Quando se fala de ambiente, certas pessoas têm tendência para começar a debitar generalidades vagas e a fugir à discussão de casos ou de projectos concretos. Por exemplo, Lemos dos Santos (Coordenador da Acção Integrada de Base Territorial da Serra da Estrela) afirmou-se, no blog tráfego da Serra da Estrela, contra a abertura de mais estradas em geral; no entanto, defendeu empenhadamente, nesse mesmo foro, todas as "beneficiações" asfaltantes concretas que lá foram consideradas, até a malfadada Estrada Verde.
Vem isto a propósito de receios que senti com a leitura de um artigo (a que já me referi noutros posts) em que Jorge Patrão, o presidente da Região de Turismo da Serra da Estrela, anunciou que tinha escrito uma carta ao Parque Natural da Serra da Estrela, solicitando, entre outras coisas, que os investimentos projectados não esbarrassem em impedimentos ambientais (é como escrever uma carta à PSP requerendo que não se dificulte a vida dos ladrões durante o assalto a um banco, que se prevê tenha lugar a tantos do tal, não é?). Nese artigo, Jorge Patrão informa também que alguns desses projectos de investimento contemplam "melhoramentos" no Covão d'Ametade.
Acontece que nunca ouvi Jorge Patrão tomar posições concretas (que, de generalidades "eu também gosto muito da Serra" estamos todos fartos) em defesa da paisagem e do ambiente, antes pelo contrário, toma frequentemente a peito a tarefa de defender projectos de atentados como as telecabinas, a Estrada Verde, a construção na Torre, na Lagoa Comprida, no Vale do Rossim, na Varanda dos Carqueijais, nos Piornos, etc, etc, etc. Suspeito, assim, que Jorge Patrão sofra daquele mal que diagnostiquei no primeiro parágrafo, logo, estou apavorado com o que ele possa ter em mente para o Covão d'Ametade.
O caro leitor não conhece o Covão d'Ametade e não sabe porque é que estou tão assustado? Veja a fotografia no topo deste artigo, que dá uma pálida imagem da beleza do sítio. Já está a ficar assustado?
2 comentários:
Assusta bastante, a ideia de "melhoramentos" neste local...
Para mim, o melhor melhoramento que era possivel lá se fazer, já foi feito, que foi acabar com os carros lá dentro, coisa que ainda me recordo de acontecer ha uns 15 anos...
Com um pouco de "sorte" devem querer lá fazer um restuarante, mini hotel, ...
Será que os meus filhos/netos ainda conseguirão ver algo bonito e natural nesta serra?
Fixer, talvez eu tenha sido um pouco demagógico. Suspeito (sem ter dados que apoiem esta suspeita) que Turistrela e RTSE não tenham projecto absolutamente nenhum para o Covão d'Ametade e que os "melhoramentos" sejam apenas uma daquelas generalidades a que me referi. Tipo: "A gente quer fazer qualquer coisa, mas não percebemos nada de natureza nem de eco-turismo, quando soubermos logo se vê ao certo o que se faz". Se tenho razão, podemos, durante algum tempo, dormir descansados. É claro que não podemos dormir descansados, exactamente porque não sabemos se tenho razão...
Sobre a última questão, quero dizer o seguinte: tenho uma amiga mais idosa, que, digamos assim, "herdei" dos meus pais. Tem agora setenta e alguns anos (mas mantém-se ainda invejavelmente viva - aliás, como os meus pais, felizmente) e, há dias, conversando nós sobre a maravilha da Primavera, do ar livre, da natureza, disse-me assim: "Olha Zé, eu enchi a barriga de natureza: andei, corri, colhi fruta madura das árvores, nadei nos rios, descobri o mundo à minha custa, à vontade; tu, com os teus quarenta anos, olha, aproveitaste o que pudeste; os teus filhos, coitados, hão-de ter que "gozar" a natureza em parques temáticos, em jardins urbanos ou em eco-museus." (Que coisa tão terrível de ouvir, não é? Sobretudo por estar perto de ser a mais cristalina das verdades...)
Bom fim de semana (se é que não o estraguei definitivamente, com este comentário tão deprimente)!
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