Desde que o Cântaro Zangado começou, em Dezembro de 2005, já se organizaram, parece-me, sete operações de limpeza de lixo disperso na Serra da Estrela. Dessas sete, cinco (pelo menos) focaram-se na zona da Torre. Em cada uma destas operações foram recolhidas várias centenas de quilogramas de lixo.

Na semana passada, o CAAL e a ASE estiveram a limpar o Corredor do Inferno. Esta iniciativa foi talvez a que contou com mais participantes, tendo-se limitado à zona minúscula que assinalo na figura que ilustra este post. Recolheram-se duzentos sacos, encheu-se de lixo um camião e a caixa de uma carrinha pickup. Mesmo assim, e segundo me contou um participante, não foi possível limpar uma parte do corredor.
É óbvio que nem com uma operação por semana se consegue retirar todo o lixo deixado pelos turistas numa única época de Inverno. Ainda assim, estas operações são coisas boas, porque revelam a pouca vergonha em que a zona da Torre está transformada. E mostram a todos que não se pode ter sol na eira e chuva no nabal. As multidões de visitantes que Turistrela e Região de Turismo celebram (com números que são muito suspeitos, como mostrou no Inverno passado o responsável do maior grupo hoteleiro da região) e o lixo que fica na Torre são dois aspectos de uma mesma realidade. A um turismo cada vez mais massificado, corresponde, inevitavelmente, uma serra cada vez mais suja. Isto está certo? É isto que desejamos? É isto o desenvolvimento?
Estas iniciativas têm também mostrado um PNSE que, mesmo quando colabora, quase parece querer alhear-se delas. É pena.
7 comentários:
Começando pelo "pior": o "pior" é estes energúmenos pensarem que existe uma "obrigação" por parte destes grupos de voluntários para limpar o lixo que "suas excelências" por aqui abandonam...
Mas vamos por partes:
- Valle del Lago é uma aldeia de montanha nas Astúrias; é mesmo uma "aldeia de montanha", não foi criada por decreto, por cartaz (tipo outdoor) ou por "acto consumado" (entenda-se, por resultado de ocupação ilegal do território).
Em Valle del Lago quase toda a gente vive do turismo...aproveitaram a elevação de Somiedo a Parque Natural e os fundos comunitários para recuperar as casas para receber turistas(mantendo a arquitectura tradicional das Astúrias, sem imitar a arquitectura nórdica!); essas casas esão grande parte do ano ocupadas por pessoas que aí passam alguns dias aproveitando para fazer caminhadas e outras actividades.
Por exemplo, a dona da casa onde fiquei hospedado, tem ainda um outro negócio de passeios a cavalo...Os turistas deixam dinheiro que é repartido por grande parte da comunidade, fazem compras no comércio tradicional, compram produtos locais (como a sidra, por exemplo);
Isto é turismo sustentável; turismo sem enchentes, como deve ser em áreas sensíveis de montanha, ainda para mais sendo Parque Natural e Reserva da Biosfera (tal e qual como uma determinada serra do Centro de Portugal). Toda a gente está feliz com a criação do Parque que melhorou o nível de vida das pessoas, permitiu a criação de novos negócios, ao mesmo tempo que não afectou a conservação da Natureza.
Em Somiedo não existem monopólios turísticos de nenhuma empresa; não há skiparques, bungalows nórdicos, projectos de casinos ou de campos de golfe nos vales (entenda-se, em leitos de cheia...)
Era assim que eu gostava que fosse o turismo na Serra da Estrela; que criasse riqueza, emprego e permitisse fixar as pessoas na região, ao mesmo tempo que garantisse a preservação da Natureza da Estrela: a sua maior riqueza! Em vez disso, temos os monopólios que se conhecem e um turismo cada vez mais massificado, que insiste em rasgar a Serra com cada vez mais estradas.
Isto, aliado a novas vias como a A23 e a A25, faz com que aumente o número de turistas que visitam a Serra da Estrela; mas são turistas que, na sua esmagadora maioria, regressam a casa no próprio dia; não dormem na hotelaria, nem comem nos restaurantes locais...não estão interessados no artesanato, até porque se arriscam a só encontrar galos de Barcelos; e mesmo no queijo da serra têm medo de comprar "por engano"!
Pelo contrário, abandonam todo o tipo de lixo e porcaria à sua passagem...ir à Torre, num daqueles fins-de-semana de início de Primavarera, com engarrafamentos monumentais e gente a deitar lixo para todo o lado, pode ser das experiências mais deprimentes que se podem ver no nosso país...aproxima-nos culturalmente do 3º Mundo e, não fora ser tão frequente igualmente noutras zonas do país, poderia até ser vendido como pacote turístico: "Torre, PNSerra da Estrela, onde vive a porcaria e a falta de civismo"!
Este turismo de "saco de plástico" é fomentado por todos aqueles que insistem em defender mais e mais estradas e obras perfeitamente megalómanas...como a de ampliar estâncias de esqui a 1900m de altitude; esqueçam o Sr. Bush, na Serra da Estrela vivem os verdadeiros cépticos do aquecimento global!
Lixo, lixo e mais lixo...é isto que se leva como imagem da Serra este turismo de "passagem"; tirando as petrolíferas, há mais alguém que beneficie com este estado de coisas?
