Mostrar mensagens com a etiqueta Turismo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Turismo. Mostrar todas as mensagens

domingo, setembro 18, 2011

Uma boa ideia

A Câmara de Manteigas está a reconstruir um edifício nas imediações do viveiro das trutas para aí instalar o seu Centro Interpretativo do Vale Glaciar do Zêzere. Acho que é uma boa ideia! Venham mais como essas!

Já agora, permitam-me uma sugestão (que, se calhar, até está já na mente dos responsáveis): que o novo Centro Interpretativo, mais do que ser apenas a sede de uma exposição permanente, mantenha um programa anual diversificado de visitas guiadas temáticas, cursos, exposições temporárias, debates, etc, etc, etc. Um pouco como o CISE de Seia. Isso é que era mesmo espetacular!

Soube disto pelo Blog dos Mateigas.

sexta-feira, setembro 02, 2011

Lirismos (ou talvez não)

O poeta António Pereira louvava o Algarve com os versos

Eu sou algarvio
E a minha rua tem o mar ao fundo

No Público de quarta feira (31 de Agosto), na página 22, António Rosa Mendes lamentava o mal que foi feito ao Algarve, constatando que o "desenvolvimento" (aquilo que, aqui no Cântaro, chamamos algarveamento) tinha já tornado impossível falar do Algarve como António Pereira falava.

Miguel Torga, referindo-se à serra da Estrela, disse

"Alta, Imensa, Enigmática,
A sua presença física é logo uma obsessão"
(...)
"Se alguma coisa de verdadeiramente sério e monumental possui a Beira, é justamente a serra."
(...)
Somente a quem a passeia, a quem a namora duma paixão presente e esforçada, abre o coração e os tesouros. Então, numa generosidade milionária, mostra tudo.

Quanto disto é que ainda se pode dizer, a sério, sem mentir? Quanto disto é que poderemos dizer no futuro? Quantas mais estradas, teleféricos, aldeamentos, hotéis, casinos, parques eólicos, barragens, pistas de esqui e centros comerciais são ainda possíveis numa serra da Estrela minimamente compatível com as palavras de Miguel Torga?

E que serra preferimos? A de Miguel Torga, ou a do lixo, dos congestionamentos de tráfego e das aldeias de montanha que "estão a nascer aqui"?

quarta-feira, agosto 03, 2011

Fatalidades e escolhas

Se há lixo na zona da Torre, isso não é uma fatalidade. Se o há é porque nós o quisemos no passado e continuamos a querer. Não fomos obrigados a aceitar os milhares de visitantes que pretendem escorregar em plásticos na neve, nalguns (felizmente poucos) fins de semana por ano. Não, nós incentivámos (e continuamos a incentivar) esse turismo construindo cada vez mais estradas, mais parques de estacionamento, abrindo centros comerciais, cafés, centros de interpretação, restaurantes, restaurando capelas e lançando concursos de ideias para todos os mamarrachos que se vão aguentando na Torre e que ainda não têm função.

Podíamos não ter construído nada na Torre, nem ter aberto a estrada N339 pelo maciço central. Alguém nos obrigou? Não, foi (e continua a ser) uma escolha nossa, e muitíssimo original, diga-se de passagem (que estradas asfaltadas passam pelos pontos mais altos da Gardunha, do Gerês, da Sierra de Gredos, dos Picos da Europa, da Sierra Nevada, dos Pirinéus, dos Alpes, das Scotish Highlands, do Monte Olimpo, etc, etc, etc, etc, etc?). As consequências dessa escolha são isso mesmo, não são uma fatalidade infeliz. São aquilo que nós escolhemos.

Agora que a coisa na Torre está como está, se quiséssemos, podíamos demolir os mamarrachos lá construídos (ou alguns deles, pelo menos), limpar o entulho todo e encerrar ao trânsito rodoviário os 800 m do acesso desde a N339 até à Torre (aqui não falo, portanto, de encerrar ao trânsito a estrada nacional, nem de impedir o acesso à estância de esqui, apenas de fechar aquele troçozito até à Torre). Ou então, podíamos limitar mais o número de viaturas que são autorizadas a subir, naqueles fins de semana caóticos. Mas não é isso que queremos, pois não? Pois bem, como não o é, temos aquilo que escolhemos: engarrafamentos, lixo e ruinas foleiras.

