Ontem (sábado 13 de Janeiro) de manhã abri a página da Turistrela para ver quais eram as condições da estância. Eis o que dizia a página:

Pois, nada de novo. Têm aberta uma pistinha cujo comprimento não tenho a certeza que chegue aos 100m. Estão assim desde o início da época, com a excepção da semana do natal em que conseguiram abrir uma outra pista. O mapa da estância, tal como ela tem estado a funcionar esta época, resume-se ao traço vermelho da figura que mostrei
aqui.
Agora, interessante, interessante é a indicação da profundidade da neve. Dois centímetros?! Não admira que esteja dura. Deve estar tão dura como as rochas que se encontram por baixo!
Mas chega de internet. Ontem à tarde fui escalar para a Placa da Francelha, ou seja, passei perto da estância, por volta das 14:30. Eis uma fotografia desta estrutura importantíssima para o desenvolvimento do país, como lhe chama Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela):

Quer apreciar a qualidade da neve de 2 cm? Pois bem, aprecie:

Nada mau como manto branco, hem?
E tal, musiquinha ambiente, e tal, gente a esquiar na pista de aprendizagem e bicha de dez pessoas no teleski, e tal, tractores com reboques cheios de neve recolhida sei lá onde e que ali era depositada, e tal, o lixo do costume por ali espalhado, e tal, até, snowboarders em sessão fotográfica numa área com seis metros de comprimento e terminando num montinho de neve ali ajuntado (para saltos), gritando "yo!" e "radical!" uns para os outros, cheios de estilo e roupas de marca.
E diz-me o meu colega de cordada: "Incrível, mesmo, é que haja quem pague para isto! Somos mesmo um país de parvoetas!".
Pois somos.
Nota 1: este ano é um ano especialmente quente, já o sabemos. O próximo ano pode muito bem ser muito melhor que este. Pode até começar a nevar amanhã e não parar até Março. Mas a verdade é que, fora certos dias especiais de certos invernos especiais, a neve na estância vodafone derrete durante a tarde e congela durante a noite. Assim sendo, é dura como vidro até meio da manhã (questão que é parcialmente resolvida pela passagem dos ratracks logo pela manhãzinha) e mole como papa o resto do dia. Neve pó na Serra da Estrela é muito, muito rara.
Seja como for, a verdade é que a tendência do aquecimento global deixa poucas dúvidas sobre a viabilidade do esqui na Serra da Estrela. Talvez pudesse concordar com a manutenção da estância de esqui, desde que (1) ela se mantivesse na área que agora ocupa; (2) fossem seriamente estudados os impactos ambientais do seu funcionamento e implementadas medidas que os mitigassem, e isto independentemente de quaisquer obras que a Turistrela lá queira realizar; (3) que tudo isto se fizesse com verbas do investidor e não dos nossos impostos. Se é para deitar dinheiro fora apoiando actividades tão previsivelmente moribundas, preferia que que o estado apoiasse, por exemplo, pequenas e médias empresas de lanifícios que ainda subsistem na região. Mas bom, mesmo, era ver o estado a apoiar actividades com futuro, como as relacionadas com o turismo de natureza.
Nota 2: No site da Turistrela podemos ainda ver que a telecadeira da Torre se encontra em funcionamento. Desengane-se, caro esquiador ou snowboarder. A telecadeira está em funcionamento, sim, mas a neve não chega até lá. Está aberta apenas para as voltinhas dos "tristres", não é para si enquanto utilizador da estância.