segunda-feira, abril 30, 2007

Programa para Outubro

(Carvalhal jovem, mas já com algumas árvores com um porte muito razoável, perto do Parque de Campismo do Pião.)

Excerto do 2º volume da série "Árvores e florestas de Portugal" actualmente em publicação pelo jornal Público:
Em estudos comparativos com florestas de pinheiro-bravo, o solo do carvalhal apresenta valores mais elevados de carbono, azoto, capacidade de troca, potássio e magnésio, uma menor acidez e relação carbono/azoto, constituindo globalmente um melhor solo.

(pág. 106)

Vamos então plantar carvalhos. Mas não é agora a altura de o fazer. É melhor aguardar para depois dos meses mais quentes e secos. E os carvalhos na Serra convivem com vidoeiros e tramazeiras. Evitem-se as monoculturas, variar é preciso!

sexta-feira, abril 27, 2007

quinta-feira, abril 26, 2007

Aleluia! Aleluia!

Passados 36 anos da sua criação (pelo Decreto Lei 325/71 de 28 de Julho) e 21 da sua privatização (pelo D.L. 408/86 de 11 de Dezembro), a Turistrela, concessionária exclusiva do turismo e dos desportos na área da Serra da Estrela desde que foi criada até sabe-se lá quando, vem finalmente oferecer passeios pedestres e de bicicleta aos visitantes da Serra da Estrela! Veja toda a informação no site da empresa!

Não sei se a coisa está bem organizada, se efectivamente funciona, se os preços praticados são razoáveis, se a Turistrela teve esta iniciativa apenas por se sentir a isso forçada pelo avolumar das vozes que a criticam. Não sei nem quero saber. Sei que é um passo, um primeiro passo, na direcção certa e que, por isso, agora o quero aplaudir. Aleluia!

quarta-feira, abril 25, 2007

Radicalmente sensato (2)

Li num livro sobre a Sierra de Gredos (montanha vizinha da Serra da Estrela, a sua "hermana mayor", como lhe chamou o TPais aqui) que no início do sec. XX restavam por lá apenas umas dez ou vinte cabras-montês (Capra hispanica victoriae). Hoje em dia contam-se perto de dez mil, como as que o Tiago fotografou no fim de semana passado.

Alguma vez teremos uma história como esta para contar sobre o Parque Natural da Serra da Estrela (não necessariamente com cabras, podia ser com cervos, veados, lobos, genetos, saca-rabos, raposas, esquilos, carvalhos, teixos, gaios, cucos, trutas, lontras, lagartixas, salamandras, morcegos, águias-de-bonneli, sei lá eu!)? Este exemplo tão próximo mostra que não é impossível.
Serei radical, mas parece-me que, se o desejamos, teremos que fazer alguma coisa por isso e teremos que deixar de fazer tudo o que fazemos contra isso.

Ou então, podemos simplesmente continuar a apregoar que aqui é "onde a natureza vive," a falar do "espaço natural por excelência" que é a Estrela, do "ambiente intocado" dos nossos vales e cumeadas, da imponência ancestral dos montes hermínios, da necessidade dos vultuosos investimentos no sector turístico (neste original sector turístico que temos, especificamente), necessários para a valorização da nossa região e para contrariar a desertificação.
A ver no que dá...

terça-feira, abril 24, 2007

Bom Vinte e Cinco!

Mais estudos!

Como se pode ler nesta notícia do Diário XXI (referida também pela Kaminhos), os concelhos com território no interior do Parque Natural da Serra da Estrela assinaram um "acordo com a Escola de Gestão do Porto para concorrerem em conjunto a fundos do QREN". O acordo prevê a realização de um estudo, coordenado pelo economista Daniel Bessa, "relativo às oportunidades e caminhos de valorização desta região".

O Cântaro Zangado acha muito bem que se façam estudos. Mas também gostava de perguntar se alguma coisa se aproveita dos que se já se fizeram. Por exemplo, o que resultou do Plano Estratégico de Turismo (PETUR), encomendado à Universidade da Beira Interior pelos municípios que integram a Região de Turismo da Serra da Estrela (ou seja, mais ou menos, os mesmos)? Recordo que as conclusões desse estudo foram apresentadas em meados de 2006. Não está propriamente desactualizado, convenhamos...

