(Fotografia tirada em Junho de 2006, nas proximidades da estância de esqui Vodafone)
terça-feira, outubro 31, 2006
Tudo vale a pena?
Este facto, o de a Serra ser considerada por muitos um "caso perdido" para a protecção das espécies, deveria, só por si, ser seriamente considerado por todos os responsáveis: os do Parque Natural (desde o vigilante mais humilde ao secretário de estado), os autarcas, os da Região de Turismo, os da Acção Integrada de Base Territorial da Serra da Estrela, os da Turistrela. E deveria ser ainda melhor considerado por todos nós, que, pelo nosso silêncio e pelos nossos votos, vamos alimentando esta situação aberrante, que se vem agravando há décadas.
Mas eu não acho que a Serra seja um caso perdido. Talvez por eu não ser, parece-me, um ambientalista. Eu, simplesmente, gosto da Serra. Também gosto de outras serras, claro, mas é ao pé desta que moro. Ou seja, não tenho locais mais adequados onde gastar o meu tempo, a minha energia, o meu dinheiro.
E vai daí, talvez a Serra seja mesmo um caso perdido. Mas a alternativa de, simplesmente, desistir é terrível de mais. Pegando no que dizia o outro, tudo vale a pena, quando já não nos restam nem ilusões credíveis nem alternativas viáveis...
segunda-feira, outubro 30, 2006
Protecção da Paisagem
À moda da Serra da Estrela. Este poste retransmissor para telemóveis (será da Vodafone?) está a ser instalado na zona do Centro de Limpeza de Neve, perto dos Piornos, virado para o Vale do Zêzere. Quanta população serve? Não sei, mas duvido que o sinal chegue nítido a Manteigas (a povoação mais próxima e a única parcialmente à vista do poste), onde, seja como for, a cobertura é bastante boa. Quantos turistas serve? Não sei, mas não há ali nem hotéis, nem parques de campismo (não estou a contar aquele arremedo no Covão da Ametade), nem casas de habitação. Para que serve? Não sei. Sei que é feio. É uma menos-valia turística, como tantas que infestam a Serra da Estrela...
O que é que a Vodafone tem?
Na serra, não parece bem
Tem lixo, tem tem tem tem
E amigos que quem os quer? Ninguém!
Se o meu telefone fosse Vodafone, acho que iria deixar de o ser muito em breve...
Estas fotos foram tiradas hoje, dia 30 de Outubro (excepto a última, claro). As fitinhas da Vodafone foram usadas para sinalizar o percurso de um evento BTT que teve lugar ontem. Quero acreditar que os responsáveis pela colocação destas fitinhas as vão agora remover, e que ainda não o fizeram apenas por não terem tido tempo. Assim que notar que estas fitinhas foram retiradas, darei notícia disso, aplaudindo os responsáveis por cumprirem a sua obrigação.
domingo, outubro 29, 2006
Pérolas (5)
Assim como se pode (quem diria?!) fazer queijo da serra com leite de ovelhas da Serra da Estrela, também se podem fazer cartazes turísticos da Serra da Estrela com paisagens da Serra da Estrela. Mas é muito, muito difícil.Exactamente ao contrário, assim como se pode fazer (e se faz, segundo o que ouvi dizer) queijo da serra com leite em pó, também se podem fazer anúncios à serra com fotos de outras montanhas. Veja-se o da imagem que ilustra este artigo (que tirei da revista Visão de 30 de Dezembro de 2004). Os montes, picos e vales que lá se vislumbram não são na Serra da Estrela e neve na Covilhã é coisa que não se vê há já vários anos.
Gato por lebre? Naaa... Turismo em Movimento!
Espantoso!
Passo a citar
"Uma vez mais, lamentamos a degradação ambiental que afecta o Parque Natural da Serra da Estrela, nomeadamente no planalto da Torre, zona de elevada sensibilidade, que pelo seu valor mereceu a classificação de Reserva Biogenética pelo Conselho da Europa.Este texto é a nota de abertura do Bloco de Notas do CISE nº 16, do Outono de 2006. Vem a propósito lembrar este, este e mais este artigos do Cântaro Zangado.
