deste vosso humilde anfitrião aqui no Cântaro Zangado), até quando continuaremos a ser obrigados a aturar os discursos rascas e falsos ou semi-falsos das forças vivaças que gerem os destinos do turismo na nossa região?

Está na hora de mudar, na hora de acabar de vez com o Turismo do Entulho!

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Não sei...

... Que nome hei-de dar à situação que mostro na figura em baixo. "Turismo em movimento" ou "Serra da Estrela Dinâmica"? Esta montagem foi produzida por Cova Juliana (Maravilhas da Estrela, Estrela no seu melhor) a partir de imagens da webcam da estância, obtidas no site da Turistrela. Clique para a aumentar. Note como a Serra da Estrela é um lugar com excelentes condições para a prática de desportos de Inverno. Repare nas datas das imagens. Tente descobrir as diferenças entre elas...

"Turismo em movimento" é uma expressão que ilustra uns outdoors com que a Turistrela e a Região de Turismo "enfeitaram" a Torre e a aldeia de Alvoco da Serra, numa altura em que prometiam uma telecabine entre aqueles dois locais. Tanto quanto sei, o projecto caiu no esquecimento (espero que sim!), mas posso apostar que os outdoors ainda por lá andam... "Serra da Estrela dinâmica" é o nome do pacote de projectos apresentados para financiamento pelo programa PETIR. Recentemente foi anunciado que a verba com que este programa foi contemplada chega aos cem milhões de euros, dos quais cerca de trinta milhões se destinam, directa ou indirectamente ao produto neve, tão bem ilustrado nestas fotografias que aqui apresento.

domingo, janeiro 07, 2007

Falemos de acessos, mas com seriedade

Na Kaminhos encontrei esta notícia, publicada no dia 1 de Janeiro, sobre o trânsito no maciço central. Achei particularmente interessante este excerto:
"É verdadeiramente assustador" [o elevado número de veículos na zona da Torre em certos fins de semana], sublinha António Martins, porque "quem sobe tem que descer em segurança e com alguma rapidez". O que nem sempre é compatível, como aconteceu no passado dia 8, quando os automobilistas demoraram, sem neve, três horas para descer de Piornos para a Covilhã. Este será o principal dilema da serra da Estrela, que tem este ano mais um acesso com o novo troço da EN 338, entre Loriga e a Lagoa Comprida.
Contudo, mais acessos significam mais carros e autocarros no cume, até porque os visitantes continuam a arriscar para ver a neve.
Quem afirma que "mais acessos significam mais carros e autocarros no cume" é António Martins, director de Estradas do Distrito da Guarda.

Parece-me que podemos deduzir das suas palavras que António Martins acha que o novo acesso criado com a inauguração do troço da Estrada Nacional 338 entre Portela do Arão e a Lagoa Comprida não contribui para o desanuviar do trânsito, antes o complica. E que ele tem a mesma opinião acerca da planeada Estrada Verde (os nomes que eles não inventam!) com que se pretende criar um novo acesso entre a Guarda e o maciço central.
O Cântaro Zangado concorda inteiramente.

sábado, janeiro 06, 2007

Falemos de turismo, mas com seriedade

Artigo de opinião publicado pela Kaminhos:
Serra da Estrela merece um debate sério
OPINIÃO: Luís Veiga (Carta aberta)

Face às sucessivas notícias protagonizadas pela imprensa escrita regional e nacional referenciando comentários do Pres. Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE) sobre o nível de ocupação do fim-de-ano na hotelaria, cabe-nos tecer os seguintes comentários:
O n/ Grupo, IMB HOTÉIS, pelo facto de deter três unidades hoteleiras (duas na Covilhã e uma na Guarda) com cerca de 650 camas constitui-se como barómetro do nível de ocupação do destino Serra da Estrela.
Nunca nos foi questionado pela R.T.S.E. qual a ocupação prevista ou efectiva no fim-de-semana da passagem de Ano, ou noutro qualquer período.
Não temos conhecimento que a R.T.S.E. detenha algum sistema de monitorização das taxas de ocupação das unidades hoteleiras da região!
Logo, concluímos ser impossível, por conhecimento próprio do parque hoteleiro da região, terem pernoitado "...5000 clientes nos principais hotéis..." ou "...20.000 pessoas..." como é salientado pelo Presidente da R.T.S.E., se tais afirmações lhe pertencem! Se for verdade o que pretende com isto?