Mas pelo que se lê na notícia, o que se pretende com o estudo é reforçar as candidaturas que se vierem a fazer para financiamento pelo Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN). Ou seja, não será bem, bem um estudo. Diria que é antes uma estratégia comum para a submissão de projectos regionais a este quadro de apoios. Em princípio, é uma coisa boa, portanto. Por outro lado, sabemos bem o que os protagonistas em foco defendem para a Serra. O presidente da Câmara Municipal da Guarda deseja a chamada estrada Verde (irão pintar dessa cor o asfalto?) com que se pretende rasgar o vale do alto Mondego. Deseja-a ao ponto de começar trabalhos num troço da futura via, ainda antes de se concluirem os estudos porque "é o primeiro da estrada verde e qualquer obra, depois de se começar, tem de ser concluída". Não é a tradiconal política dos factos consumados? Enfim, adiante. Na defesa desse objectivo é apoiado pelo presidente da Câmara de Manteigas. O da Covilhã tem uma visão mais ambiciosa: transformar as Penhas da Saúde numa "minicidade", capaz de "concorrer em termos de turismo de montanha com outras da Europa, nas cidades dos maciços mais conhecidos, como os Alpes ou os Pirinéus" e acha que o que é preciso para atingir tal objectivo é a construção de centenas de apartamentos, de um casino, de centros comerciais, de um centro de estágios desportivos, bem como de uma telecabine para despachar turistas para a Torre. Veja-se a balbúrdia novo-rica que as Penhas já são actualmente, reafirmada pelas obras que a Câmara encetou antes das últimas autárquicas, para se ter uma ideia do que este autarca tem em mente. O presidente da Câmara Municipal de Seia tem afirmado que haja o que houver na Serra, a estrada nacional que atravessa a Torre (ou seja, o turismo das hordas poluidoras nos fins de semana de neve) permanecerá uma prioridade da autarquia que dirige. (Devo aqui dizer que acho que esta autarquia, com o Centro de Interpretação da Serra da Estrela, tem tido um papel comparativamente muito positivo nas questões do ambiente e do seu aproveitamento sustentável.). O presidente da Câmara de Gouveia faz aprovar reservas municipais de caça, com pareceres "passados" por órgãos que nunca chegam a reunir!

Porque os discursos oficiais sobre a serra da Estrela são o que são, porque os projectos que se anunciam são o que são, tenho os maiores receios relativamente aos reais objectivos destes protagonistas com este estudo. Falemos claro: tenho muito medo que os projectos desta gente venham a ser aprovados e financiados, ainda por cima com dinheiro que sai, também, dos meus bolsos.

segunda-feira, abril 23, 2007

Radicalmente sensato (1)

Um amigo disse-me que um conhecido dele tinha considerado as ideias expressas aqui no Cântaro como demasiado radicais.
Não sei se sou ou não "radical". Nunca me vi como tal, mas aposto que todos os radicais dizem o mesmo. Vou tentar identificar elementos de "radicalidade" no meu discurso e explicar porque é que os adopto.

Mas isto dá pano para mangas, por isso vou tratar este assunto aos poucos, sector a sector. Hoje, começo com as acessibilidades

De que se fala quando se referem as acessibilidades? De uma, duas, ou três telecabines para a Torre; da já inaugurada estrada de S. Bento entre a Portela do Arão e a Lagoa Comprida, que deixa a Torre bem "mais próxima" de Loriga; da asfaltação do caminho Unhais da Serra - Nave de Santo António, que diminui para um terço o tempo da viagem rodoviária entre Unhais e a Torre; da chamada estrada Verde (que exemplo de green-wash tão evidente!) com a qual a Guarda ficará a "um pulinho" da Torre. Ouvem-se ainda referências a outros planos, já com menor apoio institucional, como a estrada Alvoco - Torre e estrada Cortes do Meio - Penhas da Saúde. Eventualmente, poderá haver ainda outros projectos que eu não conheça.

O Cântaro Zangado está contra todos estes projectos. Imagino que se considere esta oposição um elemento de radicalidade. Mas, vejamos. O turismo que queremos é o das voltinhas de carro? Deixamos os turistas a si próprios, descobrindo dentros das suas viaturas todas as maravilhas da Serra, em vez de verdadeiramente ordenarmos as visitas, levando os vistantes a sairem dos seus carros nas cidades, vilas e aldeias em redor da serra, visitando devagar as terras, os vales e as encostas, descobrindo a serra, as suas paisagens, a sua história e os vestígios dela (e tem tanta e tantos!)? Mas a Serra é muito mais atractiva nos vales, nas aldeias, nas encostas, do que na Torre. Com todas estas "acessibilidades," estamos a encorajá-los a deixarem para trás as verdadeiras maravilhas e a conduzi-los para onde não representam mais valia nenhuma a não ser para alguns que se consideram (e que são assim considerados nos termos da aberrante concessão exclusiva) donos do turismo na Serra. Não, o Cântaro Zangado não acha que mais estradas tragam melhor turismo, ou tragam mais desenvolvimento pelo turismo. Antes pelo contrário.

E depois, as estradas são feias. As estradas ficam mal nas fotografias, cortam a continuidade, esmagam a escala dos pequenos vales, os seus taludes rasgados mancham as encostas... As estradas são terríveis para as paisagens. E são terríveis para o ambiente, pelo lixo que alguns automobistas deixam por onde passam (e onde passam os bons automobilistas também podem passar os outros, não é?), pelo perigo de atropelamento que representam para os animais e pela fragmentação em parcelas cada vez mais pequenas dos espaços naturais de que animais, plantas e muitos turistas necessitam para o seu bem estar. As estradas são más para o ambiente, portanto. Logo, são más para o turismo de ambiente, logo são más para o negócio.