Podíamos ter um turismo com permanências mais longas, com mais bens e serviços a serem comprados pelos visitantes, melhor distribuído por todo o ano, como o que as outras montanhas da Europa oferecem. Mas não, temos nalgumas alturas do ano milhares de visitantes que chegam de manhã e partem à tarde, que não deixam na região senão lixo. Azar o nosso? Infortúnio? Fatalidade? Não. Temos o turismo que escolhemos. Em geral do que falamos quando falamos de turismo? Quase sempre, de novas estradas para as zonas altas da serra; outras vezes, de novos hotéis em altitude, de minicidades, de funiculares, de teleféricos de casinos, de piscinas-spa, de centros de estágio desportivos. Ou seja, quase sempre, quando falamos de turismo, falamos, na verdade, de construir, construir, construir. De encher a serra de entulho e de asfalto. E, quando chegamos a fazer alguma coisa, normalmente, é a dar expressão a esse discurso da construção. Muitas vezes, a coisa não chega a acabar-se, ou é imediatamente abandonada (veja-se o antigo teleférico Piornos-Torre ou a base da força aérea na Torre), restando apenas entulho. Degradamos assim a paisagem com estradas, com urbanizações, com teleféricos (ou com o que continua a restar das suas ruínas), com barragens, com parques eólicos... Mas que turismo é que esperamos desenvolver deste modo, senão o que temos tido? Dadas as escolhas que temos tomado, podemos mesmo espantar-nos por a serra da Estrela estar quase sempre ausente dos roteiros de turismo de natureza e turismo activo, desses que, por esta altura os jornais publicam nos seus suplementos de fim de semana?

Temos o que temos, não por fatalidade, não por azar, não por conjugação adversa de forças cósmicas. Temos o que temos, porque é o que temos que andámos a cultivar nas últimas dezenas de anos. Temos o que temos porque é o que quisemos, é o queremos. E, enquanto continuarmos a insistir no rumo que nos trouxe até aqui, continuaremos a braços com as suas consequências. Não, não se diga que é fatalidade, é antes opção. É, e tem sido nas últimas dezenas de anos, a nossa opção.

terça-feira, julho 12, 2011

Linhares da Beira

Linhares da Beira (ao fundo, e desfocada), vista de uma das zonas de descolagem de parapente

Há dias fui a Linhares da Beira, com a ideia (que não se chegou a concretizar) de experimentar o parapente. Almocei num restaurante bastante bom, com pratos sofisticados, mais ou menos inspirados na gastronomia regional. Gostei muito da comida, mas gostei ainda mais de notar que os empregados e empregadas do restaurante sabiam falar do parapente, sabiam quanto tempo costumam durar os voos de baptismo, se metia medo ou se era agradável, que tinham eles mesmo já experimentado!
Da última vez que fui a Linhares, há cerca de seis anos, almocei noutro restaurante, igualmente apostado em apresentar qualidade aos seus clientes (e em facturar com essa qualidade, claro está, cobrando um pouco mais). As paredes do restaurante estavam decoradas com fotografias de parapente, desde imagens de acrobacias até fotografias de grupos de praticantes, algumas com assinaturas. Ambos os restaurantes, localizados numa terra pequena e relativamente envelhecida, conseguiam dar uma imagem jovem mas sofisticada, desportiva mas não à balda, descontraída mas bem educada.

Fico com a sensação que em Linhares da Beira têm tentado (aparentemente com sucesso) lucrar com a prática de uma modalidade para a qual a terra tem boas condições. Óptimo! É só pena que, na generalidade da serra e muito especialmente aqui na Covilhã, se continue a dizer que "nós aqui vivemos da neve" (como se a serra da Estrela tivesse boas condições para os desportos de neve), se continue a vender o mais caro possível gato por lebre com expedientes rascas (como os que referi aqui, mas exemplos não faltam), que se continue à espera de um ovo de Colombo mágico que faça o bem que nós não temos querido nem sabido fazer e que corrija os males em que continuamos, cegamente, a insistir.

domingo, junho 19, 2011

Sanatório dos ferroviários

Gruas no sanatório

Há já alguns meses, iniciaram-se as obras de reconstrução do antigo sanatório dos ferroviários, situado entre a Covilhã e as Penhas da Saúde. Esta reconstrução, que ao longo das décadas foi sendo anunciada "para breve", teve uma história interessante, que resumi aqui.

Admito que sejam uma necessidade temporária, mas não gosto mesmo nada de ver a crista da colina da Covilhã decorada com estas gruas. Oxalá que as obras sejam rápidas e que não afectem uma área muito alargada.

