sábado, junho 19, 2010

Nota de imprensa da ASE

As barreiras que estão a ser instaladas pela E.P. na EN338, fotografadas pelo Tiaguss
A propósito dos trabalhos iniciados há algumas semanas pela Estradas de Portugal de instalação de barreiras dinâmicas para a protecção contra queda de pedras no troço da estrada EN338 entre Manteigas e a Nave de Sto António, a ASE difundiu pela imprensa a seguinte reflexão:
Barreiras dinâmicas na protecção da estrada EN338

A Estradas de Portugal (E.P.) iniciou recentemente trabalhos para a protecção do troço da EN338 compreendido entre Manteigas e a Nave de Santo António. Estes trabalhos consistem na instalação de barreiras dinâmicas constituídas por redes de arame e cabo de aço, apoiadas em tubos metálicos de grandes dimensões.

Não querendo questionar a necessidade de tais trabalhos, a ASE vem recordar que logo a seguir ao grande incêndio de 2005 chamou a atenção das entidades responsáveis para a situação de instabilidade da encosta que resultou da destruição da floresta e consequente desprotecção do solo, para o perigo de derrocadas que viessem a interromper a circulação na estrada e, sobretudo, para a necessidade de uma intervenção pronta que pudesse contribuir para consolidar os terrenos em desequilíbrio usando as técnicas da engenharia natural. Propusemos, em particular, que se usassem os troncos das árvores mortas, bem escorados nos tocos das mesmas, para criar pequenas barreiras que ajudassem a suster a erosão do solo, e que se iniciasse um esforço sério e intenso de reflorestação com espécies folhosas autóctones apropriadas aos locais afectados, contribuindo activamente para um restabelecimento das taxas de erosão naturais (práticas defendidas e prescritas em variados estudos e publicações internacionais para situações similares).

Uma tal intervenção, logo no pós-incêndio, teria contribuído para a reposição do equilíbrio da encosta, tornando menos necessária a instalação das actuais barreiras, teria evitado em grande medida a erosão da fina camada de solo fértil da encosta e teria ajudado a uma mais rápida recuperação dos ecossistemas e das paisagens afectadas - não menos importantes para o turismo numa área que pretende o reconhecimento como Maravilha Natural de Portugal e como Património da Humanidade. O incêndio de 2005 poderia ter sido assim encarado como uma oportunidade para restaurar a vegetação autóctone, base de um ecossistema saudável e equilibrado.

A actual intervenção da E.P., em contrapartida, não evita as derrocadas, apenas impede que estas atinjam a estrada, e assim ponham em causa a segurança de quem nela circula. Esta vantagem é obtida à custa da introdução de elementos artificiais visualmente estranhos à paisagem cujo enquadramento pode ser questionado, e que necessitarão de manutenção com custos sempre crescentes, à medida que os anos forem passando, não resolvendo nenhum dos problemas de fundo causadores desta situação.

Lamentamos que, passados quase cinco anos desde o incêndio de 2005, o essencial continue por fazer e que se empenhem tão intensos esforços (e meios materiais) a minimizar os efeitos da situação criada, em vez de se atacar a origem do problema. Não compreendemos que se deixe a E.P. isoladamente a tratar um problema cuja abrangência claramente ultrapassa esta entidade. E lamentamos também que a E.P., na sua esfera de acção específica, continue apenas a considerar exclusivamente a engenharia “convencional”, pura e dura, quando são cada vez mais difundidos, preferidos (havendo condições para tal, bem entendido) e bem sucedidos os métodos da engenharia natural, quer pela sua abordagem mais ecológica, quer pela forte relação custo-benefício e sustentabilidade a curto, médio e longo prazo.

Aproveitamos esta ocasião para, novamente, pedir uma intervenção mais profunda, que rapidamente torne desnecessárias as estruturas agora instaladas, para que, a par com a solidez das encostas, se recupere também a paisagem e os ecossistemas naturais do Vale, e não apenas a (relativa) segurança da circulação na estrada.

Reflorestemos!

Manteigas, 10 de Junho de 2010

8 comentários:

Jorge Branco disse...

A ASAE disse tudo e disse muito bem!

Tiaguss disse...

É o desleixo e os "remendos" de sempre.

apeteciameumaglaciar disse...

Estes tipos que disem ser Amigos da Serra da Estrela,so creticam e não fazem nada so tanga,então onde param os ditos carvalhos,ha ja me lembro ja se avistam na africa do Sul,devem ser mais Inimigos da serra da Estrela,porque se fossem Amigos da Serra da Estrela aforravam as mãos e iam aranjar a estrada ja viam o que era amor de mãe, ASE tem juizinho

ljma disse...

Apeteciameumaglaciar, se quiser podemos mostrar-lhe onde plantámos carvalhos e outras árvores, podemos dizer-lhe que tal é que a coisa correu, onde é que as árvores se estão a desenvolver e onde é que morreram. Mas parece-me que o apeteciameumaglaciar acha é que não devíamos ter plantado árvores. É isso?

