sábado, novembro 06, 2010

Fitas, como sempre!

Numa corridinha pela colina que separa a Covilhã da Bouça, encontrei, como de costume, fitas de sinalização de plástico em vários sítios. Para as actividades dos praticantes de moto-4, dos de BTT, dos de parapente, de atletismo de montanha e até de alguns caminheiros e montanhistas essas fitas são consideradas indispensáveis*.

Estas fitas apresentam, desta vez, os logotipos Nissan, Vodafone, GeaPro e DHX Troféu 2008. As entidades designadas com estes logotipos estarão orgulhosas por se terem associado a lixo deixado na serra? É essa a imagem que querem cultivar? Elas lá saberão.

Com uma pesquisa na internet fico a saber que DXH é uma empresa que organiza o que parece ser um campeonato de BTT downhill e que GeaPro é uma empresa de actividades de ar livre. Nesta rápida pesquisa apareceu também a expressão Avalanche, designação de uma actividade de BTT organizada em colaboração com a Turistrela. A Nissan e a Vodafone dispensam apresentações.

O que incomoda nesta coisa das fitas é o facto de não ser necessário deixá-las ficar no final da actividade. Se ficam, se se transformam em lixo, é apenas por puro e simples desleixo dos organizadores. Podemos pois dizer: Vodafone, Nissan, GeaPro, DHX, Turistrela, nas vossas actividades na serra da Estrela, estão a ser desleixados. Isso é lá convosco. Mas a decisão de vos comprarmos os produtos, tal e qual como as fitas de plástico que o vosso desleixo abandona na serra, essas são connosco.

P.S. A "avalanche" deste ano merece-me ainda mais um comentário. Pelos vistos, os caminhos e picadas que existem nesta colina não foram considerados suficientemente "emocionantes", porque os organizadores abriram várias variantes, como a que se vê na imagem acima. Que isso se possa fazer no Parque Natural da Serra da Estrela, área protegida criada para preservar, entre outros valores, a paisagem, é coisa com que não concordo.
(*) Não percebo porquê: porque é que se considera inaceitável o risco de um bttista, motoqueiro ou atleta se perder quando se aceita como inerente à actividade o risco de queda, com maior probabilidade de ter consequências sérias para o praticante? A propósito desta questão é interessante comparar com a perspectiva escocesa: na Ben Nevis Race, a mais antiga corrida de atletismo de montanha do mundo, o percurso não está assinalado. Aceita-se o risco de que alguém se perca, desencorajando assim a participação de atletas impreparados. Que é como quem diz que a serra é bonita, mas não é para tótós. Ou seja, que é preciso aprender as coisas da serra para se estar à altura do que ela pode exigir de nós. Que é quase o mesmo que disse o Miguel Torga: "Somente a quem a passeia, a quem a namora duma paixão presente e esforçada, abre o coração e os tesouros. Então, numa generosidade milionária, mostra tudo". As fitas são indispensáveis? Sim, mas só para quem pretender, mesmo sem se aperceber disso, dizer as coisas erradas.

12 comentários:

Jorge Branco disse...

Proíbe-se o Percurso dos 3ª Cântaros, uma prova organizada por quem sempre respeitou a Serra e sempre desmarcou os percursos e estes atentados continuam impunes!
Quando a não marcação dos percursos é algo de polemico e complicado pois uma prova de montanha não tem que ser uma prova de orientação (embora também o possa ser)!
Este assunto era fácil de resolver: prova que não limpasse o percurso era impedida de a organizar no ano seguinte e era obrigada a pagar a limpeza do mesmo!

TPais disse...

Olá Jorge,
não discordando das tuas observações lembro, a bem da verdade, que a prova dos tres cantaros foi proibida de realizar numa determinada área do Parque. Não é que justifique tudo nem isente os responsaveis do parque de uma certa falta de coerencia nas suas autorizações mas é preciso não perder isto de vista. Por outro lado, fico desagradevelmente surpreendido que o parque permita a abertura de um aceiro nesta encosta, já de si pouco ocupada por vegetação, e cujo unico fim seria a utilização desportiva pontual!!! Isto sim, transcende a minha compreensão das regras do Plano de Ordenamento e acima de tudo das regras de bom senso.
Abraço

Anónimo disse...

Parque?! Mas... qual parque?

Paulo roxo

Tiaguss disse...

