A Terras de Aventura é uma empresa da Guarda, dedicada principalmente à
organização de eventos desportivos alternativos, "em comunhão com
a natureza e o meio ambiente", como dizem na página de apresentação do seu site de
internet
(www.terrasdeaventura.net). Esta
empresa tem participado na organização da Transestrela, uma maratona de
montanha, com a extensão de uma maratona normal, mas com uma variação de
altitude de mais de mil metros, com um percurso traçado por picadas e trilhos da
Serra. A Terras de Aventura colabora ainda na organização de diversas outras
provas, integradas no circuito nacional de montanha (12km Manteigas - Penhas
Douradas) e/ou no Troféu de Aventura e Natureza (Rampa do Alva, Subida do Vale
de Sameiro) que incluem ainda diversas outras provas em todo o país. Estas
provas, sendo de caráter desportivo, estão abertas a todos e, em simultâneo com
elas, os promotores organizam um passeio não competitivo, dirigido a não
desportistas ou a famílias com "avós e netos".
No fim da descrição de cada uma das suas actividades na Serra, a Terras de
Aventura pede respeito e responsabilidade aos participantes, nos seguintes
termos (este é para a subida do Sameiro):
A 8ª SUBIDA DO VALE DE SAMEIRO DESENROLA-SE NUM CENÁRIO DE EXCEPCIONAL BELEZA NATURAL (PARQUE NATURAL DA SERRA DA ESTRELA), PELO QUE SERÁ OBRIGAÇÃO DE TODOS PRESERVAR O MEIO AMBIENTE EVITANDO ABANDONAR DESPERDÍCIOS FORA DAS ÁREAS DE CONTROLO. DO NOSSO COMPORTAMENTO (ORGANIZAÇÃO E PARTICIPANTES) DEPENDERÁ O FUTURO DA PROVA.[Ah, como gostava de ver semelhantes apelos ao respeito e à responsabilidade a propósito da rampa automóvel, a propósito da utilização da estância de esqui, a propósito das rave parties, a propóstito dos raids TT, a propósito da passagem da Volta a Portugal em Bicicleta...]
Parece-me que este tipo de eventos faz mais (ou poderia fazer, com uma cobertura noticiosa que reflectisse o interesse que têm) pela imagem da Serra do que todas as rampas automobilísticas, todas as tretas fashion, todas as telenovelas juntas. Porque neles (e não nos que acabei de enumerar) se respira um verdadeiro gosto pela montanha e o seu ambiente. Porque estes eventos mostram a serra como palco de actividades de montanha, actividades que obrigam os participantes a excederem-se, erguendo-se do estado normal de comodismo, inactividade e distracção até níveis de performance e atenção indispensáveis para uma verdadeira fruição da zona. Para tirar partido destes eventos, temos que nos adaptar física e psicologicamente à montanha; para que esqui, raves, fashions e rampas tenham sucesso, é a montanha que tem que ser adaptada. Estes eventos mostram serra como ela realmente (ainda) é: alimento de sonhos.
[Devo dizer, num registo mais prático, mais audível para os ouvidos dos senhores que organizam o "desenvolvimento" da Serra, que os sonhos são, de longe, a melhor publicidade para uma montanha. Tanto que assim é, que todos os anos centenas de turistas internacionais de classe alta, com pouca ou nenhuma experiência de montanhismo, pagam fortunas para serem guiados ao topo do Everest (por vezes são praticamente levados ao colo pelos guias sherpas que ainda têm que carregar as pesadas garrafas de oxigénio de que estes turistas necessitam a partir dos seis mil metros). Estes turistas podiam fazer a festa com metade do dinheiro, metade do risco e metade do tempo de espera se tentassem a subida de outra montanha qualquer na região. Mas as outras montanhas não os fazem sonhar, as outras não são o "tecto do mundo"... Não pretendo que se tente imitar a coisa aqui, só estou a mostrar como o sonho pode servir para promover um produto turístico.]
Hesitei bastante sobre a publicação deste artigo, porque pensei que ele poderia alimentar especulações sobre ligações do Cântaro a empresas privadas, nomeadamente à Terras de Aventura. Bem, essas ligações não existem, nem sequer a nível pessoal. Não conheço nenhum sócio ou empregado desta empresa (ou melhor dito, não vá o diabo tecê-las: não conheço pessoalmente, como tal, nenhum sócio ou empregado da Terras de Aventura). Além disso, eu quero estar à vontade para mostrar no Cântaro também aquilo que é bem feito na Serra (não há só as tristezas de que tenho falado). Quero estar à vontade até para aplaudir a Turistrela, quando for a Turistrela a merecer o meu aplauso (coisa que eu gostava que acontecesse muito em breve)!
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