Além disso, mais estradas aproximando turistas da Torre significam mais carros na Torre, mais sobrecarga (e maiores encargos) para os serviços de limpeza da neve, maior complexidade nos esforços para ordenar o caos por parte das forças da ordem.
Paradoxalmente, ao mesmo tempo que se sonham, planeiam e executam todas estas estradas, fazem-se belos discursos defendendo a necessidade de reduzir e ordenar o tráfego na Torre. Para permitir o condicionamento do acesso rodoviário à Torre, entende-se que é necessário criar alternativas ao intensíssimo (tome este adjectivo com toda a ironia que tiver à mão) tráfego de atravessamento. Sonha-se então com túneis sob a Serra, ou com o início dos trabalhos na IP6 (Covilhã - Coimbra). Não quero criticar à partida estes projectos mas, caramba, o que é que têm que ver com a Torre? Os veículos que congestionam o trânsito na Torre são os dos turistas que querem parar o seu carro na Torre, que querem visitar a Torre! Túneis ou IP6 não alteram em nada esta realidade. Não, se queremos menos trânsito no alto da Serra, temos que o condicionar, com ou sem telecabines, com ou sem túneis, com ou sem IP6.

É também por esta via da necessidade da redução do tráfego na Torre que "entram" as telecabines. O argumento mais usado a favor delas é que são menos más que as estradas. Mas alguém fala em encerrar estradas na Serra quando as telecabines estiverem em funcionamento? Não. Logo, este é um falso argumento. E alguém estimou a redução de tráfego na Torre resultante da entrada em funcionamento das telecabines? Não. Ou seja, as telecabines poderão reduzir o trânsito no alto da Serra, ou não. Vamos construí-las e logo se vê?
Mas para se fazer uma análise mais completa das telecabines não nos podemos ficar pelo argumento "são menos más que as estradas", temos que ver em concreto o que se planeia e quais as consequências. Os discursos dos promotores (Turistrela, Região de Turismo e autarquias) falam umas vezes de uma telecabine partindo das Penhas da Saúde, outras vezes dos Piornos, outras vezes de perto da barragem do Padre Alfredo. Caso se opte por esta última (que é a mais razoável para se evitarem os ventos do alinhamento dos vales glaciários do Zêzere e da Alforfa que inviabilizaram o antigo teleférico), o Covão do Ferro, um dos poucos lugares ainda a salvo da degradação suburbanizante que impera já em tantos locais da Serra, será transformado num parque de estacionamento (é que as pessoas têm que largar os carros para se meterem na telecabine, não é?). O mesmo se passa relativamente ao projecto da telcabine Lagoa Comprida - Torre: falou-se (li sobre isso no Público) que a melhor solução seria a partida no extremo oriental da lagoa, ou seja, no lado oposto à barragem. É um lugar lindíssimo. Os promotores querem transformá-lo noutro parque de estacionamento. Serei radical, mas desenvolver o turismo na Serra da Estrela é isto?!

O problema das acessibilidades é causado pela existência das acessibilidades "fáceis e directas". O Ben Nevis, na Escócia, é a montanha mais alta das ilhas britânicas. Tem 1300 m de altitude, ou qualquer coisa assim. Não tem estradas nem telecabines para o topo. Ninguém protesta por isso. É um grande centro de turismo de montanha. Outro exemplo, noutra escala? Gredos, aqui ao lado. Outro exemplo, já no nosso território? O Gerês.
Do que a Serra precisa é de mais gente a andar a pé e de menos gente a andar de carro. Ou seja, menos estradas para abandonar os turistas a si próprios nas tristes voltinhas automóveis, mais actividades para os entretermos.
Diga-me, isto parece-lhe assim muito radical?

Dia mundial do livro

Só os títulos já nos fazem sonhar:
  • "Etoiles et Tempêtes", Gaston Rébuffat (1954)
  • "The White Spider", Heirich Harrer (1959)
  • "Les Conquérants de l'Inutile", Lionel Terray (1961)
  • "The Crystal Horizon", Reinhold Messner (1982)
  • "Touching the Void", Joe Simpson (1988)
  • "The Mountains of my Life", Walter Bonatti (1999)
E não são só as obras pessoais, a literatura dos montanhistas. Veja-se só o título deste manual técnico:
  • "Mountaineering—The Freedom of the Hills", the Mountaineers (1997)
Convenhamos que não há muitas disciplinas com livros técnicos com títulos tão evocativos como este...
Em português no original, não podemos esquecer
  • "A mais alta solidão", João Garcia (2001).

Recomendo vivamente estes livros (uns mais do que outros, claro). Recomendo também o que se segue, sobre a luta pela protecção das montanhas em geral e dos Alpes em particular. Diga lá, o que a capa mostra não lhe faz lembrar uma certa serrinha que conhecemos tão bem?.

sexta-feira, abril 20, 2007

Bom fim de semana!

Vale da Alforfa

Estrela e Gredos: 2 Serras 2 Destinos

O fim de semana passado estive na Serra de Gredos a desfrutar 2 dias fantásticos!É realmente um local magnifico, selvagem, agreste, original!É um gigante granítico com pináculos afiados e grandes escarpas esculpidas na era onde os Glaciares dominavam.

