quarta-feira, agosto 19, 2009

Picos da Europa — 2: que turistas queremos?

Aspecto da Ruta del Cares, vista desde o ponto mais alto, perto de Puente Poncebos. Note-se a quantidade de pessoas que nela caminham (algumas das quais, no entanto, pertencem ao meu grupo).

Nos dias que tive nos Picos percorri a Ruta del Cares a pé (28 km), desci em canoa o rio Cares entre as localidades de Panes e Unquera (12 km) , fiz a senda del Oso (perto de Oviedo) em bicicleta (44 km), dei um pequeno passeio a cavalo, joguei paintball com os miúdos, e desci a pé o canal del Texu (4~5 km).

Em todas estas actividades, cruzei-me com pessoas (montes de pessoas) de todos os tipos. Com montanheiros de pele curtida pelo sol e pelas intempéries, com escaladores atléticos, com casais mais para o velhote, com famílias com as suas crianças, com gente rica e menos rica, com espanhóis, portugueses e de outros lados. Havia neo-hippies e neo-punks, gente "normal" e malucos das tatuagens, betinhos e motards, rurais e hiper-urbanos, tudo. No parque de campismo (cuja "população" sofria uma considerável renovação todos os dias) encontrávamos fulanos que enrolavam cordas e discutiam, com gestos abertos e o calão do "metier", os passos chave das vias que tinham feito, crianças que jogavam com cubos de madeira, casais com cães e sem cães, campistas com computador, televisão e fogão de barbecue e campistas com tendas e material mínimos, próprios para bivaques de emergência em paredes expostas na montanha. Havia de tudo, portanto.

Por exemplo, o casal galego a que me referi no post anterior parecia saído de uma sessão de fotos para uma revista de moda e socialite. Ele de pólo, calça de sarja e mocassins, ela, elegante, com um vaporoso vestido castanho, com os longos cabelos loiros lavados e penteados, os dois abundantemente perfumados, jovens, ricos e belos. Tinham feito a Ruta del Cares a pé, vieram ao hotel lavar-se e estavam nas compras, antes do jantar.

Onde quero chegar é a que o pedestrianismo, o montanhismo, o contacto com a natureza, não são coisas só para freaks, para malucos das montanhas mais ou menos suicidas ou para "eco-fundamentalistas". São para todos. Por isso mesmo, se queremos desenvolver o turismo na serra, talvez seja bom começarmos a pensar em todos, e não apenas naqueles que mais não querem que passar algumas horas à beirinha dos seus carros, a escorregar na neve, nesses que chegam de manhã e partem à tarde, nesses para quem, nalguns (poucos) dias do ano, nem todas as estradas do mundo chegam.
E tomemos consciência de que é apenas nesses que pensamos quando planeamos (ainda) mais estradas asfaltadas para as zonas altas da serra.

1 comentário:

João disse...

Caro José,

Gostei muito deste post!

Abraço

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!