quarta-feira, setembro 05, 2007

Bidoeiro / vidoeiro / bétula

As bétulas do Covão da Ametade

A bétula (ou vidoeiro, ou bidoeiro) é uma espécie autóctone da Serra da Estrela. Em tempos (há milhares de anos) dominavam, juntamente com o carvalho-negral e a tramazeira, a paisagem até quase ao cume.

Podemos admirá-las já adultas no Covão d'Ametade, no Covão da Ponte e também perto de Folgozinho (e, de certeza, noutros locais de que não tenho conhecimento). Há vários bosquetes de bétulas jovens na encosta da Covilhã e ladeando a estrada entre os Piornos e o Covão d'Ametade.

Quanto a mim, é uma das árvores mais belas da Serra. As suas folhas, pequenas e aproximadamente triangulares, tremem com um restolhar agradável quando lhes dá a brisa. A sombra que produzem é fresca e suave.

É uma das espécies eleitas pelo programa Um milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela para reflorestação. A colheita das sementes de bétula deve fazer-se nesta altura, quando as sementes estão maduras. Este trabalho já começou, tendo-se até agora reunido perto de seis milhões. Consulte a página do programa e/ou contacte os seus responsáveis se quiser colaborar.

As sementes de bétula podem colher-se rolando levemente entre os dedos os amentilhos (pequenas frutificações cilíndricas, com alguns centímetros de comprimento e cerca de cinco a dez milímetros de diâmetro) quando estão bem maduros, tendo o cuidado de segurar por baixo um recipiente. Se os amentilhos estiverem, de facto, maduros, desfazem-se entre os dedos, deixando cair as sementes, que são pequenas e leves (e facilmente levadas pelo vento, atenção). Se ainda estiverem verdes, pode voltar a esfregá-los para a semana. Na figura abaixo, mostro dois amentilhos de bétula. O de cima ainda está verde; o de baixo já amadureceu e até já deixou cair parte das sementes.

Amentilhos: o de cima ainda está verde, o de baixo está no ponto.

As bétulas são frequentemente usadas como árvores ornamentais em jardins urbanos. No entanto, como quase nunca conhecemos a proveniência desses exemplares, não devemos colher as suas sementes para utilização em florestação, a fim de evitar as contaminações genéticas. É melhor ir passear para a Serra. E, com este calor, está-se mesmo bem no Covão d'Ametade! À sombra das bétulas, pois claro!

As bétulas são ainda uma excelente fonte de pasta de papel, com a vantagem, relativamente ao pinheiro bravo ou ao eucalipto, de enriquecerem os solos onde crescem.

9 comentários:

Rui Peixeiro disse...

Olá José,

Os bosques de bétulas, também são dos que mais gosto na serra.

Ao contrário das zonas de pinheiros, vê-se também vida no solo, para além de serem árvores bem mais bonitas que os "pinheiros bravos" que reinam na serra.


Em tempos houve árvores a cima dos piornos? ou a zona do torre sempre foi assim despida?

Al Cardoso disse...

Que pena a "nossa Serra" e tambem toda a Beira, estar tao descaraterizada com arvores que nao sao "nossas", mas ate dessas cada vez ha menos com tantos incendios.
Ainda esta para vir um governo que tenha mesmo vontade de fazer a diferenca!

ljma disse...

Rui, viva!
Pelo que leio no guia geo-botânico da Serra da Estrela, do holandês Jan Jansen (à venda no PNSE, mas já só está disponível a versão inglesa), parece que não. No patamar superior da Serra, digamos a partir dos 1600/1700 m, a vegetação natural é principalmente zimbro e piornos. É possível que, em tempos (há milhares de anos, entenda-se), houvesse também bosques e florestas de pinheiro silvestre. As que agora encontramos (na zona da Nave de Santo António, entre o lago Viriato e os Piornos e nas Penhas Douradas - esta última quase toda ardida) foram plantadas na primeira metade do sec. XX. Parecem estar a dar-se bem.

Al, bom dia! Estas coisas dependem do governo, mas também de tantos funcionários intermédios, e respondendo a ministros tão diversos... Quase que é melhor esquecer! A ver o que podemos nós fazer, sem depender do dinheiro nem do apoio a ninguém (claro que todo o que vier, principalmente apoio, é bem vindo). Claro que ajudava vermos algumas opções serem claramente assumidas "lá em cima"... O normal é as trocas tintas, dá com uma mão o que tirou (ou metade do que tirou) com a outra... Enfim.

ljma disse...

