O Carros de Foc é um circuito pedestre nos Pirinéus com uma extensão de 60km e um desnível acumulado de 9.200m, servido por nove abrigos de montanha. Em 1987 um grupo de guardas da zona decidiram tentar fazer o trajecto todo num dia. E conseguiram. Hoje em dia, este circuito é um produto turístico de grande sucesso. Os "fregueses" (quase todos praticantes de montanhismo) tentam a proeza de completar o Carros de Foc num dia, ou então fazem a coisa com mais calma, dispondo de toda uma estação para merecerem a classificação de finalistas. A organização fornece aos participantes um forfait que deve ser carimbado por cada um dos nove abrigos. As reservas para a pernoita nos abrigos podem ser feitas numa central e, nos meses de Verão, tem que ser acertada com muita antecedência, por falta de capacidade nos abrigos. A organização regista os melhores tempos de cada participante. Esta actividade não tem datas marcada, cada um começa e acaba quando muito bem entende. Não é propriamente uma corrida, mas não custa nada acreditar que haja algumas competições particulares, fruto e fonte de rivalidades mais ou menos bem dispostas. No Verão pode fazer-se o Carros de Foc (a pé) ou o Pedals de Foc (em BTT); para o Inverno, têm o Carros de Foc Hivern, para esquiadores de randoné, mas nesta estação incluem guias profissionais, por causa dos perigos objectivos (avalanches, tempestades, congelamentos, etc).
Eu bem sei que a Serra não é os Pirinéus. Mas parece-me que uma coisa deste género podia ser tentada na Serra. Começando com pensões em aldeias da Serra, parques de campismo e abrigos do PNSE, podia definir-se um circuito em torno da Serra. Os que quisessem ser reconhecidos como caminheiros "circum-estrela" teriam que reunir no seu forfait as carimbadelas dos diferentes locais de pernoita e passagem. Suponho que ninguém faria batota, uma vez que não haveria lugar a prémio nenhum, excepto a satisfação de completar o circuito. Mais simples ainda que isto, podia-se inventar um "passaporte" dos trilhos de grande rota (um pouco como os passaportes do Caminho de Santiago), onde cada montanhista assinalaria os trilhos que já tinha percorrido. A Turistrela, ou o PNSE, ou sei lá eu quem, entregaria uma prendinha simbólica a quem completasse o seu passaporte.
Para que uma destas coisas chegue a funcionar de modos que se justifique o (pequeno) esforço de a pôr em marcha, claro que era bom que a Serra ganhasse visibilidade como lugar com um ambiente único e preservado, e ajudava que os seus operadores (nomeadamente a Turistrela) diversificassem o produto que oferecem e ganhassem fama de sofistificação, de qualidade de serviço. Parece-me que estão ainda longe de poderem orgulhar-se da imagem que apresentam, e assim continuarão enquanto se congratularem com a gravação de episódios do concurso "1ª Companhia" e da série "Morangos com Açúcar" na neve, com a organização de rave parties no edifício do sanatório ou de passagens de modelos na estância de esqui. Estes eventos transmitem uma péssima imagem, associando a Serra ao mau gosto, à pirosice e a divertimentos urbanos. Constituem uma distracção, que talvez fosse justificável se a mensagem principal, divulgando o ambiente e a paisagem, se fizesse ouvir, mas que se torna insuportável na sua ausência. Quanto à diversificação do produto que oferecem, há infelizmente tão pouco a dizer...
7 comentários:
Mas que excelente ideia... Uma boa forma de divulgar e fomentar o contacto com a natureza!
É certo que a nossa Serra não são os Pirinéus, mas tem trajectos muito bonitos, trilhos com vistas magnificas, locais que só quem deixa o carro de lado conhece, ...
Será que teriam coragem para avançar com algo parecido, com preços acessiveis?
O preço deve reflectir o que se compra, ou seja as dormidas e pouco mais, cada um come por sua conta. Eventualmente, inclui-se um seguro, mas há que ver que que tem carta de montanheiro já tem seguro. A questão principal é que se lucra com a simples presença dos turistas, não é preciso cobrar-lhes por tudo o que fazem. É deixá-los andar por aí à solta, ao ritmo que entenderem, a descobrir a serra como quiserem, e cobrar-lhes o que realmente quiserem comprar. Querem um guia? OK, têm que o pagar, é justo. Têm mapa e acham suficiente? OK, não têm que pagar um guia. Enfim, são só ideias de como eu gostava de ser tratado na Serra se fosse de fora.
Ontem à noite estava já com tanto sono que já não sabia o que estava a dizer. O que entendo é que a oferta deve ser diversificada e o preço deve depender do que se compra. No caso concreto da grande travessia circum-estrela (que nome horrível!) que propus no artigo, não me parece que faça sentido cobrar aos participantes muito mais do que as reservas e a estadia nos locais de pernoita. O mais importante de uma coisa destas é que ela iria ajudar à criação de outros mercados para o turismo da Serra. E a verdade é que por enquanto, e apesar da criação de tantos organismos, a serra aparece principalmente associada à neve. Nos discursos, todos parecem apostados em modificar este estado de coisas. Nas acções, o que é que se vê?
é essa a ideia...penso que é por aí, assim dar-se ia a conhecer a Montanha, em toda a sua extensão e combater a desertificação e descaracterização que estão sujeitas as nossas "aldeias", vilas e cidades...a neve faz parte, mas não é o caminho nem a solução...
Quando falei no preço, foi nesse sentido.
Se o preço for o das estadias e seguro, tudo bem. Agora se a ideia for mais uma vez, tornar a Serra um "clube para elites"...
Talvez até podesse existir um "plano económico" em que em vez de pensões, eram indicados locias para acampamento!
Claro!, com um pouco de imaginação, respeito pelo espaço e vendo o que vai acontecendo por aí (nem é preciso ir muito longe, já podemos aprender muito estudando o caso do Gerês), o céu é o limite. O que é preciso é que todos tomemos consciência de que a Serra não é só neve, nem sequer será principalmente neve!
A aposta na neve como futuro da Serra, para mim é um grande erro.
Ainda à horas comentava com um amigo meu. Eu sou novo, mas nesta curta vida já vi uma pista de sky desaparecer por falta de neve.
Há cerca de 15 anos, havia nos Piornos uma pista com um telesky, que deixou de funcionar e foi desmantelado por falta de neve.
Daqui a 15 anos (e com o tratado de Kioto sem sortir efeitos), nem na Torre deve existir neve suficiente para a prática de Sky.
Ainda vão a tempo de tomar um rumo mais certo. Só precisam é de "coragem" para pensar mais na Serra e menos no "bolso"...
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