O fim de semana passado estive na Serra de Gredos a desfrutar 2 dias fantásticos!É realmente um local magnifico, selvagem, agreste, original!É um gigante granítico com pináculos afiados e grandes escarpas esculpidas na era onde os Glaciares dominavam.
Chegámos à localidade de Hoyos del Espino sexta feira já tarde - por volta da meia noite. O objectivo era subir ao ponto mais elevado de Gredos, o Almanzor (2592m), depois seguir para a Galana (~2500m) e descer de volta ao refugio Elola (1980m) pelo "Garganton".
Manhã de sábado 7horas - iniciámos a nossa caminhada onde a estrada acaba (1700m altitude) em direcção ao circo de Gredos mas não sem antes passarmos pelo escrutínio do olhar de 3 belos exemplares de Cabra Montez, o simbolo de Gredos!
Cerca das 2 horas de caminhada chegámos aos "Barrerones"(~2200m alt.) e finalmente podemos observar o anfiteatro do Circo Glaciar de Gredos e a lagoa formada após o degêlo do antigo Glaciar. A partir daqui é sempre a descer até ao refugio.
Cerca de 7km depois de iniciarmos a nossa caminhada chegámos ao refugio onde fazemos uma pausa e aliviamos a carga das mochilas. Sim, são 7km a pé sem alternativas! Mas que injustiça!Não há uma estrada, um teleférico?Não há nada que democratize o acesso a este local?É verdade, a natureza não é justa!ou será?Para mim até é, pois esta é a maneira que mais me satisfaz visitar locais como este. Se fossem criados meios para que toda a gente conseguisse aqui chegar (p.e. estradas) deixaria de ser justo para as pessoas como eu que veriam ser retirado todo o prazer de aqui virem. Temos que perceber de uma vez por todas que há muita gente para quem o carro não é a melhor forma de chegar a certos lugares!
Bom, mas voltando à nossa actividade. O descanço no regufio terminou e iniciámos a subida final para o Almanzor quando batiam as 11h30m locais. O tempo estava "quente" e a neve bastante "papa" dificultando a progressão principlamente nas pendentes mais inclinadas. Mas havia "traço","hola",trilho, como lhe queiram chamar. Por isso com mais ou menos dificuldade todos chegámos ao cume do Almanzor (2592m) Apesar da altitude moderada deste pico, considero uma ascensão muito interessante podendo-se facilmente variar o nivel de dificuldade abordando diferentes faces do pico. Com neve gelada, o final da subida pode ser tambem um bom desafio. Lá tirámos a fotografia da praxe, marcámos o ponto no GPS (também já é praxe!). Tivemos que abandonar a passagem pela Galana pois a hora já ia avançada e a partir daqui já não havia trilho aberto o que implicaria chegarmos depois do jantar ao refúgio!E ninguém quer isso, certo?! Descemos então pelo mesmo sitio. Regressámos ao refugio para o merecido descanso - cerca de 8-9 horas de actividade.
No dia seguinte foi tomar o pequeno almoço, arrumar as mochilas e regressar ao sitio onde tínhamos deixado o carro a 7km de distância e vislumbrar mais uma vez o majestoso Circo Glaciar de Gredos!
A serra de Gredos pertence à cordilheira central da península Ibérica da qual faz parte também a nossa Serra da Estrela. Se não estou em erro, a origem geológica das duas é semelhante e as parecenças em termos de paisagem granítica e vegetação são grandes também. Podemos dizer que Gredos é a irmã "mayor" da Estrela!Durante muito tempo tive o desejo de que a Serra da Estrela fosse como Gredos! Seria até justo! Os espanhóis já tem tantas montanhas com mais de 2000 metros, porque não haveríamos de trocar?!Claro que isto são aquelas divagações que todos fazemos de vez em quando. Mas como já referi, a Natureza não é justa.
No entanto, olhando para as duas Serras com tantas características comuns e a mesma génese, não posso deixar de lamentar o destino oposto que calhou a cada uma. A Estrela, com estradas a rasgarem-lhe os espaços naturais e selvagens, vista como um obstáculo à circulação territorial por uns e como um espaço de exploração por outros; Gredos, por seu lado, sem uma única estrada que atravesse as suas terras altas, preservada no seu valor e por isso admirada por cidadãos de todos os cantos.
De facto, lamento os destinos opostos das duas serras, mas já não lamento que Gredos não seja Portuguesa! Se assim fosse, concerteza já chegaria confortavelmente de automóvel ao refugio de Gredos, que já não seria um refugio mas sim um hotel ou mesmo um aldeamento com piscinas, farmácias, lojas de conveniência e multibancos espelhando o turismo de qualidade à lá Tuga!Mas não é isto que eu gosto. Gredos, finalmente estás bem onde estás...
