Recentemente, surgiu nos meios de comunicação a notícia de que o ministério do ambiente pretendia reduzir a área de algumas zonas protegidas, começando pelo Parque Natural da Serra da Estrela, que verá o seu território reduzir-se ao do Sítio RN2000 (a mancha a verde claro na figura acima). Informe-se sobre este assunto, por exemplo, aqui.
Os ambientalistas, em particular as associações Quercus e Liga Para a Protecção da Natureza manifestaram-se contra esta decisão do governo (ver notícia aqui). No que respeita ao PNSE, os argumentos invocados pelos ambientalistas prendem-se com receios de que esta redução tenha sido decidida apenas para permitir investimentos com objectivos imediatos, nomeadamente ligados a interesses do sector imobiliário, que consideram poderão ter mais tarde efeitos desastrosos sobre o ambiente.
Eu não sei. Francamente, assim como peço aos promotores do "desenvolvimento" que costumo aqui criticar que expliquem, concreta e detalhadamente, de que maneira é que os seus projectos vão, de facto, traduzir-se em desenvolvimento, gostava também de ver os que sinto como meus aliados naturais explicarem melhor quais são os investimentos que referem, de que maneira se tornarão desastrosos e qual o valor ecológico das áreas em jogo. Não é que não acredite no que dizem, é que gostava de ficar a conhecer os detalhes. Não se pense, por isto que acabei de dizer, que concordo com a decisão do governo. Gostava apenas de saber mais sobre as razões que os ambientalistas invocam, neste caso concreto do PNSE.
O que me aborrece a sério nesta medida não é tanto a questão do PNSE. É que, desde que se iniciou a definição de áreas protegidas em Portugal (há cerca de trinta e cinco anos), a tendência geral tem sido a do aumento das áreas protegidas e do seu grau de protecção. Isso tem-se feito com a definição de novas reservas ou com a reclassificação das existentes em níveis mais exigentes de protecção (e como gostava de ver o PNSE ser promovido a Parque Nacional!). Quanto a mim, parece-me que esta tendência é positiva. Mas temos que reconhecer que se trata de evolução no papel, apenas, que nem sempre se traduz em protecção ambiental efectiva. Por exemplo, o Parque Natural da Arrábida pode ser, no papel, uma zona protegida, mas não se pode dizer que a sua situação ambiental (com a cimenteira e todas as pedreiras que lá operam) beneficie muito com isso (bom, podemos sempre argumentar que podia ser pior)... Aqui no Cântaro, tenho dito coisas semelhantes sobre o PNSE. O facto de esta ser a triste realidade, torna os ambientalistas particularmente susceptíveis quanto à protecção daquilo que alguns chamam as jóias da coroa, os nossos espaços "protegidos". Para mim, o que se passa é muito simples: o governo (os governos, que isto não é de agora) já verificou que não consegue (por ter pouca vontade, parece-me) proteger as zonas que classificou como protegidas e, por isso, resolveu começar a desclassificá-las. Evitam-se assim alguns dissabores como este.
Concordamos com isto? Eu não concordo, gaita!
PS: Muitas das links que aqui incluí tirei-as do Ondas. Mais uma vez, agradeço ao Otávio o magnífico trabalho que vem desenvolvendo. Para dar, completamente, o seu a seu dono, quero também agradecer ao João do Montanha a link para o Relatório sobre os Incêndios, de onde retirei o mapa.
PPS: Completamente descabida é a reacção de Jorge Patrão (o presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela) à oposição dos ambientalistas. Adivinhe lá que palavra usou para a classificar, vá, vá... Está-se mesmo a ver: fundamentalista! Ai, ai, ele há gente tão previsível... (Veja as declarações de Jorge Patrão no Público de 19 de Julho, secção Local-Centro)
2 comentários:
Não vale a pena zangarmo-nos com pessoas que, à falta de argumentos, vociferam apenas com palavras começadas por f. Afinal, o alfabeto é muito mais rico e tem muito mais letras.
Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Ahahah! As palavras começadas por f! Boa!
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