
A estância de Baqueira-Beret estende-se por quase vinte quilómetros, vale após vale, crista após crista. Desde os mil e quinhentos até quase aos dois mil e setecentos metros de altitude. Na semana passada estava tudo coberto de neve, e da boa. Em algumas pistas assinalava-se o perigo de avalanches. Este foi um ano atípico, com neve tardia.
Na figura em baixo dá-se uma ideia da extensão da estância. O pico mais afastado pertence-lhe ainda; para lá chegarmos partindo do sítio de onde tirei a fotografia, temos que fazer duas longas descidas e apanhar três longas telecadeiras. Esta fotografia foi tirada da zona central, Baqueira. Na direcção oposta, a estância estende-se por uma distância ainda maior.

Apresento ainda mais uma panorâmica, agora das vizinhanças da estância de Baqueira, tirada do alto do pico que mostrei na imagem anterior, a uma altitude de 2700 m, mais coisa, menos coisa.

Mostro agora, sem comentários, a "nossa" estância Vodafone 2000, fotografada no dia 30 de Março.
Espero com este post ter mostrado o que é (e o que não é) uma estância de esqui normal face a padrões europeus. Não me parece que sejam necessárias mais palavras para mostrar que a nossa estância de esqui (chamemos-lhe assim, à falta de melhores palavras) não tem, nunca teve, nem nunca terá, condições que a tornem comparável a Baqueira-Beret, a Grand Valira, ao Formigal, a Arinsal, só para referir estâncias que conheço por ter visitado.
Nem mesmo as comparações com La Covatilla, a micro estância de Béjar, aqui ao lado em Espanha, são favoráveis à nossa "estância". O desnível de Béjar é três vezes maior do que o da estância Vodafone, e a sua cota mínima é de dois mil metros: La Covatilla começa onde a Serra da Estrela acaba. La Covatilla tem ainda, nesta altura do ano, 11 pistas abertas, num total de 7 km esquiáveis (ver imagens de webcams aqui).
Podemos gastar "pipas de massa" (muita da qual vem de apoios públicos, ou seja, dos nossos bolsos de contribuintes) a encher a serra da Estrela com telecadeiras, canhões de neve, urbanizações, canalizações, estradas, lixo e entulho. Têm sido anunciados projectos nesse sentido, incluindo a expansão da estância de esqui para o Covão do Ferro e/ou para a Garganta de Loriga. Valerá a pena? Talvez, eventualmente para quem vier a gerir essas "pipas de massa" dos apoios públicos. Descontada esta eventualidade, volto a perguntar: valerá a pena? Dou uma achega para a resposta a esta pergunta com outra pergunta: quanto tempo, este ano, com os canhões de neve instalados e funcionais, é que a telecadeira da estância Vodafone serviu efectivamente os esquiadores, estando ligada por percursos esquiáveis às pistas abertas? Arrisco uma estimativa, creio que pecando muito por excesso: duas semanas?
Quanta riqueza é que esses investimentos poderão produzir e, mais importante, que benefícios é que eles trarão à região e às suas populações? Uma pista para respostas a estas questões podemos encontrá-la neste artigo do Blog de Loriga: ao que parece, pela utilização do terreno dos baldios onde a estância Vodafone está instalada, a Turistrela paga ao proprietário (a Comissão de Compartes do Baldio, representada pela Junta de Freguesia de Loriga), a quantia de 166,66€ por mês. Mais pistas ainda fornece-as este artigo d'O Interior, sobre a relação entre a Turistrela e a Câmara Municipal de Manteigas, a propósito do SkiParque do Sameiro.
Quanto mais tempo continuaremos à espera dos prometidos benefícios, desenvolvimento, modernização, do EL Dorado futuro que aí vem nas projectadas telecabines, deprimidos por uma realidade cada vez mais difícil e entorpecidos por estes cantos de sereira das "forças vivaças" da região?
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