Publiquei este artigo a 15 de Fevereiro, ainda no Cântaro Zangado antigo. Como gosto particularmente dele, resolvi republicá-lo aqui, com ligeiras modificações.
Hoje de manhã, vi um esquilo. Fui fazer um jogging matinal no circuito de manutenção da Covilhã, e dei com ele. Ficámos os dois parados, cada um examinando o outro com atenção, eu no caminho, ele empoleirado num pinheiro, a seis metros um do outro, até que cada qual foi à sua vida. Já tinha visto esquilos, nos parques de Londres e de Amesterdão, mas foi o primeiro que vi em Portugal. É uma boa maneira de começar o dia, depois da amargura dos posts de ontem [referia-me a este, este e mais este]. Esta imagem vai-se juntar a muitas outras que formam um capital de recordações visuais que é das coisas que mais valor têm para mim. Relâmpagos incidindo em grandes blocos graníticos durante trovoadas na Serra, uma águia que levantou voo a poucos metros de mim numa falésia que escalava, uma raposa que descia em grandes saltos a face norte do Cântaro Magro... Gostava que os meus filhos pudessem vir a ser, neste aspecto, pelo menos tão afortunados quanto eu. Para isso, é necessário que a Serra permaneça um espaço interessante e preservado.
Ilustro este post com uma fotografia de um botão de açafrão, ainda por abrir. Estas pequenas flores aparecem no fim do inverno (a da foto já é deste ano). No início do outono, podem ver-se flores muito parecidas, mas amarelas. Não são nada raras, escolhi esta foto porque o açafrão parece não ter caule ou, se o têm, está profundamente enraizado. Por isso, quando se colhe uma destas flores, ficamos com um molho de pétalas desligadas umas das outras na mão, nada que se possa pôr num vaso ou numa lapela, nada que se possa oferecer a uma moça bonita. Há coisas (se calhar, há mais do que pensamos) que, domesticadas, requalificadas, ordenadas, desenvolvidas, "humanizadas", separadas do seu contexto e ambiente, simplesmente morrem e deixam de servir seja para o que for.
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