segunda-feira, julho 20, 2009

Da importância do ordenamento

«Jorge Patrão só espera que o projecto não venha a ter entraves por parte do parque natural da Serra da Estrela "esperamos uma atitude de colaboração e de parceria e não que venham invocar um plano de ordenamento que recentemente foi aprovado para emperrar alguns dos projectos que temos em marcha"»

Jorge Patrão, presidente do Turismo da Serra da Estrela, excerto retirado do blog Máfia da Cova.

Pouco importa qual o projecto a que Jorge Patrão se refere, ou se sim ou não o mencionado Plano de Ordenamento recentemente aprovado em Conselho de Ministros (mas creio que ainda não publicado no Diário da República) efectivamente o constrange(1). Esta frase diz tudo sobre a importância que no nosso país certas forças dão ao ordenamento do território.

Jorge Patrão é contumaz em (des)considerações deste teor. Em 2006(2), afirmava publicamente que "há diversos interessados em investir na Serra da Estrela e é importante que os projectos não esbarrem em impedimentos ambientais".
Podemos ir mais longe. Para além de planos de ordenamento e de outros impedimentos ambientais, porque é que os projectos (sejam quais forem, desde que "apadrinhados" por Jorge Patrão) hão-de esbarrar seja em que impedimentos for? Questiúnculas legais com a posse dos terrenos ou dos edifícios, com a legislação fiscal, com as leis de trabalho, com a livre concorrência? É afastá-las, *todas*, da senda do progresso do turismo na Serra da Estrela, tal como tem sido definido por Jorge Patrão (e outros) nas últimas dezenas de anos. Porque, como se vê, estamos no rumo certo, estamos de parabéns. O ordenamento que não se meta connosco. Que não comece agora a meter-se, pelo menos!

(1) Diga-se de passagem que não me parece que o plano de ordenamento do PNSE impeça a construção do teleférico (era a esse projecto que Jorge Patrão se referia). Mas não me compete a mim (nem a Jorge Patrão) fazer essa avaliação.
(2) Ver Público Edição Centro de 31 de Março de 2006, pág 60.

5 comentários:

trepadeira disse...

Já tinhamos ouvido a tal que as áreas protegidas não eram vacas sagradas e outras que tais.Tudo a incentivar a delapidação,a destruição sem razão racional,o desrespeito pela natureza e por eles próprios,depois de nos desrespeitarem a todos.Não aprenderam nada.Torraltas ,Matesas aqui ao lado,etc..
Tenho vários amigos que vêm à serra mais que uma vez por ano e,recusam-se a ficar alojados acima de Manteigas para não incentivar mais construções "hoteleiras e similares".
Desde que a torralta veio para a varanda,à procura de mais dinheiro dos incautos,que a serra não parou de ser delapidada.Os maus exemplos são sempre mais fáceis de seguir.
A serra nunca foi,não é,e,cada vez menos será um destino de neve.Sempre que se parte de permissas erradas só pode chegar-se a conclusões erradas.A serra também não é nem pode ser uma cópia do litoral.A serra só se desenvolverá respeitando-a,respeitando as suas especificidades,mais,chamando a atenção para elas.Quando se estragar por completo aquilo que a serra tem de particular não restará nada,nem para este turismo nem para outro.
A continuar por este caminho só restará um futuro para a Serra da Estrela,colocar,nas entradas,um enorme cartaz:Venham todos à Serra da Estrela ver o que se não deve fazer!Pode ser que atraia muitos turistas do absurdo.



mário martins
Post scriptum-Assim já ficará lá muito bem um comércio da China com enchidos regionais de restos de porco espanhol,mel da serra feito com xaropada e queijo da serra de xangai.

TPais disse...

O desprezo que estes srs mostram para com os principios basilares da igualdade e da democracia deveria ser por si só motivo de punição. Os planos de ordenamento, independentemente da area do país a que digam respeito são de elementar relevancia para sendo que as regras nele constante providenciam ferramentas para que se aja no sentido do bem comum e do interesse publico. A inobservancia e o desprezo por este tipo de instrumentos só mostra que tipo de interesses fomentam este tipo de declarações, o das minorias de elites. A representação de cargos publicos obriga a ponderar cuidadamente as declarações que são proferidas e estas, pelo Sr Jorge Patrão são inaceitaveis e deveriam ser alvo das devidas consequencias!
Abç

PS:No domingo fiz a via do Zimbro à frente, conheces?? Um bonito diedro no segundo lanço cuja via se inicia no sector Oeste inferior do Cantaro. É um mero V grau mas bastante tecnico! Vale a pena!

ljma disse...

"Quando se estragar por completo aquilo que a serra tem de particular não restará nada,nem para este turismo nem para outro"

Nem mais, trepadeira.

Tiago, é um *mero* V grau?! O V deve ser o meu grau favorito. Mais do que isso não consigo escalar a abrir. (Muitas com menos que isso também me deixam apeado à espera que alguém leve a corda lá acima...)
Penso que fiz essa via há uns três anos com pessoal cá da Covilhã. Eu ia a recolher o material, no fim da cordada. Se é a que penso, perto do final do segundo lanço, há uma fenda oblíqua, formada por uma placa sobreposta, que se pode aproveitar como presa de mão invertida, que se acompanha até mesmo quase ao final. Um dos nossos friends "migrou" fenda adentro até se tornar impossível recuperá-lo. Não consegui eu, nem o dono, que desceu para ver se o arrancava da parede... Lá ficou, creio que até hoje. Mas é natural que não o tenhas visto, que ele enfiou-se lá bem fundo...
Gostei muito desse *mero* V grau!

ⓡⓞⓣⓘⓥ disse...

Jorge Patrão no seu melhor!!! irraaaaaaaaaaaaaaaaaaa :/

João Pereira disse...

Eu nem quero imaginar o que passa pela cabeça de senhores como este Jorge Patrão e outros que tais, que falam em 'entraves' e 'impedimentos ambientais'. Os planos de ordenamento das áreas protegidas, assim como outros instrumentos de ordenamento do território, têm como objectivo exactamente ordenar o território para o bem da população e estimulando o desenvolvimento (ou pelo menos tentam...). Por isso este senhor, ao considerá-los 'entraves' e 'impedimentos', só pode querer fazer projectos para prejudicar a população local e estimular um desenvolvimento falso e insustentável.
Desde quando é que alguém considera o ordenamento do território e a lei 'entraves' e 'impedimentos', só aqueles que não a cumprem que infelizmente continuam progressivamente a destruir e destruir novamente a nossa serra. Realmente, com este 'desenvolvimento' daqui a pouco temos a serra cheia de estradas, lojas, centros comerciais, esgotos, casinos, 'aldeias de montanha' e cada vez menos neve e beleza natural.

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!