Sobre a importância para o turismo das reconstruções na serra, tenho a opinião que apresentei noutro post: que, quase sempre, em vez de reconstruir, é melhor demolir e limpar e ainda que o que importa mesmo reconstruir é a paisagem e o ambiente. Só para dar um exemplo, consegue-se imaginar a importância turística de uma floresta autóctone e variada (carvalhos, bordos, vidoeiros, castanheiros, freixos, tramazeiras, cerejeiras, etc) mais ou menos contínua entre a Covilhã e Unhais da Serra (estou a considerar apenas as zonas mais afastadas dos povoados, os baldios tradicionalmente desaproveitados para a agricultura)?

Uma tal floresta, já formada, atrairia turistas pelos valores naturais (observação e interpretação da natureza) e paisagísticos (imaginem-se, como já sugeri aqui, as cores de Outono que a colina da Covilhã apresentaria), gastronómicos (cogumelos e bagas) ou até pela caça. Claro que, dado o estado em que as coisas estão, seria preciso esperar décadas para que as árvores crescessem. Ah, se tivéssemos começado este esforço em 1991, quando ardeu o pinhal sobre a Covilhã...

Mas entretanto, poderíamos também dinamizar o turismo atraindo activistas e voluntários para acções de reflorestação. Sim, isso também é (ou pode ser) turismo! A Associação Cultural dos Amigos da Serra da Estrela tem todos os anos trazido a Manteigas várias centenas de pessoas que participam nas actividades do programa Um milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela. Se uma associação cultural, com uma estrutura pequena e amadora, tem conseguido o que consegue, ano após ano, o que não conseguiria uma autarquia ou associação de municípios, uma região de turismo ou uma associação de empresários? O que não conseguiriam duas ou mais destas estruturas em colaboração?

domingo, maio 29, 2011

Ovos de Colombo (já um pouco passados...)

In Notícias da Covilhã, 3 de Maio de 2007 (clique para tornar legível).

Quando arrumava a papelada de uma estante cá em casa, dei com uma página do Notícias da Covilhã que tinha arquivada (ou melhor: o mais parecido com arquivada de que sou capaz, ou seja, completamente esquecida naquela estante, a apanhar o pó dos anos) porque continha um artigo (de 03/05/2007) sobre um estudo encomendado nesse ano à equipa de Daniel Bessa por diversos autarcas da região da serra da Estrela.

Quando este este estudo foi lançado, em Maio de 2007, referi-me ao assunto aqui no Cântaro Zangado. No ano seguinte, quando uma ofensiva mediática relançou o tema, voltei a referi-lo. Posso agora perguntar, passados estes quatro anos e usando os termos elevadamente civilizados com que Carlos Pinto (o Presidente da Câmara da Covilhã) se refere ao programa PETUR, se este estudo é o ovo de Colombo recriado em 2007, 2008, 2009, 2010 ou 2011, e se foi capaz de vislumbrar o que ainda não tinha sido descoberto para o turismo na Serra da Estrela?

Ao iniciar as suas declarações com "Pelo que tenho lido...", Carlos Pinto dá a entender que não estava na posse de todos os dados relativos à produção do programa PETUR. É estranha essa falta de informação (e ainda mais estranho o tom secretista que o jornalista dá a este programa, quando diz que "desde Julho do ano passado pouco se sabe sobre este projecto", logo seguido de "A verdade é que nada se sabe sobre o PETUR"), porque o próprio artigo refere que o programa tinha terminado no ano anterior (daí o pouco que se tinha falado sobre ele desde então) e que tinha sido apresentado, também no ano anterior, em Manteigas.

E, para quem sabe do que se passou, ainda mais estranhas são estas afirmações e insinuações, uma vez que (1) o PETUR foi participado pelas populações em reuniões públicas e não só (por exemplo, eu pude dar as minhas opiniões, num blogue mantido pelo programa); (2) as suas conclusões foram apresentadas publicamente numa sessão oficial em Manteigas; (3) o relatório final foi disponibilizado ao público (de tal maneira que pudemos incluir na margem direita do Cântaro Zangado uma link para o relatório, no final da lista "Blogs de ambiente" [bem sei, está mal arrumada essa link, mas isto comigo não é só as estantes, o que é que se há-de fazer?]). Assim, quem quiser informa-se sobre as conclusões do PETUR, sobre se é um "Ovo de Colombo" ou não. E quanto ao programa encomendado a Daniel Bessa?