Chegámos à localidade de Hoyos del Espino sexta feira já tarde - por volta da meia noite. O objectivo era subir ao ponto mais elevado de Gredos, o Almanzor (2592m), depois seguir para a Galana (~2500m) e descer de volta ao refugio Elola (1980m) pelo "Garganton".
Manhã de sábado 7horas - iniciámos a nossa caminhada onde a estrada acaba (1700m altitude) em direcção ao circo de Gredos mas não sem antes passarmos pelo escrutínio do olhar de 3 belos exemplares de Cabra Montez, o simbolo de Gredos! Cerca das 2 horas de caminhada chegámos aos "Barrerones"(~2200m alt.) e finalmente podemos observar o anfiteatro do Circo Glaciar de Gredos e a lagoa formada após o degêlo do antigo Glaciar. A partir daqui é sempre a descer até ao refugio. Cerca de 7km depois de iniciarmos a nossa caminhada chegámos ao refugio onde fazemos uma pausa e aliviamos a carga das mochilas. Sim, são 7km a pé sem alternativas! Mas que injustiça!Não há uma estrada, um teleférico?Não há nada que democratize o acesso a este local?É verdade, a natureza não é justa!ou será?Para mim até é, pois esta é a maneira que mais me satisfaz visitar locais como este. Se fossem criados meios para que toda a gente conseguisse aqui chegar (p.e. estradas) deixaria de ser justo para as pessoas como eu que veriam ser retirado todo o prazer de aqui virem. Temos que perceber de uma vez por todas que há muita gente para quem o carro não é a melhor forma de chegar a certos lugares!
Bom, mas voltando à nossa actividade. O descanço no regufio terminou e iniciámos a subida final para o Almanzor quando batiam as 11h30m locais. O tempo estava "quente" e a neve bastante "papa" dificultando a progressão principlamente nas pendentes mais inclinadas. Mas havia "traço","hola",trilho, como lhe queiram chamar. Por isso com mais ou menos dificuldade todos chegámos ao cume do Almanzor (2592m) Apesar da altitude moderada deste pico, considero uma ascensão muito interessante podendo-se facilmente variar o nivel de dificuldade abordando diferentes faces do pico. Com neve gelada, o final da subida pode ser tambem um bom desafio. Lá tirámos a fotografia da praxe, marcámos o ponto no GPS (também já é praxe!). Tivemos que abandonar a passagem pela Galana pois a hora já ia avançada e a partir daqui já não havia trilho aberto o que implicaria chegarmos depois do jantar ao refúgio!E ninguém quer isso, certo?! Descemos então pelo mesmo sitio. Regressámos ao refugio para o merecido descanso - cerca de 8-9 horas de actividade.
No dia seguinte foi tomar o pequeno almoço, arrumar as mochilas e regressar ao sitio onde tínhamos deixado o carro a 7km de distância e vislumbrar mais uma vez o majestoso Circo Glaciar de Gredos! A serra de Gredos pertence à cordilheira central da península Ibérica da qual faz parte também a nossa Serra da Estrela. Se não estou em erro, a origem geológica das duas é semelhante e as parecenças em termos de paisagem granítica e vegetação são grandes também. Podemos dizer que Gredos é a irmã "mayor" da Estrela!Durante muito tempo tive o desejo de que a Serra da Estrela fosse como Gredos! Seria até justo! Os espanhóis já tem tantas montanhas com mais de 2000 metros, porque não haveríamos de trocar?!Claro que isto são aquelas divagações que todos fazemos de vez em quando. Mas como já referi, a Natureza não é justa.
No entanto, olhando para as duas Serras com tantas características comuns e a mesma génese, não posso deixar de lamentar o destino oposto que calhou a cada uma. A Estrela, com estradas a rasgarem-lhe os espaços naturais e selvagens, vista como um obstáculo à circulação territorial por uns e como um espaço de exploração por outros; Gredos, por seu lado, sem uma única estrada que atravesse as suas terras altas, preservada no seu valor e por isso admirada por cidadãos de todos os cantos.
De facto, lamento os destinos opostos das duas serras, mas já não lamento que Gredos não seja Portuguesa! Se assim fosse, concerteza já chegaria confortavelmente de automóvel ao refugio de Gredos, que já não seria um refugio mas sim um hotel ou mesmo um aldeamento com piscinas, farmácias, lojas de conveniência e multibancos espelhando o turismo de qualidade à lá Tuga!Mas não é isto que eu gosto. Gredos, finalmente estás bem onde estás...

quinta-feira, abril 19, 2007

Mais lixo

Para não ser sempre o blog Estrela no seu melhor a fazer o serviço "sujo", deixo aqui a indicação de dois locais da colina sobre a Covilhã que poderão merecer a atenção da Águas da Covilhã (AdC), por se terem lá feito despejos de desperdícios. Ambos os locais situam-se por baixo do Alto dos Livros.
  • Um sítio está para nascente do Alto dos Livros, no local de coordenadas N40º16'16'' W7º32'20''. O lixo que lá foi deixado consiste em restos de ferro velho e peças de automóveis. Encontra-se na berma de uma picada que corre paralela ao caminho do Pião, mais acima.
  • O outro sítio está para sudoeste do Alto dos Livros, nas duas bermas do caminho do Pião, perto de uma quinta abandonada. As suas coordenadas são N40º16'06'' W7º32'42''. O lixo aqui abandonado consiste em entulho de construção civil e ferro velho.
Os dois locais encontam-se assinalados no mapa da figura.

