sábado, junho 09, 2007

Responsabilidades e prioridades

Volto a transcrever apelo ao respeito pelo ambiente e à responsabilidade feito pela empresa Terras de Aventura a que me referi no post anterior:

O CIRCUITO DOS 3 CÂNTAROS DESENROLA-SE NO CENÁRIO DE EXCEPCIONAL BELEZA NATURAL DO PARQUE NATURAL DA SERRA DA ESTRELA, PELO QUE SERÁ OBRIGAÇÃO DE TODOS PRESERVAR O MEIO AMBIENTE EVITANDO ABANDONAR DESPERDÍCIOS FORA DAS ÁREAS DE CONTROLO. DO NOSSO COMPORTAMENTO (ORGANIZAÇÃO E PARTICIPANTES) DEPENDERÁ O FUTURO DA PROVA.
Este texto agrada-me tanto porque coloca na esfera de cada um a opção (e a responsabilidade) de se fazer o que é correcto. Além disso, são os próprios organizadores que afirmam que também eles partilham essa responsabilidade. Por fim, porque se condiciona a continuidade do evento ao seu respeito pelo meio ambiente onde se desenrola.

Deixe-me repetir, caro leitor. Com este apelo, os promotores do evento mostram que se consideram co-responsáveis pelo seu impacto ambiental e que aceitam que a sua continuidade pode ser posta em causa se se considerar que esse impacto ambiental é demasiado elevado.

Nunca vi os promotores da rampa automóvel, da passagem pela Serra da volta a Portugal em bicicleta, os das concentrações de jipes ou de motas demonstrarem, mesmo que só por palavras, um tamanho nível de respeito para com o meio ambiente.

Mais, relativamente à co-responsabilização dos empresários e promotores de eventos, compare o leitor aquelas palavras da Terras de Aventura com as declarações de Artur Costa Pais (administrador da Turistrela) sobre o problema do lixo na Torre e da sua limpeza: "Isso é uma preocupação mas não é uma obrigação. Não podemos assumir essa responsabilidade, é uma responsabilidade de todos"(1).
Relativamente à prioridade dada ao meio ambiente, compare-as com a exigência feita por Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela) sobre os projectos do PITER Serra da Estrela Dinâmica: "há diversos interessados em investir na serra da Estrela e é importante que os projectos não esbarrem em impedimentos ambientais"(2).

São comparações que considero esclarecedoras sobre a importância que estes responsáveis dão ao ambiente, à paisagem, à Serra, à própria matéria prima de que supostamente é feito o seu negócio...

(1) Recolhi estas declarações numa notícia publicada numa edição de Maio de 2006 do jornal Notícias da Covilhã. Referi-me a essa notícia neste e neste artigos do Cântaro Zangado. Infelizmente a link que incluí para a notícia já não está activa. Se algum leitor me puder fazer chegar os dados da edição em causa, agradeço.
(2) Ver o suplemento Local (Centro) do Público de 31 de Março de 2006.

2 comentários:

TPais disse...

REalmente esclarecedor este texto Zé!! Acho que a grande diferença, ou uma das, entre os organisadores desta prova e os "organisadores" do Turismo à la Turistrela (onde se inclui Jorge Patrão) está precisamente na finalidade com que fazem um determinado projecto!!
Por um lado temos os organisadores desta prova que me parece serem eles próprios apreciadores da natureza onde se desenrola o projecto que desenvolvem. Acredito seriamente que o condicionamento da realização de futuras provas ao comportamento dos participantes se deve a uma questão de principio por parte dos organisadores e não por ventura fruto de alguma restrição imposta pelo PNSE (já vimos que noutras situações o lixo deixado não implicou sanções graves por parte desta entidade); Por outro lado temos os promotores de um outro turismo cujo unico objectivo é a rentabilização da empresa. Não é que a rentabilização de uma empresa por si só seja um mau principio!Não, longe de mim, não tenho ilusões!O problema é quando este é único objectivo!E tudo o resto deixa de importar nomeadamente a conservação do "produto" que é a base da sua rentabilização!
Sou microbiologo de formação e por isso o associo o Turismo à lá Turistrela e Jorge Patrão aos virus tipo Ebola!!É que estes virus, embora poderosissimos, consomem tão rápidamente o seu hospedeiro que limitam a sua própria existencia ou numa expressão mais na moda, a sua sustentabilidade.

ljma disse...

Boa imagem, essa do Ebola. É o que nos vale (como civilização) que esse vírus seja tão mortífero e tão rapidamente mortífero. Embora isso de pouco consolo seja para as pessoas infectadas, que normalmente morrem em poucas semanas.
Suspeito que, a avançar o que estes responsáveis pretendem para a serra, isso servirá como exemplo do que não se deve fazer noutras montanhas. Mostrarão tão depressa que não é por aqui que vem desenvolvimento algum que isso evitará a propagação da epidemia para outras montanhas. Mas, para a Estrela, já será tarde demais...

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!