Há ainda outra coisinha que me chama a atenção neste artigo. Quando se refere a "Ovos de Colombo", Carlos Pinto parece querer dizer que acredita que há uma solução simples e imediata para o problema do desenvolvimento do turismo na serra da Estrela. Mas... Será possível que ele assim pense?! Naa... Ninguém é assim tão ignorante!

sábado, março 19, 2011

Manteigas Trilhos Verdes

A propósito do post anterior, dois leitores indicaram-me o site Manteigas trilhos verdes, de que não tinha conhecimento (e que gostei de conhecer).

quarta-feira, março 16, 2011

Turismo e pedestrianismo

Tenho dito aqui muitas vezes que considero que o pedestrianismo é uma componente muito importante (senão a mais importante) do turismo de montanha. Por isso, concordo à partida com o esforço da Câmara Municipal de Manteigas na definição de 200 km de trilhos pedestres no concelho, ou com o processo de ampliação, organização e gestão da rede de trilhos da serra da Estrela iniciado pelo PNSE.

Mas, para além da definição dos trilhos, da sua marcação no terreno e da sua sinalização, é importante documentá-los, divulgá-los e, mais ainda, torná-los apetecíveis, "fazê-los viver".

O que é que isso significa? Muitas coisas, conforme o espírito que se pretende dar ao trilho, as suas características e as dos locais que atravessa. Deixo quatro exemplos:

E na nossa serra, não poderemos fazer qualquer coisa semelhante?

terça-feira, fevereiro 22, 2011

A serra e o esqui

O Público de ontem (segunda feira, dia 21) trazia uma notícia sobre João Marques, um jovem esquiador português (da Covilhã) que participou recentemente numa prova internacional de esqui. Nessa peça pode ler-se, a páginas tantas, o seguinte:

(...) apesar de a serra da Estrela ser "o melhor que temos, fica muito aquém das necessidades para um atleta de alta competição de desportos de neve". "Não por falta de vontade, mas por falta de neve", diz [João Marques].

Na serra da Estrela, o tempo para a prática das modalidades de Inverno está centrado, em média, em quatro meses, entre Dezembro e Março. "E mesmo assim nem sempre com a quantidade de neve necessária".

Ou seja, e mais uma vez, apesar de ser "o melhor que temos", a serra da Estrela não é grande coisa para o esqui.

Não pretendo com isto concluir que se deve fechar a estância de esqui. Apenas repito o que toda a gente que pratica esqui com alguma regularidade diz. E daí deduzo que enquanto continuarmos a basear o turismo da serra numa actividade que na serra não tem muita qualidade, continuaremos a ter este turismo desqualificado. Mas é pena, porque a serra merecia mais, e também porque poderíamos aproveitá-la mais lucrativamente

Nota: usei as declarações de João Marques (tal como elas foram transcritas no artigo do Público) mas não pretendo com essa utilização sugerir que ele partilha as minhas opiniões.

sábado, fevereiro 19, 2011

Falando de turismo, a propósito de turismo!?

No vídeo aqui em cima (que encontrei no Blog dos Manteigas) podemos apreciar um autarca da nossa região (presidente da CM Manteigas) que, referindo-se ao desenvolvimento do turismo na serra da Estrela, efectivamente fala de turismo na serra da Estrela! Fala das paisagens, de BTT, de parapente, de caminhadas, e até refere o respeito pela natureza! Eu gosto de ouvir estas coisas! Ainda mais por acontecer tão raramente!

É que o normal é que quando um autarca (ou empresário) da região se pretende referir ao desenvolvimento do turismo na serra, acabe de facto a falar apenas de construções na serra: uma nova estrada asfaltada aqui, um teleférico ali, uma minicidade mais além, um casino acoli, mais um centro de estágios desportivos, um de congressos e dois comerciais, um hotel de charme, um restaurante panorâmico, etc, etc, etc. Ou então, que delire sobre concorrermos com os Alpes e os Pirinéus.
(Isto que acabo de dizer é mais verdade para uns do que para outros; mas é especialmente verdade para os da Covilhã).

Será este mais um sinal de que a forma como os autarcas vêm o turismo e a serra está a mudar (outro sinal foi a criação do CISE pela câmara de Seia há alguns anos)? Oxalá! E, se for, parabéns a Manteigas!

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Assim falava...

... O deputado José Sócrates, hoje primeiro ministro, há quase vinte anos:

In Jornal do Fundão, 31 de Janeiro de 1992, primeira página (clique para aumentar)

Não nos lancemos precipitadamente à crítica fácil! Devemos compreender que, nos últimos vinte anos, se vêm afirmando as teorias corporativistas que defendem o ordenamento estatal da iniciativa empresarial. O que em 1992 muito considerariam um monopólio injustificável e indefensável, é hoje em dia visto com bons olhos e um modelo aplicado em cada vez mais sectores da economia. Aliás, está para breve a refundação da saudosa Câmara Corporativa (que, aliás, deve ter dado parecer para a constituição deste "monopólio do deixa-andar")! Tudo coisas que um jovem deputado como José Sócrates nunca poderia, há vinte anos, ter previsto!

