A coisa mais surpreendente de toda esta história, para mim, tem sido a atitude do Director do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), Fernando Matos. Primeiro, porque as suas justificações mais parecem desculpas esfarrapadas(*); depois, porque parece ter mais vontade de "liquidar o mensageiro" do que de resolver os problemas. Não é esse o sentido da afirmação, recentemente publicada pel'O Interior, "Não houve tanto barulho quando a Torre não tinha ETAR"?
Concretamente, custa-me a entender o seguinte
- Primeiro: que o PNSE se tenha que se justificar pela ETAR da Torre.
-
Porque é que o PNSE é responsável por uma ETAR servindo um centro comercial no coração da área protegida? Porque quando não havia ETAR os problemas ambientais seriam ainda maiores e parece não ter havido coragem política para impôr a solução mais lógica, isto é, para obrigar os benificiários da existência desse centro comercial a fazê-lo funcionar de acordo com a lei.
Porque é que há um centro comercial na Torre? Porque antes disso a Torre era palco de um degradante comércio ambulante, que constituia, só por si, um grave problema ambiental, e não houve coragem política para impôr a solução mais lógica, ou seja, pura e simplesmente, proibir essa aberração. Quem pagou as obras de reconstrução do edifício onde se instalou o comércio (que continuou tão degradantemente rasca como quando se fazia ao ar livre)? Contra toda a lógica, o PNSE!
Os comerciantes instalados no edifício reconstruído e infraestruturado pelo PNSE pagam renda pelos estabelecimentos que exploram. A quem são pagas as rendas? Ao PNSE, com o objectivo de se financiarem medidas de mitigação dos impactos ambientais que a mera existência daquele centro comercial naquele lugar acarreta, ou como forma de amortizar os investimentos feitos pelo parque na reconstrução? Não, caro leitor. Contra toda a lógica, essas rendas são pagas à Turistrela, a concessionária exclusiva do turismo e dos desportos na Serra da Estrela. Qual será a justificação para este pagamento? Não faço ideia. Alguém faz?
Ou seja: uma parte importante do orçamento do PNSE, esta instituição pública de conservação da natureza dotada com meios humanos e materiais tão reconhecidamente insuficientes, foi gasta, não na conservação da natureza, mas sim na construção e infraestruturação de um centro comercial com impactos naturais evidentes situado bem no cume da Serra da Estrela. Ou seja ainda, por outras palavras, o PNSE pagou (e paga) para ter (e manter) um cancro ambiental no coração da área protegida por que é responsável, ainda com a agravante de algum lucro que pudesse resultar desse investimento ter sido entregue à empresa que maiores danos causa aos valores naturais que supostamente se pretendem proteger!
Imagino que não seja Fernando Matos o principal responsável por esta trapalhada. Mas é nesta trapalhada que o PNSE está envolvido, por muito que nos custe a entender que tal seja possível. - Segundo: que Fernando Matos não aprecie estas manifestações públicas de preocupação pelo ambiente na Serra da Estrela.
- Caramba, mau para o PNSE e para a sua função principal é que antes, "quando não havia ETAR na Torre", não tivesse havido "barulho"! Pela primeira vez na sua existência, o PNSE vê alguma expressão na comunicação social de preocupações ambientais por parte da sociedade civil. Se isso não é uma coisa boa, não sei o que seja.
Nota: Uma fonte de informação adicional sobre várias trapalhadas que ocorrem na Serra da Estrela é este artigo de opinião que Luís Veiga, empresário do grupo IMB HOTÉIS, publicou no jornal O Interior, a 10 de Fevereiro de 2005.
(*) Só para dar um exemplo, falar nas condições meteorológicas depois de um mês inteiro de tempo ameno... Lembrei-me das desculpas igualmente esfarrapadas de Artur Costa Pais para não retirar as fitinhas plástico usadas na marcação do percurso da mega-avalanche (veja aqui, aqui, aqui, aqui e, por fim, aqui).
5 comentários:
Sabia que as rendas eram pagas à turistrela mas desconhecia, por completo, ter sido o PNSE a financiar aquilo a que alguns (brincalhões) chamam "centro comercial". Sem mais comentários.
Apetece mesmo pedir o óbito, se não de todo o PNSE, pelo menos da zona da Torre!
Pelo que me disse um ex-funcionário do PNSE, a coisa não era para ter sido mesmo assim. Havia outra entidade que devia ter contribuido para as obras, mas essa entidade "esqueceu-se" de entrar com a parte dela, pelo que teve que ser o parque a pagar tudo. Acho que não é necessário dizer qual era a outra entidade...
Num país razoável, o parque não pagava era nada. Mesmo admitindo a estravagância de que o estado deve custear estas peculiaridades de centros comerciais no meio de áreas protegidas, a que propósito há-de ser um organismo de protecção da natureza a avançar? Que fosse o instituto do turismo, ou o ministério da economia, ou as autarquias, ou eu sei lá quem!
Esta situação é completamente louca, concordo. Mas daí a pedir o fim do PNSE, também não. O que é preciso é mostrar ao PNSE que tem o nosso apoio quando tiver atitudes de real protecção da natureza, que é isso que esperamos dele. Que é isso que exigimos dele.
Um abraço!
Queria apenas deixar umas palavras de apoio a este Blog.
Considero que O "Cantaro Zangado" em conjunto com o Blog "Estrela no seu melhor" estão a fazer mais pela Serra da Estrela do que foi alguma vez feito por qualquer outra entidade.
A prova está patente nas pequenas noticias de denuncia que já vêm surgindo nos jornais deste País. Bem sei que é muito dificil combater a máquina de propaganda dos burgueses da Turistrela.
No entanto uma gota no oceano pode fazer muita diferença.
Temo que a nossa querida Serrinha esteja realmente ameaçada de morte pelo ditador da Serra da Estrela, patrocinado pelo nosso governo de fantoches. E, claro está que não podemos descartar o nosso turismo, maioritariamente PIMBA, que embora não existindo um floco de neve, se dirige para a Serra com os seus esquis, que lhe conferem um ar de novo-rico. E, fica sempre bem dizer aos amigos "eu cá faço esqui!", quando não sabe sequer o que é uma VERDADEIRA estância de esqui.
Descobri um artiguinho recente acerca da """"estância"""" da turistrela e, espero dentro em breve publicar umas opiniões no RPPD, como uma singela ajuda contra a mega campanha do absurdo.
Um abraço.
Paulo Roxo
Paulo Roxo, obrigado! Fico a aguardar o artigo (seja como for, passo todos os dias no rppd).
Um abraço!
não se deve sequer pronunciar as pequenas palavras que descrevem o gigante atolado de esterco, "Serra da Estrela"...não passam de um grupinho de ambientalistas fundamentalistas, ignorantes que apenas se deslocam no conforto das suas viaturas para criticar a única entidade que no ponto de vista de alguns é a única que faz algo pelo desenvolvimento económico da região......esta é uma das versões que infelizmente já tive o "prazer" de ouvir...MORTE AO DANTAS, PIM!!!
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