quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Como não vou ao Nevestrela 2006...

Hoje de manhã dei um pequeno passeio pela zona do Covão do Ferro. Deixei o carro na santa, desci parte do trajecto até ao Covão, subi um dos corredores de neve da falésia, vagueei até perto da ruina da casa do ski-clube (ou lá de quem é) e voltei ao carro. A neve no corredor estava dura e, sem grampons, tive que cavar degraus com o piolet, à maneira antiga! No total (mesmo contando a viagem de carro) perdi três horas de trabalho, nada que não consiga recuperar à noite. Há lá sítio melhor para morar! Aqui ficam duas fotos, só para abrir o apetite para o Nevestrela 2006 (a que vou ter que faltar, infelizmente). É nesta encosta que a Turistrela quer instalar um teleférico. É para esta encosta (imagino que um pouco mais à esquerda, fora da 1ª fotografia, no Corredor Largo) que a Turistrela quer ampliar a pista de esqui.

6 comentários:

"Sherpa" disse...

Ahhh ... que "inveja", quem me dera andar por ai nestas alturas.... Já fiz a "travessia" do Planalto central (sem cruzar com a estrada) e com bastante neve (muiiita), .. só gostaria de poder repetir a sensação durante muitos mais anos, mas infelizmente não sei se tal será possível se realmente avançaram com as ideias ridículas por ai tenho ouvido :-( Valha-nos o Gerês que como Parque Natural Nacional lá vai escapando (não a 100%) à força do capitalismo ... amanha lá estarei outra vez e desta feita, também com muita neve ...


Sherpa
http://estarolas.planetaclix.pt
http://umpardebotas.blogs.sapo.pt/

ljma disse...

Eu espero que o PNSE (apesar de ser apenas natural, sem ser nacional) consiga impedir as novas agressões planeadas, a propósito da ampliação da pista de esqui. Mas toda a ajuda que lhes pudermos dar é, imagino, bem vinda. É altura de começarmos a mostrar que as verdadeiras "forças do bloqueio" nestas regiões não são as dos ambientalistas, são as dos que querem urbanizar e (des)humanizar todos os espaços.
Quanto à neve, parece que há mesmo muita, porque nevou este fim de semana (estive fora, cheguei à pouco)! Espero também poder dar uma escapadela lá a cima um dia ou dois... Boa estadia, sherpa!

Anónimo disse...

Não estou muito a par dos projectos que existem para a Serra da Estrela, e gostava de saber onde posso obter mais informação.

Ao contrário da opinião que que por aqui impera, a mim parece-me que assim a Serra não deve continuar. Há quantos anos a Serra está parada no tempo? Vivo em Lisboa, mas tenho casa em Oliveira do Hospital, e não vou mais vezes à Serra devido à confusão "terceiro mundista" que se instala. Quando o faço, estou na estância de ski perto das 9 da manhã e evito todas as confusões. Mas nem sempre é garantido. Ainda na última segunda-feira, com um sol explendoroso, passei no Sabugueiro, pouco faltava para as 9 da manhã, mas poucos km depois... impossivel passar. Resisti e consegui avançar até à Lagoa Comprida onde esperei até às 13.15 para poder seguir até à estância. E quando fiz estes últimos km, qual não é o meu espanto, quando me deparo com a estrada em perfeitas condições! Será que se justifica uma espera de 4 horas para fazer pouco mais de meia dúzia de kms?

Quanto a mim o desenvolvimento da região é possível, com o melhoramento das infraestruturas. Se as coisas forem bem feitas não há que temer pelo degradar do que Serra tem de melhor. Por que não fazer um bom parque de estacionamento, por forma evitar as habituais confusões no trânsito de cada vez que se quer chegar à Torre? É claro que isso não resolve, mas porque não ter um ou mais teleféricos que possibilitassem aos turistas deixar os carros bem mais abaixo e chegar à Torre sem ter que suportar horas de filas? Isto não se justifica num país que se diz desenvolvido. Limitavam-se o número de automóveis que pode subir, não deixando mesmo que eles passem, mas ofereciam-se alternativas (como os teleféricos) que permitiam também um acesso controlado, ao mesmo tempo que também se limita a área de acção de quem vista a Torre, protegendo-se assim, também a natureza.

Sou a favor de um melhoramento e aumento da estância, mas com acessos, sem automóvel. Os grandes pólos de alojamento deveriam ser, por exemplo, na Covilhã e no Sabugueiro, sendo o acesso à estância feito por meios mecânicos.