Também não podemos aceitar que um Administrador da Concessionária destaque na RTP 1 que passaram pela Serra da Estrela 1, 5 milhões de turistas no ano transacto e que se espera chegar a 10 milhões daqui a dois anos! Para que fique registado, em 2005 os Pirinéus e os Alpes franceses registaram 7,6 milhões de turistas.
Afinal, o que se pretende com este conjunto de afirmações??

Posto isto, cabe-nos informar com veracidade os leitores e potenciais investidores para o seguinte:
A avaliação competitiva do destino Serra da Estrela configura claramente um estado de pré-crise (aliás já prevista e explicada pela lógica de massificação / vulgarização do destino, com responsabilidades directas da Concessionária com a exclusividade do turismo e desporto na Serra da Estrela).
A evolução negativa da taxa de ocupação no ultimo triénio e a redução das receitas na generalidade dos hotéis são provas concludentes disso, conferindo níveis de rentabilidade apenas sofríveis no destino para os actuais investidores.

Como comentário final, consideramos oportuno questionar as entidades públicas responsáveis pelo PITER da Serra da Estrela se, face ao período previsivelmente mais reduzido de queda de neve, os investimentos a apoiar contemplam seriamente aquela inevitabilidade, colocando como novo factor de atractividade do destino as actividades de natureza e de turismo activo, concentrando-se na oferta de produtos e serviços turísticos de qualidade onde a Requalificação, Ordenamento e o respeito pelo Ambiente serão, isso sim factores fundamentais na escolha do destino.

Saberão também os responsáveis do turismo nacional que na própria Suiça, os bancos deixaram de financiar no ano transacto as empresas turísticas que centram o seu negócio na neve e que se situem abaixo dos 1500 metros de altitude?

Para a n/ região, “os tais milhões” são tão estruturantes que a sua correcta aplicação justifica cada vez mais um urgente debate, para bem do n/ futuro!

Covilhã, 03.01.07
Luís Veiga,
Administrador Executivo IMB Hotéis

Desde o início que afirmo no Cântaro Zangado que a massificação e a banalização da Serra da Estrela são más opções, até para o turismo, e que são essas opções que a Turistrela/RTSE têm tomado. Mas eu falo de fora, não estou profissionalmente ligado ao sector. Falo como um turista. Fico contente por ver que a minha opinião coincide, neste aspecto, com a de um profissional do turismo, e dos mais importantes da região.

Inversão Térmica

imagem retirada hoje do site do IM
Esta imagem mostra os valores de temperatura registados pelas estações automáticas do instituto de Meteorologia. Podemos observar claramente o fenómeno de "inversão térmica" onde a temperatura inverte a sua tendência habitual de descida com a altitude. Podemos ver que, na zona em questão, as Penhas Douradas e a Guarda tem temperaturas superiores aos locais a mais baixa altitude.

A estância Vodafone,...

... Como ela tem sido durante quase toda a época 2006/2007.

Obrigado, Cova Juliana, pela eloquente imagem.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Afinal a Neve não Cai...,Brota

Pois é, aparentemente, na nossa estanciazinha de esqui da Serra da Estrela, a neve não cai...ela brota!!Só pode...se não vejamos:
  • no dia 30 de Dezembro, como já aqui disse, a estância tinha apenas 1 pista a funcionar (a mais pequena - cerca de 100 metros) e apresentava a altura astronómica de 10 cm (nem sei como conseguem medir isto?!);
  • no dia 2 de Janeiro de 2007, a estância não tinha nenhuma pista ou teleski a funcionar (ver imagem em cima) e tinha uma altura máxima de neve de 4 cm!!
  • hoje, dia 5, como podemos ver na figura em baixo temos novamente a pista de cerca de 100 metros aberta e uma altura máxima de neve de 15 cm!!

