domingo, setembro 06, 2009

Picos da Europa — 5: Turismo de montanha

Arenas de Cabrales, a localidade onde fiquei alojado nos Picos da Europa, é uma pequena aldeia. Pareceu-me bem menor que Verdelhos, que a Bouça, muito menor que Linhares ou Folgosinho. No entanto, tem vários restaurantes, pensões, hotéis e o parque de campismo onde "estacionei". As aldeias das proximidades, ao longo da estrada Panes - Cangas de Onís, dispunham de igual variedade de estabelecimentos de hotelaria.

Os turistas ficam alojados nos povoamentos na orla do Parque Nacional dos Picos da Europa, e visitam o parque a pé (acedendo ao interior principalmente em transporte público, dados os condicionamentos ao tráfego que já referi), em bicicleta ou em carrinhas 4x4 concessionadas.

A principal atracção em Arenas (e uma das principais nos Picos da Europa) é a Ruta del Cares, um trilho pedestre com 12 km de extensão, entre os povoamentos de Poncebos e Caín (estes são realmente pequenos, não chegam a ser aldeias), a que já me referi várias vezes nesta série de posts. Deixem-me repetir: o principal chamariz turístico da zona de Arenas de Cabrales é um trilho pedestre com 12 km de comprimento.

Se fosse possível aceder às fantásticas paisagens da Ruta del Cares de automóvel, com certeza que a Ruta teria muitos mais visitantes. Mas teria também mais engarrafamentos, mais lixo, mais poluição, mais problemas e muito menos turistas ficariam hospedados em Arenas de Cabrales. Doze quilómetros a pé justificam uma paragem de um dia (ou melhor: quase que obrigam a uma paragem de um dia). Doze quilómetros de carro não justificam nada, não obrigam a nada.

Os Picos não são como a Estrela, nem pouco mais ou menos, já o disse. E, no entanto... Para dar um exemplo, um trilho pedestre entre Unhais da Serra e Manteigas teria um comprimento de cerca de dezassete quilómetros, ainda bem ao alcance de quase todos. As paisagens que de um tal trilho se poderiam admirar são soberbas e acredito que talvez assim conseguíssemos atrair muitos visitantes à serra. Mas nunca o saberemos. Nunca saberemos o impulso que um tal trilho poderia dar ao turismo em Manteigas e Unhais da Serra, porque o vale de Manteigas já tem (e no de Unhais será concluída mais tarde ou mais cedo) uma estrada de asfalto até à Nave de Santo António, a 1400 m de altitude e a caminho da Torre, *obviamente* imprescindível ao turismo, cujo único inconveniente, no parecer de quase todos, é ser demasiado sinuosa, demasiado estreita, demasiado... De montanha.

8 comentários:

Mario Carvalho disse...

na verdade a "desgraça" da sustentabilidade na RTSE é o facto de existir uma (para o caso 2) estradas para a Torre ;)

abraço

Mário Carvalho

ljma disse...

Bom dia, Mário Carvalho.
Pior ainda que isso é continuar bem vincada nas pessoas (em quase todas as pessoas) a ideia que é com mais estradas que se desenvolver o turismo. Foi com essa justificação que há dois ou três anos se asfaltou a estrada de S. Bento, entre a Portela do Arão e a Lagoa Comprida, é com essa justificação que se pretende concluir a asfaltação da estrada do Vale de Unhais (começada à uns dez a quinze anos), é com essa justificação que oa Junta de Freguesia de Cortes do Meio pretende asfaltar uma estrada para as Penhas da Saúde, é com essa justificação que em Manteigas se considera seriamente a abertura de uma nova estrada para a Nave de Santo António pela Serra de Baixo e/ou o alargamento da que já existe, é com essa justificação que se tenta "vender" há uns quinze anos uma nova estrada entre a Guarda e o maciço central, a que dão o nome de Estrada Verde.

Eu, cá por mim, o que já estragámos, já estragámos, paciência. Mas já chega. Mais estradas para turistas, não, entre outras razões porque não é isso que os turistas de montanha querem, não é isso que procuram.

Cumprimentos
José Amoreira

Anónimo disse...

Picos da europa,conheço,é lindo.
Nunca esquecerei o passeio que fiz,conheçi todo aquele parque natural,jamáis esquecerei a aldeia de potes,é linda,jamais esqueceirei os banhos que tomei nos seus ribeiros de agua cristalina,jamais esquecerei o lago enol.
Voltarei lá um dia, mas agora com os meus filhotes,
picos da europa,AMEI.

