quinta-feira, fevereiro 23, 2006

A última: turismo de natureza e residencial!

Montanhismo residencial! (Outra vez as cores da nossa bandeira)

Em Janeiro, saiu uma notícia (ver arquivo da Rádio Cova da Beira), sobre a classificação da Serra da Estrela como Polo de Atracção Turística pelo Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT), que a torna objecto de um "quadro específico de incentivos" e lhe permite o acesso a "uma via rápida para projectos de elevado valor acrescentado." O Cântaro alerta para a preocupante expressão "elevado valor acrescentado". Mais à frente, a notícia refere os sete (de entre dez) produtos selecionados pelo PENT que terão reflexo na Serra da Estrela: "a gastronomia e o vinho, o turismo cultural e paisagístico, saúde e bem estar, turismo de natureza e residencial e eventualmente o golfe." Aqui, o Cântaro quer chamar a atenção para a expressão "turismo de natureza e residencial". Turismo de natureza e quê??? (Caramba, podiam ao menos ter afastado, na frase, as duas expressões...) Bem sei que esta é a opinião de um cântaro zangado, que pode estar a ver mal as coisas. Mas lá que parece evidente, parece: como já disse, é mais fácil enriquecer depressa com a construção civil do que com um turismo minimamente ordenado. Suponho que é por isso que a Turistrela quer construir tanta coisa. E é sabido que as autarquias ganham (a curto prazo) com as construções, este ciclo viciado da autoalimentação autarquias - empreiteiros está mais que analisado. O governo, através deste PENT, não só deixa a Turistrela e a Câmara da Covilhã em roda livre, ainda as vai beneficiar com incentivos específicos e processos agilizados de aprovação de projectos. Sabendo-se como já costumam ser "ágeis" os estudos de impacto ambiental normais, imagine-se os que vão ser feitos agora, ao abrigo destes novos processos... Esta notícia teve desenvolvimentos recentemente. No Público de hoje (22 de Fevereiro), o PENT é referido num artigo na secção de economia. Diz-se que o investimento na Serra da Estrela será de 669 milhões de euros e que vai gerar 1975 empregos. A precisão desta estimativa espanta-me. Nem 1974, nem 1976, teremos 1975 empregos, exactamente... Suspeito que uma análise dos cálculos daria panos para mangas... Mas vá, sejam então 1975 novos empregos. Não serão os que irão construir esta maluquice toda e que ficarão desempregados quando as obras acabarem? Sobre a aposta na construção civil, a notícia do Público não deixa margem para dúvidas: "Nesta Zona da montanha [as Penhas da Saúde], para onde se estima um investimento na ordem dos 250 milhões de euros, prevêm-se moradias, aparthotéis, uma zona comercial, restaurantes e bares e ainda a ligação à Torre e à estância de esqui através de telecabines, que são semelhantes às que existem no Parque das Nações". O que não se prevê para as Penhas é sossego, pelos vistos... Por fim, noutro fragmento da mesma notícia, repare-se como certas mensagens passam assim como quem não quer a coisa: "No que toca à Serra da Estrela, o grande destaque vai para o projecto de estância de montanha, a crescer nas Penhas da Saúde, que pertence à Câmara Municipal da Covilhã e inclui o tão ansiado casino, que merceu o chumbo por parte de Jorge Sampaio." Tão ansiado?! Por quem? por Artur Costa Pais, da Turistrela, claro; concerteza, por Carlos Pinto, presidente da Câmara da Covilhã; claro, por Jorge Patrão, da Região de Turismo da Serra da Estrela; por mais algumas das "forças vivas" do costume, também. E quem mais? Já foi feito algum estudo de opinião? OK, não chegava o tradicional turismo automobilístico das voltinhas dos tristes nem o novo turismo urbano de montanha, veremos também, na Serra da Estrela, uma aposta num turismo residencial! Acho que são três nomes para uma mesma coisa, a que se pode, com mais rigor, dar o nome de turismo de m****.

Ah!, se a cegueira pagasse impostos, resolvíamos este ano o problema da dívida pública... (Ou então haveria muito menos gente cega, era assim a modos que uma espécie de taxa moderadora...)

2 comentários:

João disse...

O que dizer, será que esta é uma forma nossa, muito própria de entender a Montanha...

ljma disse...

"Muito nossa," vamos lá ver... Nossa, de quem? ;)

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!