Como será que se conseguiu a proeza de ganhar 10cm de neve em 3 dias?

Ora, desde dia 30 não nevou "do céu", a neve fora das pistas era inexistente (por isso já nem a táctica da "importação" de neve funcionava) e os canhões não podiam produzir neve devido às altas temperaturas! Mas agora o leitor diz: "livra!!Altas temperaturas?!?Aqui em Manteigas (ou Lisboa ou Covilhã) tem estado um frio de rachar à noite homem!!" Tem toda a razão, mas este frio faz-se sentir mais intensamente nos vales devido ao acumular do ar frio e "mais pesado" que desce da montanha, permitindo assim a "entrada de ar mais quente em altitude. A isto chama-se o fenómeno de "inversão térmica". E o que quero eu dizer com estas balelas todas?!Quero dizer que não tem havido condições para se criar neve artificial na estancia Vodafone 2000 da Serra da Estrela recorrendo aos canhões!

Então donde vem a nova neve?Sei lá!Talvez brote da terra? O que lhe parece caro leitor? Ou talvez a Turistrela, com o patrocíonio da Vodafone, tenha pago a um alquimista para fazer neve quente...
uhm...nãããã... o mais provável é que tenham reduzido a pista a metade e usaram a neve da 2ª metade para cobrir a da primeira!
Seja qual for a hipótese, o preocupante é que estes senhores continuam a divulgar a estância como se ela estivesse no seu funcionamento normal! Não há um único aviso na página a dizer que a estância está de facto fechada! Continuam a vender pacotes de alojamento de 3 ou 5 dias onde, por mais um valor "x", se tem direito a 3 ou 5 dias de passe (vulgo, forfait) para utilizar os teleskis!!

Será isto ilegal?Será publicidade enganosa? Talvez não seja nenhuma destas mas que demonstra o carácter desta empresa demonstra!O importante é deixarem cá o dinheiro e fazerem número para as estatísticas, NÃO É?

Nota: as imagens apresentadas neste texto foram retiradas da página da Turistrela

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Mil milhões de árvores

As Nações Unidas lançaram uma campanha de reflorestação a nível mundial, com o título "Plant for the Planet: Billion Tree Campaign. Este título faz lembrar o do programa da ASE, "Um milhão de carvalhos para a Serra da Estrela". Três vivas a um e ao outro, venham mais muitos como estes!

Soube disto pelo Ondas.

Clube Nacional de quê?

Foi publicada no Jornal do Fundão uma notícia interessante (que pode ler clicando na imagem junta), segundo a qual o Clube Nacional de Montanhismo - Delegação Centro se prepara para participar na campanha imobiliária que o presidente da Câmara da Covilhã quer promover com o lançamento da "mini-cidade" de montanha das Penhas da Saúde.

O Clube Nacional de Montanhismo - Delegação Centro é um clube vetusto, com cinquenta e tal anos de história, do qual (se não me engano) sou sócio desde o início dos anos oitenta. Não tenho a certeza de ser sócio deste clube porque, em boa verdade, só dou pela sua existência quando aparece o cobrador com as quotas em atraso. Mas já fui elemento activo da secção de montanha, no início dos anos noventa. Nesse tempo, apesar de ser muito minoritária a fracção dos sócios que praticavam montanhismo (coisa estranha num clube dito de montanhismo), todos os fins de semana havia cordadas do clube no Cântaro, e grupos do clube em caminhadas. O clube dava formação em escalada, técnicas invernais, orientação. Não me lembro do que aconteceu que me fez afastar do clube. Possivelmente terá sido apenas individualismo, falta de pachorra para reuniões com pessoas que não queriam saber de montanhismo para nada, o facto de pouco a pouco ter ido adquirindo o material de que necessitava, ficando menos dependente do clube, sei lá! Sei que aconteceu o mesmo a todos os meus antigos companheiros.

É interessante comparar o que o clube é hoje e o que já foi. E é interessante comparar o historial montanheiro e o calendário de actividades do clube com o de outros similares (no nome, pelo menos), como o Clube de Montanhismo da Guarda, o Clube de Actividades de Ar Livre, a Associação de Desportos de Aventura Desnível e muitos, muitos outros (Clique nas links para ficar com uma ideia geral).
Acho também interessante que um clube de montanhismo se meta nestas andanças.

