quarta-feira, maio 10, 2006

O "equilíbrio" visto do espaço

A imagem acima mostra a zona da Torre, vista de satélite. Obtive-a pelo Google Earth. Nota-se bem o impacto da estância de esqui no terreno. E isto é visto de longe. Caminhando por este terreno escaqueirado, podemos encontrar os plásticos dos "escuadores" (claro, já nem vale a pena falar disso), mas também restos de canalizações e de materiais de construção, fitinhas de plástico com que se delimitam as pistas nos dias de competições, e lixo vário deixado pelos esquiadores e pelos passageiros da telecadeira.

Estão na calha projectos que vão estender este estado de coisas a áreas muito maiores da Serra. Em particular, promete-se "desenvolver" nestes moldes a zona da barragem do Padre Alfredo e a do extremo oriental da Lagoa Comprida (locais que até agora têm estado a salvo desta tristeza urbanizante e artificializante), fazendo daí partir as telecabines que com que se pretende (é esse o verdadeiro objectivo, não nos iludamos) acabar com a eterna reclamação dos esquiadores: "quando há neve, as estradas estão cortadas, quando as estradas estão abertas, não há neve".
Note-se que, para se montarem os teleféricos, são necessários acessos para o transporte dos materiais; para que as pessoas cheguem aos teleféricos e os usem, são necessárias estradas asfaltadas e grandes parques de estacionamento. Ou seja, movimentações de terra, cicatrizes dos golpes de buldozer, artificialização dos sítios, degradação da sua beleza. A desolação ilustrada na fotografia acima é uma pequena amostra do que acontecerá no Covão do Ferro e na zona dos Charcos, perto da Lagoa Comprida. Ainda por cima, a Turistrela anunciou que num futuro não muito distante, pretende ampliar a estância de esqui desenhando pistas nestes mesmo locais.

Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela(1), tem a distinta lata de dizer que (a) "nenhum dos projectos é nocivo para o ambiente"; (b) que se trata de "projectos muito equilibrados"; (c) "Há diversos interessados em investir na serra e é importante que esses investimentos não esbarrem em impedimentos ambientais." (citações retiradas do Público de 31 de Março).
É evidente para qualquer um que as duas primeiras frases não são verdadeiras (não digo que Jorge Patrão esteja a mentir deliberadamente, pode simplesmente não saber do que está a falar). A última é estranha, vinda de quem vem: pois se ele acha que os projectos em causa não são prejudiciais, e são muito equilibrados, a que propósito é que haviam de esbarrar em impedimentos ambientais?!
É um truque clássico: Jorge Patrão acredita que, se ele e outras personalidades de monta afirmarem muitas vezes e em público que o rei está muito bem vestido, talvez o povo não repare que, afinal, o rei vai é nú. Evidentemente, flagrantemente, nú.
(E o mais revoltante, mesmo, é que se calhar o truque até resulta...)

(1) Dado o comportamento deste organismo (RTSE), quase poderíamos pensar que se trata de um departamento da Turistrela, encarregado das relações institucionais com o governo (especialmente na área da captação de fundos e apoios estatais) e das relações públicas. Infelizmente, o mesmo se pode dizer da Câmara Municipal da Covilhã, sempre que lida com questões relacionadas com a Serra, e de ainda outras entidades públicas, privadas e assim-assim.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo José,

Como forma de completar o nosso post "Outra vez... "As Bolas" solicitamos-lhe que redija um pequeno comentário à notícia que encontrámos no JN.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Fica só uma pequena correcção - as fitinhas delimitadoras não são colocadas nos dias de competição , visto estas serem realizadas pela Federação Portuguesa de esqui , e esta não colocar mais que os piquets q delimitam as passagens obrigatórias dos concorrentes , sendo retiradas logo no fim das provas, nesse mesmo dia . As fitas e plásticos utilizados na estância são da Turistrela , como forma de marcarem a zona de exclusão aos " não pagantes" , mas isso já é problema deles....Um abraço !

ljma disse...

Big Brother, desconhecia isso. Aliás, se calhar actualmente há mais cuidado com essas coisas. Mas lá que já por várias vezes vi fitinhas dessas na zona da estância, já.
Seja como fôr, agradeço a correcção.

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!