quinta-feira, agosto 30, 2012

Vigilância e protecção das áreas protegidas

Aspecto do Rocky Mountain National Park. Imagem roubada daqui.
Li no site irunfar.com uma entrevista com Andy Anderson, um climbing ranger (guarda? vigilante? não sei como traduzir esta expressão) do Rocky Mountain National Park. Chamou-me a atenção esta pergunta e a sua resposta:
IRunFar: You’re a climbing ranger, what exactly is your job? You work at Rocky Mountain National Park? Are you permanent or seasonal? If seasonal, what do you do in the off-season? What are some of your other hobbies? How long have you been a climbing ranger?
Andy Anderson: As a climbing ranger, I get to climb and hike in the mountains 40 hours a week. While we move around the mountains, we try to talk to climbers and hikers and give them good advice/beta. Hopefully, they can use the info to have a great time enjoying the mountains in a safe way. We also make sure that these wild places stay wild and scenic by helping people understand how to treat the mountains and take care of them as a resource. Another large part of our job is helping people out when they get hurt or stranded in park. As climbing rangers we serve as part of the National Park Service’s Search and Rescue team. My climbing ranger job is a seasonal one. I have been working/volunteering as a climbing ranger for the past 13 summers – three as a volunteer in the Tetons, five as a paid ranger at Mount Rainier National Park, and five as a paid ranger at Rocky Mountain National Park.

Traduzido à pressão, isto é qualquer coisa como:

IRunFar: Tu és um climbing ranger, qual é ao certo o teu trabalho? Trabalhas no Rocky Mountain Nacional Park? É um trabalho permanente ou temporário? Se é temporário, o que fazes quando não estás ao serviço? Quais são os teus outros passatempos? Há quanto tempo és um climbing ranger?
Andy Anderson: Como climbing ranger, eu caminho e escalo nas montanhas 40 horas por semana. Enquanto nos movemos pelas montanhas, tentamos contactar os montanhistas e escaladores e damos-lhes conselhos e informações sobre as vias e os trilhos. Esperamos que eles usem essas informações para terem óptimas experiências usufruindo das montanhas de forma segura. Também tentamos que estes locais selvagens permaneçam selvagens e belos, ajudando as pessoas a perceberem como tratar as montanhas e aproveitar os seus recursos. Outra parte do nosso trabalho é ajudar as pessoas quando se magoam ou ficam imobilizadas no parque. Como climbing rangers, integramos o serviço de busca e salvamento do parque nacional. O meu emprego é temporário. Eu tenho trabalhado como climbing ranger nos últimos treze verões - três como voluntário nos Tetons, cinco como ranger pago no Mount Rainier National Park, e cinco como ranger no Rocky Mountain National Park.

O que se deduz deste trecho?

  • Que nas áreas protegidas dos Estados Unidos a escalada não é proibida;
  • Que os escaladores e montanhistas dos Estados Unidos não têm que pedir autorizações nem esclarecimentos antes das suas actividades, são os serviços das áreas protegidas que tentam chegar aos praticantes, informando-os, aconselhando-os e ajudando-os;
  • Que a forma como se entende a protecção da natureza e a vigilância das áreas protegidas nos Estados Unidos é completamente diferente da política seguida pelos serviços do Parque Natural da Serra da Estrela.

4 comentários:

Anónimo disse...

Acontece que nas áreas protegidas dos Estados Unidos a intenção é, de facto, PROTEGER essas áreas. Para proteger um espaço natural é necessária uma sensibilização dos que utilizam esse espaço (uma vez que a fauna já estará naturalmente... sensibilizada!). Para que as pessoas se preocupem é necessário educar. Para educar é necessário que as entidades se coloquem ao lado dos utilizadores.
Por cá (não só na serra da Estrela), a intenção ainda é tratarem os utilizadores como burros. A mentalidade é: "eles vão estragar isto tudo, por isso proibimos!"
Acontece que NUNCA, NUNCA, NUNCA irão evitar que as pessoas que realmente gostam dos espaços naturais deixem de os visitar. E bem podem lá vir com as áreas de protecção tipo I, II ou III ou 1000. Quem ama a actividade e a natureza jamais irá obedecer.
O resultado geral é andarmos todos de costas voltadas e a praticar as actividades ás escondidas e sempre com medo do papão.
Qual a mais valia para os parques naturais? NADA DE NADA E ABANDONO (aparente).

Paulo Roxo

ljma disse...

Paulo,
Que as coisas aqui são absurdas relativamente ao "desenvolvimento do turismo" (monopólio, "nós aqui vivemos da neve", construção e asfaltação a eito) a gente já dava de barato. O problema é que a "protecção da natureza" é igualmente absurda, como mostra a proibição da escalada conjugada com a permissão e o encorajamento de tudo o resto, desde a caça às voltas TT, desde o aumento dos espaços de estacionamento aos pareceres favoráveis a ainda mais estradas asfaltadas.
A serra da Estrela é o reino do absurdo. Chamar a isto uma área protegida é o mesmo que dizer que o céu é verde.

Anónimo disse...

Nem mais!

Paulo Roxo

Tiaguss disse...

Concordo a 100%.
Um dos maiores males é o que o Paulo referiu, a mentalidade é essa mesmo, "eles vão estragar isto tudo, por isso proibimos". A isto juntamos a falta de dialogo e o desprezo de algum trabalho feito no passado por parte dos senhores que vomitam estas regras. Um verdadeiro desconhecimento da realidade que poderia ter outros contornos no que respeita à protecção da natureza.

Este "post" faz-me lembrar um episódio que tive há uns anos (15 talvez), quando escalava com regularidade.
Um dia um rapaz "barbudo" veio ter comigo pois queria começar a escalar. Aos poucos ensinei-lhe o essencial. Aproveitando o facto dele ter carro, cada tarde disponível era motivo para mais uma investida à serra. Passados uns tempos, já tínhamos escalado no Cântaro Magro, na Francelha, Poio dos Cães, etc...
E o que eu aprendi com ele?? Muita coisa! Identificar alguma da fauna e da flora da serra que teve como ponto alto observar um casal de cegonhas negras junto à Barragem do Covão do Quelhas, num dia que íamos para a Francelha e tivemos aquele momento privilegiado.
Tudo isto pode parecer despropositado, mas eu explico o porquê deste episódio. Este rapaz dinâmico pertencia (ainda pertence) a uma associação que prima pela preservação da natureza. Ele começou a escalar com o objectivo principal de se integrar no "meio" e sensibilizar os grupos de escaladores sobre os vários cuidados a ter, as épocas do ano a escolher em determinados locais, etc, etc...
É só um exemplo de muito do trabalho feito (bom trabalho), que a proibição não viu, nem vê, nem vai ver sempre que o pensamento for esse "eles vão estragar isto tudo, por isso proibimos" .

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!