Nas pistas de ski da Torre, em direcção aos Poços de Loriga, foram destruídos habitats naturais prioritários para a conservação, para construção de pistas de BTT, as quais poderiam ter sido implementadas em locais menos sensíveis, produzindo menor impacte a nível da conservação da natureza.
Não é, com certeza, este tipo de infra-estrutura turística, que destrói a paisagem e os habitats naturais, que trará sustentabilidade para a nossa região."
(Recomendo mais uma vez, e mais uma vez vivamente, os Blocos de Notas do CISE. Pode encontrá-los todos aqui.)
sexta-feira, outubro 27, 2006
Tons de Outono
Esta imagem mostra um pequeno bosque de árvores de folha caduca na encosta sobre a Covilhã. Esta encosta era um grande pinhal que ardeu todo, num pavoroso incêndio em 1991 (mais ano, menos ano). Sobreviveram apenas alguns castanheiros, carvalhos, bétulas (por serem muito menos inflamáveis do que os pinheiros) e os pinheiros do Parque de Campismo do Pião.Com o passar dos anos, as mimosas tomaram conta das zonas de menor altitude mas, a partir de meia encosta (cota dos 900 m, ou perto disso), em condições menos favoráveis às mimosas, as espécies autóctones tiveram a sua oportunidade e aproveitaram-na, tendo resultado estes pequenos bosques.
Imagine agora o leitor que esta encosta era, toda ela, uma floresta de carvalhos, castanheiros, vidoeiros, bétulas, freixos, tramazeiras. Ou seja, imagine que se tratava de uma verdadeira floresta autóctone, como as que foram praticamente expulsas do nosso território com a "pinhalização", depois com a "eucaliptização" e, por fim, com a "mimoseirização". Partindo da pequena mancha de cor que se vê na fotografia, imagine o espectáculo que não seria esta encosta, agora no Outono. Imagine a alegria que não seria a Primavera.
Não acha que se poderia, como nas montanhas do leste dos Estados Unidos, usar uma tal floresta como grande cartaz turístico? O que acha que atrairia mais visitantes, uma floresta assim, ou a urbanização que a Turistrela, a Região de Turismo e a Câmara da Covilhã querem construir, exactamente nesta mesma encosta, perto da Varanda dos Carqueijais, a cerca de 1000 m de altitude?
Pois é, para se poder aproveitar a natureza, é preciso conservá-la. Mas quem o tenta fazer é acusado de fundamentalismo! Isto entende-se, caro leitor?
terça-feira, outubro 24, 2006
Pérolas (4)
"Estrela vai ter mais 40 quilómetros de pistas de esqui em 2008"Subtítulo do mesmo artigo:
"O primeiro fim-de-semana de época de esqui atraiu centenas de pessoas à serra da Estrela, apesar das más condições para a prática de desportos de Inverno. A chuva e as temperaturas elevadas não permitiram produzir neve artificial [...]"
Pérolas (3)
"Eventualmente essa ligação da Guarda à zona do Maciço Central já criará um novo aspecto de estrada panorâmica diferente. Dentro do Maciço os carros terão que ser travados, pelo menos no inverno, nas estâncias de montanha, nas Penhas da Saúde e no Sabugueiro. É lá que encontram o apoio de animação , alimentação e alojamento, não é na estância de esqui."(Notícias da Covilhã, 2 de Dezembro de 2005, pág. 14)
Ou seja: somos contra novas estradas mas a favor da Estrada Verde; somos a favor da Estrada Verde mas vamos fechá-la ao trânsito, pelo menos no Inverno; pararemos os carros nas Penhas da Saúde e no Sabugueiro mas, agora que a estrada de S. Bento está inaugurada (e já estava a ser construída na altura destas declarações), os carros vão poder aceder ao Maciço Central pelo lado poente, sem passarem no Sabugueiro! Como é que os lá pararemos? E quando estiver acabado o acesso Unhais da Serra - Nave de Santo António, que permite o acesso pelo lado sul sem se passar nas Penhas da Saúde?