Não pretendo com este post fazer qualquer crítica aos serviços da AdC. Gostava, isso sim, que os que deixaram este lixo na Serra o deixassem, na próxima vez, num sítio onde não fosse tão difícil limpá-lo! Por exemplo, na lixeira!

Já agora, outro sítio aqui perto carregadinho de entulho é a vizinhança imediata da Estalagem da Varanda dos Carqueijais, como mostrei aqui.

"Um país que não anda" (2)

Vamos mostrar ao Sr. Lemos dos Santos (e àqueles a quem convém que as suas ideias vinguem) que este país até anda? E que quer continuar a andar por trilhos e veredas na Serra da Estrela? É participar na 1ª Caminhada pelo Ambiente da Serra da Estrela, no dia 12 de Maio!

Uma opinião como outra qualquer...

Diz Carmen de Jong, professora e investigadora do Institut de la Montagne da Université de Savoie em França, que
"To make artificial snow all day long and during the whole season is just completely irresponsible for our climate, especially on such a large scale",
isto, porque mantendo-se a água em reservatórios de superfície e pulverizando-a no ar, um terço do total utilizado (e são 95 milhões de metros cúbicos por ano, nos Alpes) evapora-se, formando nuvens que viajam para outras regiões.
Ah, mas o que é que essa fulaninha entende disso?!

Soube deste assunto pelo Ondas.

"Um país que não anda"

Retirei a expressão que intitula este post de uma contribuição de Lemos dos Santos, Coordendor da Acção Integrada de Base Territorial da Serra da Estrela, para o Blog do programa PETUR sobre o tráfego na Serra da Estrela (veja-se o quinto parágrafo da contribuição nº 16). Pretendia Lemos dos Santos defender a necessidade de mais asfaltações na Serra da Estrela, porque (passo a citar)

Não se pode pedir, ao potencial mercado de um "País que não anda", que suba dos 600 aos 1300/1500 metros de altitude, por estradas intransitáveis, que faça depois o seu percurso pedestre aos locais mais recônditos da Serra e regresse pela mesma picada. Só mesmo para quem tenha viatura todo o terreno.

De facto, não podemos pedir isso ao "país que não anda". Mas o país que não anda tem muito "Allgarve" por onde não andar. O que temos nós, aqui na Serra, para oferecer ao "país que anda"? É que esse país existe, como se pode comprovar por notícias como esta

Percursos ambientais cativam ciclistas e caminheiros de Évora
(Diário de Notícias, 8 de Janeiro de 2007)
A Serra da Estrela já tem estradas de asfalto por cotas elevadas como mais nenhuma serra (de dimensão semelhante) que eu conheça. Mas asfaltem-se mais vias ainda, como Lemos dos Santos quer. Virão à serra aqueles turistas que não querem caminhar e que por isso praticamente não saem dos seus carros, aqueles que vêm à neve e regressam no mesmo dia. Agravar-se-ão os problemas de trânsito. Aumentará a pressão sobre os serviços de limpeza da neve e sobre as força da GNR. Mais lixo será deixado na Serra. Ainda mais Serra será fácil, confortável e rapidamente visitada, ou seja, diminuirá ainda mais a duração média da visita dos turistas. Conseguiremos assim moldar a realidade de forma a ajustá-la na perfeição ao diagnóstico de Lemos dos Santos: de facto o país não andará. Na Serra, pelo menos, assim será. Ficará Lemos dos Santos satisfeito? Ou, por mais que se asfalte, nunca será considerado suficicente?

Sobre a rede de eco- e ciclo-vias em Portugal, encontramos no blog Pedestrianismo uma série de artigos com muita informação. Sobre a rede espanhola de Vías Verdes (a que já me referi aqui) ver este site.

terça-feira, abril 17, 2007

A não perder

Um excerto da sinopse desta exposição:
Os autores chegaram à conclusão que não queriam fazer unicamente uma exposição de fotografias. Queriam sim realizar uma obra que, sendo simples e através das suas fotografias, conseguisse dar conta das suas sensações de quando estão na montanha. Uma obra que se poderá concretizar na forma de uma exposição que, cá em baixo, no meio destas casas, leve o observador em mente e coração lá acima, entre vales e cumes, à neve e ao sol, às árvores e aos rios, ao frio do ar e ao quente de um abrigo nocturno.
Verifica-se que infelizmente as montanhas são cada vez mais "maltratadas" e menos respeitadas. São os sucessivos incêndios de verão, a massificação do turismo, a exploração indiscriminada dos recursos ambientais existentes, entre outros. Os autores consideram que, gostando das montanhas, devem fazer algo mais para defender e preservar os seus ecossistemas, tão frágeis ecologicamente. Pensam que uma boa maneira de o fazer é respeitosamente mostrá-las através dos Olhares que têm sobre elas, através da Fotografia. Ao mesmo tempo, pretendem dar conta da forma simples com que encaram a montanha, convivendo com ela, e não competindo com ela.
Com certeza que vou ver esta exposição, e suspeito que lá hei-de ir mais cedo que tarde.

