domingo, agosto 15, 2010

O desenvolvimento do turismo

Durante as férias, ouvi referências a estudos de viabilidade para a construção de um teleférico entre Unhais da Serra e as Penhas da Saúde. Li também, no Máfia da Cova, que Carlos Pinto (presidente da Câmara da Covilhã) pretende que o estado desbloqueie quatro milhões de euros para conclusão do projecto da estrada entre Unhais da Serra e a Nave de Santo António.

Eu entendo que Unhais da Serra, como Loriga, Alvoco da Serra, Manteigas, Linhares, e mais um longo etc, são povoações com paisagens e ambientes maravilhosos, muito, mas muito mais atractivos turisticamente do que a Torre, para onde convergem as grandes enchentes de visitantes efémeros que nos atascam as estradas nalguns fins de semana de Inverno, enchentes (e atascanços) que continuamos a confundir com turismo. Estranho, quando chego a qualquer destas localidades (e das outras que englobei no "longo etc"), no Verão, não ver turistas como os que se vêm em qualquer localidade de montanha da Europa: caminheiros, montanhistas, escaladores, pessoas a cavalo ou de bicicleta, com mochilas às costas, ou em canoas. Pessoas constantemente a entrarem e a sairem destas terras, por estradas, por trilhos, por rios. A pernoitarem em pensões e em parques de campismo. A encherem os restaurantes às horas das refeições. A comerem gelados e a beber refrescos durantes as tardes. Nada disso se vê por aqui. O que vai valendo são os emigrantes que vêm de férias.

Porque considero que o que falta na serra da Estrela, em termos turísticos, é turismo de montanha como o que se pode encontrar nas outras montanhas da Europa, acho que o que faz falta para o desenvolver na serra da Estrela é tudo aquilo que o alimenta nas outras montanhas da Europa: trilhos pedestres; vias de escalada; alugueres de BTT, de canoas, de cavalos; guias pessoais para caminhada, escalada, interpretação da natureza; documentação (mapas, informação/divulgação sobre locais, trilhos e vias, contactos empresariais) acessível, disponível em supermercados, mercearias e cafés; parques de campismo; múltiplas empresas locais com liberdade de acção, não sujeitas a restrições decorrentes da concessão exclusiva.

Mais estradas (ainda mais, caramba?!), teleféricos, casinos, centros de estágio em altitude, funiculares, e isso tudo? Creio que, para o turismo, não fazem falta nenhuma. Creio até que só prejudicam, ainda mais, as potencialidades da mais alta montanha de Portugal continental para o turismo de montanha. E que outro turismo poderemos pensar em desenvolver na serra da Estrela?

Adenda posterior: sobre as vantagens de mais uma estrada de asfalto pela serra acima, talvez fosse bom perguntar-se às gentes de Loriga o que conseguiram com a sua estrada Portela do Arão - Lagoa Comprida (a terceira ligação asfaltada ao alto da serra do concelho de Seia, diga-se de passagem), quase quatro anos depois da sua inauguração...

12 comentários:

Anónimo disse...

Não , neste verão , como em qualquer outro verão , os unicos caminheiros da serra que poderemos encontrar são só mesmo os bombeiros , aqueles que apagam os fogos , que gente inimiga da serra laçam até esventrarem a nossa LINDA estrela até ás entranhas .
Pobre Estrela , és tão bela , és tão magnifica , mas com tanta gente tua inimiga , com tanta gente a te querer mal , ficas tão triste . Minha querida estrela , este pais , este povo , esta gente que se chamam de portugueses , não te merecem , devias ter nascido num outro ládo , num outro sitio , devias ter nascido num pais onde fosses verdadeiramente amáda !!
Quando te vejo a seres lançada ás chamas , como se de uma " santa inquisição " se tratasse , fico de alma vazia, com o coração em ferida , com o rosto lavádo em lágrimas .
Malditos sejam esta gente sem coração que te lança á fogueira da inquisição da estupidez , MALDITOS SEJAM .