Não conseguiremos parar os carros no Sabugueiro e nas Penhas da Saúde mas é lá que eles pararão porque lá é que "encontram o apoio de animação , alimentação e alojamento, não é na estância de esqui". Vejamos agora este artigo do Jornal de Notícias de 10 de Maio de 2006, onde, a páginas tantas, se pode ler:
"O presidente da RTSE revela que o objectivo é integrar as duas torres, o edifício da antiga messe e algumas oficinas em ruínas na nova unidade hoteleira de quatro estrelas, com restaurante panorâmico para as pistas, que a Turistrela, concessionária do turismo na Estrela, pretende construir. [...] Os radares poderão ser utilizados como posto de informação aos turistas ou «observatório panorâmico», sugere Jorge Patrão. «Como são os edifícios mais altos do país, proporcionariam uma visão geográfica excelente de mais de metade do território nacional», garante o empresário."Pois, pois, "animação, alimentação e alojamento" na estância de esqui? Credo, nem lembra ao diabo!
Pérolas (2)
"Há diversos interessados em investir na Serra da Estrela e é importante que os projectos não esbarrem em impedimentos ambientais"(Público Edição Centro de 31 de Março de 2006, pág 60)
Nem que efectivamente se coloquem impedimentos ambientais?! E outros impedimentos, como os relativos à propriedade dos terrenos em que se implantarem os tais projectos, ou os relacionados com as normas legais de segurança de construções, ou com a situação fiscal, respeito por normas laborais e descontos à segurança social por parte das empresas promotoras, não deverão também ser afastados da senda do progresso?
Pérolas (1)
"Esta é a grande estrela da Serra da Estrela"(O Interior de 3 de Fevereiro de 2005, pág 15)
Ou seja, para Artur Costa Pais, o melhor que a Serra terá para oferecer, aquilo que nela realmente vai valer a pena será... o casino!!!
domingo, outubro 22, 2006
Como se faz lá fora...
Este é o segundo post com este título aqui n'O Cântaro Zangado. O primeiro foi este. Porque é que escolho este título? A verdade é que me estou mais ou menos nas tintas para como se faz lá fora. Não é por os espanhóis, os franceses, os ingleses, os austríacos, os alemães, os suíços, enfim, não é por toda a gente tratar melhor as suas montanhas do que nós tratamos as nossas que resolvi iniciar a escrita deste blog. Faço-o pelas minhas razões. Portanto, não é por isso.Escolho este título porque, quando se fala do "desenvolvimento" da Serra, há logo quem apareça a dizer que "o nosso país é uma porcaria, os ambientalistas não deixam mexer uma pedra na Serra, assim não avançamos, devíamos pôr os olhos lá fora". Veja-se, por exemplo a discussão que tive aqui n'O Cântaro Zangado, no fim de Maio, a propósito das obras do bikepark, ou as páginas de comentários sobre a estância de esqui.
Sobre o que estes partidários do "desenvolvimento" acham, só tenho a dizer que me parece que a serra da Estrela está muito mais marcada pela acção dos promotores do "desenvolvimento" que eles defendem do que pela dos ambientalistas que tanto criticam e que, ao contrário do que parecem pensar, "lá fora" os ambientalistas também falam, também protestam e são muito mais atentamente escutados do que por cá.
quarta-feira, outubro 18, 2006
"Requalifiquem" lá isto, vá!
