(Urze, rosmaninho e pinheiros ao alto, giestas amarelas e brancas a meia encosta, folhagem nova de carvalho-negral em primeiro plano: Maio na Serra da Estrela.)
Veja-se esta notícia (em galego no original)
A pesar de ser Galicia o país do mundo con maior intensidade de instalación de enerxía eólica (88 kW/Km2), o desenvolvemento desta enerxía renovable pouco contribuiu á súa sustentabilidade ambiental, social e económica. Ademais, ten sido unha causa de deterioración dalgúns espazos naturais.
Ou seja, a instalação de parques eólicos parece não estar necessariamente associada ao desenvolvimento das condições económicas locais, à melhoria das condições de vida da população, à modernização.
Outro exemplo, com uma fonte de energia completamente diferente. Leia-se na National Geographic de Fevereiro de 2007 o artigo "Curse of the black gold — Hope and betrayal in the Niger Delta". Este artigo mostra como a descoberta e exploração de importantes jazidas de petróleo no delta do rio Níger se revelou dramática para as condições de vida das populações da região. Tanta "riqueza", tanto desenvolvimento, transformou num inferno a vida daquela gente.
Não basta desenvolver-se o aproveitamento de uma vantagem regional para se notarem generalizadamente nessa região os benefícios desse aproveitamento. Muitas vezes (como é particularmente notório no caso do delta do Níger), apenas ficam na região os inconvenientes do empreendimento. As vantagens fogem da região ou ficam concentradas em tão poucos que, para todos os efeitos, é como se tivessem fugido.
Os promotores dos grandes empreendimentos, dos chamdos "projectos âncora", andam nisto não para desenvolver, requalificar, modernizar ou evitar a desertificação, por muito que nos tentem convencer disso. Andam nisto para ganhar dinheiro, para ganharem muito dinheiro, todo o que puderem. Não é necessariamente uma motivação ignóbil, não é necessariamente uma coisa má. É o que faz andar o mundo. Mas é uma motivação egoísta e, porque assim é, devemos desconfiar dos discursos grandiloquentes. Apregoam sempre grandes esperanças, mas frequentemente escondem traições. "Hope and betrayal", como no título do artigo da National Geographic. Para que as grandes promessas efectivamente se cumpram, é necessário vigiar atentamente os que as fazem, vinculá-los com regulamentos que incluam obrigações justas, bem definidas e cujo cumprimento seja facilmente verificável. Se os deixamos livres de obrigações, que obrigações, ao certo, esperamos que cumpram? Que "desenvolvam o tecido económico"? Que "evitem a desertificação"? Que nos "arranquem do marasmo"? Que "melhorem as condições de vida"?
À nossa escala, já todos vimos este jogo da esperança e da traição ocorrer na Serra da Estrela. Continua a acontecer. São sempre os mesmos a traficar a esperança, são sempre os mesmos a ganhar com as traições. Durante quanto mais tempo ainda continuaremos a achar que este é o jogo que nos trará desenvolvimento, durante quanto mais tempo ainda nos deixaremos enganar?
Bom primeiro de Maio.
4 comentários:
isto pode fugir um pouco do âmbito do post mas se calhar até tem a ver.
Em 1 de Janeiro de 2100 se tivermos
11 752.350.811 habitantes
Desses:
Multimilionários - 9
classe média - 150 000
classe baixas (vulgo pobres)-11 732.200.802
o pessoal até me chamar de cândido, anti-progresso, comuna, saloio, céptico, anarca, e até dizer que isso das classes já não existe,
mas até gostava de estar em cá 2100 para ver se a realidade não vai ser esta..
Se no momento o passatempo favoritos dos milionários é andar a viajar no espaço e com os seus aviões particulares pelo mundo fora, até estou curioso em ver qual será em 2100. Ou então é melhor nem pensar...
Fernando, isso tem tudo que ver com o assunto do post. Tem que ver, pelo menos com o que me ia na mente enquanto o escrevia. E é particularmente ajustado à data de hoje.
Mesmo que se considere o cenário que traças exagerado, a tendência que o pode tornar verdadeiro nota-se hoje em dia, com a concentração de cada vez mais riqueza em cada vez menos mãos. E isto acontece com os índices macro-económicos a indicarem, em geral, crescimento, uma economia global cada vez mais forte, etc. Ou seja, aparentemente estamos no bom caminho. Porque é que, então, há cada vez mais gente a sofrer as consequências deste caminho glorioso?
Pois, pois, isso das classes já não existe... Nem classes, nem História, nem exploração do Homem pelo Homem! Acabou tudo no dia em que se demoliu o Muro de Berlim. Não querem ver que já chegámos aos "Amanhãs que cantam"?
Saudações!
Envio abaixo um link que corrobora a relatividade deste assunto: "Energía eólica insostenible"
http://www.elpais.com/articulo/opinion/Energia/eolica/insostenible/elpepuopi/20070420elpepiopi_10/Tes
em + de 1 milhão de anos de existência da humanidade nunca houve fome crónica (apenas sazonais e pontuais). No séc. XX foi 'finalmente inventada' e como dá a muita gente um chorudo lucro a tendência é sempre aumentar e
e não esquecer os pseudo-filantropos
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