A propósito, confesso que também eu considerei que "gostando das montanhas, devia fazer algo mais para defender e preservar os seus ecossistemas, tão frágeis ecologicamente". É essa, e apenas essa, a razão da existência d'O Cântaro Zangado e do meu empenhamento na Plataforma pelo Desenvolvimento Sustentável na Serra da Estrela.

VIII Jornadas sobre Conservação da Natureza

O Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS) organiza este fim de semana as VIII Jornadas sobre Conservação da Natureza. Terá lugar no auditório do CISE, em Seia.

segunda-feira, abril 16, 2007

A Beira Interior e a Serra: notas sobre planeamento e turismo

Para deixar tudo arrumadinho e mais fácil de encontrar, deixo aqui links para os cinco artigos que Francisco Paiva escreveu para o semanário O Interior, a que me tenho referido aqui no Cântaro. Na minha opinião, estes artigos dão um contributo importante para qualquer esforço no sentido de dar alguma sanidade ao desenvolvimento turístico (e não só) da nossa região, especialmente da Serra da Estrela. Constituem, pelo menos, uma reflexão muito mais profunda do que os voluntarismos e megalomanias a que quase todos os responsáveis pelo turismo e pelas autarquias nos têm habituado ao longo dos anos.

Viva a Primavera!

Este pássaro é um abelharuco. Até ao ano passado, nunca tinha visto nenhum. Perto de Dezembro (de 2005) começaram a chamar a minha atenção (e dão nas vistas, pelo colorido, pela forma como voam, pela espécie de cauda bicuda que apresentam) dois exemplares com que me costumava cruzar no caminho casa-trabalho. Foi um amigo do CISE de Seia que me disse que espécie era. Quando chegou o Verão, desapareceram. Receei que tivessem sido caçados ou que o seu ninho tivesse sido destruído. Não os voltei a ver.
Até ontem! Mas agora já são cinco!

O que não voltei a ver, desde Setembro, foi esquilos. Alguém os tem visto recentemente?

sexta-feira, abril 13, 2007

Bom fim de semana!

Adenda

Para falar com franqueza, como turista que é o que sou, não me chateia nada que a Serra da Estrela não seja um grande centro de turismo de montanha, como referi no final do artigo Notas de Férias (III). Eu sei o que hei-de fazer na Serra, sei o que quero fazer na Serra e não preciso senão de um ou dois amigos para o fazer.
O que me chateia, mesmo, é que se esteja a destruir tudo o que a Serra tem de atractivo, degradando-a, urbanizando-a, artificializando-a, poluindo-a, tentando transformá-la numa coisa que ela nunca poderá ser, numa coisa que não presta, que não tem viabilidade, tomando como modelo uma percepção parcial, parola, desfocada, desactualizada e, pura e simplesmente, errada, do que são as estâncias de montanha da Europa. Isso é que me deixa mesmo muito chateado.

quinta-feira, abril 12, 2007

E, por fim...

O último artigo da série "A Beira Interior e a Serra: notas sobre planeamento e turismo" que Francisco Paiva fez publicar no interior. Pode lê-lo na íntegra aqui. Como sempre, quero realçar aqui um excerto:
Quanto ao turismo, seja para elites ou para as massas, depois do negócio do lazer restará a forma. A qualidade da arquitectura poderá ser, por si só, motor económico. Haja vontade de eliminar os maneirismos e de ser ambicioso e exigente com os programas, com a previsão do impacte ambiental, com o projecto das infraestruturas, dos edifícios e dos interstícios. Evitar a cenografia e a propaganda é um imperativo ético. Exceptuando alguns aglomerados castiços (Torre, Penhas da Saúde, Sabugueiro, etc.), a Serra da Estrela é ainda um dos poucos redutos naturais incólumes à devastação. Não a desencantem!
Ora bem.

Notas de férias (III)

Quando chegámos ao hotel onde ficámos hospedados em Baqueira, ofereceram-nos um folheto com um programa de actividades extra esqui. Infelizmente, não o guardei. Entre outras possibilidades, sugeriam passeios a cavalo e visitas guiadas aos locais de interesse histórico e cultural do Vale de Aran.

Na salão de estar do hotel, sobre uma mesa, folhetos de publicidade a diversas empresas, oferecendo aulas de esqui de pista, guias para esqui fora de pista e de travessia, heli-ski. Um folheto, em particular, publicado pelo Conselh Generau d'Aran e o Tourisme Val d'Aran, tinha um título que me intrigou: "Era Val d'Aran — que fer... a mes d'esquiar?" ("Vale de Aran — que fazer... para além de esquiar?"). O que sugerem que se faça ali para além de esquiar nos cento e poucos quilómetros de pistas? "Senderisme", ou seja, pedestrianismo. O folheto indica uns poucos de pontos de interesse (paisagístico, histórico, cultural) acessíveis através de trilhos pedestres, e inclui um mapa desses trilhos. Tudo numa folha de papel "glossy" A4.