Ao certo, ao certo, o que é que considera errado nas posições da ASE? Que eles achem que é importante reflorestar o vale? Ou que considerem que estas estruturas não se enquadram numa paisagem que se pretende vender como Maravilha Natural de Portugal? O quê, em concreto? É claro que tem todo o direito a ter opinião diferente das da ASE e (como os da ASE) tem todo o direito do mundo a exprimi-la. Por exemplo, pode fazê-lo aqui, neste espaço. Por favor, explique-nos, apeteciameumaglaciar.

Quanto a "só creticam e não fazem nada so tanga", recordo o apeteciameumaglaciar de um proposta sobre este troço de estrada, que a ASE apresentou publicamente (e sobre a qual pediu uma discussão alargada) no Auditório do Centro Cívico de Manteigas em Fevereiro de 2009. Aqui no Cântaro Zangado, falámos sobre essa sessão pública neste post.

Estes tipos que "disem ser Amigos da Serra da Estrela", pode ter a certeza que o são. Talvez não sejam amigos da serra como o apeteciameumaglaciar acha que os amigos da serra devem ser. Mas são-no como *eles* acham que devem ser. Haverá amizade a sério que não seja assim?

Cumprimentos
José Amoreira

PS: sou sócio da ASE e, actualmente, membro da direcção.

apeteciameumaglaciar disse...

Meu caro José Amoreira,isto de creticar é prato do dia no nosso portugal,uma coisa é certa gostava de ver ASE fazer mais porque isto de criticar ja vai cheirando mal,enquanto as barreiras dinamicas eu sei que ficam mal,ja que voces fazem parte de uma Associação que diz-se Amigos da Serra da Estrela,deviam ter uma solução melhor ja passaram 5 anos depois do incendio,pelo que foi feito pela Associação tambem não foi resolver a situação,mas enfim.
Ja agora qual a solução para substituir as barreiras?

Tiaguss disse...

Solução para substituir as barreiras?
Isso de "creticar" por "cretecar" tem muito que se lhe diga. Afinal, que parte do referido post o "amigo" não percebeu?

ljma disse...

Criticar é prato do dia no nosso país e nos outros também. É salutar! Critica-se o que não nos agrada, aplaude-se o que nos agrada! Temos razão ou não, mas temos opinião e temos o direito (e até o dever, se calhar) de a exprimir. É assim a democracia.

E o apeteciameumaglaciar usa o seu direito de crítica, também. O que aqui fez, o que foi senão uma crítica à ASE? Acho muito bem que aqui e noutros foros exprima a sua opinião relativamente à ASE (mesmo não concordando com ela, claro)!

Qual é a solução melhor que nós defendemos? Quanto a nós, uma intervenção rápida poderia ter acelerado a recuperação da floresta, logo, da estabilidade da encosta. Com a encosta estabilizada, as barreiras seriam menos necessárias e, algumas delas pelo menos, eventualmente dispensáveis.

O que é que a ASE fez, nestes cinco anos que passaram desde o incêndio? OK, vejamos:
1) Logo na altura do rescaldo, o José Maria (actualmente presidente da direcção) exortou publicamente (eu vi essa exortação na TV) os poderes responsáveis para a urgência de se estabilizar a encosta, usando os troncos das árvores mortas, bem escoradas nos seus cotos, para criar pequenas barreiras na encosta contra a erosão do solo fértil. Esta técnica é uma das recomendadas nos manuais de engenharia natural como primeira intervenção nestes casos. Além disso, pedimos o imediato início de trabalhos de reflorestação, desta vez com espécies autóctones (carvalho-negral e bidoeiro, principalmente).
2) Uma vez que nenhum poder fez nada, começámos nós o programa "Um milhão de carvalhos para a serra da Estrela", contando apenas com trabalho voluntário. Este programa trouxe ao concelho de Manteigas centenas ou milhares de pessoas e plantou ou semeou milhares de árvores. Como já lhe disse, nalguns casos a coisa correu bem, noutros as árvores morreram.
3) Em Fevereiro de 2009 (como já referi no meu comentário anterior), propusemos uma intervenção no troço da EN338 entre Manteigas e a Nave de Santo António que permitisse (a) facilitar a circulação e o cruzamento de pesados de passageiros; (b) melhorasse a segurança da via contra a queda de pedras pela criação de uma plataforma lateral plana arborizada com alguns metros, do lado do monte; (c) facilitasse o acesso à canalização de água que alimenta Manteigas e a empresa de águas; (d) mantivesse o seu carácter pitoresco de via de montanha, importante para o turismo.

Assim de repente é disto que me lembro, apeteciameumaglaciar. Quais destas intervenções considera erradas? Que outras coisas acha que deveríamos ter feito e não fizemos?

É que, como dá a entender, criticar por criticar é, de facto, fácil. Ultrapassemos então, todos, esse inútil registo, pode ser?

Cumprimentos,
José Amoreira

js disse...

Muito sinceramente, doi-me o coração ao ver tal obra. Por quanto tempo mais vai a maravilhosa Serra da Estrela, sofrer tais atrocidades?

Algarvear a Serra da Estrela? Não, obrigado!