
O que fazer agora que a serra ardeu
A Serra da Estrela voltou este ano a ser assolada pelo drama dos incêndios de Verão. Até ao final de Agosto, foram consumidos pelas chamas 9475 ha, principalmente nos concelhos de Seia e de Gouveia.
Situações como esta (que se repetem com alguma periodicidade) devem motivar uma reflexão profunda quanto às suas causas, às medidas necessárias para as prevenir e às melhores formas de as combater. Mas, para além disso, é necessário ter bem presente que o prejuízo causado pelos incêndios não termina quando se dão por extintos. Sobretudo em áreas de fortes declives como é a Serra da Estrela, os incêndios deixam as camadas superficiais dos solos (as mais férteis) expostas aos elementos, que as arrastam deixando as encostas sem o solo necessário para dar suporte à vegetação e em situação de desequilíbrio mecânico, aumentando a probabilidade de deslizamentos de solo e de derrocadas que se podem traduzir em prejuízos muito avultados (recordamos as interrupções da circulação na estrada nacional EN 338 no troço do Vale Glaciar do Zêzere, durante os Invernos que se seguiram ao grande incêndio de 2005). Uma outra consequência grave dos incêndios é a de deixarem o território mais à mercê de espécies invasoras, como é o caso, especialmente sensível nas zonas de altitude baixa e intermédia da Serra da Estrela, da acacia dealbata (mimosa).
Para minimizar na medida do possível a gravidade das consequências destes incêndios e ainda facilitar e acelerar a recuperação das áreas por eles afectadas, a Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela exorta todas as entidades com responsabilidades na gestão e ordenamento do território a uma intervenção urgente com duas componentes:
- estabilização das encostas das zonas de floresta ardidas, usando as técnicas da engenharia natural recomendadas internacionalmente para situações como estas, ou seja, colocando os troncos das árvores ardidas, devidamente escoradas pelas suas bases ainda enraizadas, perpendicularmente à pendente, criando uma rede dispersa de barreiras horizontais ao longo da vertente;
- início de trabalhos de reflorestação já no Outono, usando preferencialmente espécies folhosas autóctones.
É importante que estes trabalhos se iniciem imediatamente, para minorar os estragos que as primeiras chuvas vierem a causar, e ainda para aproveitar o abandono das áreas queimadas das espécies animais (roedores, javalis, coelhos e lebres) que dificultam o crescimento das árvores.
A ASE está disposta a colaborar na medida das suas possibilidades com as entidades (públicas e privadas) que se lançarem a estas tarefas. Haja vontade para fazer desta crise uma oportunidade!
Manteigas, 27 de Agosto de 2010.
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