No mesmo salão, encontrei, alguns dias mais tarde, a revista Pànxing Pirineus, distribuida gratuitamente. Editada por autarquias e organizações de turismo da região (e pelo governo de Andorra), com publicidade a empresas e alguns artigos sobre coisas para ver e fazer na região. Quase todos os artigos referiam o pedestrianismo, relacionando-o com os valores ambientais, históricos e culturais dos Pirinéus.

Nos supermercados encontrei mapas de percursos pedestres e mais publicações sobre o património da região.

Enfim, por estas e outras se vê que não é só pela falta de neve que a Serra da Estrela não é um grande centro de turismo de montanha. É que não basta dizer que a Serra não é só neve, senhores responsáveis pelo turismo...

quarta-feira, abril 11, 2007

Rota Arqueológica

Apanhei este anúncio no blog Casegas vai nua. É uma excelente ideia, e muito bem pensada. Não é "apenas" mais um passeio, será animado pelas explicações de um aerqueólogo, e pela realização de um concurso de fotografia! Infelizmente, vou sair nesse fim de semana, senão já me teria inscrito.
Isto sim, é um passo a sério, porque mostra o caminho, na direcção do desenvolvimento do turismo na nossa região (mesmo que não tenha sido essa a intenção dos organizadores). É que não basta dizer que a serra não é só neve, senhores responsáveis pelo turismo...

12 de Maio, Serra da Estrela

Volto a chamar a atenção para a 1ª Caminhada pela Conservação do Ambiente da Serra da Estrela. Diferentes grupos vão subir à Torre por diferentes caminhos, diferentes vertentes. Os percursos são A figura que ilustra este post é a composição de dois cartazes produzidos para a divulgação. Se o desejar, pode obtê-los aqui e aqui.

Notas de Férias (II)

Baqueira é uma localidade artificial. Uma "mini-cidade" ou "aldeia de montanha", usando as designações inventadas na Câmara Municipal da Covilhã para as Penhas da Saúde. Refiro-me, com a expressão "localidade artificial", a um aldeamento onde não moram pessoas permanentemente em número significativo, que existe apenas em função do turismo. Há quarenta anos haveria naquele lugar, quando muito, umas quintas e, eventualmente, duas ou três residências de férias, de acordo com o que pude observar numa fotografia de 1968, afixada no átrio do hotel onde fiquei hospedado. Os hotéis mais antigos de Baqueira (dos anos setenta, parece-me) são mamarrachos horríveis, prédios com cinco andares sem eira nem beira.
Mas Baqueira não se reduz a esses hotéis. As novas construções (em Baqueira como no resto do Vale de Aran, nas localidades [estas "reais"] de Salardú, Arties, Unha, etc.) seguem todas um modelo arquitectónico muito bem definido, ao ponto de parecerem todas quase iguais. Todas as construções seguem uma traça muito próxima das construções tradicionais do Vale de Aran: casas baixas (dois ou três andares no máximo, de pedra à vista, com telhados inclinados de lousa, portadas exteriores de madeira escura nas janelas). A figura com que ilustro este post mostra duas fotografias de Salardú, "pescadas" algures na internet. No ano passado pude verificar uma semelhante uniformidade arquitectónica no Formigal (mas aí com menos preocupações de respeito pelos padrões tradicionais).
A construção nestas duas estâncias espanholas é permitida, é até excessiva (quanto a mim), mas nota-se que os arquitectos não têm liberdade para desenharem o que quiserem. Não me agradam estas urbanizações mas a verdade é que não se vêm lá chalés nórdicos, estalagens da cor do vinho (como a da Varanda dos Carqueijais) ou condomínios modernaços como os recentemente construídos nas Penhas da Saúde, que mostrei aqui. A imposição de uma norma traduz-se nalguma harmonia do enquadramento dos edifícios na paisagem urbanizada e também, em menor medida, na paisagem semi-natural do vale. Coisas que, gritantemente, faltam nas Penhas da Saúde.

Penso que a palavra adequada para designar estas limitações à liberdade criativa dos construtores é "ordenamento". Poderão ser maiores ou menores essas restrições mas, deixemo-nos de tretas: faz algum sentido falar de ordenamento urbano ou de requalificação urbana sem elas?

