quinta-feira, julho 06, 2006

Tendências e contratendências

Li no Público de ontem (quarta-feira) que a Câmara Municipal da Guarda estava apostada no desenvolvimento do turismo de natureza no concelho, tendo completado a sinalização de um trajecto em torno da cidade e estando em curso a sinalização de outros.

Li no Kaminhos, ontem também, que a Naturtejo "espera ver o seu Geoparque distinguido pela Unesco, como um destino de excelência em termos de turismo de natureza".

Ontem ainda, li no Máfia da Cova (ver também no Diário XXI) que no concelho da Covilhã (e de Seia, também) há, na opinião de arqueólogos com estudos realizados na nossa região, "locais extremamente ricos e com muito ainda por explorar” em termos de arte rupestre.

Li no Público de domingo (dia 2 de Julho) que, na discussão pública do documento final do PETUR, que teve lugar em Manteigas no dia 30 de Junho, João Esgalhado, na qualidade de Vice-Presidente da Câmara da Covilhã, tinha criticado o documento em discussão por nele não constar referência ao casino das Penhas da Saúde (proposto pela Turistrela há alguns anos e que chegou a ser autorizado pelo governo de Santana Lopes já na sua fase de governo de gestão corrente, tendo depois esbarrado na oposição do Presidente da República, Jorge Sampaio). Noutro artigo sobre o mesmo assunto (mas confesso que já não sei onde o encontrei), li que João Esgalhado considerava o dito casino como uma necessidade porque, na sua opinião, viria diversificar a oferta turística na Serra da Estrela.

Li antes de ontem no Blogue Cortes do Meio que Paulo Rodrigues, Presidente da Junta de Freguesia das Cortes do Meio, entende que é necessária uma estrada asfaltada entre as Cortes do Meio e as Penhas da Saúde, igualmente para desenvolver a actividade turística naquela freguesia.

Quem ler dois ou três artigos aqui do Cântaro Zangado já sabe que não concordo com a opinião destes dois autarcas. Já sabe que acho que o que eles propõem corresponde a uma filosofia errada e antiquada, que já está mais do que suficientemente desenvolvida aqui na Serra da Estrela. Já sabe que acho que propostas como estas vão no sentido contrário ao pretendido, urbanizam, artificializam e desfeiam a Serra, diminuindo as suas possibilidades num segmento turístico que regista um crescimento notável e continuado em todo o mundo desenvolvido (o turismo de natureza), apostando numa oferta turística inadequada e que duvido venha alguma vez a corresponder às expectativas nela depositadas, por razões que, sucintamente, expliquei no artigo Verdades Simples.
Quem ler este artigo fica agora a saber que me parece que aqui na Covilhã se continua a tentar seguir numa direcção que outros dão cada vez mais sinais de querer, e bem, abandonar.

Vou acabar este artigo com algumas sugestões para o desenvolvimento do turismo na Serra, em particular no concelho da Covilhã. Simultaneamente, como por cá ainda nada (mas mesmo nada) é feito na linha do que proponho, podem contribuir para diversificar efectivamente a oferta turística, enfrentando-se assim as preocupações de João Esgalhado.
A figura que ilustra este artigo é um mapa esquemático do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), que retirei do site do ICN. O ícone branco com uma folha de carvalho (em Manteigas) indica a sede do parque, os que têm um "i" em itálico minúsculo, postos de informação do PNSE. Não sei se todos notaram já o que me chamou mais a atenção: a Covilhã é o único concelho com parte importante do seu território dentro do PNSE que não dispõe de um posto de atendimento/informação do parque. Do PNSE, na Covilhã, nada. Nicles. Zero.
E se se resolvesse esta gritante carência? Já agora, e se a Câmara da Covilhã criasse um centro de interpretação da Serra da Estrela como o CISE de Seia? E se, ao menos, mandasse colocar em locais adequados, na cidade e nas vilas e aldeias do concelho, placards indicando os passeios pedestres (ou de BTT, ou a cavalo) que se podem fazer a partir desses locais? Note-se que relativamente à sinalização e documentação dos trajectos dispomos já de uma base inicial para arrancar o projecto, com o trilho de grande rota T14 do PNSE e os trilhos da Beira Serra que divulguei no artigo Trilho das Fragas

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6 comentários:

Gillie disse...

