sexta-feira, setembro 14, 2007

O reverso da medalha

O Cântaro Zangado já muitas vezes deixou expressa a sua simpatia pelo Parque Natural da Serra da Estrela. Já aqui demos graças ao PNSE por algumas medidas de protecção ambiental. Ficamos contentes com a existência do Parque e gostaríamos de o ver ainda mais no terreno, junto da natureza e também das populações. Fazemos frequentemente votos para que o Parque aprofunde a sua acção e que tenha grandes sucessos na sua actividade.

Mas também devemos dizer que já ouvimos histórias arrepiantes, de funcionamento burocrático, de comportamentos revelando tiques de funcionáriozinho por parte dos serviços do parque, o leitor sabe, aquelas desculpas esfarrapadas, repetidas dia após dia, semanas a fio: "esse assunto não é comigo, é com o meu colega", "o sr. engº/arqº/dr (títulos com que não pretendo especificar ninguém em concreto) não se encontra de momento e não sei quando estará", etc.

Trata-se de exageros, ou de histórias distorcidas por quem quer puxar a brasa à sua sardinha mesmo que à custa da sardinha dos demais (ou da sardinha do ambiente), isto é, de casos em que a oposição do parque corresponde ao real e justo cumprimento do seu dever? Quase de certeza, em muitos casos. Mas são histórias muito, muito, recorrentes.

A acção do Parque é muitas vezes (quase sempre?) sentida pelas populações como uma enorme complicação burocrática, desnecessária, antipática, sem outro objectivo aparente que não o de atrasar a vida ao pobre cidadão que depende de um parecer ou de uma autorização dos seus serviços.

É claro que deve haver normas arquitectónicas rígidas para a construção nas povoações e aldeamentos no interior ou na orla do Parque. É admissível que seja o Parque a impô-las. Mas como compreender (situações fictícias mas verosímeis, com personagens fictícias mas verosímeis) que o Ti Joaquim tenha problemas por pretender colocar um telheiro de madeira na fachada da casa onde já mora desde antes da criação do PNSE, ou que a Srª Dª Fernanda, tendo o parecer favorável dos serviços de urbanismo da câmara municipal do concelho onde vive, não possa ampliar a sua casa em mais duas divisões, sobretudo quando, ao mesmo tempo, são aparentemente autorizadas, aparentemente sem chatices, as construções ou "melhoramentos" que ilustram este post?

2 comentários:

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Pois é, José! Esse é que é "o problema".

É assim na Serra da Estrela como noutras (supostas) Áreas Protegidas do nosso país. No Sudoeste Alentejano é a mesma coisa: uma pessoa não pode acrescentar uma simples divisão à sua modesta casa...mas depois permite-se que se arrasem encostas com bulldozers para "eucaliptizar" tudo a eito. Mas em termos de construir, quando se tem dinheiro, já é outra história...e a Ria Formosa está cheia de exemplos.

E o que dizer do que foi feito às gentes da Malcata, com esta "jogada de secretaria" de levar o centro de reprodução do lince para Silves, para ver se os "ambientalistas" e "Bruxelas" lá "engolem" a barragem de Odelouca!?!

E depois querem que as pessoas confiem no Estado e na conservação da Natureza!...Brincalhões.

ljma disse...

É nas arbitrariedades da administração e na forma como se usam cargos públicos para se conseguirem benesses privadas que eu noto os principais sinais do nosso terceiromundismo.

Abraços!
José Amoreira

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!