Notas de férias (I)

A fotografia acima foi tirada nos Pirinéus, mais exactamente em Baqueira, Espanha, província de Lérida, na semana passada.
A estância de Baqueira-Beret estende-se por quase vinte quilómetros, vale após vale, crista após crista. Desde os mil e quinhentos até quase aos dois mil e setecentos metros de altitude. Na semana passada estava tudo coberto de neve, e da boa. Em algumas pistas assinalava-se o perigo de avalanches. Este foi um ano atípico, com neve tardia.
Na figura em baixo dá-se uma ideia da extensão da estância. O pico mais afastado pertence-lhe ainda; para lá chegarmos partindo do sítio de onde tirei a fotografia, temos que fazer duas longas descidas e apanhar três longas telecadeiras. Esta fotografia foi tirada da zona central, Baqueira. Na direcção oposta, a estância estende-se por uma distância ainda maior. Baqueira-Beret não é a maior estância dos Pirinéus. A fusão recente de Pas de la Casa/Grau Roig com Soldeu/El Tarter, em Andorra, criando a estância Grand Valira, ultrapassou-a. Pelo que ouvi dizer, estas gigantes ibéricas não são nada comparadas com as grandes estâncias dos Alpes.
Apresento ainda mais uma panorâmica, agora das vizinhanças da estância de Baqueira, tirada do alto do pico que mostrei na imagem anterior, a uma altitude de 2700 m, mais coisa, menos coisa.

Mostro agora, sem comentários, a "nossa" estância Vodafone 2000, fotografada no dia 30 de Março.

Espero com este post ter mostrado o que é (e o que não é) uma estância de esqui normal face a padrões europeus. Não me parece que sejam necessárias mais palavras para mostrar que a nossa estância de esqui (chamemos-lhe assim, à falta de melhores palavras) não tem, nunca teve, nem nunca terá, condições que a tornem comparável a Baqueira-Beret, a Grand Valira, ao Formigal, a Arinsal, só para referir estâncias que conheço por ter visitado.
Nem mesmo as comparações com La Covatilla, a micro estância de Béjar, aqui ao lado em Espanha, são favoráveis à nossa "estância". O desnível de Béjar é três vezes maior do que o da estância Vodafone, e a sua cota mínima é de dois mil metros: La Covatilla começa onde a Serra da Estrela acaba. La Covatilla tem ainda, nesta altura do ano, 11 pistas abertas, num total de 7 km esquiáveis (ver imagens de webcams aqui).
Podemos gastar "pipas de massa" (muita da qual vem de apoios públicos, ou seja, dos nossos bolsos de contribuintes) a encher a serra da Estrela com telecadeiras, canhões de neve, urbanizações, canalizações, estradas, lixo e entulho. Têm sido anunciados projectos nesse sentido, incluindo a expansão da estância de esqui para o Covão do Ferro e/ou para a Garganta de Loriga. Valerá a pena? Talvez, eventualmente para quem vier a gerir essas "pipas de massa" dos apoios públicos. Descontada esta eventualidade, volto a perguntar: valerá a pena? Dou uma achega para a resposta a esta pergunta com outra pergunta: quanto tempo, este ano, com os canhões de neve instalados e funcionais, é que a telecadeira da estância Vodafone serviu efectivamente os esquiadores, estando ligada por percursos esquiáveis às pistas abertas? Arrisco uma estimativa, creio que pecando muito por excesso: duas semanas?

Quanta riqueza é que esses investimentos poderão produzir e, mais importante, que benefícios é que eles trarão à região e às suas populações? Uma pista para respostas a estas questões podemos encontrá-la neste artigo do Blog de Loriga: ao que parece, pela utilização do terreno dos baldios onde a estância Vodafone está instalada, a Turistrela paga ao proprietário (a Comissão de Compartes do Baldio, representada pela Junta de Freguesia de Loriga), a quantia de 166,66€ por mês. Mais pistas ainda fornece-as este artigo d'O Interior, sobre a relação entre a Turistrela e a Câmara Municipal de Manteigas, a propósito do SkiParque do Sameiro.

Quanto mais tempo continuaremos à espera dos prometidos benefícios, desenvolvimento, modernização, do EL Dorado futuro que aí vem nas projectadas telecabines, deprimidos por uma realidade cada vez mais difícil e entorpecidos por estes cantos de sereira das "forças vivaças" da região?

segunda-feira, abril 09, 2007

4/5

Quarto artigo da série que Francisco Paiva publica n'O Interior com o título geral "A Beira Interior e a Serra: notas sobre planeamento e turismo". Pode lê-lo na íntegra clicando aqui. Aqui vai um excerto:
Nesta região, embora pouco estudado, o recente êxodo massivo do meio rural para os aglomerados urbanos teve consequências desastrosas para ambos: é sabido que qualquer cidade precisa de uma zona de influência e que o abandono dos campos provoca a completa dependência alimentar, dita o fecho de equipamentos e de serviços básicos (escolas, correios, postos médicos, etc.), o abandono dos idosos à sua sorte, a ruína do edificado e a degradação dos campos aráveis. Simultaneamente, a periurbanização desqualificada provoca a dependência quotidiana do automóvel e a preponderância viária, visível no sobredimensionamento de vias, rotundas e parques de estacionamento pago.
Acrescento eu, dizendo o mesmo por outras palavras, que esta periurbanização desqualificada é causa e sintoma das cidades que temos, que servem apenas (e cada vez mais à rasquinha) para trabalhar (no local de trabalho), para repousar (no dormitório) e para circular de carro entre os dois locais. A isto (e mais umas voltinhas de sábado à tarde nos centros comerciais) chamamos viver.
Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!