Posso dar uma sugestão? Se calhar vou dizer uma barbaridade qualquer mas... porque não se faz como no Gerês? Têm parques de campismo bestiais, além de se poder alugar casinhas que recuperaram, têm um controle apertado de quem entra e quem sai do parque... não sei, mas parece-me bem. gostei de lá estar, nota-se um esforço para preservar o parque. não sei se é menor que o da estrela mas, bem organizado, podia-se fazer o mesmo de cada lado da serra. Há tanta casa abandonada, para quê contruir quando se pode recuperar para alugar??
Que acha?

ljma disse...

Ora bem, Huecca, nem mais. O Gerês tem o turismo muito mais desenvolvido do que a Estrela. Comparemos o número de turistas ao longo de todo o ano, comparemos as receitas geradas, comparemos o número de empregos, comparemos a diversidade de actividades oferecidas aos turistas, comparemos a duração média das estadias, avaliemos o grau de satisfação dos visitantes, etc; aposto que veremos algumas verdades tomadas como indiscutíveis cá na nossa região cairem por terra...

ljma disse...

Diga-se que não disponho de indicadores quantitativos que me permitam fazer as comparações que sugeri no comentário anterior. Mas tenho uma ideia do que se passa no Gerês por lá ter passado alguns dias de férias, no Verão de 2004. Mesmo que não me dêm razão, essas comparações podem e devem ser feitas.

Al Cardoso disse...

Tampouco concordo com casinos e mais estradas asfaltadas na zona da serra, mas eu ate sou do lado norte, nao me devia meter a dar opinioes ao que se passa do lado sul, dirao.

Um abraco fornense.

Anónimo disse...

Welcome Back Cantaro!
Já agora, estive a fazer estes 2 dias a rota Torre-Alvoco-Loriga-Torre. Começo por chamar à atenção que a descida para Alvoco está muito bem marcada e alem de ser "durinha" para os joelhos é lindissima!!Aproveitem pois tambem pude ver (e saber) que a junta de Alvoco devidiu prolongar um curto caminho florestal até à Torre!!É verdade, só não está lá porque aparentemente o parque conseguiu para a obra quando esta esta sensivelmente a meio caminho!Mas isto agora é algum Labirinto??!Cada terrinha com vista para a Serra vai ter uma estrada para a Torre! Ainda por cima agora que existe a nacional de Loriga para a Lagoa Comprida!!Esperemos que o parque tenha força para travar mais esta cicatriz, que em parte já lá está!!
Abraço

ljma disse...

al, viva! Deixe lá isso, a fronteira Portugal-Espanha já é uma linha imaginária, quanto mais a fronteira Covilhã-Seia! Eu cá não me tenho contido nada, quanto a opiniões sobre o lado norte da Serra! E depois, o al está tão longe e a Serra é tão pequenina... Acho que pode estar à vontade! Opine daí, homem!

Tiago, pois dessa estrada eu não sabia. É verdadeiramente incrível! Por algumas como estas é que digo "viva o PNSE"! É pena não se poder festejar com a frequência necessária...
Imagino que o argumento dos que querem a nova estrada seja o do costume: permitir o acesso dos turistas, desenvolver o turismo. Mas, como é evidente para qualquer um que aprecie férias de montanha, quanto mais estradas houver, menos interesse terá a Serra como destino turistíco. Em particular, o passeio que deste, Tiago, não atrairá ninguém se esta estrada chegar a ser construída... Ou seja, não se desenvolve assim o turismo. Para que servirá, então, a nova estrada? Se tiver algum efeito (para além dos óbvios: estragar a paisagem e inviabilizar investimentos em turismo de natureza) será o de aumentar a frequência e gravidade dos engarrafamentos de trânsito, complicar a acção das forças da GNR e do Centro de Limpeza de Neve e, quem sabe, talvez se consigam vender mais alguns queijitos e "artesanato" de fancaria. Francamente, vale a pena?

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!