quinta-feira, julho 20, 2006

A diminuição das áreas protegidas

No mapa acima representa-se a fronteira actual do território do Parque Natura da Serra da Estrela (PNSE) (a linha preta). Para ter uma melhor ideia da localização do parque, compare com o mapa que apresentei neste artigo. A mancha a verde claro representa o Sítio Serra da Estrela da Rede Natura 2000 e, a verde mais carregado, aparece a reserva biogenética. (As zonas sombreadas a tracejado representam as áreas ardidas em 2005. Aparecem aqui porque retirei este mapa do Relatório sobre Incêndios Rurais na Rede Nacional de Áreas Protegidas na Rede Natura 2000).
Recentemente, surgiu nos meios de comunicação a notícia de que o ministério do ambiente pretendia reduzir a área de algumas zonas protegidas, começando pelo Parque Natural da Serra da Estrela, que verá o seu território reduzir-se ao do Sítio RN2000 (a mancha a verde claro na figura acima). Informe-se sobre este assunto, por exemplo, aqui.
Os ambientalistas, em particular as associações Quercus e Liga Para a Protecção da Natureza manifestaram-se contra esta decisão do governo (ver notícia aqui). No que respeita ao PNSE, os argumentos invocados pelos ambientalistas prendem-se com receios de que esta redução tenha sido decidida apenas para permitir investimentos com objectivos imediatos, nomeadamente ligados a interesses do sector imobiliário, que consideram poderão ter mais tarde efeitos desastrosos sobre o ambiente.
Eu não sei. Francamente, assim como peço aos promotores do "desenvolvimento" que costumo aqui criticar que expliquem, concreta e detalhadamente, de que maneira é que os seus projectos vão, de facto, traduzir-se em desenvolvimento, gostava também de ver os que sinto como meus aliados naturais explicarem melhor quais são os investimentos que referem, de que maneira se tornarão desastrosos e qual o valor ecológico das áreas em jogo. Não é que não acredite no que dizem, é que gostava de ficar a conhecer os detalhes. Não se pense, por isto que acabei de dizer, que concordo com a decisão do governo. Gostava apenas de saber mais sobre as razões que os ambientalistas invocam, neste caso concreto do PNSE.
O que me aborrece a sério nesta medida não é tanto a questão do PNSE. É que, desde que se iniciou a definição de áreas protegidas em Portugal (há cerca de trinta e cinco anos), a tendência geral tem sido a do aumento das áreas protegidas e do seu grau de protecção. Isso tem-se feito com a definição de novas reservas ou com a reclassificação das existentes em níveis mais exigentes de protecção (e como gostava de ver o PNSE ser promovido a Parque Nacional!). Quanto a mim, parece-me que esta tendência é positiva. Mas temos que reconhecer que se trata de evolução no papel, apenas, que nem sempre se traduz em protecção ambiental efectiva. Por exemplo, o Parque Natural da Arrábida pode ser, no papel, uma zona protegida, mas não se pode dizer que a sua situação ambiental (com a cimenteira e todas as pedreiras que lá operam) beneficie muito com isso (bom, podemos sempre argumentar que podia ser pior)... Aqui no Cântaro, tenho dito coisas semelhantes sobre o PNSE. O facto de esta ser a triste realidade, torna os ambientalistas particularmente susceptíveis quanto à protecção daquilo que alguns chamam as jóias da coroa, os nossos espaços "protegidos". Para mim, o que se passa é muito simples: o governo (os governos, que isto não é de agora) já verificou que não consegue (por ter pouca vontade, parece-me) proteger as zonas que classificou como protegidas e, por isso, resolveu começar a desclassificá-las. Evitam-se assim alguns dissabores como este.
Concordamos com isto? Eu não concordo, gaita!

PS: Muitas das links que aqui incluí tirei-as do Ondas. Mais uma vez, agradeço ao Otávio o magnífico trabalho que vem desenvolvendo. Para dar, completamente, o seu a seu dono, quero também agradecer ao João do Montanha a link para o Relatório sobre os Incêndios, de onde retirei o mapa.
PPS: Completamente descabida é a reacção de Jorge Patrão (o presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela) à oposição dos ambientalistas. Adivinhe lá que palavra usou para a classificar, vá, vá... Está-se mesmo a ver: fundamentalista! Ai, ai, ele há gente tão previsível... (Veja as declarações de Jorge Patrão no Público de 19 de Julho, secção Local-Centro)

2 comentários:

Anónimo disse...

Não vale a pena zangarmo-nos com pessoas que, à falta de argumentos, vociferam apenas com palavras começadas por f. Afinal, o alfabeto é muito mais rico e tem muito mais letras.
Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)

ljma disse...

Ahahah! As palavras começadas por f! Boa!

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!