- Artur Costa Pais (administrador da empresa que gere a estância de esqui) acha que para "a introdução de um telesqui, a substituição dos quatro já existentes por outros mais modernos e rápidos e a redistribuição destes equipamentos no espaço", não é necessário Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Um teleski, caro leitor, é um cabo de aço suspenso que puxa, com uns ganchos especiais, os esquiadores encosta acima. Para o suspender são necessários uns postes de ferro, com uns quatro a seis metros de altura, presos ao solo em sapatas de cimento, a distâncias de vinte a quarenta metros uns dos outros. Diga-me lá, caro leitor: acha que é possível instalar um teleski e redistribuir outros quatro sem qualquer impacto ambiental? A gente até pode não querer saber de os estudar, mas lá que os há, há.
- É relativamente irrelevante a questão de há quanto tempo foram criadas as actuais pistas; mas Artur Costa Pais afirma que "foram criadas há mais de 30 anos, antes mesmo de ser criado o PNSE". Bem, qualquer pessoa habituada a esquiar na Serra sabe que há trinta anos a pista estava localizada nos Piornos, muito longe da actual localização. Mais ainda, qualquer destes esquiadores sabe que, ainda há dez anos, havia apenas um teleski na zona da Torre e as pistas não estavam definidas, o pessoal subia no puxa-rabos e descia por onde podia.
- Jorge Patrão (presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela) considera que "o grande problema está na falta de planos de pormenor para as áreas de recreio, o que faz com que, perante a lei, tudo tenha de ser preservado na serra". Esta é de partir o coco a rir. Então os senhores têm tudo preservado?! Mas ainda há dias este mesmo responsável afirmou que se ampliou a estância, se equipou a estância com canhões de neve e se instalou a telecadeira (e tudo isso sem estudos de impacto ambiental)! Sim, sim, são abolutamente terríveis os constrangimentos ambientais que condicionam a vossa acção! Aliás, é disso que as pessoas se mais se queixam: a zona da Torre está demasiado preservada!
- Mais adiante no mesmo artigo, onde se diz o que existe na estância e o que se pretende fazer, explicam-nos que na primeira fase dos trabalhos (esta para a qual a Turistrela pede isenção de estudo de impacto ambiental) está prevista também, para além do que referi no primeiro ponto (ver acima), a duplicação da largura das pistas. Pergunto: e isso faz-se sem movimento de terras, como afirma Artur Costa Pais? Mas ele nem sequer conseguiu definir pistas de BTT Downhill (muito estreitas) sem buldozers, arranjos do terreno e... movimentos de terra!
- "Não existe um monopólio" afirma Artur Costa Pais, referindo-se à concessão exclusiva do turismo na Serra da Estrela atribuída à Turistrela. Bem, quem ler o Decreto-Lei nº 408/86 de 11 de Dezembro, que adapta à propriedade privada a Turistrela, criada como empresa pública concessionária exclusiva no Decreto-Lei nº 325/71 de 28 de Julho, fica a saber o seguinte: "Artigo 1º - A concessão em exclusivo da exploração do turismo e dos desportos na serra da Estrela, outorgada à empresa de economia mista denominada Turismo da Serra da Estrela, Turistrela, S. A. R. L., pelo Decreto Lei nº 325/71, de 28 de Julho, passa a regular-se também pelo disposto no presente diploma.". O artigo 14º deste Decreto-Lei, por seu turno, elucida que a quem explorar actividades e serviços de natureza turística e desportiva na zona da concessão em infracção ao exclusivo estabelecido no artigo 1º [o que referi acima], será aplicada coima de cem a três mil contos, entre outras punições como apreensão de material, encerramento de instalações, etc. Tem razão o senhor Costa Pais. Não é um monopólio. É uma concessão exclusiva. Existem outros investidores? Talvez sim. Talvez paguem "tributo" à Turistrela. Ou talvez não, talvez a Turistrela, magnanimamente, os deixe investir. E amanhã? Deixará? Pois, pois, não há monopólio. Há um mercado livre com regras de concorrência bem definidas, é isso?
terça-feira, dezembro 19, 2006
Não é com a verdade que nos tentam enganar
Os artigos no Público de Domingo que acabo de comentar merecem-me alguns comentários.
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Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!
1 comentário:
Costa Pais afirma que a Turistrela não impede ninguem de investir na serra e que por isso não existe monopólio por parte desta empresa! Isto é verdade hoje...e amanhã?Então os investidores terão que andar ao sabor dos humores de Costa Pais?Então não sabe que a mais elementar condição de atracção de investimento é a prespectiva de estabilidade do mercado!?
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