Há tempos, falei aqui na irrelevância dos requerimentos que os deputados regionais do PS apresentaram ao governo sobre a Serra da Estrela, um pedindo cobertura total de rede de telemóveis, o outro pedindo melhores condições de segurança. Esta semana, o jornal "Notícias da Covilhã" (o url é
http://www.noticiasdacovilha.pt, mas parece-me que não têm actualizado a versão on-line... Desde 10 de Maio!) informa-nos que o segundo destes requerimentos teve resposta! De acordo com palavras de Telma Madaleno (que integrava o grupo dos requerentes), o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações comunicou aos senhores deputados de que "está em curso a instalação de novos `rails´ de protecção nas bermas ao longo de 23 quilómetros de estradas da Serra".
Dois comentários:
- um requerimento apresentado em Junho ou Julho tem efeitos no terreno em Setembro?! Ou seja, nestes três meses (um dos quais é o que se sabe...), decidiu-se a intervenção, obtiveram-se todas as autorizações dos serviços do ministério, eventualmente também do Tribunal de Contas, cabimentou-se a verba, fizeram-se as aquisições necessárias e iniciou-se a obra?! Caramba! Ou será que a obra já estava decidida (e iniciada), muito antes de os senhores deputados terem apresentado o seu relevantíssimo requerimento?
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queria dar a esta questão do aumento da segurança pela colocação dos rails uma outra perspectiva. Não duvido que esta intervenção aumente a segurança para a circulação de automóveis. Agora, imagine-se a caminhar pela berma que ilustro na fotografia... Acredite, é assustador, é objectivamente perigoso.
Já sabemos que, nas cidades, os automóveis têm especiais direitos de cidadania. Nenhum órgão autárquico ou governamental deliberou oficialmente nesse sentido, mas é um facto inegável, que se verifica no modo como as cidades se organizam e em como se "planeia" o seu crescimento. Em parte, a Serra agrada-me porque nela ainda tenho, como pessoa, alguns previlégios face aos automóveis. Imagino que argumentos como este estejam por trás das motivações que levam as pessoas à Serra (fuga ao stress, busca de sossego, etc.). Com a instalação de rails metálicos, com a abertura de novas estradas, melhoram-se as condições da circulação rodoviária na Serra da Estrela. Deste modo,
encoraja-se a circulação rodoviária na Serra da Estrela. Ao mesmo tempo, pioram-se as condições de segurança para os peões. São opções. Mas não nos queiram convencer de que são as únicas opções possíveis.
2 comentários:
Alem disso e como ja ha mais proteccao ate se pode andar mais rapido.
E eu que quando vou a serra gosto e de ir devagar, parar aqui e ali e caminhar um pouco.
Parece a se me tornou mais dificil e perigosa a missao.
Era pedir de mais a certas luminárias que interpelassem o governo com questões sobre a forma insustentável como o turismo se está a desenvolver na Serra (e o governo tem *tudo* que ver com isto, dados os apoios públicos que vão financiar as grandes intervenções), ou sobre se o Parque Natural está a ter sucesso nas suas missões... Para isto é que temos líderes (refiro-me aos deputados, mas também aos autarcas, aos presidentes das regiões de turismo, aos empresários mais destacados, etc)? Para não verem mais longe do que as camadas da população menos informadas? O turismo na serra é o turismo da voltinha de carro, não é? Nem pode haver outro, porque "Portugal é um país que não anda" (cito Lemos dos Santos, presidente da AIBTSE, no blog do programa PETUR), não é? Cá na Estrela é só escorrega aqui na neve com um saco de plástico (ou então, na versão classes A e B, escorrega aqui na neve com a prancha de snowboard), pára ali para comprar um queijo, certo? Nem pode ser outra coisa, porque é assim que nós, portugueses, somos, é assim que sempre fomos, é assim que sempre seremos, certo? Temos que ter segurança para estas hordas de carros que vêm à serra, até porque sem carros não há turismo, não é? Olha tão satisfeitos que ficámos com esta resposta do governo, agora sim, teremos mais "pugresso".
Gaita para isto, para analisar a realidade como o faz um quinteiro semi-analfabeto ou um taberneiro que nunca saiu da aldeia, não precisamos de líderes, já cá temos quinteiros semi-analfabetos, já cá temos taberneiros...
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