sexta-feira, março 10, 2006

A lógica das avalanches

Um dos argumentos da Turistrela para a ampliação da estância da Torre é que os espanhóis de La Covatilla (outra estação pequena e triste, num sítio onde não há condições adequadas para um ski realmente satisfatório, aqui perto da fronteira) estão a proceder a ampliações e investimentos (com muito mais cuidado do que nós, os hotéis e urbanizações projectados ficam-se todos pelo sopé do monte, na cidade de Bejár) que supostamente tornarão a estância portuguesa menos competitiva. Paralelamente, os projectos da Turistrela parecem também preocupar os espanhóis, como se pode constatar na notícia de abertura de um blog espanhol sobre a estância da Torre, de onde seleccionei o seguinte fragmento:

Si realmente saliera un proyecto así [estância da Turistrela], mucho me parece que no solo Sierra de Bejar la Covatilla tendría una dura competencia a la que se le podría escapar esquiadores españoles, sinó aquellas estaciones de esqui que acogen esquiadores portugueses como San Isidro o Pajares que verían mermadas sus visitas en algun porcentaje, por no hablar del casi seguro cierre de Manzaneda.
Onde irá acabar esta autêntica corrida de ratos?

Outro exemplo desta lógica das avalanches é a posição de João Tilly sobre a urbanização selvagem das Penhas da Saúde, que ficamos a conhecer neste artigo do seu blog. João Tilly (que penso ser deputado na Assembleia Municipal de Seia) acha que, como a

"Turistrela vai construir mais 1000 (MIL!) casas nas Penhas da Saúde", "rebenta com Seia de vez, se nenhum esforço continuar a ser feito para alterar este catastrófico estado de coisas para o Turismo que (ainda) teima em subir a Serra pela nossa encosta - a mais bela da Estrela. Enquanto os Costa Pais investem milhões no lado de lá da Serra, conferindo-lhe cada vez maior visibilidade e ofuscando a cada dia que passa a nossa encosta,[...]"
Parece-me que o número indicado é um exagero (todas as declarações que apresentam valores falam "apenas" de mais seiscentos apartamentos), mas não há nada como um forte safanãozito para iniciar uma boa avalanche. Note-se também o cuidado com que explicita "o Turismo que (ainda) teima em subir a Serra pela nossa encosta". Quando se fala de turismo na Serra da Estrela fala-se de quê? De turistas a subir para a Torre, pois claro. Aqui temos Seia (mas é o mesmo nos outros concelhos) vista apenas como via de passagem para o el Dorado da Torre, e não como lugar com interesse próprio.

Porque as avalanches existem e são coisas más (principalmente as deste tipo), sugiro que se tente travar esta antes que tome proporções incontroláveis.

1 comentário:

João disse...

...essa é a lógica que já referi num arigo que publiquei, de quem é que é a Montanha? Todos a reclamam, lamentando apenas que o desenvolvimento passa mais a Sul, Leste, Oeste ou ao Norte..."bairrismos exacerbados" e grande desconhecimento da importância da preservação do Património natural e cultural de uma região única...culpa de todos a de o gigante estar adormecido e de o querem acordar apena para o diminuir...

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!