quinta-feira, julho 20, 2006

Também será fundamentalista?

Referi ontem que o presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE), Jorge Patrão, classificou como "fundamentalista" a oposição da Quercus e da LPN à diminuição da área do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). Tomei conhecimento dessa reacção num artigo do Público de 19 de Julho, suplemento Local - Centro. Não o encontrei no site do jornal, de forma que o digitalizei. Pode agora fazer o dowload daqui.
Aqui ficam alguns comentários.
  • A páginas tantas Jorge Patrão refere que a serra da Estrela "está cansada de posições de líderes urbanos, lobistas, mas desconhecedores do que é o interior de Portugal". Acho estranho. De que maneira é que as posições destes "líderes urbanos" têm condicionado o desenvolvimento da Serra? Que estradas é que eles impediram, que mamarrachos é que eles deitaram abaixo, que centros comerciais na Torre é que tiveram que fechar por causa deles? Deixemo-nos de coisas, parece-me evidente que a Serra da Estrela está muito mais marcada pelas posições de outros líderes, talvez não tão urbanos como aqueles (e que interessa isso?) mas que parecem muito, muito mais eficientes na actividade lobista. Bem sei que se trata apenas de aparências, mas como classificar o regozijo de Artur Costa Pais (principal proprietário da Turistrela) com a nomeação de Luís Patrão, irmão do próprio Jorge Patrão, para o Instituto de Turismo? Isto pode não ser o resultado de uma terrivelmente eficiente máquina de lobbying, mas lá que parece...
  • Jorge Patrão afirma que os ambientalistas se deviam preocupar mais com a degradação da Torre, com os incêndios e (!) com o edifício do Sanatório dos Ferroviários. Bom eu preocupo-me com a Torre. Acho que deviam demolir e remover o entulho daqueles mamarrachos. Jorge Patrão, que manda muito mais do que eu e do que os líderes urbanos lobistas das organizações de defesa do ambiente, acha que se lhes deve dar uma demão de pintura e ala, aqui temos um "observatório panorâmico", um restaurante de luxo e um ponto de venda de forfaits para a estância de esqui da Turistrela (ver aqui)! A Turistrela considera que o problema da limpeza na Torre "é uma preocupação, não uma obrigação" (veja aqui), e no entanto, não ouvi Jorge Patrão criticar esta empresa por ela não se ralar, verdadeiramente, com o ambiente da Serra, como agora acusa os ambientalistas.
    Sobre os incêndios, não sei o que Jorge Patrão quer dizer... Conhece algum ambientalista que não se preocupe com os incêndios, particularmente com os incêndios em áreas protegidas? Mais uma vez, nunca notei que Jorge Patrão fizesse críticas semelhantes à Turistrela. E a Turistrela podia, se quisesse saber disso, fazer algo. Por exemplo, veja-se o que a Sumol e a Água Serra da Estrela estão a fazer.
    Finalmente, essa do edifício do sanatório só pode ser brincadeira. O edifício pertence à Turistrela, que anda há que séculos à caça de parceiros. Primeiro era o grupo Pestana, depois era a cadeia Sheraton, ultimamente não se tem falado nisso... Não sei, mas começo a suspeitar que talvez a dificuldade em encontrar parceiros se prenda principalmente com os termos da parceria proposta e com a qualidade do parceiro que a propõe...
    Agora a sério. Quem manda mais na Serra, a Turistrela ou a Quercus? Qual o espaço de intervenção dos ambientalistas aqui na Serra? O que é que os tais líderes urbanos lobistas estão a fazer com estas manifestações, senão a mostrar preocupação, nos termos em que o podem fazer, com o futuro da Serra?
  • Sobre o epíteto "fundamentalista" escrevi há tempos um artigo que pode encontrar aqui. Resumindo, concluo nesse artigo que, se ser fundamentalista é querer preservar o ambiente da Serra da Estrela, então sou, assumidamente e com orgulho, fundamentalista. E, aqui para nós, espanta-me que Jorge Patrão, ocupando a posição que ocupa, não o seja também, e ainda mais do que eu. Porque o que de facto está em causa no rumo que o "desenvolvimento" da serra está a tomar, não é o sacrifício do interesse de todos à preservação do ambiente, é antes o sacrifício do interesse de todos e o sacrifício do ambiente, ao interesse de apenas alguns.
Esta redução da área do PNSE estava já, parece-me, incluída no plano director do parque que, em Março, foi objecto de fortes críticas (em bases que não lembram ao diabo, veja-se este artigo e mais este) por parte de Jorge Patrão. Ou seja, Jorge Patrão também não concorda (ou não concordava em Março) com esta alteração no PNSE, mas porque ela lhe parece insuficiente!
No quadro de degradação generalizada do ambiente no nosso país, defender a existência de "núcleos de recreio" (ainda mais do que os que já existem), projectados à imagem do pior que se fez no Algarve, em pleno coração do PNSE...
Quem é que aqui é fundamentalista?

