Excerto da página 5 do Diário XXI de ontem, dia 17. Clique para aumentar.
Li ontem no Diário XXI a notícia da figura que ilustra este post (clique na imagem para a aumentar). Da sua leitura ficamos a saber que a Junta de Freguesia de Fernão Joanes, no concelho da Guarda, pretende limpar, sinalizar, documentar e divulgar as antigas canadas do pastoreio para dinamizar o turismo de natureza na freguesia.
Neste post do Blog Cortes do Meio, lemos que o presidente da Junta de Freguesia de Cortes do Meio (Covilhã) entende como fundamental para o desenvolvimento do turismo a asfaltação de uma estrada para as Penhas da Saúde, para o que, assim se pode ler, já tem orçamento, parecer positivo do Parque Natural e apoio da Câmara Municipal, faltando apenas o financiamento.
Alguns contrastes:
- Os de Fernão Joanes tomaram o assunto em mãos e estão a po-lo em pé; os das Cortes do Meio fizeram uns estudos, conseguiram (assim o dizem) uns pareceres e estão a exigir à câmara ou ao estado o financiamento.
- Se a coisa correr bem aos de Fernão Joanes, terão lá turistas, que visitarão a freguesia, deixarão o carro e caminharão pelas canadas durante algumas horas, muito possivelmente considerarão lá comer ou até (se houver ou aparecer oferta para tal) pernoitar; os de Cortes do Meio, se lhes correr bem o projecto, ficarão a ver passar os carros para as Penhas da Saúde e daí para a Torre.
- Se correr mal o projecto aos de Fernão Joanes, paciência, mas não se desperdiçou muito dinheiro e ao menos o fracasso não deixa encargos permanentes para a junta, a câmara ou o estado; se correr mal o projecto aos de Cortes do Meio, terão o asfalto mas não terão os desejados carros. Apesar disso, a Junta de Freguesia, a Câmara ou a Estradas de Portugal terão que manter a estrada, proceder periodicamente a reparações, será necessário limpar-lhe a neve no Inverno, terá que ter vigilância da GNR, pelo menos quando for necessário condicionar o trânsito. Tudo isso terá que ser pago, apesar de, de acordo com a hipótese que estamos a considerar, o projecto ter sido um dispendioso e inútil disparate.
- Os de Fernão Joanes estão a apostar num produto relativamente inexplorado na nossa região, mas que é o normal turismo de montanha nas restantes montanhas da Europa; os de Cortes do Meio estão a apostar naquilo em que temos apostado desde sempre cá na serra: asfalto, voltinhas dos tristes, enchentes naqueles dias de Inverno.
- Os de Fernão Joanes estão, de facto, a apostar no turismo; os de Cortes do Meio estão a apostar em quê?
Adenda: As duas freguesias serão governadas pelo PS, pelo PSD, uma por um a outra pelo outro, uma ou ambas por outros partidos. Não sei nem me interessa.
8 comentários:
Parabéns por este excelente poste. Merece bem uma referência! Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Obrigado, Otávio. Essas referências no Ondas são sempre uma grande honra para nós.
Abraço
José Amoreira
Espero que outras freguesias sigam o exemplo da de Fernão Joanes. Os meus avós nasceram lá e já tenho mais uma razão para me orgulhar daquela aldeia. A de Cortes do Meio, coitada... devem ser muito amigos do presidente da câmara da Covilhã, gente que ainda não teve a capacidade de entender aquilo que é bom para a sua terra. Mais estradas para a Torre não acho que seja o melhor.... mas enfim, às vezes parece que até querem destruir a beleza natural da serra a todo o custo.
Há gostos para tudo (no caso das Cortes do Meio, muito infelizmente).
É só pena que seja uma acção isolada e não esteja integrada num plano mais abrangente como seria uma rede bem desenvolvida de percursos pedestres. Temos uma serra que é um todo, e poucas vezes (ou nunca) se vêm projectos transversais e estruturados entre os vários municípios.