Na minha opinião, as fitas são necessárias em muitas situações (eventos) mas em muitas delas têm os dias contados, pois assim que o uso do GPS for mais generalizado e mais acessível a qualquer carteira, muita dessa logística vai assentar neste equipamento. Bem mas até lá....
Em todos os casos se as fitas forem logo removidas pelas organizações não vejo qualquer problema. O desrespeito surge quando ficam esquecidas por quem as coloca.
Dou dois exemplos de eventos em que estou ou estive directamente ligado. Sempre houve essa preocupação, por exemplo na corrida dos 3 cântaros a remoção das fitas era feita por varias equipas e há hora de almoço estava tudo retirado. Na Invernal de BTT Cidade da Guarda na pior das hipóteses sobravam fitas para retirar para o dia a seguir a prova, nada mais.
Tudo depende do respeito que cada um tem pela natureza que tão bem nos acolhe.
E há que contar sempre com os atletas menos limpinhos seja em corrida ou btt.
Para o bem de quem organiza e de quem participa, uma organização não se pode dar ao luxo de ter alguém perdido ou enganado no meio da serra, daí as marcações tenham de ser mais que as necessárias. Há risco de aventuras que só têm lógica ser assumidos pessoalmente nas nossas investidas e não naquelas a que vamos propor para outros realizarem.
Já me alonguei, mas espero ter dado a entender este ponto de vista.
Abraços
Tiago Lages

ljma disse...

Tiago e Jorge, claro que o que me incomoda, mesmo, é que as fitas e demais marcações não sejam retiradas no final.

Só para se ver como as coisas podem ser bem feitas, colaborei uma vez. como membro da ASE, na realização de uma das edições do Circuito dos Três Cântaros. Estive num dos pontos de reabastecimento dos atletas. No final da prova, recolhemos todo o lixo deixado nas imediações do nosso posto e fomos a pé até ao ponto de reabastecimento seguinte, seguindo pelo percurso da prova, recolhendo *todas* as marcações e ainda o lixo (garrafas de água e de bebidas desportivas, invólucros das barras energéticas, etc) que os atletas "menos limpinhos", contrariando as indicações dadas pela organização, foram deixando ao longo do percurso.

Parece-me que uma organização que tenha um mínimo de respeito pelo local onde actua se obriga a estes cuidados. As que não têm esse respeito, claro, estão mais à vontade. Mas, porque não o têm (ou não o demonstram, pelo menos), não deviam ser autorizadas a continuar as suas actividades. E a Avalanche, neste assunto, tem sido reincidente. Em 2006 falámos sobre isto (ver aqui, aqui aqui, aqui e aqui). Nos anos seguintes, tem-nos faltado a pachorra...
Cumprimentos,
José Amoreira

Anónimo disse...

Já tinha reparado nesses trilhos que os mesmos fizeram à sua maneira. Eu já estou por tudo. É o País das estradas de alcatrão e infelizmente na Serra da Estrela nem se limitam aos trilhos já existentes. Esperem por Janeiro de 2011, este País já não tem Rei nem Roque.
Já agora,alguém sabe se já existe alguma neve nos corredores do Inferno, Mercadores, Largo ?
Abraço
Samuel Passos.

Tiaguss disse...

As fitas, principalmente as das riscas vermelhas e brancas que se vendem em todos os hipermercados deveriam ser proibidas. Qualquer rolo desse material deveria ser vendido por encomenda e personalizado obrigatoriamente. Só assim se apurariam os responsáveis.
Se toda a gente boicotasse as provas, eventos, etc que têm como prática deixar as marcações ao "Deus dará" as organizações de certeza que teriam outra postura no fim do evento. A fazermos as coisas assim, até isto que parece que não está nas nossas mão.....está!

Abraços
Tiago Lages

Anónimo disse...

Boa tarde a todos
É com muito desagrado que vejo esta situação.
Colaborando eu em organizações TT, devo dizer que a organização destes eventos deve obrigatóriamente (por lei) retirar as fitas num prazo estipulado(penso que duas semanas).
já agora de referir que existem fitas biodegradaveis, para o caso de alguma nao ser recolhida

Vitor Nuno disse...