Alinhem melhor as nuvens! Dêm mais vivacidade ao tom alaranjado do reflexo do pôr do sol! Enfeitem esta pseudotessuga para ficar parecida com uma árvore de natal, porque é isso que os turistas querem! Tapem o sol, para se poder ver este efeito a todas as horas do dia! E, por favor, ponham-me um pouco de neve e um restaurante na crista do monte, ora bolas!Ah, o desenvolvimento do turismo! Ah, a luta contra a desertificação! Ah, as legítimas aspirações das populações das freguesias rurais! Ah, a ordenação de um espaço de excelência! Ah, a requalificação! Requalifiquem o pôr do sol, caramba!
Um post antigo
Publiquei este artigo a 15 de Fevereiro, ainda no Cântaro Zangado antigo. Como gosto particularmente dele, resolvi republicá-lo aqui, com ligeiras modificações.
Hoje de manhã, vi um esquilo. Fui fazer um jogging matinal no circuito de manutenção da Covilhã, e dei com ele. Ficámos os dois parados, cada um examinando o outro com atenção, eu no caminho, ele empoleirado num pinheiro, a seis metros um do outro, até que cada qual foi à sua vida. Já tinha visto esquilos, nos parques de Londres e de Amesterdão, mas foi o primeiro que vi em Portugal. É uma boa maneira de começar o dia, depois da amargura dos posts de ontem [referia-me a este, este e mais este]. Esta imagem vai-se juntar a muitas outras que formam um capital de recordações visuais que é das coisas que mais valor têm para mim. Relâmpagos incidindo em grandes blocos graníticos durante trovoadas na Serra, uma águia que levantou voo a poucos metros de mim numa falésia que escalava, uma raposa que descia em grandes saltos a face norte do Cântaro Magro... Gostava que os meus filhos pudessem vir a ser, neste aspecto, pelo menos tão afortunados quanto eu. Para isso, é necessário que a Serra permaneça um espaço interessante e preservado.
Ilustro este post com uma fotografia de um botão de açafrão, ainda por abrir. Estas pequenas flores aparecem no fim do inverno (a da foto já é deste ano). No início do outono, podem ver-se flores muito parecidas, mas amarelas. Não são nada raras, escolhi esta foto porque o açafrão parece não ter caule ou, se o têm, está profundamente enraizado. Por isso, quando se colhe uma destas flores, ficamos com um molho de pétalas desligadas umas das outras na mão, nada que se possa pôr num vaso ou numa lapela, nada que se possa oferecer a uma moça bonita. Há coisas (se calhar, há mais do que pensamos) que, domesticadas, requalificadas, ordenadas, desenvolvidas, "humanizadas", separadas do seu contexto e ambiente, simplesmente morrem e deixam de servir seja para o que for.
segunda-feira, outubro 16, 2006
Barragem secará Ribeira de Cortes no Verão!
- ...instalação de moto-bombas e acesso a viaturas de combate a incendios...
- Assinalar e vedar, antes do inicio das obras,todas as áreas naturais com valor ecológico existentes na envolvente da albufeira...
- Priviligiar a instalação de estaleiros em áreas já descaracterizadas e degradadas...
- Todos os acessos e zonas de obras deverão estar vedados e com acessos condicionados, por forma a evitar a ocorrencia de acidentes envolvendo a população.
- Implementar um programa de controlo de vazamentos e derramamento de resíduos, óleos, lubrificantes e solventes...
- No troço a montante e a jusante da albufeira a galeria ripícola deverá ser recuperada e valorizada.
- Remoção integral das diversas infra-estruturas instaladas no empreendimento (isto após terminarem as obras)
e muitas outras medidas bem pensadas mas que de facto não servem para nada pois não são obrigatórias! Que gasto de papel, que gasto do meu tempo a ler tal documento! O que vai acontecer é assim que alguma destas medidas se torne demasiadamente incómoda ou dispendiosa para o construtor será pura e simplesmente descartada.
- Nota posterior: reparei hoje (18/10/06) que o blog Cortes do Meio tem um texto com referência semelhante à expressão caudal ZERO para Agosto e Setembro. Esse texto foi colocado antes do meu mas não tinha conhecimento dele, foi apenas uma coincidência. Para consultar o texto do Cortes do Meio ver aqui.
domingo, outubro 15, 2006
De boas intenções...
