sexta-feira, janeiro 12, 2007

Falemos de turismo, mas com seriedade (III)

O Jornal do Fundão publicou um artigo com declarações de Alçada Rosa (entre outras funções com relevância nacional na área do turismo, foi administrador e accionista da Turistrela no tempo em que era ainda uma empresa maioritariamente pública), de que quero realçar o seguinte excerto:

O mesmo espírito crítico do ex-administrador da Turistrela aplica-se à política de concessão turística caso da Serra da Estrela e quando está eminente a revisão da concessão, Alçada Rosa considera "não haver razões para manter um estatuto cuja única vantagem é não pagar impostos sobre os lucros".

Parece-me que a vantagem de "não pagar impostos sobre os lucros" o é apenas para a empresa concessionária. Quando, ainda por cima, essa empresa recebe apoios do estado (que, como todos os apoios do estado, resultam das contribuições de todos mas, pelos vistos, não das dela), percebe-se melhor quão vantajosa essa vantagem é para a empresa em questão, e quão desvantajosa o é para todos os demais.
Temos então ainda mais uma voz destacada a pôr em causa o status quo do turismo na Serra da Estrela. Não querem ver, um dia destes até descobrimos que o pensamento do Cântaro Zangado é mainstream...

Críticas às orientações para o "desenvolvimento" do turismo na Serra, ou seja, críticas à parelha RTSE/Turistrela, sempre as ouvi, de pessoas que gostam da serra pelo que ela é. De pessoas que sabem o que hão-de fazer para se entreterem numa montanha, das que não precisam de "barzinhos de refrescos", de centros comerciais ou de casinos. De pessoas que dispensam as estradas para conhecer as maravilhas da Serra. De pessoas que buscam nas montanhas o contacto com a natureza, o sossego, a beleza das paisagens e o alívio do rebuliço e da fealdade das zonas urbanas (sejam essas zonas cidades ou "mini-cidades"). De pessoas como as que se podem encontrar em todas as montanhas da Europa durante todo o ano, com neve ou sem neve, pagando por coisas que, cá em Portugal, estranhamente, se podem comprar muito mais facilmente no Gerês do que na Estrela. De pessoas que, em todas as montanhas da Europa menos na Serra da Estrela, são consideradas os clientes alvo da actividade turística.
O que notei com muito agrado esta semana foi ver personalidades destacadas da nossa região a juntarem-se a este coro desta forma tão clara. O que RTSE/Turistrela tem feito está errado. É mau para o ambiente, claro, mas também o é para o turismo.
Espero que estes sejam sinais de que se vai encerrar de vez o ciclo do desenvolvimento do turismo rasca, do turismo do entulho!

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!

Nota: Soube das declarações de Alçada Rosa pelo blog Cortes do Meio. O longo parágrafo final deste post é uma cópia de um comentário que deixei no Máfia da Cova a um artigo sobre as cartas de Luis Veiga e de Pedro Guedes de Carvalho à Kaminhos. Estas cartas foram também tratadas pelo Oceano de Palavras, de Seia.

Sem comentários:

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!