Anónimo disse...

Boa Noite,
Onde estão os ditos trilhos? Alguém, que não um nicho de “insiders”, os conhece? Onde estão os empreendedores que irão fazer tudo o que o José Amoreira sugere?
Abordagem teórica pode estar correcta e até concordo com ela. Mas estando o diagnóstico efectuado há muito tempo, quando é acontece alguma coisa? (além das desculpas e justificações para não acontecer).
Começo a suspeitar que os empreendedores são com o Presidente da CM Colilhã: Venham de lá uns subsídios do estado para os Boys e logo se desenvolve a Serra.

Cumprimentos,

ljma disse...

Talvez tenha razão no que diz implicitamente, anónimo. Talvez (já?) não haja, no tecido social da região, gente com capacidade de iniciativa para o que eu tenho repetidamente proposto. Porquê? Por todas as razões do envelhecimento da população do interior, da emigração, das dificuldades de acesso a crédito e ainda, acrescento eu, das complicações decorrentes da existência de uma concessão exclusiva do turismo e dos desportos, a da Turistrela (bem sei que, para pequenos negócios pelo menos, essas complicações existem apenas na lei e ninguém se maça a impô-las na realidade. Mas é com a lei que os empreendedores têm que jogar quando avaliam as possibilidades de um negócio em perspectiva).
Talvez já não haja essa gente por aqui. Mas enquanto não estiver provado que não há esperança (e enquanto me restar pachorra) vou continuar a falar nisto. Até porque a alternativa é tudo continuar na mesma, mas com a serra cada vez mais feia, cada vez mais artificializada, cada vez mais alcatroada e urbanizada. É por aqui que temos "avançado". Pelo que se conseguiu até agora, valerá a pena continuar?

De facto, concordo em grande medida consigo como já comentei aqui: é muito mais fácil pedir ao estado milhões para uma estrada (que não servirá para nada), do que fazer qualquer coisa funcionar por nós. Mesmo que, para tal, seja preciso pedir uns milhões ao estado. Nessa medida, simpatizo com o esforço que a Câmara de Manteigas está a desenvolver no sentido de limpar, sinalizar e documentar os trilhos pedestres do concelho. E muito já foi feito, nomeadamente na zona do Covão d'Ametade.

Obrigado pelo comentário. Boa tarde,
José Amoreira

ljma disse...

Só mais uma coisa, anónimo. Se esses a quem chama um nicho de "insiders" conhecem alguns trilhos (uns mais do que outros) e vias de escalada, isso não se deve a serem uns privilegiados que conseguiram de *alguém* (eles "andem" aí!...) essa "secretíssima" informação. No meu caso pessoal,, o pouco que sei resultou de o ir descobrindo pouco a pouco, ano após ano, sózinho e com os que fui encontrando pela serra. Mas em Seia, na Guarda e na Covilhã (pelo menos), há clubes com actividades de montanha abertos a todos e nas quais se pode aprender muito. Qualquer um pode pertencer a esse nicho que refere, e quanto mais gente andar pela serra, mais claramente se verá que há aqui espaço para negócios.

Nunca notei que houvesse, entre os que pertencem a esse nicho, a vontade de esconder dos demais os conhecimentos que têm. Muito antes pelo contrário!

Boa noite!
José Amoreira

Anónimo disse...

Boa Noite,

Quando digo nicho de “insiders”, não pretendi dar nenhuma conotação negativa. Apenas quero dizer que não é uma informação que esteja acessível às massas.

Por exemplo, este verão decidi-me fazer um desvio nas minhas férias e passar 1 dia nos Altos Pirenéus Franceses. Visitei o “Cirque de Gavarnie” e a zona da “Pont d'Espagne/ Lac de Gaube”. Foi uma viagem fenomenal e recomendo a visita a todos os amantes de turismo de natureza em família (recomendo um “voo” no Google Earth para observarem as fotografias da zona). A questão essencial é, onde é que eu, a 1200 km de distância, descobri esse percurso? A resposta é simples: no guia da Michelin.

