segunda-feira, dezembro 18, 2006

E, note-se bem...

... Que quando falo da Ruta del Cares é de turismo de massas que estou a falar, não de meia dúzia de montanhistas (que, nos Picos da Europa, são muitos mais). Não, a ruta del Cares pode ser (e é) percorrida por famílias com crianças pequenas, por pessoal sem experiência, sem equipamento especializado e sem grandes ambições montanheiras! Os montanhistas mais empenhados fazem travessias bem diferentes e mais prolongadas, pernoitando em abrigos de montanha, que os há (cerca de uma dezena) espalhados pelas cotas altas (sem estradas asfaltadas a servi-los, bem entendido).
Abrigos de montanha... Mais outra possibilidade que não tem a mais pequena sombra de viabilidade na Serra da Estrela, com todas as estradas alcatroadas que já existem mais as que se planeiam...

3 comentários:

Anónimo disse...

É de partir o coração de revolta ver o "que somos" e o que "podiamos ser". Devido à falta de cultura, de horizontes, de literacia e de matarruanice que existe em grande parte da população (e não estou a falar apenas do mundo rural) portuguesa o nosso pais é presa fácil de "patos bravos". Que o maior número possivél de pessoas leia o blog para abrirem os olhos e pensarem no tipo de desenvolvimento que pretendem.

Ricardo

Anónimo disse...

Tudo seria bem diferente se por cada quilómetro de asfalto se construísse o equivalente em ciclovias.
Muito pelo contrário.
Por vezes, como aconteceu em Alvoco da Serra, ao repavimentarem as estradas, ainda as privam dos passeios ou bermas que antes tinham e que eram um regalo para os namorados na tradicional volta à estrada, desfrutando da belíssima panorâmica de Alvoco à noite, a lembrar um presépio incrustado na montanha.
Face a estes e outros atentados pergunto-me onde está a sensibilidade dos técnicos das estradas responsáveis por estas aberrações e dos Centros de Interpretação que não põem cobro a esta mania de "pôrem os carros à frente dos humanos".
Mais atinados foram os seus antecessores que, ao construirem a ponte do Coche-Maria, a dotaram de passeios e sacadas com bancos de pedra que, pelos vistos, hoje, no entender dos técnicos, deixam de fazer sentido porque a estrada, em seu entender, é só para os popós.
Em contraste com tudo isto, vemos os pastores da vizinha Espanha a invadirem as ruas da capital com milhares de cabeças de gado caprino e ovino para reivindicarem a restituição e conservação dos caminhos da pastorícia.
Festejar o 1º. de Dezembro para quê?

ljma disse...

Ricardo, eu também tenho a impressão de que estamos como estamos porque o permitimos, ou seja, porque o merecemos. Todos, os rurais e os urbanos. Obrigado pelo cumprimento subentendido!

Anónimo, concordo inteiramente consigo. É assim que me considero ambientalista. O ambiente não é (só) para a lagartixa de montanha, para o lince ibérico ou seja já para que bicharocos e florinhas for, o ambiente é para nós. Para passearmos, para namorarmos, para vivermos num espaço aprazível. É terrível a forma como as cidades portuguesas têm crescido porque nelas parece não haver lugar para pessoas, mas apenas para carros. As localidades não são pensadas como sítios onde deve valer a pena viver, mas sim como locais onde trabalhadores e consumidores devem cumprir a sua função (ou servidão) no grande esquema liberal das coisas. Por isso, claro que defendo ciclovias (e não nos venham dizer que as nossas localidades montanhosas não são adequadas para andar de bicicleta, quem o diz é quem nunca andaria de bicicleta, mesmo que apenas tivesse que o fazer em descidas! As nossas cidades são impróprias para as bicicletas por causa dos carros por todo o lado e da falta de vias alternativas seguras para quem não usa veículos com motor), claro que defendo passeios, e vias aprazíveis à volta das localidades.

Mas atenção. Também para o usufruto das pessoas, devem manter-se espaços mais selvagens. Assim, oponho-me a que se tracem ciclovias no maciço central, por exemplo. Já há picadas suficientes para passear e pedalar pela serra, não são precisas mais. Os jardins e espaços verdes urbanos ou da periferia das localidades, que usávamos para namorar ou para passear ao serão depois do jantar (que saudades!) são bonitos e necessários, claro, mas os espaços mais naturais é que são a "coisa a sério" e devem ser mantidos como tal. Mesmo nos casos em que essa manutenção implique actividades humanas como a pastorícia.

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!