Assim talvez fosse possível desenvolver a região. Basta olhar para o país vizinho e perceber que eles estão muito mais à frente. Têm melhores condições é verdade, mas não temos que ter medo e ficar eternamente a vê-los passar.

ljma disse...

Caro anonymous, muito obrigado pela sua contribuição. O Cântaro gosta de ouvir também os que não pensam como ele. Como diz, aqui "impera" a minha opinião, mas trata-se de um imperador benevolente;)...
Os detalhes sobre os projectos para a Serra vão aparecendo nos meios de comunicação, em particular os jornais regionais. Algumas referências aparecem aqui no Cântaro. Talvez mais tarde dê ao seu post uma resposta mais completa, mas para já gostava de dizer que concordo com muito do que diz. No entanto,
(a) a serra não está parada no tempo, está a evoluir no mau sentido, gastando-se no seu "desenvolvimento" milhões e milhões de fundos, muitos dos quais públicos ou europeus. A tendência desta evolução é a degradação terceiro-mundista do mercantilismo rasca que está já bem à vista.
(b) eu não tenho uma opinião completamente negativa sobre os teleféricos, espanta-me é que os defendam argumentando que são preferíveis aos automóveis, sem que, seguindo esse argumento, proponham o encerramento da estrada para a Torre... Parece-me que, se não se encerrar essa estrada, os teleféricos não vão cumprir papel nenhum a não ser o de constituirem (eles e os parques de estacionamento associados) horrorosas manchas na paisagem, e vias de entrada de ainda mais poluição. E parece sempre que se tenta fazer o pior possível, veja-se (no Público de 15 de Fevereiro - edição Centro) o traçado proposto para o teleférico Lagoa Comprida - Torre.
(c) "Se as coisas forem bem feitas não há que temer pelo degradar do que Serra tem de melhor." Concordo inteiramente consigo. Mas as coisas não tem sido bem feitas e não tenho nenhuma razão para crer que se corrija agora a tendência.
(d) Bem sei que é aborrecida a experiência por que passou este carnaval, mas ela não é só resultado da ineficiência na limpeza das estradas. O tipo de desenvolvimento em que se tem apostado resulta nestes contratempos, com ou sem limpeza rápida das estradas, com ou sem parques de estacionamento. Veja-se que no Algarve há parques de estacionamento, não há nevões mas também há congestionamentos de tráfego. Acontece que, assim como o Algarve não é só praia, a Serra não é só neve (é-o, aliás, cada vez menos; mesmo este nevão do carnaval, tão festejado, seria há alguns anos considerado meramente vulgar). Degradou-se já o Algarve ao interesse dos que queriam explorar selvaticamente o produto praia, evitaremos que se formate a serra aos interesses dos que dela apenas querem (ou sabem) vender a neve? (Aliás, como bem se sabe, no Algarve, como começa a ser na Serra, o que conta mesmo não é o turismo, é a construção civil...) Há outras possibilidades, muito menos agressivas para o ambiente e a paisagem, viáveis se não se urbanizar demasiado a serra, como se pode constatar com uma visita ao Gerês, para não ir mais longe.
(e) Concordo que se desenvolva a capacidade hoteleira da Covilhã e do Sabugueiro. Mas os projectos da Turistrela são os de urbanizar as Penhas da Saúde, construir dois hoteis na Torre (!) e outro nos Piornos, construir outra urbanização na encosta da Covilhã, acima da Estalagem da Varanda dos Carqueijais, entre outros "desenvolvimentos"... Não, nao me parece que seja um exagero falar no risco da "algarveação" da Serra
Mais uma vez agradeço a sua contribuição, vá "aparecendo"!

Anónimo disse...

É bom saber que não estamos perante uma ditadura :)

Depois do meu post continuei a minha pesquisa de informação. Li os outros comentários, descobri uma extensa discussão sobre as estradas e obtive mais informação sobre os projectos futuros.

Ao que parece, nos tempos mais próximos (até 2015) prepara-se uma Estância de Montanha (seja lá o que isso for) na Covilhã, uma tele-cabine da mesma para a Torre e o alargamento da estância de ski para o dobro da extensão actual (de 6 para 12 km de pistas). À primeira vista não me parece assim tão descabido, mas confesso que careço de informação. Gostaria de ver, por exemplo, o tal traçado do teleférico. Não concordo com o Casino como também li por aí. Confesso também , que infelizmente não conheço tão bem a parte da Serra do lado da Covilhã.