Agora, para ir dar uma volta à Serra da Estrela, aonde é que se encontra informação para a visita?

Eu, pessoalmente, já experimentei e tive uma péssima experiencia. Fui ao posto de Turismo da Covilhã pedir informação sobre percursos na Serra. Não existia nada. Depois segui para a zona do Covão d'Ametade para tentar fazer uma pequena caminhada em família, com base num percursos publicados no Google Earth, no tema Wikiloc. Um desastre – só pedras enormes e trilhos marcados amadoramente por umas pedrinhas empilhadas. Claro que quando cheguei ao ponto de escalada, não pude avançar mais.

Enfim, o turismo de natureza na Serra da Estrela parece ser algo que nem nos aspectos mais elementares se encontra desenvolvido. E a vontade para o desenvolver também parece pouca, incluído os ausentes empreendedores.

Parece que todos aguardam o D. Sebastião da Serra da Estrela.


Cumprimentos,

João Coxo.

ljma disse...

Caro João Coxo
Concordo consigo em tudo em tudo o que diz. O turismo de montanha na serra da Estrela não está organizado, não é fácil aceder a ele, não há muitas empresas a vendê-lo. Até para mim que conheço alguma coisa da serra e sei o que posso fazer nela, é mais fácil organizar uma semana de actividades no Gerês (para não ir mais longe) do que na Estrela.

Os trilhos não estão limpos, estão mal sinalizados e não há documentação disponível ou, se a há, não é fácil encontrá-la (por exemplo, os guias dos trilhos de grande rota do PNSE estão esgotados, tanto quanto sei). A culpa será de todos (de uns mais do que outros, decerto) e todos (alguns mais do que outros, também) podemos fazer alguma coisa para melhorar isto. (Eu continuo a achar que a existência de uma concessão exclusiva do turismo e dos desportos não ajuda nada.)

O que eu acho (e porque o acho vou continuar a repeti-lo aqui) é que esta situação é prejudicial para o turismo da serra, e que não é com ainda mais estradas, casinos, centros de estágio, teleféricos, parques de estacionamento e centros comerciais que o panorama do turismo na serra melhora. Antes pelo contrário, considero que todas estas possibilidades só prejudicam o turismo da serra porque a tornam menos apetecível para os que procuram turismo de montanha. Assim, o facto de ninguém (já disse que isso não é bem assim, a câmara de Manteigas está a fazer um trabalho notável) melhorar e divulgar trilhos não deve ser argumento para se asfaltarem todos os caminhos para o alto da serra: não se desenvolver o turismo de montanha na serra da Estrela não dever ser desculpa para se matarem todas as possibilidades da serra nessa área.

Sim, parece que todos aguardam a vinda de D. Sebastião (e alguns querem-se fazer passar por ele). Talvez isso assim seja por não haver gente suficiente a chamar a atenção para esse facto?... Aqui no Cântaro Zangado, continuamos a fazer o que achamos que podemos fazer.

Mais de resto, o Cirque de Gavarnie não é o Covão d'Ametade, e convém sermos realistas para não embarcarmos em delírios como o de pensar que poderá "concorrer em termos de turismo de montanha com outras da Europa, nas cidades dos maciços mais conhecidos, como os Alpes ou os Pirinéus".
Mas, sendo realistas, devemos pensar que a serra tem muito para dar em termos de turismo de montanha e é bom que se comece a pensar a sério em turismo de montanha como o que existe nas outras montanhas, em vez de se continuar apenas a insistir em pistas de esqui, casinos, mais asfalto e teleféricos.

Cumprimentos
José Amoreira

Anónimo disse...

Boa Tarde,

Claro que o Cirque de Gavarnie e o Covão d'Ametade não são a mesma coisa. São de campeonatos totalmente diferentes.

