Em 1963, num discurso em Berlin Ocidental, John F. Kennedy exclamou, para mostrar aos habitantes que o ocidente não deixaria de os apoiar face aquilo que era interpretado como a ameaça soviética (pouco importa aqui se, de facto, o era ou não), "Ich bin ein Berliner!", ou seja, "Eu sou um berlinense!" O que ele queria dizer é que, na guerra que então se travava (que se chamou Guerra Fria apenas porque não "aqueceu" tanto quanto se receava, pelo menos na Europa), o que se disputava não era a posse de uma cidade particular, mesmo tão importante como Berlim. Na perspectiva do então presidente americano, o que estava em jogo eram as liberdades individuais que, segundo ele, caracterizavam as democracias ocidentais e eram cerceadas pelos comunistas. Assim, achava que todos os "homens livres" deviam participar na disputa, todos deviam acorrer à defesa de Berlim como se fossem berlinenses, apesar desta luta particular ser apenas (mais) uma batalha daquela guerra.
Lembrei-me disto porque muitas vezes, quando se discutem as vantagens e desvantagens de determinados empreendimentos na Serra da Estrela, ouvem-se, dos defensores do "desenvolvimento", argumentos como "Não se pode hipotecar o futuro em nome do bem estar da lacerta monticola", numa referência à lagartixa de montanha, uma espécie protegida que habita o planalto central e que não pode ser encontrada em mais nenhum lugar do país.
Bem, o Cântaro acha, em primeiro lugar, que certos futuros devem ser contrariados, seja em que nome for, ou mesmo até em nome nenhum.
Mas o ponto deste artigo é outro. É que a lagartixa de montanha e outras espécies, de fauna e de flora, são a Berlim desta guerra. O Cântaro está Zangado, não apenas por causa dos incómodos que o desenvolvimento causa às lagartixas, mas principalmente porque o que incomoda as lagartixas também o incomoda a ele. Quero proteger o ambiente, não pelas as lagartixas apenas (que não passam de aliadas acidentais), mas principalmente por mim e pelos meus filhos.
O que está em jogo nesta minha "guerra" é o direito de cada ser humano ao usufruto da natureza, o direito a uma paisagem sem "melhoramentos", o direito a sentir o vento na cara sem vestígios de cheiro a gasóleo, o direito de cada um a poder perder-se na Serra e, exactamente por causa disso, a querer lá voltar. Por isso digo, adaptando a tirada de Kennedy, que tenho orgulho nas palavras "Ich bin ein Lacerta Monticola!"
Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!
2 comentários:
Caro amigo,
O curso sobre Aves de Montanha já tem as vagas preenchidas, como
é normal ocorrerem desistências, pode inscrever-se e fica em lista de
espera.
João Paulo Baptista
Obrigado pela informação. Também recebi essas indicações hoje à tarde, mas só agora tive tempo de as processar. Claro que já pedi para me inscreverem condicionalmente... Mais uma vez, obrigado!
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