Treze fins de semana (26 dias) durante os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro, mais a semana do natal (5 dias, que os outros dois já os contei) mais a do Carnaval (outros 5 dias). Total: 36 dias de engarrafamentos na Serra da Estrela por ano. A sério? Não, estou a exagerar, e muito. Mas vá. Aceitemos este exagero. Sejam trinta e seis dias de trânsito caótico na Serra da Estrela. Como resolver este gravíssimo problema?
Antes de mais, quero notar que onde não há estradas, não há problemas de trânsito e ninguém se queixa da falta de acessos. Alguém protesta por não haver acesso asfaltado ou por telecabines ao cimo do Mont Blanc? Ou do Monte Perdido? Ou do Almanzor? Ou do Ben Nevis? Ou da Serra do Gerês? Ou da da Gardunha? Não que eu saiba.
Na nossa região tem muita adesão a teoria de que para resolver os problemas de trânsito na Serra são precisas mais e melhores estradas. Esta teoria foi muito detalhadamente explicada por Lemos dos Santos, o coordenador da Acção Integrada de Base Territorial da Serra da Estrela, no blog que o programa PETUR dedicou a este tema. António Martins, o director de estradas do Distrito da Guarda, desmontou esta tese (não sei se plenamente consciente de que o estava a fazer) com a afirmação "mais acessos significam mais carros e autocarros no cume" (ver aqui), afirmação que eu levo às últimas consequências na forma "mais acessos significam mais carros e autocarros no cume, logo, mais e maiores engarrafamentos".
Nos últimos anos, Artur Costa Pais (administrador da Turistrela) e Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo) têm defendido a construção de telecabines para a Torre, argumentando que elas reduzirão o tráfego lá no alto (até já li frase "vamos acabar com o trânsito na Torre"). No entanto, nunca apresentam estimativas (nem estudos que as apoiem) de quanto esperam ver o tráfego diminuir com a entrada em funcionamento das telecabines, nem nunca os ouvi defenderem explicitamente o encerramento da estrada quando isso se der. Ou seja, as telecabines irão reduzir imenso o trânsito.
Ou então, não. Logo se vê.
Vejamos como se faz "lá fora". No Parque Nacional de Ordesa Monte Perdido (Pirinéus) encerrou-se a estrada ao trânsito particular nas alturas mais problemáticas e entrou em funcionamento um sistema de transportes públicos colectivos rodoviários. Pode ler sobre isto nesta página (procure no final do documento). Uma coisa parecida foi implementada no Parque Nacional dos Picos da Europa (Astúrias), como se pode ler no Real Decreto 384/2002. No Parque Nacional da Peneda-Gerês foi recentemente decidido que os veículos motorizados terão que pagar para circular na área abrangida pela Reserva Biogenética da Mata de Albergaria (ver aqui).
Qualquer destas medidas faz claramente diminuir o número de veículos em trânsito pelas áreas a proteger (refiro-me à protecção contra os engarrafamentos), logo, contribui decisivamente para a regulação do tráfego nessas áreas. Não só contribuem garantidamente para resolver o problema, como são muito mais fáceis e mais baratas de implementar do que as estradas de Lemos dos Santos ou as telecabines de Artur Costa Pais e Jorge Patrão. E têm menos impactos ambientais e paisagísticos.
Dir-me-ão que estas medidas têm o inconveniente de diminuir o número de turistas que visitam o maciço central. Sim, mas... Será possível resolver os problemas do trânsito na Serra, mantendo o degradante circo *daqueles* 36 dias por ano? Mais ainda: será desejável?
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