Porque é que a produção artificial de neve pode ter consequências no meio ambiente?
- Para fazer funcionar os canhões de neve é precisa energia. Muita, muita energia. A energia é produzida (em Portugal, pelo menos) principalmente por combustão de combustíveis fósseis. Deste modo, a produção artificial de neve contribui para as emissões de gases de efeito de estufa, contribui para o aquecimento global.
- Para produzir neve é precisa água. Muita, muita água. Esvaziam-se lagoas de montanha e secam-se ribeiros para encher encostas de neve. Na Serra da Estrela, a água para a produção de neve vem da pequena lagoa nas proximidades do cruzamento da Torre. Em circunstâncias normais, essa água escorre para o Zêzere. A que é usada para a produção de neve, é canalizada para a encosta da estância e vai escorrer para o outro lado da Serra, ou seja, para o Mondego. Mas, se a estância for ampliada, não custa nada imaginar uma situação em que a água desta pequena lagoa deixe de ser suficiente. Será então necessário bombear água das lagoas do Covão do Quelhas. Mais motores e canalizações na Serra, mais gastos escusados de energia.
- Para produzir neve são necessários núcleos de condensação. A água usada para fabricar neve é misturada com ar fortemente comprimido e projectada num jacto pelas bocas dos canhões de neve. A expansão súbita do ar arrefece a mistura (chama-se a isto uma expansão adiabática) e pulveriza a água em finas gotinhas, transformando o jacto num "spray". Mas o arrefecimento não chega para produzir cristais de neve. É ainda necessária a presença de pequenas partículas em suspensão (foligens, poeiras, outros cristais de gelo), os chamados núcleos de condensação, que devem ser misturados na água para que se forme a neve no jato produzido pelos canhões. Como núcleos de condensação é conveniente usar substâncias quimicamente inertes(1). Frequentemente são usadas bactérias mortas e não patogénicas como a Pseudomonas syringae. Por muito inocentes que estas bactérias sejam, o aumento das concentrações de matéria orgânica (mesmo que constituída apenas por bactérias mortas) nos ribeiros de montanha não parece uma coisa muito boa, pois não?
Pode haver (haverá, concerteza) outros aspectos a considerar nesta questão, que não me vêm agora à mente. Seria tolo se pretendesse que este post alinhavado à pressa é um estudo aprofundado do tema.
Concluindo, a produção de neve artificial tem impactos ambientais? Sem dúvida. Serão graves ao nível local? Não sei, talvez não. Já foram estudados esses impactos aqui na Serra da Estrela? Sei de pelo menos um "quase-estudo", mas tenho muitas dúvidas sobre a sua profundidade e sobre a capacidade científica de quem o levou a cabo. Refiro-me àquele que permitiu a Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, afirmar categoricamente que os investimentos na estância não terão impactos ambientais ou, se os tiverem, serão positivos (veja aqui esta profunda declaração de impacto ambiental).
(1) Mas é sabido que substâncias consideradas quimicamente inertes (ou quase) podem ter efeitos nocivos sobre o ambiente. O exemplo mais gritante é talvez o dos CFC's, usados nos sprays e nos fluidos térmicos dos refrigeradores, e que são considerados responsáveis pela rarefacção do ozono estratosférico que nos protege da radiação ultravioleta solar.
Mais informação pode ser obtida no site da organização Mountain Wilderness.
Sem comentários:
Enviar um comentário