6 comentários:
Caro J. Amoreira,
"De-gredo(s)" este de a cada curva da estrada termos um sobressalto com as intuições de quem tem responsabilidade na preservação do Parque Natural da Serra da Estrela. Diz um amigo meu: "Cada cavadela uma minhoca". Como não lhe bastam os problemas existentes, sem solução à vista, ainda tentam arranjar mais imbróglios, como este dos parques de estacionamento e do alargamento das vias, dos shoppings de produtos importados de Andorra e da China... Reenvio infra um comentário que julgo ter-se extraviado sobre o asflato.
1 - As acessibilidades são, normalmente, um pretexto de comiseração. No decurso do tempo em que dura a aventura humana, os caminhos estreitos revelaram-se apropriados ao meio ermo (de "hermius" ou "hermínius") e agreste da montanha, pois reconhecem a topografia e são adequados ao ritmo requerido pelos percursos de atravessamento, ditado pelos perigos inerentes ao meio (gelo, vento, inclinações, etc.) e, cada vez mais, pela atenção às surpresas visuais do percurso;
2 - O actual perfil das estradas da Serra é adequado ao meio, pois não só dissuade o turismo predatório como se opõe à vertigem da vida contemporânea, além de sublinhar alguns locais singulares do Parque Natural (não esqueçamos), como as linhas de festo, as portelas, etc., a que já os romanos foram sensíveis aquando da construção das primeiras vias calcetadas;
3 - O maior valor da Serra da Estrela, circunscrição mais vasta que a dos Montes Hermínios, é ambiental, paisagístico e simbólico. Qualquer vector de "desenvolvimento" atentatório destes aspectos será uma falsa e atávica prioridade.
Quanto à ligação entre as duas vertentes, a única resposta cabal ao problema será através de um túnel, nenhum tipo de alargamento e rectificação do traçado será solução. Resta saber se é necessário e desejável.
Tiago, que INVEJA! Conto lá ir mais tarde, no final da Primavera, com os meus filhotes (não vamos ao Almanzór, portanto).
Francisco, um túnel será talvez necessário, será talvez desejável, talvez o país possa dispor dos meios para o concretizar. Mas não me parece que faça sentido esperar pela conclusão dessa obra ou de outras semelhantes (IP6) para começar a condicionar o tráfego na Serra da Estrela. Fazê-lo é, de facto, adiar sine die a resolução de um problema que, suspeito, não se quer resolver, que é o das enchentes daqueles fins de semana de neve.
Ah, refere-se ao "passeio dos tristes"! Sim, concordo, quanto mais condicionado melhor: "há que saber repartir a tristeza pelos dias", diz-nos Ruy Belo.
Há tempo estive no Chasseral e em Vue des Alpes e aí paga-se portagem, receita que reverte a favor do parque. Parece-me mais sensato que seja o PNSR a embolsar com a os passeios de automóvel pela Serra do que a Brisa!
PS: Não reparei que o post era do TPAIS. Peço desculpa.
Olá Francisco,
não se preocupe com a confusão das autorias. O importante é participar e ouvir a opinião de todos.
Devo dizer que concordo totalmente com os pontos 1 e 3 da sua primeira intervenção bem como com a observação feita na segunda intervenção.Aliás, apreciei bastante a forma clara como colocou a racionalidade dos antigos caminhos porque isto dos percursos turisticos é de facto uma coisa muito recente.
Quanto ao ponto 2 gostaria apenas de fazer uma ressalva. Na minha opinião a quantidade e qualidade de estradas actualmente existentes no PNSE já é em demasia e já não afasta quanto baste o turismo "toca e foge" (penso que é o que quer dizer quando utiliza a expressão "predatório"?!). De tal forma que a necessidade de passar mais do que um dia na região da Serra da Estrela para visitar os seus magnificos recantos está susbtancialmente diminuida o que acarreta graves prejuizos para as micro-economias locais. Não se pense no entanto por este texto que sou um radical anti-alcatrão. Não, estou é convencido que as estradas necessárias são aquelas que ligam as povoações ao exterior, ao resto do país, que permitam os visitantes chegarem a esses locais com facilidade para depois dispenderem tempo de lazer a partir desses pontos centrais. Estradas de montanha nunca serão adequadas para ligar povoações:são perigosas, cansativas e dispendiosas na sua construção.
Estou convencido que sem um forte condicionamento do acesso automovel às cotas acima dos 1400m não haverá grande preservação da natureza. Por outro lado, não considero a taxação do acesso um medida necessária. Basta que o acesso seja condicionado mediante a capacidade de carga estabelecida.
Abraço
Tiago
Bela ascensão. Apreciei ler.
A 1º foto está muito boa.
Abraço,
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