3 comentários:

Anónimo disse...

Pronto, também coloco em 1º lugar a preservação do ambiente da Serra da Estrela, sou fundamentalista!

No final do artigo a expressão "núcleos de recreio" fez-me lembrar (cof cof) o "Vodafone Bike Park - Serra da Estrela 2000m" (que abriu ontem 19/07), e vai daí dei uma espreitadela ao site da turistrela para ver o "estado" em que se encontrava!
Procurei por fotos e encontrei o seguinte link (http://www.bikeaventura.net/index.html)...surpresa!Para além das fotos também tem vídeos....abri o primeiro video que encontrei (www.bikeaventura.net/bikepark.net uma espécie de vídeo promocional), assinado por Marco Fidalgo Productions (parceiro da turistrela no negócio da MTB bike park) e vi...

Andar de bicicleta na montanha em locais próprios para estes veículos é bom (conheço umas estradas de terra batida perto de manteigas impecáveis)...andar de bicicleta apenas na área "Vodafone Bike Park - Serra da Estrela 2000m"..pronto vá...mas fora disso é preciso ter muito cuidado até mesmo para quem circula a pé!! Existem zonas muito delicadas e sensiveis, algumas das quais são identificáveis no vídeo, que não estão aptas para este desporto!

A menos que agora o bikepark também inclua as escadinhas da Nº Sª da Boa Estrela(só para dar um exemplo)...hummm

Podia alongar o comentário mas acho melhor verem o vídeo...não vá eu estar a exagerar!


P.S.- Peço desculpa ao José Moreira por me ter desviado um bocadinho ao tema original do seu artigo.

ljma disse...

Olá, refúgio, viva!
Pois, eu não consegui ver o vídeo, o meu pc queixou-se de falta de codecs ou não sei o quê. Vi foi algumas fotos que me deixaram também preocupado. No princípio de Junho, tive uma grande discussão, aqui no Cântaro Zangado, com alguns (bem, eram mais que as mães) fanáticos das bikes. Um argumento que recorrentemente apresentaram foi o de que era melhor fazerem-se trilhos no bikepark do que deixar a todo e qualquer pateta a liberdade para traçar trilhos em toda a Serra. Aparecem agora a pedalar fora do bikegarden... Enfim!
Mas acho que não será grave. Se bem percebi ao longo dessa discussão, este tipo de ciclistas (perdão, eles não gostam que lhes chamemos ciclistas, preferem que usemos a palavra bikers, que quer dizer ciclistas, mas enfim, em inglês tem muito mais pintarola) não gosta de pedalar senão em descidas. Suspeito que eles não quererão afastar-se muito da telecadeira e do barzinho dos refrescos e das garinas, tal e qual como os esquiadores que frequentam a estância... Enfim, e quem sou eu? A bem dizer, depois de duas ou três descidas na estância de esqui também me começo a aborrecer da monotonia... Começa-me a apetecer beber umas bejecas e admirar os encantos do belo sexo... e a marca dos esquis do vizinho, o xadrez, a cultura das abóboras, tudo, tudo menos continuar naquele ram-ram. É quando saio da pista e me meto pelo gelo, sempre dá alguma variedade... e nódoas negras nas ancas.

Bem vamos lá ver no que isto dá... Um abraço e força, refúgio. Obrigado pela visita!

Anónimo disse...

So uma adenda: Os "Patos Bravos" metem-me nojo. E peço já desculpas aqueles que realmente têm duas asas pela comparação.

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!