Mas ambos podem proporcionar uma boa manhã de passeio - isto claro, se se souber aonde ir !!!


Cumprimentos,

João Coxo

Anónimo disse...

Vivo perto da serra da estrela , tenho 32 anos , curso de engº do ambiente e desempregado , vi hoje uma reportagem na TV de uma aldeia espanhola de nome Trevinca que está oferecer trabalho a pessoas formadas , inclusivé a Portugueses , ordenados de 1600 euros , pelo o que me informáram parece que a aldeia de Bejar pretende copiar a mesma ideia num curto prazo , sinceramente , adorava de viver em Bejar , pois tem uma semelhança enorme a portugal , principalmente a sua serra e toda a sua area envolvente , mas lá a serra é tratada de uma maneira bem mais cuidáda , será que eles precisam de um engº ambiental ?
Se eles me quiserem não pensrei duas vezes !!!!

Anónimo disse...

Há uns anos, uma amiga minha, caminhante, quis fazer alguns trilhos na Serra da Estrela. O que lhe disseram nas informações na Covilhã era que "não valia a pena" porque os trilhos estavam cheios de mato. Aqui infelizmente não existe uma cultura de "outdoor" como noutros paises em que pessoas de qualquer idade fazem trekking e afins, descobrindo os recantos e paisagens mais belos e aliciantes, e desfrutando de actividades saudáveis. Aqui infelizmente não se incentiva isto, é tambem uma questão de mentalidades, por outro de interesses de quem explora...previligia-se o facilitismo construindo estradas e centros comerciais e nunca mais passamos do mesmo..é triste mas para muitas pessoas ir á montanha é ir carro até á porta de um shopping. Turismo que incentivasse ás actividades de montanha, dentro de um planeamento correcto, era importante. Mas sem querer começo a imaginar os trilhos cheios de latas de sardinhas e pratos de plastico até me arrepio..

Anónimo disse...

Anónimo disse...
Há uns anos, uma amiga minha, caminhante, quis fazer alguns trilhos na Serra da Estrela. O que lhe disseram nas informações na Covilhã era que "não valia a pena" porque os trilhos estavam cheios de mato. Aqui infelizmente não existe uma cultura de "outdoor" como noutros paises em que pessoas de qualquer idade fazem trekking e afins, descobrindo os recantos e paisagens mais belos e aliciantes, e desfrutando de actividades saudáveis. Aqui infelizmente não se incentiva isto, é tambem uma questão de mentalidades, por outro de interesses de quem explora...previligia-se o facilitismo construindo estradas e centros comerciais e nunca mais passamos do mesmo..é triste mas para muitas pessoas ir á montanha é ir carro até á porta de um shopping. Turismo que incentivasse ás actividades de montanha, dentro de um planeamento correcto, era importante. Mas sem querer começo a imaginar os trilhos cheios de latas de sardinhas e pratos de plastico até me arrepio..
Cumprimentos, Silvia Batista (podem apagar a anterior igual a esta pq eu tinha me esquecido de assinar)

Anónimo disse...

Pois è .... sempre mais do mesmo !!!

enquanto não fizerem na Estrela o que fizeram no Pico da Velleta (Sierra Nevada) com a estrada que ligava Pradollano a Trevelez (era a estrada com a cota mais elevada na Europa +-3.000 metros) o turismo da RTSE nunca passará de uns "fogachos" com uma estada média baixissima e a deixar localmente muito lixo e uns misereros € de compras de produtos que na sua maioria são Made in China :(

Mário Carvalho

Al Cardoso disse...

Olhe na minha terra, um casal de jovens de Lisboa, decidiu mudar-se de armas e bagagens para o interior. (mais propriamente para Vila Cha, Fornos de Algodres). Dedicam-se precisamente as areas que o meu amigo refere que deviam ser exploradas tambem no macisso central da nossa "Estrela".
Passem por e dem-lhes algum apoio que creio o merecem: http://starnatura.blogspot.com

Um abraco da encosta norte.

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!