O encontro de escalada Entalados II que contribuí para divulgar aqui, afinal não se deu. E não se deu porque, à última hora, não foi autorizado pelo ICNB/PNSE. Porque o Cântaro Magro parece que é uma zona de protecção especial, "apenas são permitidas actividades de investigação científica, visitação e pastorícia, quando compatíveis com os objectivos definidos" de conservação dos valores naturais. Vá ao Rocha Podre e Pedra Dura (os posts relevantes são este e este) para se inteirar de mais detalhes.
A poucos metros de distância passa uma estrada que nalguns dias tem um tráfego intenso; despejam-se toneladas de sal no pavimento para derreter a neve, que escorrem para as bermas e delas para os ribeiros; toneladas de plásticos e lixo deixado na zona da Torre todos os Invernos, entopem as linhas de água que ladeiam o Cântaro Magro. Mas não se pode lá escalar.
Uma empresa concessionária exclusiva do turismo e dos desportos, gestora da única estância de esqui do país, pode andar com tractores sobre o mato, a algumas centenas de metros do Cântaro Magro, a fim de transportar neve para pistas já dela desprovidas, que o PNSE não nota e, quando se lhes chama a atenção para o facto, levanta autos a "terceiros desconhecidos". Mas escalar no Cântaro Magro não se pode.
Uma vez por ano (pelo menos) a protecção civil organiza um circo mediático no Cântaro Magro onde se mostram às televisões as habilidades do grupo da GNR que trabalha na serra (que gosta de ser conhecido como Mountain Support Team), com tirolesas, rapeis, simulações de resgate, dezenas de jipes com luzes de emergência azuis e isso tudo), mas escalar no Cântaro Magro não se pode.
Dão parecer favorável a estradas, estradinhas e estradonas por todo o lado, ao alargamento de outras que já existam e ao de parques de estacionamento. Autorizam o enfeitar de cumeadas a eito com parques eólicos. Trabalham activamente com associações de caça e autarquias para definir no interior (e bem no interior!) do Parque Natural áreas de caça. Gastam os poucos recursos que têm a arranjar condições para o funcionamento do indigno comércio de fancaria "em condições mínimas de dignidade", e lançam concursos de ideias para aproveitar ruínas que melhor seria que viessem abaixo. Não notam nada de grave num acampamento militar no Covão d'Ametade que se realiza uma ou duas vezes por ano, em que os "nossos bravos homens" levam para o o interior do recinto as suas viaturas pesadas e demais maquinaria indispensável, como aparelhos de ar condicionado para o aquecimento das tendas. Mas não autorizam a escalada no Cântaro Magro.
Estamos bem! Temos o Parque Natural da Serra da Estrela bem protegido contra as verdadeiramente graves agressões ambientais!
7 comentários:
Em fim... como é que é possível uma coisa destas.
Para a próxima, têm de por no programa que vão até à Torre com todo-o-terrenos da BMW, ou algo assim parecido, para ser aprovada a actividade.
Tem toda a razão. Pela excelência e substância do texto, vou tomar a liberdade de o citar. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Lamentavelmente, nas áreas protegidas, nos tempos actuais só sobrevivem as actividades que possam produzir receitas "interessantes".
Alcançou-se um patamar de conflito de interesses em que se acredita que uma actividade só é "sustentável" na medida em que incremente a "sustentabilidade" financeira da gestão de areas protegidas. A escalada, por toda uma série de características próprias, é menos interessante, não tanto pelos impactos gerados, que nem sequer estão seriamente avaliados, mas primeiramente porque se trata de um grupo utilizador numericamente pouco expressivo em termos de consumo dos produtos "vendáveis" que as areas protegidas disponibilizam. Na falta de retrato mais científico vale-nos a percepção empírica de que se trata de um "grupo" que nem sequer se apresenta regularmente em "grupo", antes se trata de idndivíduos em pequeno número cuja a afluência não é nem massiva nem regular. Dos traços característicos da sua actividade passam a maior parte do seu tempo fora do alcance dos locais de consumo existentes e vivem uma cultura que não carece de grandes apoios ou infra-estruturas. É pois, o mal desta actividade, não ter expressão de "consumo" e retorno económico que torne os seus praticantes bem-vindos.
Graças a uma lamentável e cega proposição do WWF (PanParks) aos gestores de areas protegidas e operadores locais são incentivados a impor custos a todo e qualquer acto que os visitantes pratiquem dentro dos seus perímetros. É desta nova postura fazer constar com demasiada clareza que é bem vindo quem vem para gastar muito. A resposta que instituições como a WWF PAN Parks falha é dizer onde irão os cidadãos que "não tem o perfil ou o poder económico" que tão sofregamente se busca hoje em dia.
Devia de haver um parque natural onde fosse possível ver a fauna de seres humanos que não se descriminassem desta forma.
Pois e, quando noutros países ainda temos o poder para fazer valer a nossa opinião e discordância, no nosso país resumimo-nos a algumas bocas em foruns e blogs e esperamos que a coisa passe desapercebida, para não levantar muitas ondas!
A nossa palavra é nula!
É triste!
Paulo Roxo
Isto é o cumulo dos cúmulos ...
Não se pode escalar no Cântaro, nem nas paredes do Covão do Ferro, nem no vale de Loriga, nem no Poio dos Cães...enfim...não se pode!
A proibição aplica-se também ao alpinismo, ou seja, onde poderemos se não nos locais citados praticar alpinismo em Portugal?
Acabaram por condenar à morte esta bonita actividade!
Nós os praticantes seremos...os fantasmas do PNSE!!! UUUUUUUUUUUU!!!
Daniela
Meus caros
Desde há muito que venho dizendo que já não vamos a lado nenhum com panos quentes e caldos de galinha.
Estamos a preparar uma acção de protesto,talvez em lisboa para evitar o lápis azul.
Por aqui a imprensa está completamente e descaradamente controlada.
Se alguém quiser juntar-se a nós,estamos abertos a sugestões.
Turismo de natureza?Qual?Com 4X4,gipes,motos,caça,foguetes e sei lá que mais.
Não.Basta.Pelo menos há que desmascarar esta gente.
mário
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