Uma das notícias (ver, por exemplo, aqui) desta semana é que dois deputados socialistas eleitos pelo círculo de Castelo Branco requereram ao governo que use a sua "magistratura de influência" para levar os operadores de redes de telemóveis a assegurar a cobertura total de rede na serra. Justificam o pedido com razões de "segurança de turistas e residentes".
Num instante consigo imaginar problemas bem mais graves na serra do que a falta de cobertura de rede, e que mais facilmente poderiam ser atacados pelo governo. Por exemplo, a falta de ímpeto na reflorestação, as dificuldades no escoamento dos produtos da actividade das populações rurais, a falta de meios do Parque Nacional da Serra da Estrela, e podia continuar por muito, muito tempo.
No entanto, estes dois deputados foram escolher um tema que, no mínimo, se pode considerar esquisito. É que como eles reconhecem, o governo não tem grandes possibilidades de resolver o problema, está limitado a uma magistratura de influência (que, reconheçamos, é mais característica de órgãos de soberania não executivos, como a Presidência da República). Que se passa?
Bom, suspeito que é o seguinte. Os deputados do partido que está no poder (por acaso é este, mas podia ser o outro) têm dificuldades em cumprir cabalmente as suas obrigações (os outros também, até porque muitas vezes, como se viu, estão uns e outros muito ocupados a "trabalhar" nos fins de semana prolongados, mas isso é outro assunto), porque uma das mais importantes é a de fiscalizarem a acção do governo, coisa que, se for levada muito a peito, lhes trará dissabores na carreira dentro do partido... Mas, é natural, apesar de estarem, neste aspecto, de mãos (e pés, e línguas, e consciências) atadas, querem mostrar obra.
Nesta perspectiva, vê-se que a escolha de tema não podia ser mais feliz, já que (a) redigem um requerimento (actividade às vezes contabilizada por jornalistas na avaliação do desempenho dos deputados); (b) aparecem nas notícias (indicador com alguma importância na opinião pública e extremamente importante no aparelho partidário); (c) permitem ao governo fazer boa figura sem fazer rigorosamente nada a não ser "sacar" da sua "magistratura de influência", ou seja, balbuciar uns apelos aos operadores de telecomunicações (e isto de dar ao governo a oportunidade de fazer boa figura, é do melhor que há em termos de carreira no aparelho).
Ou seja, à parte algumas notícias na imprensa regional, e a (pouca) agitação nos blogs, qual é o resultado desta acção dos deputados? Nenhuma. Daí o título deste post.
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