Anónimo disse...

Olá,

Venho de fresco dos Picos da Europa.
Cheguei há dias e ainda tenho tudo gravado na retina e com as emoções ainda a flor da pele de tão soberbas paisagens e habituais habitantes (falo das cabras) que pintalgam aqui e ali vastas cordilheiras a perder de vista, fabuloso. Não há descrição possível principalmente quando revejo as 400 fotos que tirei...

Foi realmente uma surpresa, porque nunca imaginei encontrar por lá tanta gente nesta altura do ano e principalmente o “assedio” que a ruta del cares tem. Achei magnífico ver todo os géneros de pessoas a fazê-la, posso mesmo dizer dos 8 aos 80.

Infelizmente por fazer ficaram centenas de rotas...

cumprimentos e até breve,

Patrícia

ljma disse...

Patrícia,
Também notei a diversidade de pessoas que encontrei na ruta del Cares a pé, ou na senda del Oso (ainda nas Astúrias, mas mais próximo do Oviedo, já fora dos Picos) a pé ou de bicicleta, nas canoas do rio Cares/Deva e Sella e ainda noutros trilhos que percorri.
Há de tudo: homens e mulheres, magros e gordos, crianças e velhos, pretos e brancos, rurais e urbanos, ricos e pobres.

Mas cá na serra da Estrela, parece-me que continuamos a achar que turistas são os que vêm de carro de manhã, brincam na neve algumas horas, e regressam a suas casas à tarde. Os que vêm passear a pé, admirar a paisagem e o ambiente, esses são ambientalistas, eco-fundamentalistas e, em geral, gente esquisita.

Saudações
José Amoreira

Anónimo disse...

Olá José!

Obrigada pelo seu Fedback. Infelizmente conheço essa parte turística da Serra da Estrela e penso que não fica só com o vir brincar na neve regressar a casa ao fim do dia. Falo principalmente quando trilho de covão em covão e vejo as pessoas a brincarem com as pedras que marcam os caminhos, partirem ramos das arvores para fazer churrascos e deixarem papel “íntimos” por detrás de tudo o que é rochas.

Revolta-me a falta de respeito, para não dizer ignorancia.

Cumprimentos,
Patrícia

G* disse...

Longa vida ao Cântaro, a bem da Serra da Estrela e, obviamente, da República :)
Saudações do Grémio*

Anónimo disse...

Acabo de,mais uma vez, chegar dos Picos da Europa.Costumo ir lá, em média, 2 vezes por ano.Desta vez foram 9 dias.Regresso sempre de lá com saudades renovadas.De facto, já lá fui mais de 20 vezes e ainda não me cansei.Digamos que, na minha opinião, os Picos são, na generalidade, aquilo que eu gostava de ver também em portugal, nomeadamente nas paisagens protegidas.Um tipo de turismo rural,auto-sustentado, essencialemnte pedestre e em que os próprios habitantes das aldeias, são os beneficiados.A regra é que sejam os próprios habitantes das aldeias os donos das casas de aluguer, assim como das lojas de recordações, ou restaurantes.Com a ajuda do governo autónomo.Algo que aqui não existe, obviamente.Não são empresários chicos-espertos da cidade, que compram aldeias inteiras e que,depois de restauradas, exploram, para engordar ainda mais as suas fortunas.Lá é bem diferente.Dá-me prazer alojar-me em casinhas e saber que estou a ajudar um morador simples de lá,em vez de contribuir para os do costume.Os Picos são, para mim, uma emoção.Ainda bem que posso ter o privilégio de os visitar.Ainda para mais, a preços bem mais acessíveis que o que possa existir por cá.
Desta vez passei também alguns dias no Parque Natural de Somiedo.A quem não conheça, trata-se de ouro parque natural nas Astúrias, ainda mais preservado que os Picos, de beleza igual ,ou superior e em que as aldeias são muito mais pequenas que as dos Picos.Basta vez que Pola de Somiedo, a capital,tem 145 habitantes...mas todas as condições para acolher condignamente quem queira visitar o parque.Que pena, por cá,ser tão diferente e eu não vislumbrar forma de caminharmos no mesmo sentido...

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!