segunda-feira, março 06, 2006

A serra e o esqui

Acabo de deixar este post (editei-o aqui ligeiramente) num blog sobre a estância de esqui da Torre.
Parece-me que é bastante consensual neste foro a opinião de que a Torre não é grande coisa como estação de esqui (tenho a mesma opinião sobre La Covatilla, mas isso não vem agora ao caso). Menos, mas muitos ainda, acham que, dadas as condições físicas (altitude, humidade, temperatura, etc), esta realidade nunca se irá alterar significativamente. Talvez se agrave, até, com o aquecimento global. Pessoalmente, parece-me que, para que o esqui possa ser uma aposta séria, o que faz falta não é mais quilómetros de pistas nem mais canhões de neve, melhores estradas ou mais eficiência a mantê-las transitáveis quando neva, precisa-se é de outra montanha encavalitada em cima desta, ou esta transportada 2000 km para norte.
No entanto, continua-se a dizer que esta estância tem muita importância para o desenvolvimento da região! Num certo sentido, até concordo: trata-se, contudo, de uma importância negativa! Por causa desta estância, está-se a alcatroar a serra toda, estão-se a urbanizar zonas que deviam permanecer intocadas por este tipo de desenvolvimento, projectam-se teleféricos que irão transformar em parques de estacionamento zonas belíssimas (falo do covão do ferro e da extremidade oriental da lagoa comprida), etc, etc, etc. Por causa desta estância, as populações das aldeias da serra são levadas a pensar que o seu progresso depende unicamente da venda de queijos e de artesanato duvidoso e do aluguer de trenós de plástico, pelo que são necessárias ainda mais estradas
para a Torre (uma por cada concelho, pelo menos). Por causa desta estância, ninguém vê o que a serra tem de mais prometedor e aproveitável, as suas paisagens e o seu ambiente. Por causa desta estância, a Serra está a ser, pura e simplesmente, destruída. Sei que os que vêm a este forum estão-se, na sua maioria, a marimbar para estas questões, tal como parecem estar as "forças vivas" (Turistrela, autarcas, região de turismo, entre outros) por trás destas propostas. Desculpem estar a aborrecer-vos. Eu também gosto de esquiar, mas não gosto da serra *só* para esquiar e não consigo fechar os olhos a tudo o que se passa à volta do esqui. Aquilo que se está a projectar na Serra, concretizando-se, vai transformar a serra numa aberração como o Algarve (bem sei que há quem goste, mas não deixa de ser, para mim e para muitos, uma aberração).
Vou repetir algo que já aqui disse há alguns meses: a Serra é o que é: uma maravilha, mas não para a prática de esqui. Os fiordes da escandinávia são o que são: uma maravilha, mas não para gozar praia como no Mediterrâneo. As coisas são assim. Só gostava é que deixassem de dar cabo da serra tentando à força formatá-la como algo que ela não será nunca! E digam-me uma coisa: que raio de obsessão é essa de esquiar em Portugal? Isto do orgulho de ser português depende de podermos esquiar em Portugal? Se o esqui a sério é na Serra Nevada, Pirinéus ou mais longe ainda, como muitos aqui o dizem (e eu concordo)... Ainda se fosse mais barato... Mas não é, nem será. A estância vodafone continuará incrivelmente cara (isto é, literalmente, custa a crer que haja quem pague o que pedem) porque é única e os seu administradores aproveitam-se (e bem, trata-se de maximizar o lucro, qualquer gestor competente o faria) desta obsessão que questiono...
Aquilo que estamos a tentar fazer na Serra faz tanto sentido como encher com areia da praia quatro hectares do Alentejo na tentativa de vender a experiência da condução TT no deserto, e dizer que o desenvovimento do Alentejo depende da ampliação duma tal parvoíce para 50ha!

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de sugerir que envie os seus textos sobre a serra, o ski, a especulação mobiliária na serra, etc a comentadores e jornalistas como o Miguel Sousa Tavares ou o Marcelo Rebelo de Sousa para tentar divulgar/evitar os atentados ambientais e culturais cometidos e planeados na serra. Penso que será fundamental chegar à televisão ou jornais de grande tiragem. Pode não servir de nada ou pode servir para ganhar aliados de "peso". Ricardo

ljma disse...

É uma possibilidade que já considerei. A Serra não é só da Turistrela, mas também não é só dos locais (como eu), é de todos. Mas, antes de levar a essas personalidades de "peso" a minha opinião, pretendo estruturá-la melhor. (E como o ferreiro se faz na forja, ando nisto...:) E era bom que (com ou sem ajuda relevante do Cântaro) se criasse um movimento mais ou menos alargado, já não digo de oposição, mas, ao menos, de discussão, onde se pudessem por em causa os dogmas sagrados, ou melhor, do costume, do "desenvolvimento". Não sei se estou a ajudar, mas às vezes penso que há coisas a acontecer. (Mas outras vezes... bolas!)

João disse...

Concordo e estou disposto a ajudar, embora seja membro de uma Assembleia de Freguesia da área do PNSE, sinto a questão da Serra e da sua preservação, não para elites, ou para turismo de massas, mas sim para o desenvolvimento sustentado da mesma virada para as suas gentes numa concepção o mais natural, ecológica e Humana possível...

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!