sexta-feira, março 10, 2006

Lá que as há...

Ainda a rejeição do Plano de Ordenamento (PO) do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE). O Jornal do Fundão dá hoje conta do acontecimento, e recolhe uma série de "sound bytes" dos presidentes das Juntas de Freguesia mais integradas no território do PNSE, que são presididas (como quase todas as freguesias do Concelho da Covilhã) pelo PSD, o partido que preside também à Câmara e à Assembleia Municipal (com maioria absoluta). A propósito de uma dessas declarações, segundo a qual "Os novos limites [do PNSE] para as Cortes não trazem nada de novo mas não queremos um PNSE sem pessoas. A freguesia está limitada no seu desenvolvimento", deixei este comentário no Blogue Cortes do Meio (corrigi-o agora ligeiramente):
Volta o chato do costume. É que estou cansado de um discurso de generalidades e abstracções. Bem sei que é só o que cabe na caixa alta dos jornais ou nas caixinhas como a que seleccionaram do JF mas, mesmo assim... Gostava de ver explicado, no caso concreto das Cortes (e nos outros também) de que maneira, ao certo, é que o plano de ordenamento (PO) agora rejeitado despovoaria a região do PNSE e limitaria o desenvolvimento da(s) freguesia(s). Não estudei este PO (esteve ou está disponível para consulta pública?) mas, pelo que pude perceber da leitura dos vários jornais que deram esta notícia, as alterações introduzidas no novo plano de ordenamento referem-se apenas aos limites geográficos do parque e são mínimas, excepto no caso da freguesia do Sarzedo. Ou seja, se fiquei bem informado, o PO agora em discussão não colocará nem mais, nem menos entraves ao desenvolvimento (seja lá o que for que se entenda por isso) nem levará a um maior despovoamento das freguesias do que o que tem vigorado. Ainda a crer no que li, portanto, não se justificará o alarme do Vereador João Esgalhado sobre a continuidade da rampa automobilística (ora aqui temos uma intervenção bem esgalhada! Nota-se que o Sr. Vereador compreende bem a importância do que está em jogo!) Portanto... Parece-me que nos estão a atirar fumo para os olhos, que se está mas é a aproveitar esta questão de gestão do parque para tentar acabar com ele ou, pelo menos, para reforçar (ainda mais, e mais uma vez) a sua imagem negativa. Eu não acredito em bruxas, mas lá que as há...
E depois venham lá falar dos anseios das populações rurais e das legítimas pretensões de desenvolvimento... Como já disse noutro artigo, estranho que todas as oposições se tenham abstido nesta questão.

2 comentários:

João disse...

Vila do Carvalho não é PSD e para desconhecimento de muitos era a freguesia com mais área no PNSE e continua a ser uma das maiores com área no PNSE, nunca foi contactada como tal, nunca têve uma referência ao facto, para além dos tais "Porcos", perdeu grande parte do território que hoje são as Penhas da Saúde(Currais do Vento), faz fronteira em toda a Serra de Baixo(S.Pedro Manteigas), Aguilhão, numa zona única do PNSE, toda a zona da rota da Lã e da Neve que Ferreira de Castro tão bem descreveu, estamos tão descaracterizados que até é um vergonha, terra de pastores que se tornaram operários e técnicos do laníficios, hoje têm por destino o atrofiamento económico social, e o bendito PNSE (que eu considero que deve ser sempre uma mais valia única) e a valorização do seu Património Natural que poderia ser uma saída, não encontra nem no poder local, nem nas demasiadas entidades que comandam os destinos da Montanha uma luz, um caminho a tomar...

ljma disse...

Caro João, obrigado pelo seu comentário. Gostaria de clarificar um aspecto do meu artigo que pode ter sido mal interpretado. Não acho que o PSD tenha menos ou mais consciência ambiental do que os outros partidos. Parece-me que no PSD, como nos outros partidos, há muitas pessoas que concordam, e muitas que não concordam, com os projectos em curso para o "desenvolvimento" da Serra. A razão pela qual mencionei no artigo que o PSD domina no concelho é que suspeito que os "tão unânimes" "anseios das populações rurais" e "legítimas pretensões de desenvolvimento" foram, pura e simplesmente, fabricadas no interior da sede do PSD da Covilhã, coisa só possível por causa desse domínio. Estas fabricações não são exclusivas do PSD, já que parecem ocorrer em todos os sítios onde um poder tentacular se instala, aparentemente sempre que se dá aos governantes eleitos, sejam eles de que partido forem, tempo a mais e oposições a menos.
O que pretendo dizer é que não gostava que se fechasse a porta a ninguém; espero que encontremos aliados e adversários convencíveis para a nossa causa, em todos os partidos políticos e em todos os sectores da sociedade, até na direcção da Turistrela! (Enfim, nalguns sectores espero encontrar mais do que noutros... ;)
Quero ainda aproveitar para lhe dizer que partilho do seu assombro: temos as paisagens (e justamente a zona do Aguilhão é um estrondo!), temos a tradição do povo, temos as rotas exteriores da transumância e as interiores do PNSE, temos as obras literárias, tantas coisas que se podiam aproveitar... Mas o que se há-de fazer, temos também estas "forças vivaças" que só apostam (e muito do dinheirinho com que cobrem as apostas é estatal ou europeu, ou seja, é nosso também) neste turismo massificado, feito de voltinhas dos tristes, de automóvel pelas estradas ou a pé pelos centros comerciais! Enfim, isto há-de mudar, porque cada vez há mais turistas que preferem outros produtos. Só espero é que à Serra ainda reste algum encanto quando essa mudança se der.

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!