Sim!, aplique-se em todos os sectores da economia o modelo que tanto dinamismo tem trazido ao turismo na serra da Estrela! A bem da Nação!

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

O desespero cega

Um post do Blog Cortes do Meio levou-me a esta "notícia"(*) da Rádio Cova da Beira:

CORTES DESESPERA PELA ESTRADA DAS PENHAS

Candidatura para a requalificação da estrada que liga Cortes do Meio às Penhas da Saúde foi apresentada há um ano ao Proder, mas até à data sem qualquer resposta.

Uma situação lamentada por Paulo Rodrigues, em entrevista ao programa "Radiografias" da RCB o autarca fez o ponto de situação do projecto "os capitais próprios da junta e da câmara da Covilhã já foram investidos nesta obra, mas continuamos a aguardar a aprovação de uma candidatura apresentada pela câmara da Covilhã no dia 28 de Janeiro de 2010, há precisamente um ano, no valor de um milhão 823 mil euros, ao programa Proder, mas até à data sem qualquer resposta".

Segundo o autarca, a estrada, reivindicada há anos, é uma alavanca para o turismo e a mais importante obra para a freguesia "haverá outras importantes mas esta obra é necessária para Cortes do Meio como pão para a boca".

Quanto às urgentes necessidades (tão urgentes, e tão necessárias, "como pão para a boca") a que esta estrada virá dar resposta, volto a repetir a pergunta que a este propósito faço há perto de quatro anos: que desenvolvimento ocorreu em Loriga e Valezim em resultado da abertura da estrada de S. Bento entre a Portela de Arão e a Lagoa Comprida? Sim, sim, toda a gente dizia (mais: toda a gente sabia) que esse desenvolvimento iria, sem dúvida, ocorrer. Mas ocorreu? Já começou a ocorrer, ao menos? Ainda há esperança de que venha algum dia a começar a ocorrer?

Faço esta pergunta aos Loriguenses e peço aos das Cortes do Meio que a façam também. Estudemos soluções que já experimentámos, avaliemos os resultados que se obtiveram, antes de afirmarmos que o que é preciso é mais estradas. Para desenvolver o turismo é preciso mais do que meramente estar no caminho para a Torre (e as Cortes do Meio, tal como Loriga, nunca estarão no caminho natural para a Torre, por mais estradas que rasguem serra acima). Direi mesmo mais: hoje em dia, é preciso *não* estar no caminho para a Torre (com todo o lixo, ruído e desordenamento que caracteriza as áreas dos trajectos já existentes) para que se possa desenvolver um turismo equilibrado e verdadeiramente lucrativo, como o que se pratica nas outras montanhas da Europa.

(*) Na verdade, isto não é bem uma notícia, é mais o eco de um estado de espírito do presidente da Junta de Freguesia das Cortes do Meio, que apresenta os seus desesperos particulares (sejam eles verdadeiros ou meras jogadas tácticas, não é essa a questão agora) como desesperos da freguesia a que preside. É também mais um exemplo de como muitos jornalistas locais entendem que não é função deles fazerem mais do que servir de correio para estes estados de espírito.

sábado, fevereiro 05, 2011

Completamente de acordo!

No site da Rádio Cova da Beira, encontrei uma notícia recente, redigida por Paula Brito, que transcrevo aqui para o Cântaro porque não sei se o link é permanente:

TURISTRELA "ATROFIA" TURISMO NA SERRA

A crítica do administrador do grupo IMB Hotéis não é nova. Luís Veiga chegou a liderar um abaixo assinado de empresários do sector contra o "monopólio" da Turistrela. Um documento que foi entregue ao secretário de estado da tutela, mas até hoje sem qualquer resposta.

Questionado pela RCB sobre os ecos do abaixo assinado o empresário, ironiza a resposta "não há nada a clarificar, parece que é uma questão de menor importância em termos de turismo nacional, pura e simplesmente a concessão continua nas condições em que nós sabemos que continua".

A exclusividade da exploração do turismo e do desporto na Serra da Estrela acima de determinada quota, à empresa Turistrela, é para Luís Veiga "uma atrofia para o turismo na Serra e na região, eu acho que devia ser liberalizado, todos os monopólios são maus e este tem sido péssimo".

