sexta-feira, janeiro 09, 2009

"As estradas são poucas"

A ideia de que há poucas estradas na serra da Estrela, e sobretudo a ideia de que são necesárias mais para desenvolver o turismo, continuam muito vivas e estão muito espalhadas na nossa região. [Diga-se de passagem, esta constatação foi das coisas que mais me espantou quando comecei a discutir mais aprofundadamente (ou assim o tentei, pelo menos) os problemas da serra da Estrela, no blog do programa PETUR.]

Há dias questionei em que sentido se podia afirmar que as estradas na serra da Estrela são poucas, pegando nas palavras de um editorial do Diário XXI. Disse que não achava que fossem poucas, antes pelo contrário, e que me parecia que na maioria das montanhas da Europa as estradas ficam principalmente pelos vales, fazendo da Estrela um caso especial. Penso que poucos discordam de que a estrada pelo cume é, de facto, uma originalidade particularíssima da nossa serra.

Hoje vou colocar uma hipótese adicional que ainda não verifiquei cuidadosamente: a de que há mais estradas de atravessamento na Estrela do que na maioria das montanhas europeias de dimensão comparável ou superior. Aviso desde já que duvido que me lance numa pesquisa muito exaustiva deste assunto. Fica só a hipótese, cada um que a considere como entender e que me faça chegar, por favor, as conclusões que tirar.

Um exemplo que apoia a minha hipótese? A Sierra de Béjar, para não ir mais longe. Comparem-se as duas imagens que ilustram este post. Clique nas imagens para abrir as páginas do maps.google das respectivas áreas, nas quais poderá fazer zoom para aumentar o detalhe como entender. É preciso dizer mais alguma coisa?

A Sierra de Bejár corresponde mais ou menos à área definida pelo triângulo Plasencia - Bejár - El Barco de Ávila. Clique no mapa para abrir o google.maps na área. (Atenção que a linha a tracejado é uma fronteira administrativa, não uma estrada.)

Serra da Estrela. Clique no mapa para abrir o google.maps na área.

2 comentários:

João Pereira disse...

Esta questão dos transportes é muito confusa. Já estive a ler os comentários no Blog da PETUR e que grande confusão!!
Eu estou contra o que se está a fazer na serra.
Como é que é possível não entender isto, qual é a dificuldade?: a Serra da Estrela, se a querem guardar e torná-la rentável, pare-se o que se está a fazer e organize-se o que está feito. A Serra é lindíssima, muito degradada ao mesmo tempo, e é exactamente por isso que não disfruta de um estatuto como o de Parque Nacional (não tem habitats intocados pelo Homem) ou não é 'comparável aos Alpes e Pirinéus'.
Os desportos de Inverno são uma actividade importante, mas NÃO A MAIS IMPORTANTE. Devem-se promover, mas NÃO NO ALTO DA SERRA.
Depois, há demasiada gente na Serra: para haver menos condicione-se o acesso (não se substitua por teleféricos): criar parques de estacionamento maiores não é a solução (traria mais gente), conserve-se os que existem, transforme-se as estradas do maciço Central em vias pedestres e cicláveis, crie-se mais infraestruturas de qualidade do Parque Natural; condicione-se numericamente as pessoas nesta zona.
O PARQUE NATURAL precisa de funcionar melhor: Conservar boas iniciativas como o CISE, ser mais activo, colocar mais painéis, divulgar mais percursos, criar mais oferta de alojamento.
FAVORECER AS POPULAÇÕES LOCAIS: recuperar os acessos ás povoações da Serra e a locais de povoamento esparso como os Casais de Folgosinho ou a Bouça (estas últimas estradas não são para aproveitamento turístico, mas sim para os habitantes e agricultores).
Promover a recuperação de aldeias de montanha e a eliminação de grande parte das vendas que existem no Sabugueiro ou na Lagoa Comprida.
FAVORECER O VERDADEIRO TURISMO DE NATUREZA: se hotéis, como o de Unhais, forem feitos respeitando a Serra e o seu ambiente, são uma excelente iniciativa.
A ESTRADA VERDE (um crime dar-lhe este nome), AS LIGAÇÕES DE VIDE À LAGOA COMPRIDA, DAS PENHAS DA SAÚDE A CORTES DO MEIO, DO POÇO DO INFERNO A BEIJAMES, DE UNHAIS À NAVE DE SANTO ANTÓNIO são completamente DESNECESSÁRIAS. Não é assim que se organiza a serra. Os hóspedes do hotel de Unhais deveriam poder ter o privilégio de realizar, mesmo durante o Inverno, o percurso a pé ou de BTT até à Nave, onde poderiam apanhar um transporte público, desfrutando assim da riqueza do Vale do Alforfa plenamente. Na Torre poderiam realizar esqui de modo algo livre, sem ter pistas cheias de vedações e postes a dizer 'Vodafone'. Quem quisesse esquiar perto, ofereceria-se zona de treino de ski nos Piornos ou na encosta pouco acima de Unhais.
No Verão, teriam uma oferta variadíssima de actividades na Serra da Estrela, quer nas estradas convertidas a pistas pedestres quer em trilhos organizados pelo interior do Planalto Superior; quer na vizinha Serra do Açor, quer canoagem na Lagoa do Viriato, quer parapente e muitas outras actividades nos vales.

Assim devia ser a nossa Serra

ljma disse...

A questão dos transportes devia ser simples: o mais rápidos e cómodos possível para as ligações ao exterior e às sedes de concelho, ou seja, para a mobilidade dos habitantes. Para os turistas quanto menos, melhor (ou quase). Para o coração da serra, o melhor era mesmo nada. Ia-se a pé ou a cavalo, como nas outras montanhas (e se haveria gente disposta a pagar por isso, como se paga nas outras montanhas).

Isso era como devia ser. Mas não é assim, e não adianta estar a sonhar. Agora, pede-se é que não se agrave ainda mais a nossa triste realidade. Mais alcatrão em nome do turismo não, porque desse turismo já temos que chegue e que sobre.

Obrigado João, vai aparecendo!

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!