Que ao actual presidente do Clube Nacional de Montanhismo não interessem estas questões, não me admira nada. Admira-me (e já nem isso...) é notar o mesmo desinteresse na redacção do Jornal do Fundão...

Soube disto pelo blog Cortes do Meio.

Câmara Municipal de onde?

Encontrei hoje na minha caixa de correio um desdobrável da Câmara Municipal da Covilhã com a lista das actividades e espectáculos previstos para o mês de janeiro. A capa do dito desdobrável é ilustrada com a figura que apresento acima.
Ao certo, ao certo, em que ponto do Concelho da Covilhã é que esta fotografia terá sido tirada?

quarta-feira, janeiro 03, 2007

A perspectiva correcta das coisas

O aquecimento global não começou este ano. O aquecimento global não começou este ano a fazer-se sentir na Serra da Estrela. Já houve no passado outros Invernos parecidos com este. Outros Invernos, no futuro, serão decerto melhores do que este.
Pode não nevar mais na Serra da Estrela este ano. Isso não prova nem desmente nada. Pode começar a nevar amanhã e não parar até Abril. Isso não prova nem desmente nada.
Mas é um facto que já não neva na Serra como nevava há dez anos. E é um facto que não nevava há dez anos como nevava há vinte. É um facto que se acumulam os sinais das alterações climáticas. Eles não são muito claros num dado ano mas notam-se bem quando se consideram décadas.
Neste ano ou no próximo, será possível a prática do esqui na Serra? Não sei, mas diria que sim. E daqui a dez anos? Suspeito que apenas em alguns dias de alguns Invernos...

terça-feira, janeiro 02, 2007

Impactos

Fotografia "roubada" no blog Estrela no seu melhor.
Fazem-se estudos de impacto ambiental (EIA) para quê? Sem dúvida, para se decidir, em função de critérios ambientais, se um dado empreendimento pode ser autorizado. Mas não é só para isso. É que a autorização de um empreendimento não significa que se considerem nulos os seus impactos. Assim, é necessário considerar alterações aos projectos capazes de anular aqueles impactos previstos pelos EIA que podem ser anulados e estudar medidas que mitiguem a gravidade dos restantes. Estas são também funções dos EIA e são, pelo menos, tão importantes como a de decidir se é ou não autorizável um dado projecto.

Quais são os impactos ambientais do funcionamento da estância de esqui da Turistrela? Qual a sua gravidade? Que medidas podem ser tomadas para diminuir esses impactos? Essas medidas estão a ser tomadas? Se a capacidade da estância, medida pelo número de esquiadores por hora que os meios mecânicos instalados permitem satisfazer, for duplicada, com a redistribuição dos teleskis existentes, isso não aumentará os impactos e a sua gravidade? Já alguém fez estudos sérios para dar respostas sérias a estas questões? É aceitável que ainda não tenham sido feitos? É aceitável que continuemos sem os fazer, agora que se considera a redistribuição dos teleskis?

Com todas estas perguntas, onde quero chegar é ao seguinte: quanto a mim, não só deviam ser obrigatórios os estudos de impacto ambiental para as obras que a Turistrela quer realizar agora a curto prazo, como devia ser obrigatório um estudo de impacto ambiental para o próprio funcionamento regular da estância, com ou sem obras.
Deixemo-nos de lirismos, o respeito pelo ambiente tem um preço. A concessionária exclusiva do turismo e dos desportos no Parque Natural da Serra da Estrela está, ou não está, disposta a pagar a sua quota? Em função da resposta que dá a esta pergunta, ela merece, ou não merece, essa concessão?

PDSSE nas notícias

Eu (José Amoreira) e o vice-presidente dos Amigos da Serra da Estrela (José Maria Saraiva), na nossa qualidade de elementos da Plataforma pelo Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela (PDSSE), fomos entrevistados pelo jornalista Luís Fonseca. Pode ler a notícia resultante no Diário XXI de hoje, ou aceder a ela clicando aqui.
Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!