Segundo Luís Veiga este é mais um exemplo de uma área onde o governo poderia agir mas prefere optar sempre pelo caminho mais fácil "é como as portagens na A23 e A25, é mais fácil mexer nas portagens do que na Carris ou na TAP, é muito mais fácil".

Luís Veiga contra o monopólio do turismo na Serra da Estrela desde há muito. Em 2005 o empresário chegou a depositar alguma esperança no governo de José Sócrates para alterar a situação, já que o actual Primeiro Ministro chegou a chamar, na altura à Turistrela "o monopólio do deixa andar". Mas até à data ainda nada foi feito para alterar a situação.

Nota: Luís Veiga é administrador do maior grupo hoteleiro da região, com unidades em Unhais da Serra, Covilhã e Guarda.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Registo sem valorar

O TPais deixou aqui há dias um post sobre um aspecto que considerou positivo na actuação da Turistrela.

Eu não tenho a certeza absoluta de que tudo na Turistrela, tudo o que ela é e faz, seja criticável, seja tosco, seja mal feito. Mas estou bastante mais ou menos convencido disso. E, falando da informação que a Turistrela dá sobre as condições da sua estância de esqui, que foi aquilo que o TPais comentou, noto que nos anos anteriores, o site da estância indicava a profundidade de neve e a sua qualidade, assim como os meios mecânicos em funcionamento. Eram, como é bom de ver, dados quase sempre confrangedores para a estância (20cm, 10cm,... chegaram a anunciar 2cm!, neve "dura/húmida"), mas eram fornecidos. Este ano, deixaram-se disso.

E deixaram-se mais recentemente de outras coisas. Até há dias, o site da estância indicava logo na página de acesso, que pistas estavam abertas e quais estavam fechadas. Pois bem, hoje fui ver se havia alguma possibilidade, mesmo que remota, de se fazer na estância um esqui que compensasse o que se paga pelo forfait, e dei com isto: Num relance, vi as pistas todas a verde! Está tudo aberto?! Ena, ena! Mas logo a seguir percebi que a verdade era outra, a que se apresenta noutra página que não a de abertura do site: Ou seja, as pistas não estão todas abertas, dos seis quilómetros e pico de extensão da estância apenas três estão esquiáveis (admitindo que a pista Loriga se encontra com neve até à base da telecadeira, coisa que não sei).

OK, não se trata de uma mentira declarada, claro. Mas, caramba: quem quer falar verdade, mesmo que a verdade não seja a mais agradável, fala de outra maneira, então não?

Também assim se vai alimentando o mito das grandes condições da serra para o turismo de neve e para competir com os Alpes e os Pirinéus. E também assim se vai reforçando a minha opinião de que enquanto se continuar a apostar principalmente na neve, a qualidade do turismo na serra continuará a ter a qualidade da neve na serra: assim a modos que para o rasca.

domingo, janeiro 16, 2011

Da importância das acessibilidades e da importância da neve

É fundamental para a Covilhã (não!: é fundamental para a região! [Não!: é fundamental para o país!]) que a estrada para a estância de esqui da Torre se mantenha transitável vinte e quatro horas por dia, trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Como mostra a figura junta, retirada ontem do site da própria estância.

Tentando justificar investimentos públicos em melhorias ou ampliações da estância de esqui da Torre, costuma-se comparar a serra da Estrela com a Sierra de Béjar, a uns meros 150 km de distância, onde se encontra uma estância de esqui pequena e pouco interessante, quando comparada com as dos Pirinéus. Pois bem, compare (no momento em que escrevo, o domínio esquiável em La Covatilla é 13 km, ou seja, o dobro do máximo possível na estância Vodafone). E diga-nos: quanto dinheiro público (e valores ambientais, igualmente públicos) é que acha que é razoável sacrificar para tentar (em vão, que as coisas são como são) que a realidade da serra da Estrela seja comparável com a realidade da sierra de Béjar (onde, de resto, também já me aconteceu ver o acesso cortado, justamente por causa da neve)?
A Estrela é apta para o turismo de neve e é importantíssimo para o turismo da região que a estrada para a Torre esteja sempre transitável? Pois sim...

domingo, agosto 15, 2010

O desenvolvimento do turismo

Durante as férias, ouvi referências a estudos de viabilidade para a construção de um teleférico entre Unhais da Serra e as Penhas da Saúde. Li também, no Máfia da Cova, que Carlos Pinto (presidente da Câmara da Covilhã) pretende que o estado desbloqueie quatro milhões de euros para conclusão do projecto da estrada entre Unhais da Serra e a Nave de Santo António.