O exemplo do Algarve deveria ser suficiente para que os mesmos erros não sejam cometidos, mas é verdade que o nosso país já nos habitou pela negativa, sendo esse um grande risco que se corre.

No entanto, a minha opinião, é a de que algo tem que ser feito. Alguma coisa tem que mudar. Limitação do número de automóveis no maciço central? Não será essa uma solução que iria castrar o desenvolvimento da região? Mais estradas, ou acessos alternativos para evitar congestionamentos (como os da Covilhã e Sabugueiro)? Parques de estacionamento em pontos chave, com transportes alternativos e controlados? Teleféricos e tele-cabines?

Eu diria que uma combinação de todas. É imperativo e prioritário disciplinar o trânsito no acesso à Torre. A GNR não pode simplesmente deixar passar toda a gente, até ao ponto em que ninguém passa seja para onde for e depois sim, tentar colocar alguma ordem na coisa. É surreal! Essa seria a primeira medida, nem que para isso fosse preciso impedir a passagem nos pontos chave. A construção de parques de estacionamento ou zonas de paragem, nesses mesmos pontos, para tentar evitar algum congestionamento. Por último facultar acessos alternativos apartir desses pontos, sejam eles por autocarros regulares, ou teleférico.

É claro que as preocupações ambientais levam a que não seja desejável “atafulhar” a Serra de gente, mas existindo meios de deslocação alternativos, é possível restringir o acesso automóvel e controlar o número de pessoas que utilizam os meios alternativos.

Quanto à Turistrela, acho que a ideia de um hotel na Torre é absurda. O alojamento como garantia de clientes na estância de ski, pode e deve ser feita mais abaixo, mas para isso têm que existir os tais meios de deslocação... de preferência que não seja o automóvel. A outra questão que se coloca é se existe clima que viabilize a prática do ski. Neste caso concordo que os 3 meses que se pretendem “garantir” (Dezembro, Janeiro e Fevereiro), são plausíveis tendo em conta que a temperatura mais elevada nesses meses raramente deverá chegar ou ultrapassar os 10 graus, e é possível criar uma efectiva capacidade de produção de neve artificial. Uma estância com 15 pistas e 12 quilómetros de extensão é proporcional à dimensão e altitude máxima da Serra. Se compararmos com outras estâncias em Espanha ou França, podemos concluir que a proporção está correcta, pois muito longe estamos dos quase 3000 metros de altitude e das muitas dezenas de kms de pistas.
Por outro lado, deverá ser do interesse da Turistrela que a Serra mantenha, aquilo que é hoje, pois se assim não for corre o risco de fracassar a longo prazo. Quero com isto dizer que quem explora deverá também ter a obrigação legal de contribuir (monetariamente entenda-se) para meios de manutenção. A preservação, limpeza e reflorestação também têm custos, sendo que algum do financiamento pode vir de quem explora, e porque não, de quem usufrui. Uma taxa simbólica cobrada a quem visita seria uma hipótese.

Todas as soluções têm as suas vantagens e desvantagens, mas não podemos andar anos a adiar projectos e evoluções. É necessário organizar a Serra, promovendo-a, mas também conservando-a. Quem sabe se assim o evento Nevestrela, não passe a ser notícia. Eu próprio me perguntei, mas o que é isto do Nevestrela? Creio que há “espaço” para os vários tipos de turismo e interesses (no bom sentido) na Serra.

Compreendo que do ponto de vista dos “locais” esta abertura não seja muito bem vista, mas de certo o será para os comerciantes e visitantes. Quem me dera a mim, poder dar uma caminhada pela Serra antes, ou em vez de, ir trabalhar. Talvez com uma maior organização o possa fazer durante as férias. Há é que saber fazer as coisas. É difícil, mas acredito que seja possível.

Mais uma vez, quanto a mim é impensável que todos os anos, várias vezes por ano, seja mesma confusão, apesar de não deixar de ser, um efeito espectacular observar o comboio de início de noite, formado pelas luzes dos automóveis que serpenteiam a Serra.

Muito mais haverá para discutir sobre este assunto. Mas para já fico por aqui.

ljma disse...

