Dei uma corrida hoje de manhã nas picadas da encosta aqui da Covilhã. Para além dos já familiares montinhos (e montões, às vezes) de entulho que alguns construtores civis lá vão deixando, hoje vi duas garrafas de água, que algum "amante" da natureza deixou, durante o fim de semana, na estrada.
É frequente encontrar embalagens de alimentos energéticos nas bases das vias de escalada desportiva mais frequentadas. No ano passado, dei com fitinhas de plástico a marcar o trilho para a Lagoa do Peixão e a assinalar o trilho que sobe do Covão da Ametade para o Cântaro Gordo. Estas últimas estavam assinadas, tinham escrito "Inatel" em letras vermelhas sobre fundo branco. Quando cheguei a casa enviei um email para a direcção nacional do Inatel, pedindo-lhes que parassem com aquilo, que fitinhas de plástico não era maneira de assinalar trilhos, ou, pelo menos, que as retirassem no final das suas actividades. A verdade seja dita, alguns dias depois recebi a resposta, dizendo que tinham sido dadas instruções aos responsáveis por esse tipo de actividades aqui na Serra para que essa prática não fosse continuada.
Quero dizer com este artigo o seguinte: não são só os "maus" que poluem. As nossas actividades na Serra podem ter maiores ou menores impactos, dependendo da atitude que temos. A norma deve ser a definida por aquele cliché "não deixes senão pegadas, não leves senão memórias". Em caso de dúvida, vale mais ser picuínhas, paranóico. Sejamos, pelo menos, tão cuidadosos quanto possível. É que todos conhecemos a "lógica" do "isto já está tão sujo, mais lixo menos lixo, vai tudo dar ao mesmo". Pois bem, o Covão Cimeiro, o trilho para a Lagoa do Peixão, as picadas onde andei a correr hoje, não estão ainda muito sujas. Tentemos todos manter este estado de coisas.
Ou então, para quem não se importa com o lixo, sugiro caminhadas pelas lixeiras, por exemplo, à volta do Malhão da Torre, ou na vertente das Penhas da Saúde, por baixo do bairro dos chalés. Aí sim, pode aplicar-se a "lógica" que referi acima (não deixa de ser errada, mas é verdade que lá ninguém nota uma garrafa a mais ou a menos).
6 comentários:
Infelizmente são muitos os que não têm cuidado com a nossa Serra.
E este fim de semana que passou, foi um "bom" exemplo disso. Deve ser fácil encontrar ao longo da estrada garrafas, pacotes e afins, dos adeptos da Rampa da Serra da Estrela. Eu também lá estive, até acapei no parque do pião desde sexta feira, mas nem um simples papel abandonei na serra.
Ainda há uns anitos, estava com a familia num piquenique, junto a uma estrada de terra que vai dar ao Poço do Inferno, quando um pouco mais à frente estava outra familia a fazer o mesmo, quando no fim da refeição, vemos a "mãe de familia" juntar os pratos de plástico todos e puxar o braço atrás. A minha mãe mandou-lhe um berro e uma descasca depois.... Só não sabemos se aprenderam mesmo a lição, ou se quando viramos costas, mandaram mesmo os "discos voadores".
E são só uns exemplos entre os muitos péssimos exemplos! Mas, o que me assusta mais, é que não vejo na minha geração (pessoal dos 20 aos 30 anos) a ter mais cuidados. Há as suas excepções, mas a maioria lá vai para o "é só mais um, nem se nota..."
Quem sabe se os mais novos, os "miudos dos ecopontos" já vejam o ambiente de outra forma.
Ah, Rui, É capaz de ter sido isso mesmo da rampa. Com tanta gente lá para cima, tem que se dar um desconto. Sobre a falta do mais elementar civismo de algumas pessoas, uma vez, perto do Parque do Pião, vi o condutor de um camião do lixo que subia a serra (possivelmente ia esvaziar os contentores das Penhas da Saúde) atirar para a berma uma garrafa de plástico vazia! É a co-regeneração do lixo em acção!