Só mais uma coisa.
Creio que não há fronteiras nítidas entre os vários patamares da Serra. Pelo menos não acompanham, decerto, as curvas de nível. Assim, quando perguntas, Rui, se em tempos houve árvores acima dos Piornos, eu tenho que responder que sim, até porque ainda as há! Há algumas tramazeiras perto do túnel na estrada para a Torre, e falaram-me num carvalho-negral (mas esse ainda não o encontrei). Talvez haja condições para a existência de árvores em locais protegidos como a Lagoa do Peixão, não sei.
Perto da Torre, mesmo, parece que não, que nunca terá havido florestas (nunca, à escala do que eventualmente nos interessa, digamos, nos últimos dez mil anos).
Mas eu não percebo nada disto ;). O Pedro Santos do Sombra Verde é capaz de poder dar mais pormenores.

ljma disse...

Bolas para isto! Enganei-me!
O bosque de pinheiro silvestre quase todo ardido é o que está entre o lago Viriato e os Piornos, não a floresta da zona das Penhas Douradas. Essa está bastante bem.

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

José,

Obrigado pela referência, mais uma vez, à "Sombra...".


Antes da última glaciação, a flora da Serra da Estrela, bem como a do restante país, era consideravelmente diferente...o nosso clima era mais quente e húmido e teríamos uma flora semelhante à laurisilva que subsistiu na Madeira. Na realidade, os botânicos consideram que algumas das espécies actuais são sobreviventes desse período, como é o caso dos muito ameaçados azereiros e azevinhos.


Após o recuos dos gelos, com o estabilizar das novas condições ambientais, estabeleceu-se uma flora substancialmente diferente. E nesta "nova" (com mais de 10 000 anos!!) flora que se estabeleceu na Serra da Estrela, as árvores que encontraríamos a maior altitude seriam o pinheiro-silvestre, o teixo, a tramazeira, a bétula e o carvalho-negral (e chegou-se a esta conclusão pela análise de pólen fossilizado). É provável que existissem algumas árvores acima dos 1600/1700 m de altitude, mas este parece ser o limite altitudinal para a existência de verdadeiros bosques.

Depois, como o José já explicou, o pinheiro-silvestre ter-se-á extinto e os que temos hoje em dia (em especial nas Penhas Douradas) resultam de reintroduções.

Abaixo dos 1600 m a falta de árvores e bosques deve-se sobretudo à acção humana e, posteriormente, a outros factores erosivos, que foram dificultando ou impossibilitando a regeneração das florestas.

Só uma última nota relativamente às bétulas. A bétula autóctone da Serra da Estrela é a Betula alba; esta aparece com frequência designada também como Betula celtiberica ou Betula pubescens.
É provável que haja diferentes variedades mas parece que os botânicos concordam que se trata apenas de uma única espécie: Betula alba.

No entanto, os serviços florestais (segundo Jan Jansen, que é um dos maiores conhecedores da flora da Estrela) terão introduzido outras espécies de bétula na Serra da Estrela. Por isso, em relação a esta espécie, eu recomendaria alguma prudência quanto à recolha de sementes e respectiva propagação.


Eu recomendaria a consulta directa a botânicos para que indicassem com precisão quais os núcleos de Betula alba na Serra da Estrela e que se efectuasse apenas a recolha de sementes desses exemplares. Mas esta é apenas a minha modesta opinião. Quero relembrar que sou licenciado em Biologia e não um botânico "profissional".

Por que não lançar esta questão no Fórum da PdSSE e questionar directamente o Jan Jansen, por exemplo?

JMM disse...

Betula alba = Betula celtiberica = Betula pubescens

Este esclarecimento é muito importante para quem anda à procura de árvores autóctones para plantar!
Vejam a página "Espécies a plantar"
http://www.condominiodaterra.org/criarbosques/plantas.html
e depois a Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bétula
para perceberem a dificuldade...

Alguém tem por aí pergaminhos suficientes para adicionar esta informação na wikipedia? obrigado!

Outra "utilidade" boa seriam umas dicas para distingir B. alba de outras Betula "estrangeiras" na Serra...

Anónimo disse...

Eu sei que isto já é antigo mas se alguém me poder responder agradecia
Plantei betula pendula umas 20 só por experiência

Numas zonas de encharcamento -> foram as primeiras a morrer

Nas zonas mais secas-> duraram mais, mas com calores perto dos 40ºC acabaram por morrer

Alguém tem dicas para plantar com sucesso?

Alguêm sabe se a Betula é susceptivel à fitofera??

Unknown disse...

Alguém me sabe dizer qual a altura em que a semente está pronta?
Quero semear bétula pubescens e carvalho de monchique aqui na serra de monchique.
O pedaço de terra que acabo de comprar e que ardeu no fogo, era usado para exploração de eucaliptos já há uns bons anos. Apesar disso agora pós fogo, os sobreiros que cresceram como eucaliptos visto estarem sufocados por estes estão a alargar as copas, os medronheiros e os folhadeiros também estão a crescer, e alguns castanheiros.

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!