Esta fotografia, tirada nas proximidades da Vila do Belo Horizonte, sobre Unhais da Serra, mostra uma rede de plástico segura por dois ferros, protegendo um jovem carvalho... Seco. Nesta mesma zona encontramos grandes números destas protecções, como se vê na imagem seguinte.
Trata-se, obviamente, do resultado de um programa de reflorestação. Podemos obter imagens como esta em vários sítios da Serra, por exemplo, na vizinhança da Nave de Santo António. Em alguns sítios, as plantações foram feitas há já perto de dois anos. Tanto quanto pude constatar nas minhas (nada sistemáticas) dembulações, todas estas protecções (como as de outros locais) "protegem" jovens carvalhos completamente secos.Um esforço de reflorestação sério e consequente deve incluir uma análise crítica do andamento dos trabalhos e dos resultados obtidos. Só assim se pode aproveitar a experiência colhida em novas iniciativas de reflorestação, que venham a ser encetadas pelas mesmas ou por outras entidades.
E como até a lavagem dos cestos é vindima, os promotores da iniciativa devem retirar os materiais que não forem necessários. Neste caso, deviam remover as redes de plástico que já não servem função nenhuma (por terem morrido os jovens carvalhos que protegiam) e também as que não chegaram a ser aproveitadas (vi um "depósito" destas redes atrás do Cascalvo, perto dos Piornos, da última vez que lá passei). É que o vento arranca das suas fixações estas "gaiolas", transformando-as naquilo que efectivamente são: lixo bem intencionado.
quinta-feira, outubro 12, 2006
Um milhão de carvalhos para a Serra da Estrela
A Associação Amigos da Serra da Estrela inicou um projecto de reflorestação muito ambicioso, onde roubei o título para este post. Pode ficar a par dos detalhes aqui.Uma reflorestação a sério das encostas da Serra faria muito mais pelo turismo que todos os hotéis, aparthotéis, urbanizações, estradas, teleféricos, casinos, restaurantes, piscinas, spas, centros de estágios desportivos, centros comerciais, "observatórios panorâmicos" e ainda a ampliada estância de esqui que os projectos apadrinhados pelos autarcas e pela Região de Turismo pretendem implantar acima dos mil metros de altitude. Por constituir um enriquecimento da paisagem, um recurso turístico que pertence a todos, poderia ajudar a viabilizar pequenas empresas de turismo de natureza, sedeadas nas localidades em redor da serra (refiro-me às cidades, mas também às vilas e, especialmente, às aldeias). Seria, assim, uma medida que poderia ter efeitos positivos na luta contra a desertificação.
Além disso, uma reflorestação a sério seria uma mais valia ambiental evidente, pelo papel que o carvalho-negral tem como parte e suporte de ecossistemas complexos e biodiversificados e pelos lucros que traria em "créditos de carbono", na redução da factura que teremos que pagar nos termos do Acordo de Quioto.
Além disso, o carvalho-negral é uma espécie arbórea infinitamente mais resistente ao fogo do que o pinheiro bravo com que se insiste, flagelo após flagelo, em fingir que se reflorestam algumas encostas da Serra. Como todos estamos cansados de saber, o que mais falta para evitar o flagelo dos fogos é um verdadeiro ordenamento florestal, muito mais do que esta continuada aposta em caros meios de combate às chamas, e muito mais ainda do que a abertura indiscriminada de estradas asfaltadas e acessos por todo o lado.
Ou seja, este projecto é uma coisa boa, e o melhor de tudo é que todos podemos ajudar!
PDSSE - Como aderir?
A definição do plano de acção e do modo de funcionamento da plataforma a curto e médio prazo será feita na segunda reunião da plataforma, que terá lugar em Manteigas, nos dias 28 e 29 de Outubro. Todos os interessados estão convidados a participar, mas pedimos que nos informem dessa intenção através de mail para padesse@gmail.com, para podermos avaliar as necessidades logísticas do encontro e organizá-lo "como deve ser".