Quanto à esperança na juventude, eu não devia dizer estas coisas, que com os meus 41 anos até parece que se trata de dor de cotovelo. Mas digo-as na mesma, até porque já tinha esta opinião quando era (mais) novo. Isto de se ter grande esperança nos mais novos sempre me pareceu um grande disparate, sobretudo cá em Portugal, lugar onde se deixa a educação ao Deus dará ou, pior ainda, nas mãos dos especialistas em "Ciências da Educação". A minha opinião quanto à juventude e quanto às esperanças que deposito nela são condensadas nas seguintes tiradas
1. O diabo sabe muito. Não é por ser mau, é por ser velho. (Ditado mais ou menos popular)
2. A juventude é um bem tão precioso, mas tão precioso, que não devia ser desperdiçada nos jovens. (Isto foi dito por por um inglês [ou americano?], no início do sec. XX, já não me lembro quem [deve ser da idade...])
Também confirmo a presença dessas fitinhas do "Inatel" espalhadas pela zona do covão cimeiro...e muitas resistiram ao incêndio que andou na zona em agosto de 2005!!)
Embora o trilho para a lagoa do Peixão ainda não se encontre muito poluído...já quem sobe do covão cimeiro para o corredor do inferno ou o corredor da ponte fica bem mais triste, tudo(mas mesmo tudo!) se pode encontrar.A proximidade à estrada não perdoa nao é?
Pois não, já se sabe, o montão de plásticos a esvoaçar pela zona da Torre acaba por ser arrastado pelos corredores abaixo... Mas o que me levou a escrever este artigo foi o facto de também nós, apreciadores da montanha, não termos, muitas vezes, o cuidado devido. Isto das horríveis fitinhas é sintomático de uma visão errada das coisas. É que a coisa é prejudicial para o ambiente, e muito. O ambiente não são só as lagartixas de montanha (supostamente, elas não serão muito prejudicadas por uma fitinha aqui, outra acolá), o ambiente somos nós! Temos o direito a gozar uma serra limpa! No que depende de nós, devíamos ter o maior dos cuidados, sob pena de não podermos falar dos tristes que enchem o planalto central dias de neve.
Caro Cântaro, já tenho pensado muitas vezes nessa problemática do lixo. Parece-me que o maior problema não é retirá-lo, é evitar que continue a ser por lá deixado. Qual é a solução? Repressão, multas, policiamento, educação e campanhas de “sensibilização” (este eufemismo é muito manhoso não é)? Acho que nada disto dá resultado. Pelo menos resultados imediatos, pois é isso que interessa. Lembro-me de ter lido há uns anos que das encostas do Monte Fuji no Japão foram retiradas toneladas de lixo por milhares de estudantes numa campanha lançada internacionalmente. Os Japoneses sentiram-se envergonhados. Talvez se pudesse fazer uma coisa semelhante por cá. Já sugeri às minhas filhas que propusessem como actividade de “área de projecto” na escola a recolha de lixo da serra perto da qual vivo. A actividade seria publicitada no jornal local (primeira página: as crianças e alunos da escola retiram lixo que os visitantes deixam na serrra – é claro que ninguém da povoação admitiria ter lá deixado lixo). A montanha de lixo seria depositada num monte nos Paços do Concelho onde ficaria em exibição para vergonha de todos durante pelo menos um mês.
Na Estrela há lixo que já faz parte do solo (caricas, vidros, latas de conserva ...) mas há lixo acumulado à superfície que poderia ser facilmente retirado numa campanha deste tipo. Talvez a estratégia da vergonha resulte.
Olá João. Eu concordo que dar publicidade como a que sugere às operações de limpeza pode ter efeitos. Mas também acho que enquanto tivermos a Serra a ser visitada pelas hordas dos fins de semana da neve, não há volta a dar-lhe. Onde se junta tanta gente, juntam-se sempre muitos que não são minimamente civilizados, logo, junta-se sempre também muito lixo. Ou seja, é necessário limpá-lo, e fazê-lo periodicamente. É o preço a pagar pelo tipo de turismo que temos, e temos que o pagar. As únicas alternativas são fechar os olhos à porcaria (parece ser a atitude da Turistrela, vejam-se as declarações de Artur Costa Pais dizendo que este problema "é uma preocupação, não uma obrigação") ou mudarmos o tipo de turismo que temos, diminuir o número de vistantes e aumentar a sua qualidade, mas isso parece não estar no horizonte de ninguém. Se usamos ou não as operações de limpeza com objectivos educativos, pode discutir-se (e eu acho que sim, que se deve ir por aí, a sua ideia parece-me muito boa). Se se limpa ou não, não me parece que seja uma questão a sério, porque lá que aquilo se vai continuar a sujar, vai.
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