Eu entendo que Unhais da Serra, como Loriga, Alvoco da Serra, Manteigas, Linhares, e mais um longo etc, são povoações com paisagens e ambientes maravilhosos, muito, mas muito mais atractivos turisticamente do que a Torre, para onde convergem as grandes enchentes de visitantes efémeros que nos atascam as estradas nalguns fins de semana de Inverno, enchentes (e atascanços) que continuamos a confundir com turismo. Estranho, quando chego a qualquer destas localidades (e das outras que englobei no "longo etc"), no Verão, não ver turistas como os que se vêm em qualquer localidade de montanha da Europa: caminheiros, montanhistas, escaladores, pessoas a cavalo ou de bicicleta, com mochilas às costas, ou em canoas. Pessoas constantemente a entrarem e a sairem destas terras, por estradas, por trilhos, por rios. A pernoitarem em pensões e em parques de campismo. A encherem os restaurantes às horas das refeições. A comerem gelados e a beber refrescos durantes as tardes. Nada disso se vê por aqui. O que vai valendo são os emigrantes que vêm de férias.

Porque considero que o que falta na serra da Estrela, em termos turísticos, é turismo de montanha como o que se pode encontrar nas outras montanhas da Europa, acho que o que faz falta para o desenvolver na serra da Estrela é tudo aquilo que o alimenta nas outras montanhas da Europa: trilhos pedestres; vias de escalada; alugueres de BTT, de canoas, de cavalos; guias pessoais para caminhada, escalada, interpretação da natureza; documentação (mapas, informação/divulgação sobre locais, trilhos e vias, contactos empresariais) acessível, disponível em supermercados, mercearias e cafés; parques de campismo; múltiplas empresas locais com liberdade de acção, não sujeitas a restrições decorrentes da concessão exclusiva.

Mais estradas (ainda mais, caramba?!), teleféricos, casinos, centros de estágio em altitude, funiculares, e isso tudo? Creio que, para o turismo, não fazem falta nenhuma. Creio até que só prejudicam, ainda mais, as potencialidades da mais alta montanha de Portugal continental para o turismo de montanha. E que outro turismo poderemos pensar em desenvolver na serra da Estrela?

Adenda posterior: sobre as vantagens de mais uma estrada de asfalto pela serra acima, talvez fosse bom perguntar-se às gentes de Loriga o que conseguiram com a sua estrada Portela do Arão - Lagoa Comprida (a terceira ligação asfaltada ao alto da serra do concelho de Seia, diga-se de passagem), quase quatro anos depois da sua inauguração...

domingo, junho 20, 2010

O costume

A retrete azul

O Blog Carpinteira tem um post que revela um exemplo paradigmático da forma como se encara o turismo na serra da Estrela há várias décadas: grandes discursos, grandes desígnios, grandes trabalhos, de que restam apenas ridículos casinhotos e/ou montes de entulho. Este exemplo é só mais um, especialmente ilustrativo.

Quantos anos mais continuaremos a ver disto?

domingo, junho 13, 2010

Manteigas me mata!

A frase que dá título a este post deve ser lida à espanhola: Manteigas é um espectáculo!

Participei ontem no Circuito dos Três Cântaros, uma corrida de montanha organizada em Manteigas pelo Clube de Montanhismo da Guarda e pela Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada. Vinte e um quilómetros (e pico), sempre a subir e a descer, num total de subida acumulada de 1300m. Foi mesmo muito duro, pelo menos para mim que sigo um programa de treino bastante errático (corro apenas quando me apetece e tenho tempo).

A corrida iniciou-se no parque da Relva da Reboleira, subimos a colina entre Sameiro e Verdelhos a pique, pela linha de máxima pendente, daí seguimos para o Souto do Concelho, passámos por cima do Poço do Inferno, demos a volta para o regresso pelo Vale da Adega. Por duas vezes parei para tirar fotografias, as que ilustram este post.

Eu não percebo como é possível que numa região que tem tesouros como estes se continue a pensar que "nós aqui vivemos da neve", e pior: "que nós aqui só podemos viver da neve". Porque é que assim estamos? E porque é que os jornais e revistas nacionais só se lembram da serra da Estrela como destino de férias no Inverno? Quando é que começaremos a mudar isto? Até quando continuaremos a destruir o melhor da serra, atrelados aos delírios novo-ricos da Turistrela e da Região de Turismo da Serra da Estrela (e, agora, do organismo similar criado pela Câmara Municipal da Covilhã)?

