sábado, maio 23, 2009

Obviamente!

O suplemento Fugas do Público de hoje tem um longo artigo sobre pedestrianismo, da autoria do próprio director do diário(1). O título do artigo é "Só a pé descobrimos o melhor do mundo à nossa volta", coisa com a qual não podia concordar mais. Não só porque a pé se chega a locais sem acessos asfaltados(2), mas também porque se chega a eles com a sensibilidade de algum modo ativada, mais disponível para a fruição, mais atenta, mais aberta.

Mais à frente na mesma revista, aparece um «"Best of" dos caminhos do país». Desse "best of" constam montanhas como o Gerês, o Marvão ou a Gardunha, mas a Estrela não. Ainda num outro artigo sobre o mesmo tema, "Caminhar em família, com pés e cabeça", referem-se percursos no Gerês, na serra de Sintra ou na Arrábida, mas na Estrela não.

E porque será que a serra da Estrela está assim tão flagrantemente ausente desta pequena lista de destinos compilada pela revista Fugas? Vejamos, é que não estamos aqui a falar de turismo sol e mar, de turismo urbano, de turismo de golf, de turismo de alto luxo, de turismo de neve de Verão, de turismo exótico, ou de outros segmentos onde não esperamos ver a nossa serra elencada. Estamos a falar de pedestrianismo, uma componente maior do turismo de montanha, e nesta lista não aparece a maior montanha de Portugal (não é a maior em altura, mas diria que o é em extensão)?! Porquê?!

Obviamente, porque apesar de se ter asfaltado a estrada de terra que existia entre a Portela de Arão e a Lagoa Comprida, a estrada de terra entre a Sra. do Desterro e o Coxaril, a estrada entre Manteigas e o Poço do Inferno e muitas outras, ainda não se concluiu a asfaltação da estrada entre Unhais da Serra e a Nave de Santo António, não se concluiu a estrada de Alvoco da Serra para a Torre, ainda não se começou a estrada de Cortes do Meio para as Penhas da Saúde e falta ainda a estrada dita Verde, entre a Guarda e o Maciço Central. Como é que se há-de desenvolver o turismo de montanha, e o pedestrianismo em particular, sem todo este asfalto?

Temos que continuar o esforço asfaltante dos últimos quarenta anos, porque estamos no rumo certo, no rumo de sempre. Estamos de parabéns!

(1) Refiro que o autor deste artigo é o director do Público porque se trata de um exemplo de como o pedestrianismo já não é (se é que alguma vez foi) uma actividade reservada a montanhistas, maluquinhos do ambiente, neo-hippies, pobretanas ou, mais em geral, gente esquisita.
(2) Aqui na serra da Estrela, esses locais estão na linha da frente das "legítimas aspirações das populações", pelo que são o objecto de "sonhos antigos", de "promessas de longa data" e de "projectos com dezenas de anos". Discussões sobre acessos asfaltados para muitos desses locais vão, por isso, aparecendo na ordem do dia. Como sempre se afirma, é para desenvolver o turismo. Isto percebe-se?!

1 comentário:

A Oliveira disse...

É natural que o Director do "Público" JMF não tivesse mencionado a Serra da Estrela.
O livro que é vendido com o "Público" por 4 Euros também não é referida a Serra da Estrela.
O autor, Carlos Alberto Cupeto,no capítulo do "Centro a Pé" refere entre outras:
Viseu -S. pedro do Sul
Idanha- a- Nova
Fundão Gardunha
Barroca - Janeiro de Cima, Fundão
Rota da Cereja, Fundão
Não é só ignorância ... isto custa ... não digo.
A. Oliveira

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!