Baqueira é uma localidade artificial. Uma "mini-cidade" ou "aldeia de montanha", usando as designações inventadas na Câmara Municipal da Covilhã para as Penhas da Saúde. Refiro-me, com a expressão "localidade artificial", a um aldeamento onde não moram pessoas permanentemente em número significativo, que existe apenas em função do turismo. Há quarenta anos haveria naquele lugar, quando muito, umas quintas e, eventualmente, duas ou três residências de férias, de acordo com o que pude observar numa fotografia de 1968, afixada no átrio do hotel onde fiquei hospedado. Os hotéis mais antigos de Baqueira (dos anos setenta, parece-me) são mamarrachos horríveis, prédios com cinco andares sem eira nem beira.
Mas Baqueira não se reduz a esses hotéis. As novas construções (em Baqueira como no resto do Vale de Aran, nas localidades [estas "reais"] de Salardú, Arties, Unha, etc.) seguem todas um modelo arquitectónico muito bem definido, ao ponto de parecerem todas quase iguais. Todas as construções seguem uma traça muito próxima das construções tradicionais do Vale de Aran: casas baixas (dois ou três andares no máximo, de pedra à vista, com telhados inclinados de lousa, portadas exteriores de madeira escura nas janelas). A figura com que ilustro este post mostra duas fotografias de Salardú, "pescadas" algures na internet. No ano passado pude verificar uma semelhante uniformidade arquitectónica no Formigal (mas aí com menos preocupações de respeito pelos padrões tradicionais).
A construção nestas duas estâncias espanholas é permitida, é até excessiva (quanto a mim), mas nota-se que os arquitectos não têm liberdade para desenharem o que quiserem. Não me agradam estas urbanizações mas a verdade é que não se vêm lá chalés nórdicos, estalagens da cor do vinho (como a da Varanda dos Carqueijais) ou condomínios modernaços como os recentemente construídos nas Penhas da Saúde, que mostrei aqui. A imposição de uma norma traduz-se nalguma harmonia do enquadramento dos edifícios na paisagem urbanizada e também, em menor medida, na paisagem semi-natural do vale. Coisas que, gritantemente, faltam nas Penhas da Saúde.
Penso que a palavra adequada para designar estas limitações à liberdade criativa dos construtores é "ordenamento". Poderão ser maiores ou menores essas restrições mas, deixemo-nos de tretas: faz algum sentido falar de ordenamento urbano ou de requalificação urbana sem elas?
2 comentários:
Segui o link ao Blog de Loriga, aqui disponibilizado n"O Cântaro..." e, correndo alguns posts daquele blog, deparo-me com este parágrafo, publicado a 5 de Abril2007:
"Este era o aspecto das Pista de sky de Loriga hoje de manhã, a Junta de Loriga recebe por mês 166,66 euros pela ocupação de vastos hectares de terreno. Já vai sendo tempo de rectificar ou reavaliar a vergonhosa renda!!"
166,66 euros!
Ora bem! Prezada Junta de Loriga! Aqui o que subscreve estas linhas, mesmo não sendo magnata nem nada que se pareça, está disposto a sacrificar dos seu bolso, 167 euros pelo próximo mês de temporada "da neve", mesmo sem "ocupação de vastos hectares" - Vá lá! 168 euros, oferta final!... e não se fala mais nisso! Hum?!
Julgo que não será difícil que pelos minoritários interessados em proteger a serra se arranje o montante para cada um ou dois beneméritos assegurarem mais um mês de "temporada da Neve" sem bizarrias...
(166,66€! hehehe!)
fpereira, tive uma ideia parecida, enquanto redigia o artigo "Notas de férias (I)"... Depois não a aproveitei, porque aquilo já estava comprido demais!
Mas concordo inteiramente: (166,66€! hehehe!)
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