Boas!Fico triste com este tipo de post de autoria de ljma(parece nome de código).Com tantos problemas graves que a nossa serra tem a grande preocupação é a meia dúzia de fitas abandonadas num evento de prestigio a nível mundial no veículo mais ecológico do mundo.Não acredita que na Serra existem problemas muito mais graves, quer uma deixa: aquele atentado à serra como a barracada das Penhas da Saúde, que é a vergonha da nossa Serra e do nosso Concelho, porque mais nenhum concelho da zona da Serra autorizou aquela vergonha,será possivél senhor LJMA (grande defensor da Serra)ou ...

ljma disse...

Vitor Nuno, boa tarde.
ljma não é nome de código, são as iniciais do meu nome: Luís José Maia Amoreira, que aliás está apresentado na área "Colaboradores" no alto da coluna da direita do blog.

Dê uma volta rápida aqui pelo Cântaro Zangado (ou meta "Penhas da Saúde" na caixinha de pesquisa no canto superior do blog) e verá que já nos referimos várias vezes às Penhas da Saúde.

Acredito que sim, que há problemas muito mais graves na serra e tenho-me referido a alguns deles (repito a recomendação que acabei de apresentar).

A solução do problema das Penhas da Saúde é muito complexa, como um pouco de estudo e/ou reflexão torna evidente. A solução do problema causado pelas fitinhas (e não é só meia dúzia) é trivial. Basta um pouco menos de desleixo (ou um pouco mais de respeito pela serra) por parte dos organizadores do evento. É pedir muito?!

Quanto a isso de "mais nenhum concelho da zona da Serra autorizou aquela vergonha", talvez não saiba que, há cerca de 20 anos, a Nave de Santo António estava coberta de casinhas como as das Penhas da Saúde. Aí foi possível concretizar a demolição por ordem do ministério do ambiente. Nas Penhas da Saúde não foi. De cada vez que se fala nisso, o presidente da Câmara Municipal da Covilhã opõe-se e a coisa acaba em águas de bacalhau, à espera de estudos ou de planos de pormenor ou lá o que é... Mas há dias alguém me deu uma pista para as razões pelas quais foi possível demolir a vergonha na Nave de Santo António e não é possível nas Penhas. É que a Nave de Santo António pertence ao concelho de Manteigas, mas a maioria dos "proprietários" das casinhas lá construídas eram moradores da Covilhã. Ou seja, quem permitiu a sua demolição não se arriscava a perder votos autárquicos. Mas já estou a divagar...

O Nuno está aparentemente zangado comigo por eu ter apresentado esta coisa das fitas no blog. Acha então que, porque o evento tem prestígio a nível mundial (te-lo-á, não sei), tudo lhe deve ser tolerado reverentemente? Fitinhas abandonadas que se transformam em lixo (por puro desleixo, repito!) e abertura de percursos alternativos, acha que isso deve ficar a salvo da crítica? OK, está no seu direito. Mas eu acho que não, e também estou no meu direito.

Cumprimentos cordiais
José Amoreira (ljma)

Anónimo disse...

Na minha opinião, os mais graves problemas da serra têm a ver com a arrogância de uns quantos barões adinheirados, com mentalidades ferrugentas do século passado, isto associado a um claro mau gosto pimba. Falo dos grandes empreendimentos levados a cabo na Estrela.
O problema das fitas negligentemente abandonadas depois da realização da referida prova, tem a ver com a nossa própria cultura tão lusitana, do: "quem vem atrás, que feche a porta!"
Como ninguém fechou a porta deixou-se ao sabor do vento o plástico resultante da prova "ecológica".
Quanto à abertura de estradões... custa-me a crer que tenha sido uma acção indispensável para a realização da prova. Uma coisa parece-me certa, de "ecológico" não tem nada.

Ainda temos muito para ensinar aos netos, porque dos filhos não se pode esperar grande coisa, pois ao que parece, a educação transmitida à próxima geração de "tuginhas" não prima pela qualidade.

Paulo Roxo

ljma disse...

Paulo,
estou completamente de acordo com cada uma das considerações que aqui deixaste.

E será coincidência que esta ecológica prova tenha sido organizada em parceria com a Turistrela, expoente máximo dessa "arrogância de uns quantos barões adinheirados, com mentalidades ferrugentas do século passado" que referiste? Pois sim... Se em tudo o que fazem, em tudo o que tocam, têm deixado a sua marca!...

Bom fim de semana!
José Amoreira

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!