Falando agora a título meramente pessoal, gostava de realçar que ainda que o Cântaro Zangado (ou seja, eu e o TPais) tenha aderido à plataforma, a sua opinião não deve ser confundida com a da plataforma. A plataforma não é, nem pouco mais ou menos, dirigida pelo Cântaro Zangado. Quero com isto dizer que todas as pessoas ou organizações preocupadas com o futuro da Serra da Estrela podem dar um contributo muito importante para a plataforma, mesmo que não concordem com tudo o que eu e o TPais aqui vamos deixando escrito. Concordem connosco ou não, são todos bem vindos à plataforma! (Dito isto, devo avisar que, por enquanto, predomina nela a opinião de que o que se tem feito até agora, supostamente para o desenvolvimento da Serra, e o rumo que se está a traçar para o futuro, são uma forma vergonhosa, irresponsável, inaceitável, de a arruinar, e que um dos objectivos da criação da plataforma é exactamente o de contribuir para a alteração deste rumo.)
PDSSE nas notícias
Digitalizei a imagem à esquerda da edição de hoje d'O Interior (clique na imagem para a aumentar).A criação da plataforma foi também anunciada ontem pelo Diário XXI ver ( aqui) e pela Gazeta do Interior (ver aqui). O Jornal do Fundão refere duas vezes a criação da plataforma, uma delas na coluna "Elevador", em sentido ascendente. Fixe!
Suspeito que, muito em breve, vamos notar uma enxurrada de notícias em que autarcas, resposáveis da Turistrela, da Região de Turismo ou mesmo figuras menores do Governo anunciarão, com pompa e circunstância, programas públicos e europeus envolvendo dezenas ou centenas de milhões de euros financiando projectos de "elevado valor acrescentado", que irão finalmente (mais uma vez) "acordar o gigante adormecido"...
terça-feira, outubro 10, 2006
PDSSE
A Associação de Desportos Aventura Desnível, a Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela, a Liga para a Protecção da Natureza, a Quercus—Associação Nacional de Protecção da Natureza e alguns cidadãos a título individual (entre os quais se contam, orgulhosamente, os dois autores deste blog) uniram-se na criação da Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela (PDSSE).
O que se pretende com este movimento é, entre outros objectivos, ajudar na escolha de opções acertadas de desenvolvimento, lutar pela defesa do ambiente e paisagens da serra, ajudar a desmontar mitos enraizados nas populações e (especialmente) nos dirigentes, ajudar a preservar as tradições culturais da região. Em suma, pretendemos o desenvolvimento equilibrado e sustentável de todos, não só de alguns.
Por enquanto, a Plataforma dispõe apenas de uma conta de email: padesse@gmail.com. Quando estiverem disponíveis outros contactos, página de web, etc, será dada informação aqui no Cântaro Zangado.
O que esta plataforma será ao certo, o que ela conseguirá de facto realizar, é difícil prever agora, que ainda a procissão vai no adro. Duas coisas posso afirmar com certeza: ela será o que os que a ela aderirem quiserem; a força que tiver será a que os que nela se envolverem lhe derem.
Ou seja: amigo, não fique aí parado, calado, à espera que as coisas se endireitem por si. Isto é assunto nosso! Vamos lá a isto, pessoal!segunda-feira, outubro 09, 2006
E se não nevar?
Festa? Foguetes? Balões?
Serra da Estrela ao nível do Algarve Madeira e Lisboa
Bem sei que o título apenas se refere ao montante (41,8 M€) destinado à promoção externa da Serra da Estrela como produto turístico, mas... Porque será que não me entusiasmo com estas comparações?
PS: Gostava de aproveitar a festiva ocasião para sugerir que se gaste uma ínfima fracção desses 41,8 milhões de euros na reedição da carta turística da Serra da Estrela.