Há uns tempos li que a câmara de Manteigas quer implementar 200 km de percursos pedestres (penso que era assim). Só não li como é essa rede se vai relacionar com o resto da Serra. Parece que temos a "Serra de Manteigas", a "Serra de Seia", a "Serra de Gouveia", a "Serra da Guarda" e não uma e única Serra da Estrela.
No entanto, é de louvar a acção da junta de Fernão Joanes
Caro José,
excelente dissertação. Merece uma referência no Blog Cortes do Meio. Parabéns.
João Pedro, também espero que outras juntas de freguesia e câmaras sigam o exemplo de Fernão Joanes. No caso do concelho da Covilhã, não tenho grandes esperanças...
Caro anónimo, concordo consigo. Era bom que se pudesse definir um projecto global. Por outro lado, a incapacidade das autarquias (e das restantes "capelinhas", em geral) em se entenderem tem sido o que tem atrasado projectos completamente aberrantes, como por exemplo a estrada dita verde, entre a Guarda e o maciço central. Não se entendem para o bem e é pena, mas ao menos também não se entendem para o mal. (Nem sempre, pelo menos.)
Johnny, obrigado pelo cumprimento. Tenho a certeza de que a minha opinião desagradará a muitos cortesdomeienses (é assim que se diz?). Não pretendi atacar especificamente Cortes do Meio, até porque já aqui manifestei a mesma opinião a propósito da estarda dita verde, da estrada de S. Bento e da estrada Unhais-Nave. O que quis foi questionar esta opção da actual Junta de Freguesia, que me parece antiquada, desajustada, que não trará progresso nenhum nem desenvolvimento do turismo, assim como não os trouxe a estrada de S. Romão ou a de S. Bento. E desfearão ainda mais serra, prejudicando por essa via as potencialidades turísticas de Cortes do Meio. Se é turismo que pretendem, esforcem-se por atrair os turistas, esforcem-se por os fazerem sair do carro, mostrem-lhes algo que eles queiram ver, em vez de exigirem fundos e mundos só para facilitarem o seu trânsito para a Torre.
Saudações!
José amoreira
concordo plenamente com a dissertação, levantou questões que nunca se me tinham colocado, nomeadamente com o risco muito grande de a estrada de Cortes do Meio para as Penhas ser um rotundo fiasco.
merece uma referencia no blog ps cortes do meio.
há e já agora diz-se Cortenses
Anónimo, começando pelo fim, obrigado pelo esclarecimento quanto à designação dada aos habitantes de Cortes do Meio.
Fico muito honrado pelo valor que atribui a este texto e por ter entendido difundi-lo no blog ps cortes do meio. No entanto, como dei a entender no final do post, não me parece que as causas ambientais sejam património específico de qualquer dos partidos (muito menos dos dois partidos que, na maioria das autarquias e no governo, nos tem governado, mais mal que bem na minha opinião). Há bons e maus exemplos em todos os partidos e por isso tenho considerado essa questão da filiação partidária completamente irrelevante.
Mas acho muito bem que se usem causas ambientais (como se usam as políticas, as económicas e as sociais) nas campanhas eleitorais. Faça o favor, portanto!
Fiquei contente por, como disse, tê-lo alertado para a possibilidade da estrada Cortes-Penhas ser um fiasco. Parece-me que é uma possibilidade muito provável, pois duvido que quem vem de longe (venha de onde vier) a vá aproveitar. Mas gostaria que considerasse também a possibilidade, muito mais improvável a meu ver, de a estrada ser um sucesso. As Cortes do Meio ficarão a ver passar os turistas para a Torre, nestes fins de semana de Inverno. É certo que alguns pararão para comprar um queijo da serra (cuja área demarcada de produção é a encosta noroeste da serra, não é a nossa) ou uma peça de "artesanato", como fazem no Sabugueiro mas, mais do que isso, oquê? Será somente a isto que se pode almejar em termos do desenvolvimento turístico em Cortes do Meio?! Eu acho que não. E acho ainda que a estrada agora exigida será prejudicial para apostas turísticas mais ambiciosas do que esta de ficar a ver os turistas passar.
Mais uma vez muito obrigado pelas suas palavras. Saudações!
José Amoreira
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