De volta a Valle de Lago...enquanto bebia um copo de sidra num dos cafés da aldeia, o dono dizia que aquando da criação do PNatural de Somiedo a única coisa que os habitantes locais pediram foi que não asfaltasssem a estrada até aos lagos; tinham medo que isso transformasse os lagos numa lixeira...e assim se fez a vontade das gentes locais, só sobe aos lagos quem gosta de andar a pé, que são os mesmos que "dormem" na aldeia, ou seja, fazem mover a economia local. Dei comigo a pensar que aquele ancião, ainda que provavelmente nunca tendo ido à escola, sabia mais de turismo do que muitos dos que mandam na minha Serra da Estrela. Juro que tive uma vontade genuína de chorar...não tanto pelo estado a que deixámos chegar a nossa Serra mas mais por ainda não termos aprendido nenhuma lição!
Mais uma vez, apenas uma palavra para todos os que de forma voluntária vão apanhar o lixo dos "outros" à serra:OBRIGADO!
P.S.- José, desculpa o "testamento"!...
Qual quê, Pedro! Obrigado pelo "testamento".
Aliás, ele vem a propósito de uma notícia que hoje me deixou ligeiramente deprimido, a das comissões de baldios de Montesinho que resolveram proibir a entrada dos técnicos do ICNB nos baldios do parque, por causa do plano de ordenamento que não prevê a possibilidade de instalação de eólicas.
O teu comentário mostra que há maneiras de se ganhar a vida com um ambiente protegido. Talvez essas maneiras não sejam viáveis cá em Portugal, por falta de imaginação das populações ou por falta de sensibilidade e excesso de burocracia dos responsáveis pelas áreas protegidas, não sei, mas lá que as há, há...
Enquanto não se perceber que um ambiente protegido pode servir de ganha-pão, a protecção ambiental continuará a ser uma miragem. E é nesse ponto que continuamos cá em Portugal, com as agravantes do mito da neve e do feudo monopolista aqui da Serra da Estrela...
José Amoreira
Um grande bravo ao Pedro Santos.
Reconheço nas tuas palavras aquilo que muitas vezes penso.
Um grande agradecimento a todos os que se voluntariaram para as limpezas na Serra da Estrela.
Paulo Roxo
É assim Pedro,tens razão! Acontece em Somiedo e por toda a Europa civilizada que protege os seus recursos e ao mesmo tempo dinamiza o turismo sustentado que fixa cada vez mais população e mais jovens. É assim nos Picos, nos Pirinéus,em Navecerrada (Madrid) onde se fecham estâncias de ski demasiado baixas - Los Cotos, é assim em La Pedriza, é assim na Eslovénia, na Escócia, na República da Irlanda, é assim nos Parques franceses (tour do Mont Blanc) em Itália nas Cinque Terres à beira mar ou nas imponentes e mais belas montanhas do mundo - Messner dixit - as Dolomites de Cortina d'Ampezo ou Cibiara.É assim por aí fora! E nós por cá temos de continuar a trabalhar, a lutar, a provar a autarcas e munícipes, a técnicos mais ou menos competentes e aos seus chefes mais ou menos incompetentes, que não é este o caminho! Ainda acredito que é possível, e vocês todos, o Cântaro e esse milagre que é o programa "1 Milhão de Carvalhos" só me dão razão. Cada dia se ganha mais consciência, as coisas podem mudar.
Nós no CAAL tudo faremos em defesa das nossas serras e do nosso futuro.
E o caminho passa também pela denúncia e combate sem tréguas à legislação iníqua que pretende taxar todos os que organizadamente protegem, divulgam e ensinam a proteger a natureza, e que zelosos e preguiçosos srs do ICNB querem aplicar em todo o seu esplendor: nem os escuteiros escapam, mas os turistas e excursionistas, os piqueniqueiros que fazem fogueirinhas pró petisco, etc, etc, esses não são nem taxados, nem vigiados, nem controlados, nem multados... É que para isso era preciso trabalhar!
Um abraço do JV
José Veloso, sobre regulamentos como os que refere, veja este post
http://ocantarozangado.blogspot.com/2007/06/os-desportos-de-natureza.html
Abraço,
José Amoreira
As limpezas da área devassada da serra são de grande valor, pela forma como expõem uma vergonha nacional. Mas são de facto um acto simbólico pois a o caudal de porcaria deitado pelos "turistas" supera o caudal de limpeza dos voluntários. Quem vai divertir-se para os centros comerciais da torre tem a Serra da Estrela que merece! Não temos a obrigação de ELIMINAR lixo de pessoas mal formadas pois elas merecem andar no meio do seu lixo!! Infelizmente uma minoria de pessoas esclarecidas e evoluídas tem de aguentar a sua querida Serra suja por pseudo-turistas e concessões megalómanas! Mas resta-nos fazer barulho, denunciar e expor a título simbólico a porcaria que se acumula no planalto central! Abraço
Vê-se cada vez mais gente (e ainda bem) a porfiar pela sustentabilidade da Serra da Estrela, em moldes de preservação de muito dos seus elementos mais naturais e endógenos. Já no único Parque Nacional que temos 'ninguém aparece a nenhum rendez-vous'. A título de exemplo, se aí foram 7 limpezas, aqui (PNPG) foram zero, que me recorde (ou não recorde). Cinco concelhos (3 PS e 2 PSD, entremeados) que pouco dialogam, mas tb não parece ser preciso, pois se os outros países têm, tb temos garantido um PN: o rótulo é bonito e ajuda ao turismo.
Bem, se o Gerês ficasse mais a sul...
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