(Sobre a promoção que se vai fazendo da Serra da Estrela já falei aqui; sobre comparações estapafúrdias, aqui.)
sexta-feira, outubro 06, 2006
O ovo de Colombo (2)
Lago de Enol, nos Picos da Europa (imagem indecentemente roubada a Paulo Almeida Santos)Referi-me há dias à forma como se ordenou o trânsito automóvel no Parque Natural de Ordesa - Monte Perdido. Vejamos outro exemplo.
O principal centro turístico dos Picos da Europa (Astúrias) é, parece-me, a localidade de Cangas de Oniz. Nas vizinhanças desta localidade, situa-se a chamada zona dos lagos, sítio muito aprazível, que atrai muitos turistas. Quando lá estive, num Verão há mais de 10 anos, acedia-se ao local por uma estrada estreita e sinuosa e alguns prados extensos desta zona estavam tranformados em parques de campismo ou de estacionamento. As autoridades consideraram desordenado e excessivo o acesso de automobistas e campistas à zona dos lagos de Covadonga. Até aqui, faz lembrar o que acontece na Serra da Estrela, pelo menos no que se refere aos automobilistas, certo?
O que fizeram os espanhóis, nuestros hermanos? Leia-se o Real Decreto 384/2002, que aprova o "Plan Rector de Uso y Gestión del Parque Nacional de los Picos de Europa", em particular o artículo 2º, ponto E (os sublinhados introduzi-os eu):
E) Ordenación de la accesibilidad.Os espanhóis não percebem mesmo nada, pois não? Não fizeram mais estradas, nem alargaram a que já tinham, nem instalaram rails de protecção, nem aumentaram os espaços de aparcamento no coração do parque, nem nada! Como é que querem ordenar seja o que for deste modo?!
Para mejorar la estancia de los visitantes es necesario ordenar el tráfico y la accesibilidad en función de criterios de peatonalización y de utilización preferente de medios de transporte colectivos, de acuerdo con:
a) Caminando se podrá acceder al parque nacional por cualquier parte[...]
b) En relación con la regulación de accesos por las vías asfaltadas se adoptarán las siguientes medidas:
1.a Carretera de Covadonga a Buferrera y los lagos. El acceso de vehículos particulares se limitará al 90% de la capacidad del aparcamiento de Buferrera [...]. El resto de los visitantes únicamente podrán acceder mediante el uso de transporte público [...] Sólo se permitirá el acceso rodado al lago de la Ercina asociado a las actividades tradicionales ganaderas de la población local. Estas medidas se completarán con la implantación de un aparcamiento disuasorio en el exterior del parque, preferentemente en las inmediaciones de la localidad de Cangas de Onís, así como con la puesta en marcha de un sistema público y reglado de transporte desde éste a los lagos[...]
Todo o 2º artigo deste decreto é um exemplo de uma real tentativa de equilíbrio entre diferentes pontos de vista: o dos turistas, o dos promotores do turismo, o dos produtores de produtos derivados do leite, o dos ambientalistas. Recomendo vivamente a sua leitura! Recomendo vivamente que se compare o que se decide e se realiza por lá com o que se vai fazendo e desfazendo por cá.
