quinta-feira, dezembro 21, 2006

€100.000.000,00!

Poios Brancos em primeiro plano. Ao fundo, no lado esquerdo, uma pequena mancha clara (de neve): é a Sierra de Gredos.
100 milhões de investimento para a Estrela! Que bom! Finalmente o governo resolveu apostar no turismo regional. No que diz respeito à Serra da Estrela propriamente dita, com certeza esta verba será destinada a apoiar o turismo rural e de natureza, a beneficiação arquitectónica das aldeias, o desenvolvimento de pequenas empresas de turismo desportivo e de descoberta nelas sedeadas, uma verdadeira requalificação da área da Torre, com limpeza do sítio e demolição dos mamarrachos...
Não? Ai é para as telecabines? Com os seus parques de estacionamento? E o Instituto de Conservação da Natureza deu o aval? Ou seja, já existe projecto? Ou será que só há, por enquanto, o financiamento? Ai o dinheiro é para o "aprés ski" nas Penhas da Saúde? Com o seu futuro casino, os seus futuros barzinhos, as suas futuras discotecas, os seus futuros centros comerciais?
Ou seja, o dinheiro é para reforçar e revitalizar a aposta dos últimos trinta anos, que tem dado o que se vê. Mais, o dinheiro é para fazer teleféricos, um dos quais já foi tentado, chegou a ser construído e, sem nunca ter funcionado, foi recentemente desmontado. E tudo isto é apresentado como festejável, tudo isto é apresentado como razoável! No que se refere especificamente à montanha, o dinheiro parece ir todinho para os projectos da Turistrela, para facilitar o acesso dos clientes da Turistrela, para aumentar a oferta de alojamento da Turistrela. Sou só eu que acho isto discutível?!
Francamente, não sei. Cresci a passear, a escalar, a esquiar e a sonhar aventuras na Serra da Estrela. Suspeito que, para os meus filhos, terá que ser a Serra de Gredos a desempenhar este papel.

Reality check: na Covilhã há centros comerciais, bem perto do centro da cidade, às moscas. Nas Penhas da Saúde há três cafés que estão às moscas quase todos os dias. Na Ilha de São Miguel, nos Açores, na Vista do Rei (um sítio lindíssimo), há um grande hotel, destes resultantes de grandes apostas do estado, um "projecto âncora", como diz Jorge Patrão. Está encerrado. Que garantias temos que não venha a acontecer o mesmo aqui?

Jogo de palavras: Aprés-ski quer dizer, literalmente, "depois do esqui". O que faremos nós com tudo isto, quando o esqui na Serra da Estrela acabar?

4 comentários:

Anónimo disse...

Quando se acabar a neve logo se vê, pensam eles.

Talvez um autodromo na Nave de Stº António, em que a Rampa da Serra da Estrela funcionará como "âncora" ou "bóia de salvamento"(estas palavras estão agora na moda) do turimo de qualidade, do turismo de referência, do turismo de excelência (só se for para alguns).

O problema é que o significado actual destas duas palavras, para nós, não significa nada de bom...

Bom Natal Cântaro "Arreliado"

Cova Juliana disse...

Acho piada ao termo "projecto âncora".

Sempre associei o termo âncora, aquela peça que os barcos têm que deitam para o meio da água.

Vendo os projectos que serão contemplados para a Serra da Estrela, que abrangem apenas telecadeiras, teleféricos, equipamentos aprés ski, tudo relacionado com a neve, apetece-me perguntar: e se a neve, tal como está a acontecer este ano, começar a nao aparecer?!

Talvez o termo âncora seja entao o indicado... lá se estão a atirar mais uns milhões por água abaixo!...

...milhões de todos nós!

Anónimo disse...

Mais um post totalmente pertinente e repleto do mais elementar bom senso (será tão dificil educar a população?). Acho que já disse isto e peço desculpa se me repito, mas adorava ver o cântaro ou melhor as opiniões/reflexões nele divulgadas espalhadas aos quatro ventos. Convidar a SiC, TVI e RTP a fazer uma peça jornalistica, ter um praça pública e um prós e contras sobre a serra, colocar "paineleiros" como a quadratura do circulo ou o sousa tavares e marcelos a comentar o caso, confrontar em directo os promotores de "âncoras" e deitar por terra os seus ridiculos argumentos. Enfim espero que tal suceda e o mais depressa possivél para bem de portugal e dos portugueses que veriam destruida uma parte importante da sua alma colectiva "a serra da estrela". Que gostaria que voltasse a ser natural e inigmática, dos pastores e seus rebanhos, do cão da serra e dos lobos, das nevadas (sem ski obviamente:), dos herminios montes de viriato, das aldeias de pedra granitica e outras tantas estórias que perduram no imaginário colectivo mas que eventualmente desaparecerão se o rumo actual das coisas se mantiver.
Desejos de bom natal e de um optimo trabalho no faço questão de visitar quase diariamente).
Ricardo Cardeira

ljma disse...

Ricardo, reconhece que já se fizeram alguns progressos desde a primeira vez que fizeste esta sugestão... Temos que ir dando passos seguros, mesmo que o progresso seja lento. Tenho medo que seja lento demais. Mas tenho ainda mais medo de voar demaisado alto e deitar tudo a perder. Continuo a achar que é preciso ganhar massa crítica. E ela está a juntar-se, não pelo esforço do Cântaro Zangado (enfim, talvez dê uma ajuda) mas pelo trabalho que se está a fazer na Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela e de outras entidades.
Boas Festas!

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!