Obrigado, anonymous.
Como me tinha parecido, concordamos em diversos pontos. Eu gostava de deixar claro que não sofro de um objecionismo automático a todo e qualquer investimento. Mais, eu gosto de esquiar, também na Serra da Estrela. O que me aflige, o que me levou a começar este blog, é que a lógica que tem vingado polui o mais possível, estraga o mais possível, desfeia o mais possível. Eu sei que é possível o lucro com turismo de natureza, turismo de descoberta. No Gerês, este tipo de actividade turística foi considerada "efervescente" por um jornalista do Correio da Manhã num artigo deste verão (já lhe perdi a referência). É uma outra forma de massificação, com vários inconvenientes também, mas infinitamente menos agressiva do que a que se pratica por cá. O que sugiro é que se preserve uma parte (o maior possível, claro) da Serra para um turismo mais "soft", que encoraje o passeio a pé, a escalada, o montanhismo invernal, a canoagem, o cicloturismo, etc. O que tento fazer com o blog é dar um contributo para que se comece, antes que seja tarde demais, a considerar outras possibilidades. E porquê? Porque o desenvolvimento em que se tem apostado é incompatível com a forma como eu (e muitos outros, locais e forasteiros) gozo a montanha. [Diria mesmo que é incompatível com qualquer gozo da montanha, mas enfim, tenho que reconhecer ele há gostos para tudo, até para o Algarve em Agosto... ] Na minha opinião, do tipo de oferta turística em que temos apostado, já há na Serra muito mais do que o justificável. Não proponho que se desmontem pistas de esqui, que se encerrem centros comerciais, proponho é que não se continue esse tipo de desenvolvimento.

Posso até concordar (reconheço que contrariado) com a ampliação da pista de esqui, desde que se faça dentro da zona onde está agora instalada. Mas a Turistrela fez saber (li no Público de 15 de Fevereiro já citado noutro comentário), que pretende levar a estância também para a parte de trás da Lagoa Comprida (lá ao fundo, para quem se encontra no muro da barragem) e iniciar aí o teleférico para a Torre. Isto só pode ser visto como uma provocação, porque (1) há vários valores ecológicos aí localizados; (2) será necessária uma estrada asfaltada até ao fundo da lagoa (venha mais uma estrada, mais uns quilómetros e leva-se até ao Vale do Rossim!); (3) será necessário um parque de estacionamento enorme (aliás, um dos argumentos apresentados para esta escolha é que do lado da estrada nacional não há espaço para um parque com as dimensões adequadas!!!); (4) o trilho de grande rota T1 (Guarda-Torre-Vide), o mais importante da rede, passa justamente no fundo da Lagoa Comprida e segue daí para a Torre; o teleférico (e as construções associadas) vão diminuir imenso o interesse deste troço do trilho e, por arrastamento, o do trilho no seu todo. A propósito, é interessante notar o seguinte: a definição, sinalização e documentação dos trilhos de Grande Rota (com algumas centenas de quilómetros de extensão total) foi talvez o mais importante esforço para o desenvolvimento do turismo de natureza na Serra. Foi a Turistrela que o levou a cabo? Foi a Região de Turismo? Foi a Comissão Regional de Desenvolvimento? Foram as autarquias? Não, não, não e não, foi a "eterna força do bloqueio", o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE)... Isto diz tudo sobre os protagonistas que temos. Os anúncios da Turistrela e dos autarcas explicam por si só porque é que não confio que as intervenções futuras venham a ser menos negativas do que as que temos tido até agora. (Dito isto, devo dizer que não conheço os responsáveis pelo PNSE e que me parece que a sua actuação deve ser corrigida em diversos aspectos, nomeadamente naquilo que faz com que as pessoas vulgares vejam o parque como um espartilho e não como uma oportunidade. Um dia destes há-de aparecer no blog um artigo sobre esta questão.)

O Cântaro Zangado só pede um pouco de equilíbrio, que se preserve a serra como um dos mais importantes locais para o usufruto da natureza, um sítio onde se possa viver a montanha de forma sadia, respeitadora e responsável.

Mais uma vez, caro anonymous, agradeço a sua participação e a atenção que dedicou a estas questões. Fossem todos os adversários assim, e o Cântaro Zangado, por não o estar tanto, não teria sentido a necessidade de bloguificar-se, continuaria na forma e resmungos de café e cordada (é que, caramba, eu tenho muito mais que fazer... ;)

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!