Encontra mais detalhes sobre o Circuito dos Três Cântaros (e mais fotografias) blogue Último quilómetro, neste e neste posts.

segunda-feira, junho 07, 2010

Continuamos no rumo certo!

A revista Visão da semana passada tem um artigo com o título "Descobrir Portugal a Pé", sobre trilhos pedestres. São doze propostas de passeios, das quais quatro na região centro.

Já não espanta que a serra da Estrela não conste. A serra da Estrela, pura e simplesmente, não existe no panorama do turismo de natureza nacional. É que nós aqui vivemos da neve...

Continuamos no rumo certo, continuamos de parabéns. O que precisamos é de mais estradas, de teleféricos, de parques de estacionamento, de centros comerciais, de pistas de esqui de plástico e de casinos. Isso é que está mesmo a fazer-nos falta. Continuemos, pois!

domingo, junho 06, 2010

Uma Maravilha Natural

Vale glaciar do Zêzere (imagem roubada daqui).

Em que sentido é que o vale glaciar do Zêzere é uma maravilha da natureza? Pergunto isto a propósito da candidatura ao concurso das 7 Maravilhas Naturais de Portugal. Antes de continuar, quero deixar bem claro que não pretendo pôr em causa o concurso nem a candidatura. Eu também acho que o vale é uma maravilha. Mas quero tentar perceber melhor e deixar explícitas as razões pelas quais acho o vale uma maravilha. Porque creio que essas razões são as de quase todos e porque acho que essas razões determinam uma atitude para com o vale (e para com toda a serra) que me parece francamente positiva.

Porque consideramos então o vale uma maravilha natural?

Será porque o vale se encontra num estado natural puro, onde não se notam os efeitos da acção humana? Não! Esses efeitos são evidentes: as encostas (as duas!) não estão quase integralmente cobertas de floresta, há as quintas cá em baixo, há diversos caminhos, uma mini-hídrica e uma estrada asfaltada... Não, os sinais da civilização estão por todo o lado, não é um lugar onde se aprecie um ambiente natural no seu estado puro, nem pouco mais ou menos.

Será então porque apesar de o ambiente natural do vale não se encontrar nas melhores condições (corrijo: não se encontrar nas condições pré-civilização), serem no vale evidentes as grandes forças naturais que moldam o território, que definem a orografia? Talvez, mas a verdade é que essas grandes forças são igualmente evidentes em qualquer lugar. Naturalmente, são forças diferentes as forças que actuam em diferentes lugares, mas isso é um detalhe: porque raio devemos considerar mais "maravilhosas" as forças glaciárias do que as da erosão da água em estado líquido, ou a do vento?

Creio que consideramos o vale uma maravilha natural porque são relativamente poucos os vestígios da civilização industrial, e menos ainda os exemplos desse desordenamento evidente e gritante que temos permitido nas povoações. Assim, quase podemos imaginar que nos encontramos num lugar que ainda não estragámos. Isso não verdade, como referi acima, mas quase podemos acreditar que sim. Apesar de tudo o que já fizemos, e como diz Elisabete Jacinto citada pelo Blogue de Manteigas, o vale "é um local paradisíaco onde nos podemos sentir longe da agitação do mundo moderno" e as suas vertentes grandiosas fazem-nos "sentir pequenos e conduzem-nos à introspecção".

Concordo inteiramente com a justeza das palavras de Elisabete Jacinto. Mais: creio que quase todos concordamos. Mas, aqui chegados, pergunto: se achamos que o carácter maravilhoso do vale reside nestas suas características, e se esperamos e desejamos que elas sejam reconhecidas nacionalmente através de uma vitória no dito concurso, poderemos coerentemente defender eventuais alargamentos e rectificações da sinuosa estrada nacional EN338 até à Nave de Santo António, a instalação de teleféricos ou funiculares para as Penhas Douradas, a instalação de iluminação nocturna no Covão d'Ametade (estava prevista num projecto recente), ou a apoiar a realização, nesse local, de encontros motociclistas (com tudo o que esses encontros têm implicado)? São estes elementos que nos ajudam a sentir "longe da agitação do mundo moderno"? Consideramos normal que, num local que pretendemos anunciar como uma maravilha da natureza (e, agora, não me refiro especificamente ao vale mas a toda a serra), seja difícil tirar uma fotografia onde não apareçam "decorações" como estradas, postes de alta tensão, de iluminação ou de telecomunicações, barragens, construções de gosto e qualidade duvidosa ou restos de lixo?

Se admiramos os nossos valores naturais e queremos que os outros os reconheçam, poderemos continuar tratá-los como os temos tratado até hoje?

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!