PS: Note-se bem que os Picos da Europa, e Cangas de Oniz em particular, continuam a atrair milhares de turistas todos os anos, em todas as estações. O que fazem estes turistas por lá é o que os turistas fazem em todas as montanhas do mundo civilizado: escalam, passeiam a pé, de bicicleta, a cavalo, de burro, em canoas. Apreciam uma montanha que se mantém apreciável, em suma.quarta-feira, outubro 04, 2006
O bunker
Agora diga-me: tinha mesmo que ser este enorme bunker cinzentão (com uma nota de cor dada apenas pela publicidade à Vodafone), sem nada que ver com a arquitectura tradicional da região, sem nada que ver, sequer, com a arquitectura turística típica das estâncias de esqui? Tinha mesmo que ser este caixote aparentemente inacabado que, apesar de baixo (do lado da estrada o tecto deste caixote está ao nível do chão), agride a visão desta encosta como um monte de entulho suburbano?Já que estamos em maré de suposições, imagine o caro leitor que apresentava à Divisão de Urbanismo da Câmara de Seia um tal projecto de arquitectura. Qual acha que seria a deliberação dos serviços? Mas a pergunta mais interessante aqui até é outra: consegue o caro leitor imaginar-se com tão mau gosto, tão focado apenas no seu lucrozinho imediato, tão cego à beleza da Serra, a ponto de sequer sonhar em considerar a possibilidade de pedir autorização para a construção de um tal mamarracho no topo da Serra? Eu não.
Não compreende como é que foi possível isto ter sido aprovado? Eu também não. Mas podemos continuar a colocar hipóteses. Imagine que a Turistrela pretendia, não construir este caixote, mas sim um hotel, com mais dois andares, como o que mostro na figura em baixo, tirada de um suplemento do Jornal do Fundão de publicidade à Turistrela, publicado a 29 de Abril de 2005. Leia também o texto que a acompanha (clique na imagem para a aumentar).
Quanto a mim, esta proposta não é melhor do que o caixote que agora temos mas, ao menos, esta enormidade pareceria uma enormidade acabada, já seria assim a modos que "requalificada", para usar um palavrão da moda. Não se estranharia tanto, portanto, a sua aprovação pelos arquitectos da Divisão de Urbanismo. Por outro lado, é muito mais difícil vê-lo a ser aceite pelos serviços do Parque Natural da Serra da Estrela. É que um hotel, permanentemente habitado, tem necessidades muito maiores de água, de electricidade, de rede de esgotos, de espaços de aparcamento, etc.Continuemos a colocar hipóteses. Será que a Turistela submeteu à aprovação da Câmara de Seia este projecto, em vez do do caixote? Será que foi a isto que os serviços da câmara deram a sua benção? Mas então como é que foi obtida a licença de utilização estando a construção tão flagrantemente inacabada?
Seja como for que se olhe para este mamarracho, vamos sempre parar à mesma pergunta:
Como foi possível ter-se aprovado tamanho atentado?
terça-feira, outubro 03, 2006
Algarvear o Algarve? Já chega, obrigado!
Pelo que podemos ainda ler na mesma peça, o director do Instituto de Turismo de Portugal, Luís Patrão (irmão do presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela), reagiu às declarações de Francesco Frangialli considerando que "Qualquer sítio em Portugal não tem a mesma capacidade construtiva nem a mesma volumetria [que as regiões espanholas]". Não sei o que diabo Luís Patrão queria dizer com isto, mas não parece mesmo nada ralado, pois não?
Largest Climate Change Experiment - Participa!
Este é o desafio lançado pela BBC a todos os utilizadores de internet no mundo! Participar no maior estudo de sempre sobre a previsão das alterações climáticas no futuro. Esta área de investigação tem uma grande necessidade de recursos informáticos de forma a poderem validar os modelos que usam para prever as alterações do clima. Para testar um modelo os investigadores põe o modelo a fazer previsões do clima para datas que já passaram e comparam-nas com os dados que realmente se verificaram. Isto requere que sejam testados milhares de modelos ligeiramente diferentes uma vêz que as variáveis introduzidas são imensas. O que este grupo de investigadores se lembrou foi de criar um sistema que permitisse utilizar o potencial de todos os computadores pessoais que o cidadão comum tem em casa ultrapassando assim em muito o poder informático até hoje utilizado para esta investigação. O utilizador tem apenas de fazer o download do programa e este realizará a experiencia em background utilizando apenas uma pequena parte dos recursos do computador. A experiencia pode ser parada em qualquer altura e retomada depois.
Se quiserem saber mais podem ir aqui e se quiserem participar na experiencia podem ir aqui. Eu já participo!!