Antes de regressar ao mundo real, desligado da grande rede, quero aqui deixar um comentário a uma notícia que apanhei já tardiamente, ainda sobre a redução da área do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). A notícia tem o título (muito sugestivo, isto é, sugere qual o rumo correcto para o "desenvolvimento") Turismo dá esperança à vida na serra da Estrela.
Deixem-me só seleccionar dois excertos. Primeiro, o impagável Jorge Patrão, presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela (RTSE) critica duramente os ambientalistas por se oporem à redução da área do PNSE, nos seguintes termos:
Nunca os vi indignados com o estado de ruína do sanatório dos ferroviários, nem com a construção clandestina nas Penhas da Saúde.Deve estar a gozar! A preocupação principal dos ambientalistas nao é, nem nunca foi, o estado de conservação dos edifícios, por bonitos ou importantes que possam ser! Quando for essa a preocupação principal dos ambientalistas, eu deixarei imediatamente de o ser! Cá para mim, como ambientalista, o que realmente importa é a conservação do espaço natural. O turismo é um mal necessário, mas que pode, perfeitamente, ser mantido e desenvolvido, de modo compatível com a protecção do ambiente, com hotéis nas cidades, vilas e aldeias em redor da Serra. Para quê hotéis e urbanizações nas Penhas, nos Piornos, no Vale do Rossim, na Torre, como anunciam a Turistrela e a RTSE?! O que faz mais falta é turismo de natureza, ou seja, actividades, e não edificações (ainda mais!) no coração da Serra!
Quanto às construções clandestinas nas Penhas da Saúde, que eu saiba não foi propriamente um ambientalista que permitiu a legalização das casas de zinco atrás do sanatório (vulgo Aldeia dos Macacos), pois não? Também não foram ambientalistas que autorizaram a construção daquela espécie de parque de campismo sobrelotado só com bungalows que é o bairro dos chalés...
Acho que Jorge Patrão tem a pontaria muito mal afinada... Além disso, parece-me que está mal informado. Ele refere, no mesmo artigo, uma telecabine Penhas da Saúde - Torre - Sabugueiro. Tanto quanto sei, tanto quanto foi anunciado nos órgãos de comunicação social, as telecabines que se prespectivam é uma desde o Covão do Ferro para a Torre e outra desde a Lagoa Comprida (extremo oriental, longe da estrada) para a Torre. Assim afirmou uma técnica da Turistrela num artigo do Público, suplemento Local-Centro de 15 de Fevereiro de 2006. Ou seja, tenta-se estragar o mais possível a maior área possível de espaço natural.
O outro excerto diz respeito à posição de Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Gouveia:
O presidente social-democrata da câmara de Gouveia nota que a paisagem só é protegida se for gerida. Por norma, indica Álvaro Amaro, "assistimos ao abandono e à preguiça do Estado que quando não faz nem deixa fazer proíbe".Ou seja, Álvaro Amaro concorda com a diminuição da área do parque porque acha que os serviços do ICN não a gerem, a deixam ao abandono, não conseguem, portanto, protegê-la. Ou seja, podemos estar descansados que, agora que uma parte do PNSE vai ser desclassificada, a Câmara Municipal de Gouveia vai passar a proteger e a gerir, onde o PNSE abandonou e deixou degradar. Nem posso esperar para ver!
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